junho 08, 2013

ShotsOfAwe #02: "Singularidade"

O novo "philosophical shot of espresso" de Jason Silva já chegou. Depois do primeiro episódio dedicao ao Awe (espanto), desta vez fala-nos da Singularidade. Mais uma vez Jason é fantástico, em apenas dois minutos consegue um verdadeiro efeito de arrebatamento do espectador. Um conceito de difícil definição e que levanta vários problemas morais, é explicado em dois minutos de imagens, sons e oralidade.



Para este tópico Jason convoca trabalhos como The Denial of Death (1973) de Ernest Becker, TechGnosis (1998) de Erik Davies, e The Singularity is Near (2005) de Ray Kurzweil. Jason vai para além do medo que a questão nos coloca, de nos podermos vir a encontrar face a um outro ser criado por nós, e coloca a ênfase na descoberta, na ausência de limites do ser humano, na vontade de escapar à nossa própria morte.
"desire to transcend our own limits... desire to escape the death sentence… the singularity has a mean that reflects this sort of acceleration of the human design process, to the point of achieving an infinite velocity… we're the frontal lobes of the universe, we're the eyes and hears of the universe… our desire to transcend any of previous limits… I don't think there's anything unnatural about that… the idea of singularity is awesome"

Singularity (2013) de Jason Silva

junho 07, 2013

a vida através dos livros (e do cinema)

Lisa Bu é membro da equipa que produz as conferências TED, nesse sentido foi convidada para as conferências anuais internas de colaboradores da TED. A sua conferência foi tão interessante que a convidaram a apresentar a sua palestra no palco principal da TED, tornando-se assim na primeira colaboradora a fazê-lo.


Lisa Bu nasceu na China, veio para os EUA já depois de se licenciar, fazer um MBA em Sistemas de Informação, seguido de um doutoramento em Jornalismo na Universidade de Wisconsin-Madison. Ficou na universidade a trabalhar na rádio, como directora de conteúdos digitais, até que foi trabalhar para a TED.

A mais importante mensagem desta talk é o facto de que mesmo depois de destruírem os nossos sonhos ainda podemos emergir. Que para o fazer, muitas vezes não podemos apenas basear-nos nas pessoas que nos rodeiam, precisamos de ir além disso. No caso de Bu, foram os livros. Foi através dos livros que Bu descobriu o seu novo sentir, e criou os seus novos sonhos. Depois de todos terem desistido dela, ela acreditou no poder dos livros, para crescer, para emergir.

How books can open your mind (2013) Lisa Bu na TED

Sobre isto tenho apenas a dizer que não é nenhuma possibilidade remota, é algo a que dou muita importância em termos de educação e formação de um ser humano. Não apenas a literatura mas também o cinema. Passei toda a minha adolescência longe dos meus pais, num colégio interno, só os via nas férias. Durante todos esses anos, grande parte da minha formação foi feita à base de fins de semana de cinema. As sessões começavam a seguir ao almoço e prolongavam-se até depois do jantar. Desse modo via entre 4 e 5 filmes no sábado, mais 4 ou 5 no domingo. Depois passava o resto da semana envolvido nas aulas e trabalhos de casa, na interacção com os colegas que estavam ali como eu longe dos pais, mas à espera que chegasse de novo o fim-de-semana. Isto forma e educa, mas também deixa marcas, ainda hoje se passo muitos dias sem ver cinema começo a sentir uma espécie de melancolia invadir-me.

junho 06, 2013

o culto dos amadores

The Cult of the Amateur - Como a Inter­net está a matar a nossa cul­tura e a assaltar a econo­mia (2008) de Andrew Keen fala de um assunto que me tem vindo a interessar cada vez mais, e do qual já aqui falei no texto Comunicação e as falácias da Sociedade de Informação (Copyright, MOOC, Democracia Directa, Open Access, Rankings). Nesse sentido, apesar do foco das ideias de Keen ser correcto, o livro que nos apresenta é uma desilusão.


