maio 01, 2012

Filmes de Abril 2012

Mês com poucos filmes, fruto da quantidade de demasiados coisas marcadas no mês que não podiam esperar. De qualquer forma alguns bons filmes como Into the Abyss e Margin Call, apesar de serem os dois bastante desoladores, serviram para me deixar a planar sobre ideias e questões por alguns dias.


xxxx Into the Abyss 2011 Werner Herzog USA/Germany [Análise]

xxxx Margin Call 2011 J.C. Chandor USA

xxxx The Descendants 2011 Alexander Payne USA

xxxx El hombre de al lado 2009 Mariano Cohn, Gastón Duprat Argentina


xxx The Awakening 2011 Nick Murphy UK

xxx Dr. Seuss' The Lorax 2011 Chris Renaud, Kyle Balda USA

xxx Restless 2011 Gus Van Sant USA

xxx Beautiful Boy 2010 Shawn Ku USA


xx War Horse 2011 Steven Spielberg USA

xx Captain America: The First Avenger 2011 Joe Johnston USA


x Cowboys & Aliens 2011 Jon Favreau USA

[Nota, Título, Ano, Realizador, País]
[x - insuficiente; xx - a desfrutar; xxx - bom; xxxx - muito bom; xxxxx - obra prima]

"Into the Abyss", momentos da vida e da morte

Senti-me desolado depois de ver Into the Abyss (2011) de Werner Herzog, tudo aquilo que é questionado ao longo do filme cria em nós uma sensação estranha, um questionamento sobre os momentos da vida. No final dei por mim imensamente deprimido, não por uma tristeza contagiada explicitamente pelo filme, mas por tudo aquilo que este me fez questionar.


Este filme obriga-nos a parar para pensar, de repente somos colocados de frente para aquilo que a vida é, um fio frágil de decisões. O filme conduz-nos através dos nossos medos viscerais da relação com as decisões diárias, obriga-nos a questionar sobre decisões que tomámos no passado, e sobre aquilo que poderia ter acontecido se tivéssemos optado por outras soluções. A vida é curta, mas feita de momentos insignificantes que adquirem significâncias definitivas.


O filme não fala explicitamente sobre a vida, não questiona o que andamos cá a fazer. Simplesmente mostra dois sujeitos que mataram outros três, as suas famílias, e as pessoas da instituição responsável por efectuar a pena. Herzog procura alguma neutralidade dando voz a todos os intervenientes. Consegue de forma brilhante dar-nos a ver a perspectiva de todos os envolvidos na pena capital - o condenado, o carcereiro, e a família da vítima. Este trio abre explicações para o que acontece ali, e explica o que sente cada um.


As três perspectivas são apresentadas de uma forma bastante clara, ainda que de forma muito emocional. As entrevistas são realizadas pelo próprio Herzog num tom de voz de uma calma imensa, e com pezinhos de lã para evitar ferir susceptibilidades. Mas no final do filme não partimos como entrámos, apesar de que acredito que cada um sairá com as suas próprias convicções ainda mais reforçadas.

abril 30, 2012

"Arte e Ciência não se Misturam" !!!

Semir Zeki, professor da University College of London, trabalha no campo das neurociências desde os anos 1980 e é um dos pioneiros do campo de estudos de Neuroestética. No seu blog publicou recentemente vários textos sobre os medos da Neuroestética que depois foram coligidos num único texto, The Fear of Neuroesthetics, no site The Creativity Post. Neste texto revê vários ataques que têm sido perpetrados contra a disciplina, definindo-a como "lixo", ou como uma tentativa de "alisar toda a complexidade da cultura".

The Call to Arms, 1879, Auguste Rodin

Não deixa de ser impressionante que em pleno século XXI ainda exista quem escreva textos como, Art and Science don’t Mix. Stuart Kelly não é cientista, mas é um crítico literário britânico que escreve para vários jornais como o The Guardian. Um comentário deixado no site como resposta a Kelly diz tudo, "I would be very interested in what Leonardo might have to say about the statement "Art and Science Don't Mix"".

