"Uma História de Amor e Fúria" (2013) de Luiz Bolognesi, Brasil
The Great Gatsby surpreendeu-me, um filme que nem queria ver, acabei deslumbrado mais uma vez pela genialidade de Luhrmann, o cineasta mais barroco de que há memória. Por sua vez o Brasil presenteou-nos com uma magnífica longa de animação, que nos conta a história do Brasil, desde o passado ao presente, projetando o futuro próximo, tudo num raio de 600 anos. Estreou em Portugal no Cinanima 2013, e é um dos trabalhos obrigatórios deste ano.
Quando falava da competência técnica de Hollywood, referia-me a trabalhos como "Hunger Games", "Man of Steel", "After Earth", "Star Trek" ou ainda "Jobs", "Disconnect" ou "Killing Season". Nada podemos repreender a estes filmes, a não ser a falta de identidade, de visão pessoal, de autoria. Todos estes filmes são obras coletivas de grande feito. Todos eles falam de assuntos, uns mais outros menos, relevantes. Mas todos eles falam da mesma forma, como se as ideias tivessem sido passadas por um filtro de homogeneização, capaz de eliminar as especificidades, diferenças e estranhezas. No final temos uma espécie de hambúrguer com garantia de qualidade alimentar, mas que sabe igual, seja comido em Lisboa, Paris ou Hong-Kong.
No meio de tudo isto, a minha maior desilusão foi mesmo para Jobs (2013), o filme que nunca devia ter existido. Sendo uma biografia, pedia-se que estivesse à altura do biografado. Se Jobs fosse vivo tudo teria feito para impedir que este filme alguma vez fosse exibido! Não por maltratar a sua imagem mas pela incapacidade de retratar tanto a pessoa como os seus feitos. Demasiada ligeireza e superficialidade. Um filme sem ângulo nem perspectiva, sem qualquer noção do que quer dizer, limitando-se a meia dúzia de notas de rodapé.
O filme de Jobs é um bom exemplo do atual paradigma de Hollywood. Todos têm que entender tudo o que se passa no ecrã, seja em Madrid, São Paulo ou Moscovo, seja canalizador, futebolista, ou informático. Dada a complexidade de explicar aquilo que preocupava Jobs no seu trabalho a não especialistas em design de interação e tecnologia, foge-se disso, e introduz-se apenas e só as suas relações humanas. Mas como estas são um dos seus piores legados, elas aparecem de forma avulsa na tela, como se se quisesse falar delas, sem verdadeiramente falar delas. É isto o cinema de Hollywood hoje. Não interessa nunca o assunto, sejam as alterações climáticas em "Day After Tomorrow" seja um meteorito que se aproxima da terra em "Armaggedon", seja a fome e a revolução em "Hunger Games". Os produtores de hollywood assumem, e talvez com razão, que a grande maioria não vai entender do que se está a falar e por isso centram-se apenas e só sobre as relações humanas, sobre aquilo que é familiar e compreensível por todos, seja de que estrato for, país, ou profissão. E é por isso que no final não sobra nada, para além do discurso de consumo rápido sobre os valores culturais da família "ideal" de classe média americana.
xxxx The Great Gatsby 2013 Baz Luhrmann Australia
xxxx Mud 2012 Jeff Nichols USA
xxx The Hunger Games: Catching 2013 Francis Lawrence USA
xxx After Earth 2013 M. Night Shyamalan USA
xxx Europa Report 2013 Sebastián Cordero USA
xxx Star Trek Into Darkness 2013 J.J. Abrams USA
xxx Man of Steel 2013 Zack Snyder USA
xxx Jobs 2013 Joshua Michael Stern USA
xxx The Internship 2013 Shawn Levy USA
xxx Zozo 2005 Josef Fares Sweden
xx Killing Season 2013 Mark Steven Johnson USA
xx Adore 2013 Anne Fontaine USA
xx Starlet 2012 Sean Baker USA
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