Keen até começa muito bem, defendendo várias ideias com que me identifico plenamente, como os problemas da ausência de verificação de fontes e credibilidade da informação online versus informação de qualidade dos jornais. Ou como a autoridade da Wikipedia que é capaz de colocar ao mesmo nível especialistas reconhecidos por pares, com miúdos que leram uns livros, ou nem isso. Ou ainda sobre as questões do copyright e do acesso grátis online que estão a destruir muitas possibilidades de carreiras criativas. Mas para fazer esta defesa embarca num extremismo ideológico sobre o que pode e não pode ser, apontando o dedo a tudo o que é novo, elogiando o status quo, pregando a imobilização e a não transformação.

Na voragem da argumentação e sustentação das suas ideias Keen chega a ponto de atacar toda a ideia da própria internet. Se é evidente que a internet nos trouxe muitos novos problemas, não podemos deixar de relembrar tudo o que de bom conseguimos com esta tecnologia de comunicação em quase todos os níveis da sociedade. Temos de encontrar formas de lidar e responder aos problemas, mas isso não pode de forma nenhuma passar por erradicar o meio, ou as novas formas de interacção social que este despoleta. Temos de continuar a estudar os seus efeitos, procurar compreender o seu alcance, criar regras e leis quando for caso disso, mas não podemos ajoelhar-nos e mal-dizer o que nos trouxe a internet. É um discurso gasto, e que surge sempre que surge um novo meio.

Andrew Keen é reconhecido internacionalmente como um dos maiores atacantes da Web 2.0 e ainda no ano que passou lançou novo livro, Digital Vertigo: How Today's Online Social Revolution Is Dividing, Diminishing, and Disorienting Us (2012). Apesar de eu entender e suportar algumas das suas posições, Keen vai precisar de aprender a argumentar melhor as suas ideias e ir além do mero texto de jornal, se quiser atenção académica para o seu discurso. Keen terá de aprender que a vida não é imutável, que vamos mudar, que mudaremos sempre, e a tecnologia é apenas uma parte da equação dessa transformação. No final, é o próprio Keen quem se revela um amador da reflexão mais profunda e fundamentada.


Edição Portuguesa
Andrew Keen, O culto do amadorismo, Guerra e Paz, 2008, Trad. Susana Serrão. A primeira edição inglesa saiu em 2007.

junho 05, 2013

a cor do storytelling

If It's Purple, Someone's Gonna Die: The Power of Color in Visual Storytelling é um livro de Patti Bellantoni, ex-professora de Artes Visuais na UCLA e na School of Visual Arts, NY. É um livro de carácter técnico que nos traz resultados de mais de 25 anos de estudos sobre a cor e os seus efeitos nomeadamente na arte cinematográfica. É uma obra obrigatória para qualquer pessoa que trabalhe com artes visuais.


If It's Purple, Someone's Gonna Die é um livro de organização simples, que se divide em apenas 6 grandes capítulos, cada um dedicado a uma cor - Vermelho, Amarelo, Azul, Laranja, Verde e Púrpura. O livro é muito interessante e bem fundamentado. Bellantoni não se limita a simbolismos, mas conecta a cultura com a biologia. Nesse sentido, muito do que é aqui dito está em total sintonia com os estudos que tenho realizado ao longo dos últimos anos no campo da neurociência da emoção. Cada cor tem uma leitura simbólica, mas que é dada em função da sua acção sobre a nossa percepção, sobre o modo como nos estimula, na maior parte das vezes de forma inconsciente e automática. Existe aqui a assunção de que a ligação entre a cor e a emoção é natural, e isso fica bem patente nesta passagem do livro,
"How do you develop this facility with color?... First and most importantly, you select your left-brain and click “Quit.” You have to relinquish control of your thinking self and give it over to what you are seeing. This is not easy in a culture that prides itself on hard-nosed reason and in which our softer perceptual skills are often dismissed. Most of us love to analyze films and love to talk about what we analyze. Indeed, we are often so busy analyzing the plot points that we are unaware of how we are being affected by what we see. We’ve evolved into a generation of talkers with lazy vision. We “watch” but we don’t see. And we miss out on an experience that enriches our emotional core."
O livro está carregado de exemplos de cenas e sequências de filmes que vão ilustrando cada uma das ideias da autora, pena que o livro seja parco em imagens para relatar visualmente tudo o que se vai discutindo. Sobre as análise realizadas ao longo do livro podem ver pequenos resumos que realizei numa comunicação "Compositing and Graphics" (slide 29 a 35). Apesar de tudo isto, resta sempre a questão - será que os artistas planeiam mesmo o uso das cores? Aqui fica a resposta,
"At my seminars in Visual Storytelling, the first question often asked is, “Is all this really planned?” The answer is not a simple yes or no. Color may play a role in weeks of planning in preproduction. Sometimes, however, plans are supplanted by gut decisions forwhich a color simply “feels right” on the spot...Color-flows that track the emotional arcs of a story are appearing on walls of studio art departments [sobre isto deem uma vista de olhos no texto Animação da cor no 9/11]. More and more, colors are being digitally altered in order to emotionally emphasize a scene. So, yes, it is often planned, not just on the set but also in both preproduction and postproduction."
Hero (2002) de Yimou Zhang