Annunciation (1472) Leonardo Da Vinci

Dito isto se trago o texto de Semir Zeki não é apenas pela sua autoridade no campo, mas antes porque ele representa um grito de alerta contra um obscurantismo que regeu o pensamento durante milénios. Eu próprio tenho sentido alguns destes ataques no meu trabalho. Nomeadamente porque tenho sempre optado por basear o meu trabalho sobre a emoção estética nas neurociências e não nas humanidades, e isso cria atritos, desconfiança do valor daquilo que se possa construir em termos de conhecimento.

Belvedere, (1958), M.C. Escher

A verdade é que os investigadores das humanidades acreditam que de algum modo são os únicos que podem verdadeiramente estudar, compreender e interpretar a arte. Todo o seu discurso está contaminado por uma oposição feroz ao uso de qualquer metodologia científica que procure estudar a arte em seu lugar. Porque segundo estes o que está em causa na criação artística é de uma ordem de complexidade tão grande que se torna impossível explicar. Então mas se assim é, como é que se explica, como diz Zeki, que existam milhares de livros e artigos escritos sobre Hamlet, ou que o número de livros e artigos sobre o simples "acorde de tristão" exceda os 2000. Se os críticos e estudiosos encontraram tanto para dizer, é porque então existe algo para explicar.

El vol de la libèl·lula davant del sol, (1968), Joan Miró 

Mas uma das constatações mais interessantes do artigo, aparece quando Zeki procura dizer que nem todos os investigadores das humanidades são contra a entrada das neurociências nas artes, e acaba dizendo que isto é especialmente verdade para o artistas e compositores. "Esses parecem não sentir medo. Eles querem saber mais." E aqui reside um dos maiores problemas das humanidades, que se resume a investigadores que se dedicam a estudar arte, sem tentar fazer arte. É que o papel de criar, vai além do de interpretar.


A verdadeira problemática é que toda a tecnologia, desde as tintas utilizadas nas cavernas de Lascaux ao computador, foi criada por processos científicos. Toda a evolução operada surgiu de processos científicos trabalhados sobre os objectivos da arte. A ligação entre Arte e Ciência é verdadeiramente umbilical, e quem não vê isto, simplesmente não descobriu ainda o que é a Arte.

abril 29, 2012

"clues to a great story"

Excelente TED Talk de Andrew Stanton, escritor chave da Pixar, tem nos seus créditos, toda a série Toy Story (1995-2010), e ainda os filmes A Bug's Life (1998), Monsters, Inc. (2001), Finding Nemo (2003), e foi também escritor e realizador de Wall-E (2008), este ano realizou o seu primeiro filme de imagem real, John Carter (2012). Nesta talk Andrew Stanton começa por simplesmente dizer,
"We all love stories, we're born from them"

É isto que Stanton nos trás nesta talk, o amor pelas histórias, e por isso aqui fica nas suas palavras o que ele considera ser o trabalho do Storyteller,
"Storytelling without dialog, is the purest form of cinematic storytelling. It confirms that the audience wants to work for their meal. They just don't want to know they are doing that. That's your job as a storyteller, that you hide the fact that you're making them work for their meal. We're born problem solvers, we're compelled to deduce."

E é por isso que eu defino "arte do storytelling como a arte de gerir expectativas". Pode ser difícil para algumas pessoas ouvir esta minha definição, mas é fruto dos últimos quase 10 anos a trabalhar em narrativas interactivas que me levaram a procurar compreender o que está no âmago da narrativa que tanto nos atrai, e que me conduziram a esta síntese. Acredito que saber que a magia está na criação e manutenção de expectativas é a base para se poder criar a experiência que todos procuram.


É muito interessante ver aqui pela primeira vez esboços de uma das primeiras versões do personagem Woody em que esta era muito menos meigo e tonto, e era mais sabido e egoísta.


Algo que surgiu das imposições dos executivos da Disney sobre os criativos da Pixar, e que acabou por se salvar graças à determinação de Steve Jobs. Aliás a discussão em redor da caracterização de Woody está explicada de forma soberba no livro Steve Jobs (2011) de Walter Isaacson. Aonde fica demonstrado o problema de termos uma grande empresa de administradores que nada percebem da arte, percebem apenas de números, lucros, e accionistas.


Stanton conduz a talk como um verdadeiro storyteller, do evento mais recente para a sua infância, e no final, surpreende-nos com um momento de intimidade, e emocionalidade que nos toca e fica conosco. Como ele diz no final, contem histórias que capturem a verdade das vossas experiências.



Ver também
Visualização do design de storytelling

violência doméstica em videojogo, The Kite

The Kite é um simples jogo point-n-click, com um tema de fundo inquietante, a violência doméstica. The Kite foi criado pelo Anate Studio que é uma equipa indie constituída por Tanya Medvid na arte gráfica e Anatoliy Koval na programação. Para a implementação do jogo escolheram o engine Wintermute Engine Development Kit, gratuito e dedicado ao desenvolvimento de point-n-click.



O jogo vem da Ucrânia um país assolado por imensos problemas criados pela rápida destruição do sistema social após o desmembramento da URSS. Quase metade da população da Ucrânia já sofreu algum tipo de abuso doméstico, na sua maioria são as mulheres e as crianças quem mais sofre com este problema.


O jogo faz uso do tradicional sistema de procura de itens e consequente resolução de puzzles. O nível de dificuldade é médio, contribuindo para extender um pouco mais experiência do jogo que se situa entre os 20 a 30 minutos. O forte do jogo passa pela narrativa, e é esta que mantém a nossa motivação desperta. Queremos saber o que vai acontecer àquela mulher e àquele menino, e por isso não conseguimos parar de jogar.


Visualmente não é nenhuma obra de arte, apresenta vários problemas nomeadamente no campo do character design e sua animação. Contudo em termos de ambiente a arte é bastante eficiente, sendo capaz de gerar a atmosfera necessária ao tipo de narrativa em desenvolvimento. O point-n-click não é distrativo, tudo está bem pensado e interligado, o que torna toda a experiência mais interessante e permite a nossa entrada no universo narrativo.


The Kite trabalha elementos pouco comuns no mundo dos jogos, o melodrama, o trágico, e o dramático, e é isso que tanto me agrada neste. O jogo é gratuito.

abril 26, 2012

Bolsa de Investigação em Media Interactivos

Encontra-se aberto concurso para atribuição de uma Bolsa de Investigação no âmbito do projecto PTDC/CCI-COM/119030/2010, designado por EngageBook: tocar, ler e brincar, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia no quadro da Iniciativa QREN, com financiamento UE/FEDER, através do COMPETE - Programa Operacional Factores de Competitividade (CECS-Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade – Universidade do Minho, Unidade 736).


Requisitos de admissão: Licenciatura em Tecnologias da Comunicação, Comunicação Multimédia, Media Interativos ou áreas afins, com média igual ou superior a 15 valores.

Objectivo: Realizar trabalho de investigação e desenvolvimento na área de livros digitais, nomeadamente no campo da prototipagem e testagem de modelos interativos e tangíveis.

Plano de trabalhos: O trabalho centra-se na componente de prototipagem, desenvolvimento e implementação de novos conceitos e modelos de design de livros digitais, interactivos e tangíveis através de plataformas de programação. O trabalho realiza-se sob a orientação científica dos doutores Nelson Zagalo e Pedro Branco.

Legislação e regulamentação aplicável: Lei Nº 40/2004, de 18 de Agosto (Estatuto do Bolseiro de Investigação Científica); Regulamento da Formação Avançada e Qualificação de Recursos Humanos 2010 (http://alfa.fct.mctes.pt/apoios/bolsas/estatutobolseiro).

Local de trabalho: O trabalho será desenvolvido no EngageLab, Campus de Azurém (Guimarães), Universidade do Minho, em regime de exclusividade.

Duração da bolsa: A bolsa terá a duração de 6 meses (eventualmente renovável até ao limite máximo de 28 meses), com início previsto em 1 de Junho de 2012.

Valor do subsídio de manutenção mensal: O montante da bolsa corresponde a €745,00, conforme tabela de valores das bolsas atribuídas diretamente pela FCT no País (http://alfa.fct.mctes.pt/apoios/bolsas/valores).

Processos e critérios de selecção: Familiarização com os processos de investigação em Media Interactivos e Interacção Homem-Computador (HCI), fluência de Inglês (escrito e falado), competências de informática com proficiência em AS3.0 ou C#. No processo de análise das candidaturas, o júri poderá recorrer a entrevistas individuais.