Primeira edição, 2005. Edição analisada, 2012. 288 páginas. Editora Focal Press.

junho 04, 2013

Powers of Ten, uma visão cósmica

Powers of Ten (1977) é uma das mais respeitadas curtas no mundo do design gráfico. A razão para tal não se prende apenas com o facto de ter sido criada pelos designers Charles e Ray Eames para a IBM, mas antes por ser um artefacto exímio na visualização de informação complexa em movimento. Powers of Ten traduz informação altamente complexa através de uma simples regra de visualização, as potências de 10.


O filme começa com um casal deitado num relvado de Chigado, filmado a partir de cima num enquadramento que oferece a visão sobre 1 metro de espaço. A partir desse ponto na Terra, começa um afastamento da câmara para cima, ampliando a visão que temos do espaço, em potências de 10 a cada 10 segundos (101=10m; 102=100m; 103=1000m; 104=10000m). Visualmente percepcionamos o espaço real que estamos a ver a partir de um quadrado que se vai sobrepondo sobre as imagens em afastamento e que nos permite, através da afixação lateral das potências de 10 e dos metros, ganhar uma compreensão completa do que estamos a ver. Chegados ao limite da ampliação de 1024 a câmara retrocede em alta velocidade, até atingir de novo o casal, e depois faz o caminho inverso no sentido do infinitamente pequeno.


O título completo do filme reflecte exactamente isto, Powers of Ten: A Film Dealing with the Relative Size of Things in the Universe and the Effect of Adding Another Zero. A ideia base foi baseada no livro Cosmic View: The Universe in 40 Jumps (1957). O livro está esgotado há muitos anos, mas tem sido preservado online por vários académicos, podem ver a versão preservada por Mitchell Charity.


Em menos de 10 minutos o espectador ganha uma consciência singular do mundo e do seu posicionamento neste. O filme é reconhecido pelo modo como graficamente nos ajuda a compreender o espaço, mas a sua importância está longe de se fechar no reino do design, o que estamos aqui a falar é de humanidade. Por isso este devia ser um filme obrigatório nas nossas escolas. Ganhar noção do espaço que ocupamos neste universo é fundamental para compreendermos o alcance do universo, e do que somos "nós" perante este.



Tecnicamente o filme não foi fácil de criar, estamos em 1977, e a primeira versão do mesmo surgiu em 1968. Nos dias de hoje, este filme seria executado muito facilmente com as tecnologias de imagens geradas por computador, algo que não existia em 1977. Uma versão apenas pictórica do filme pode ser vista no sítio que a IBM mantém sobre o filme, e com imagens em HD. A versão do filme aqui abaixo, que está no YouTube, é autorizada pela IBM e pelos Eames Office.

Powers of Ten (1977) de Charles e Ray Eames

junho 03, 2013

tributo a Evil Dead

Daniel Kanemoto realizou uma pequena animação, Evil Dead: An Animated Tribute (2012), um tributo à série de filmes Evil Dead, com o objectivo de convencer a produtora do remake de 2013 a deixá-lo criar o genérico para o filme. Não conseguiu, apesar disso vale bem a pena ver este tributo, nomeadamente para quem conhece a série.