Composição do Júri de Selecção:
- Professor Doutor Nelson Zagalo, presidente do júri;
- Professor Doutor Pedro Branco;
- Professora Doutora Eduarda Coquet.

Forma de publicitação/notificação dos resultados: Os resultados finais da avaliação serão publicitados, através de lista ordenada por nota final obtida, afixada em local visível e público do Instituto de Ciências Sociais, sendo os candidatos notificados através de e-mail.

Prazo de candidatura e forma de apresentação das candidaturas: O concurso encontra-se aberto no período de 15 de Maio a 28 de Maio de 2012.

As candidaturas devem ser formalizadas, obrigatoriamente, através do envio dos seguintes documentos: Curriculum Vitae (resumido, máximo 5 páginas), carta de motivação (máximo 1 página), cópia do Certificado de Habilitações e de outros certificados que o candidato entenda relevantes.

As candidaturas deverão ser enviadas por e-mail para o seguinte endereço: cecs@ics.uminho.pt

Universidade do Minho
Instituto de Ciências Sociais
Centro de Estudo de Comunicação e Sociedade
ao c/ Dr. Vítor de Sousa
Campus de Gualtar
4710-057 Braga

abril 25, 2012

Ted Tremper, e a consagração das Séries Web

A web é cada vez mais um canal de produção cultural audiovisual. Demorou a criar-se a ideia de série web, foram muitas as experiências falhadas, mas parece que ao chegar à segunda década de 2000 estamos a encontrar a forma de o fazer. Em 2009 foi criado o primeiro festival na área, os Streamy Awards e em 2010 o Vimeo Festival+Awards.


Alguns casos muito interessantes são o exemplo da série web N. de 2008 criada pela CBS e Marvel com argumento de Stephen King. Fazendo uso de trabalho de ilustração tipicamente Marvel, e com uma animação limitada ao movimento das ilustrações de modo a tornar mais barata a produção, com 25 episódios e uma duração de 2 minutos. Podem ver a série completa aqui.


A série web Off Book sobre novas correntes artísticas da PBS iniciada no ano passado, e que previa um total de 13 episódios, teve um tal sucesso que se justificou continuar a sua produção sempre em ambiente web. Tenho publicado aqui no blog todos os episódios, que saem normalmente de 15 em 15 dias, às quartas-feiras.


Mas se as séries web começaram a germinar seriamente e a criar conceitos novos, não foi graças ao investimento institucional, mas antes ao trabalho de freelancers. Em 2008 em Portugal foi criada a série web de animação Spam Cartoon de André Carrilho e João Paulo Cotrim, com desenhos de Cristina Sampaio , João Fazenda, e som de  José Condeixa. São muito pequenos episódios de 30 segundos que realizam criticas, à política nacional e internacional. Foram criados 62 episódios.


Claramente que existem muitas mais séries nacionais e internacionais, mas o que me levou a escrever este texto foi a descoberta de mais um autor de séries web, Ted Tremper. Realizador, escritor, e improvisador com formação em escrita e cinema pela School of the Art Institute of Chicago. A sua primeira série Break-ups: The Series foi um enorme sucesso no campo da improvisação, tendo ganho o 2010 Vimeo Global Film Festival Award para “Best Original Series”. Podem ver um dos três episóidos submetidos ao Vimeo "Katy & Ted".


No ano passado Ted Tremper partiu para um novo conceito, Shrink. Se o conceito de Break-ups era original, este não fica nada atrás. Um jovem doutor não consegue entrar para nenhum programa de residência, passo obrigatório para poder receber a licença de psiquiatria. Ele terá de cumprir este passo de terapia supervisionada, antes de poder começar a pagar o crédito realizado para as propinas no valor de  $586,000.


Por isso decide inovar, e cria um programa de terapias grátis na sua garagem, de modo a poder cumprir as 1750 horas necessárias. O trabalho resulta em excelência por muitas razões, uma das quais passam por continuar a apostar na improvisação de toda a representação. O tema não era possível num canal nacional, e a forma ainda menos. Temos assim mais um conceito original, e brilhantemente implementado por Ted Tremper. Fica o último episódio da série, publicado ontem.


Para quem sentir que este é o seu caminho, dê uma vista de olhos nos 30 Passos para Ser Freelance Videographer.

abril 23, 2012

Off Book: "The Art of Film and TV Title Design"

O novo episódio da série Off Book trata o Title Design, ou seja os genéricos para cinema e televisão. Esta é uma das artes que mais me tem interessado nos últimos 20 anos, por fundir tão bem o meu interesse pelo cinema com o meu interesse pelo design gráfico, no fundo é a forma de arte que deu origem a tudo aquilo que hoje chamamos de motion design.


No ano passado escrevi um artigo sobre o title design contemporâneo, Poétiques du Générique de Cinéma : l'Expressionnisme en Mouvement (Poéticas do Genérico de Cinema: Expressionismo em Movimento) para uma revista científica francesa, a Sociéte. Como o artigo está inacessível passei para aqui alguns trecho da primeira parte do artigo que ainda tinha aqui em português.

Genérico de fecho de 300 (2006) por Garson Yu da yU+co

"Esta nova forma de criar e construir as entradas no filme acabam por surgir como uma mistura de componentes narrativas do filme em si e de marketing, não sendo nem uma coisa nem outra. Como nas capa de livros, a capa é para além de informativa um dos principais motes de impulsão de compra assim como o são o Cartaz e o trailer do filme. Mas o genérico não é uma mera ferramenta de marketing, apesar de fazer uso de toda a sua mecânica persuasiva para envolver e transportar a pessoa para o território do artefacto. De algum modo e até pegando no facto de o próprio Kyle Cooper ter criado uma empresa com esse nome, a Prologue,  os genéricos transformaram-se em algo mais do que a mera visualização de informação, criando verdadeiros prólogos ou epílogos aos filmes, dando vida a uma nova forma de comunicação que envolve e “amacia”  o espectador.





"Em termos históricos podemos dizer que os genéricos para cinema têm sido mal tratados não apenas pela academia mas pela própria indústria de cinema. Das mais de vinte categorias existentes nos Oscars Academy Awards, nenhuma reconhece este trabalho  e o mesmo se sucede com os festivais de Cannes ou Veneza, entre muitos outros. Por outro lado e por estranho que pareça os genéricos são perfeitamente reconhecidos, há mais de dez anos, na área dos seriados para televisão, pelos Emmy Awards com a categoria “Outstanding Main Title Design”.

Em termos bibliográficos um dos melhores trabalhos realizados até hoje sobre a história dos genéricos no cinema é o livro Uncredited de Boneu e Solana (2007) que apesar de possuir uma fraca capacidade analítica dos artefactos em si  é capaz de elencar muito trabalho desconhecido do grande publico e até dos mais entendidos uma vez que o trabalho criativo por detrás dos genéricos foi para além de durante muitos anos negligenciado, não reconhecido nos próprios créditos de produção, e daí o nome da obra de Boneu e Solana.

Genérico de abertura de Rocknrolla (2008) por Danny Yount da Prologue

Podemos neste livro descobrir que dois dos mais conceituados realizadores da história do cinema, Hitchcock e Godard, criavam os seus próprios genéricos. Hitchcock terá mesmo começado a sua carreira no tempo do cinema mudo como designer de intertitulos e daí ao trabalho de design de genéricos foi apenas um passo. E por isso mesmo se torna tão clara a sua associação ao designer do momento nos anos 50, Saul Bass para a criação dos títulos de Vertigo (1958) e Psycho (1960) depois deste ter criado um dos primeiros e mais famosos genéricos de sempre para Man with the Golden Arm (1955)  levando mesmo a que no cartaz de promoção do filme se tivesse substituído a imagem de Frank Sinatra pelo grafismo criado por Bass (Boneu e Solana, 2007:143).