Kanemoto já tinha sido responsável pelo tributo a The Walking Dead (2010) que foi um enorme sucesso online. Podem ver o pequeno filme e ler uma entrevista sobre este trabalho no sítio Art of the Title. A técnica utilizada por Kanemoto, tanto em Evil Dead: An Animated Tribute como em The Walking Dead baseia-se na simples animação por corte conjuntamente com as propriedades de camadas 3d controladas a partir do After Effects, como explica o próprio abaixo. O mais interessante é o ritmo que Kanemoto imprime a animação, através da montagem e movimentos de câmara que aproximam a animação totalmente da linguagem formal presente nos filmes originais.
My concept was to take the black-and-white art from the comic and expand it into multiple layers using Photoshop. Then I’d add an extra layer of depth to these 2D illustrations by animating a 3D camera in After Effects.
Evil Dead: An Animated Tribute (2012) de Daniel Kanemoto

maio 30, 2013

Realismo 3d da nostalgia geek

Load (2013) é um filme 3d de estudante, criado por Brian Sørensen (1986) como projecto de fim de curso no 3d College em Grenaa, Dinamarca. A atenção ao detalhe e o facto de ter conseguido gerar a maior parte do dinamismo através da câmara e da luz, reduzindo assim o trabalho de animação de objectos, demonstra um sentido apurado da expressão audiovisual.



Em termos estéticos a atmosfera é brilhante. Sørensen constrói um verdadeiro palpitar dos anos 1980, não apenas no que mostra, mas na cinematografia, a cor algo esbotada, com os verdes gastos, e a música de sintetizador. A construção dos enquadramentos de câmara ajudam a criar o sentido de mistério. Claro que o conteúdo faz o resto - o gravador de cassetes, o contador das voltas da fita, o ecrã e teclado do Commodore 64, os posters, a sala de aula.

O realismo impressiona por duas razões, primeiro por estar tão conseguido, mas mais por ser tudo feito por uma única pessoa, e ainda estudante. Desde a modelação, texturização, iluminação, animação à correcção de cor e montagem, assim como o som e a própria música. Ou seja, tive dúvidas que uma pessoa sozinha se pusesse a modelar a quantidade enorme de objectos que aqui vão apenas para um pequeno filme. Pelo que entretanto percebi, a curta é apenas uma parte de um projecto, ele teria já modelado algumas destas coisas para outros projectos, e aproveitou para daqui fazer o seu filme.

Load (2013) de Brian Sorensen

O impacto do realismo funciona melhor se não soubermos que é 3d na primeira vez que vemos. Na segunda vez, começamos a encontrar os detalhes que desmascaram facilmente o trabalho. Mas como o autor diz, sendo um projecto de fim de curso, com prazo apertado e fazer tudo sozinho não dava para mais.

A Filosofia de Miyazaki

Deixo aqui um trabalho de banda desenhada de estudante absolutamente delicioso. Ashely Allis é estudante de Belas Artes na Universidade do Michigan, na área da Modelação e Animação 3d. Numa das cadeiras do curso, Visual Storytelling, o projecto final passava por criar uma banda desenhada de cinco páginas sobre a vida de uma pessoa famosa. Ela escolheu Hayao Miyazaki.


Allis diz-nos que depois de pensar sobre o assunto decidiu que em vez de tentar traçar a história de Miyazaki iria falar antes sobre a forma como o autor pensa o mundo que o rodeia e como incorpora essas ideias no seus filmes. O resultado surge quase como uma resposta a muitos dos problemas de representação de género e moral que temos no cinema ocidental, daí que o título da história seja The Flawed Concept of Good and Evil. Sobre o género falei aqui ainda há pouco tempo a propósito do Viés do Storytelling contemporâneo. Sobre o bem e o mal, para nós ocidentais a realidade tem de ser a preto ou branco, temos dificuldade em lidar com zonas cinzentas no storytelling, queremos certezas, heróis bem definidos e coerentes, queremos princípios e queremos fechamentos fortes. Isto faz parte do modo como vemos o mundo, o nosso storytelling não é indiferente às nossas concepções de realidade. Já Miyazaki autor japonês, escreve a partir da cultura envolvente japonesa, assumindo as diferentes percepções do mundo face ao ocidente. Daí que ele se surpreenda e com razão que os seus filmes sejam bem aceites no ocidente. Estas cinco belíssimas páginas sintetizam muito bem estas diferenças entre culturas, e ajudam-nos a reflectir não apenas sobre o que é o nosso cinema, mas sobre aquilo que nós próprios somos.