Imagem e experiência da abstracção (Arnheim, 1969:151)


O que está aqui em discussão é antes de mais a possibilidade de definir uma corrente estilística alegadamente criada por um determinado recorte de genéricos fílmicos que se concentra sobre um grupo companhias de produção de genéricos fílmicos e seus artistas. A saber em concreto que tipo de relação estética existe entre o trabalho criado pela R/GA nos anos 70, com o trabalho criado nos anos 90 pela Imaginary Forces, e depois nos anos 2000 pela Prologue e yU+co. Ou seja procurar traços estilísticos comuns no trabalho dos artistas - Greenberg, Cooper, Yu, Fong e Yount – e saber se definem per si uma corrente." Neste episódio têm desde já oportunidade para ouvir entrevistas com Fong e Frankfurt.


abril 22, 2012

SLOW, viver tecnologicamente mais devagar

Na sexta-feira participei na arguição (apenas como vogal) da tese de doutoramento do Luís Pereira, na qual comentei questões relacionadas com os novos desafios que se afiguram às crianças do futuro em termos de tecnologias. E manifestei a minha preocupação com o facto de ser insuficiente para um core em literacia digital apenas aprender a filtrar o mundo que nos chega por todas as frentes mediáticas. Será preciso também treinar as novas gerações do futuro na linguagem base da criação tecnológica, a programação, porque não chega saber ler, é preciso saber escrever. Mas não fiquei em paz comigo próprio, por tudo aquilo que isto me obrigou a pensar sobre o nosso futuro.


À noite quando chego a casa dou com um post no Facebook da Neuza Pedro que questionava: "Qual o problema da inovação no ensino? É que velhos hábitos são muito difíceis de mudar!" E foi aqui que as minhas campainhas internas começaram a soar. A inovação parece ser a resposta a todos os nossos problemas, a mudança em nome da mudança.

You Are Alone, Slow Down... (1973). Obra de Jonathan Borofsky que responde às pressões sociais que ocorrem sobre todos nós diariamente.

Aliás foi um acumular de tudo o que tenho reflectido nas últimas semanas, nomeadamente desde a minha participação na mesa redonda "Circunferências – Reflexões sobre o trabalho, cultura e tecnologias criativas do séc. XXI" em que a minha principal conclusão foi que a velocidade a que as Tecnologias de Informação evoluem é muito superior à velocidade a que as pessoas conseguem operar a Mudança. Claro que seremos mais eficazes naquilo que fazemos se formos mudando e adaptando-nos continuamente. Mas isto está a tornar-se insustentável e com enormes custos a nível individual e comunitário. Apesar de ser acérrimo defensor das tecnologias, não posso deixar de reconhecer os seus enormes custos sociais, nomeadamente no campo da aceleração intensa da vida.

O Movimento Slow subdivide-se por diferentes dimensões: Slow Food, Slow Money, Slow Cities, Slow Design, Slow Media, Slow Parenting, Slow Sex, Slow Fashion, Slow Gardening, Slow Art, Slow Travel, Slow Science

Chegado aqui recuperei um assunto que de tempos a tempos, me invade como emergência espontânea do pensar, o Movimento Slow. Um movimento que procura alertar a sociedade para tudo isto que acabei de descrever aqui acima, e que se sintetiza por uma nova filosofia de vida, muito bem sintetizada por Guttorm Fløistad,
The only thing for certain is that everything changes. The rate of change increases. If you want to hang on you better speed up. That is the message of today. It could however be useful to remind everyone that our basic needs never change. The need to be seen and appreciated! It is the need to belong. The need for nearness and care, and for a little love! This is given only through slowness in human relations. In order to master changes, we have to recover slowness, reflection and togetherness. There we will find real renewal. 
scenes from a life... de Juli

Isto aplica-se a muito do que venho discutindo aqui no blog, nomeadamente as questões ligadas à educação à distância e as suas enormes insuficiências no campo humano e social. Vimos sentido na pele a cada dia que passa o peso destas tecnologias de informação, que possuem um lado bom mas que é para mim apenas a pontinha do icebergue visível. Escondido da imediatez do nosso olhar estão todos os seus problemas. Tecnologias que nos acossam, e nos exigem cada vez mais inputs, que nos deixam sem tempo para respirar, quanto mais pensar. Desde as plataformas de suporte ao ensino presencial que precisam de estar sempre up-to-date, a plataformas de ensino à distância que precisam de ter respostas sempre prontas, à parafernália de plataformas de avaliação de alunos, avaliação de disciplinas, avaliação de cursos, avaliação de docentes, avaliação de universidades, avaliação de projectos científicos, entre muitas outras, sem esquecer as de inputs de CVs, de publicações, de auto-avaliação...

Utopias do teletrabalho, ensino à distância, e do uso geral das máquinas 
no sentido de nos libertar

Aliás há dois anos eu e o Pedro Branco chegámos a incluir como tema de projectos no Mestrado em Tecnologias e Arte Digital a ideia de, Tecnologias Slow. O objectivo passava por recorrer ao design e arte para construir novas tecnologias que no dia-a-dia ajudassem as pessoas a acalmar o ritmo, a aplacar as ansiedades. Lembro-me de termos discutido novos modelos de design de interfaces para tornar mais lento o acesso ao E-mail, entre outras coisas. Temos de voltar urgentemente a este tema.

A Slow Life combina ideias oriundas da Psicologia Positiva e da Sustentabilidade Ambiental

Espero apenas que possamos todos tornar-nos cada vez mais conscientes de tudo isto, e possamos encontrar formas de contornar, este que é para mim um dos problemas do século XXI. Precisamos de pensar no uso das tecnologias em nosso proveito e parar o ciclo, em que cada vez mais são as tecnologias que nos usam a nós. Aliás acredito que o novo ciclo criativo, de personalização em vez da massificação, que o The Economist esta semana chama de Terceira Revolução Industrial possa vir em socorro de todas estas ideias.

abril 21, 2012

CFP: 5th International Conference on Interactive Digital Storytelling

5th International Conference on Interactive Digital Storytelling
November 12th - 15th, 2012
Technology Park of San Sebastián, Spain

ICIDS is the premier international conference on Interactive Digital Storytelling (IDS), bringing together researchers interested in presenting recent results, sharing novel techniques, and exchanging ideas about this exciting new media. IDS redefines the narrative experience by empowering the audience to significantly participate in the story due to advances in technology. As such, it offers new possibilities for communication, education and entertainment, through the enriching of characters with intelligent behavior, the collaboration of humans and machines in the creative process, and the combination of disciplines for improving the user experience.

ICIDS emphasises on several aspects of Computer Science, specially on research in Artificial Intelligence, Virtual Environments and Human-Computer Interaction; topics include automated reasoning, computational creativity, multi-agent systems, narrative intelligence, natural language generation and understanding, user modelling, and smart graphics. Furthermore, IDS is inherently a multidisciplinary field. To create novel applications in which users play a significant role during the development of a story, new concepts and theoretical works on Digital Humanities, New Media Studies and Interactive Arts are needed.

We welcome research papers and demonstrations – including interactive narrative art – presenting new scientific results, innovative technologies, case studies, creative insights, best practice showcases, or improvements to existing techniques and approaches in the research field of Interactive Digital Storytelling and its possible applications in other fields, e.g. videogames, virtual/online worlds, e-learning, training, and edutainment.

All submissions will be processed using the EasyChair system. Authors are advised to register a new account well in advance of the paper submission deadline:
http://www.easychair.org/conferences/?conf=icids2012


***Important Dates***

June 1, 2012 - Deadline to register an author account with EasyChair.
June 8, 2012 - Submission deadline for full and short papers.
June 15, 2012 - Submission deadline for workshop proposals.
July 6, 2012 - Accept/reject notifications sent to all workshop organizers.
July 16, 2012 - Accept/reject notifications sent to all registered authors.
August 24, 2012 - Camera-ready copy due.
November 12 - 15 - 2012 ICIDS


***Organizing Committee***

General Chair
David Oyarzun (Vicomtech, Spain)
Program Co-Chairs
Federico Peinado (Universidad Complutense de Madrid, Spain)
R. Michael Young (North Carolina State University, USA)
Local Arrangements Chair
Ane Elizalde (Vicomtech, Spain)
Workshops Chair
Gonzalo Méndez (Universidad Complutense de Madrid, Spain)


***More Information***
Questions about the conference should be directed to the organizers via email at: icids@vicomtech.org
Additional information about the conference can be found online at: http://icids2012.vicomtech.tv

San Sebastián, Spain