Allis não usou textos directos do autor, antes criou uma história em volta de entrevistas, textos e ideias que foi lendo dele e sobre ele. Ou seja, a narração que surge no comic não é uma citação directa de Miyazaki, mas antes uma adaptação do que ele diz de modo a facilitar o ficcionar da narrativa visual. Desse modo, o que temos aqui é uma reflexão de Allis sobre as ideias de Miyazaki transposta para o formato de história gráfica. Deixo a explicação da autora, e a seguir as cinco páginas.
"these are not direct quotes from Miyazaki. I read, listened to, and and watched many, many interviews of Miyazaki, and the words in my comic are paraphrases / translations / simplified summaries of all of the notes that I took on the things that he said during the interviews. Due to the constraints of the assignment, I was challenged to find a way to word and present his whole philosophy in five short pages. I took careful, and much-considered artistic liberties when creating the narrative of this comic, and all decisions were made based upon the importance of maintaining cohesiveness between statements, so that Miyazaki's message and philosophy would be well-translated, and clearly understood through my comic." [Allis]

[Para conseguir ler, clicar na imagem que abre o visualizador de imagens do browser sobre o blog, para seguir para as páginas seguintes basta ir clicando sobre as imagens.]






maio 28, 2013

Educação e Criatividade

Battle Hymn of the Tiger Mother (2011) não é nenhuma obra de literatura brilhante, nem traz nenhuma história que me tenha surpreendido face ao que já conhecia antes, no entanto provocou em mim muita discussão interna. A razão prende-se essencialmente pelo facto de ter dois filhos pequenos e o livro falar sobre aquilo que mais me preocupa nesta fase, o modelo de educação a seguir com crianças pequenas. Mas não se ficou por aqui, porque me levou a reflectir sobre muito daquilo que faço no meu trabalho, os modelos de ensino mas também sobre a minha investigação levando-me a questionar as diferenças entre a criatividade e a produtividade, assim como as diferenças entre a educação e o treino. Nesse sentido farei uma revisão rápida do livro, e depois discutirei estas duas dicotomias.

Girl With Violin de June Schneider

No Goodreads dei 4 em 5 estrelas ao livro não pela forma literária, mas pela história contada, e pela coragem de Amy Chua em vir a público com ela. Quando o livro saiu Chua fez um texto em forma de extracto no Wall Street Journal, Why Chinese Mothers Are Superior, o artigo foi responsável por tornar o livro num bestseller quase instantâneo, o texto conta com quase 9 mil comentários, divididos entre defensores e atacantes ferozes (ver aqui abaixo a lista do que as filhas de Chua não podem fazer e que inicia o artigo no WSJ). A controvérsia gerada fez com que Chua tivesse passado o ano de 2011 a dar entrevistas sobre o livro, fora as dezenas de talkshows em que o conteúdo do artigo e livro foram discutidos nos EUA. A razão para toda esta polémica começa pelo próprio nome dado ao artigo do WSJ com a agravante de ser escrito por uma professora de Direito, da respeitada Universidade de Yale, EUA.
"Here are some things my daughters, Sophia and Louisa, were never allowed to do:
• attend a sleepover
• have a playdate
• be in a school play
• complain about not being in a school play
• watch TV or play computer games
• choose their own extracurricular activities
• get any grade less than an A
• not be the No. 1 student in every subject except gym and drama
• play any instrument other than the piano or violin
• not play the piano or violin." 

[Amy Chua, 2011]
Battle Hymn of the Tiger Mother (2011) funciona como uma espécie de diário de Amy Chua e dos anos passados a educar as duas filhas, Sofia e Lulu, já que muito da sua vida profissional e do marido fica de fora. Em termos de storytelling [***SPOILER] posso dizer que Chua executou tecnicamente na perfeição, porque desenvolveu um arco perfeito, não apenas seguindo as miúdas cronologicamente, mas iniciando o livro como uma acérrima defensora da chamada cultura educativa chinesa, para se ir vergando ao longo do livro, até quebrar com a explosão de revolta da filha mais nova. Nesse sentido é uma história bem contada, muito fluída, com um bom crescendo e personagens com grande empatia [SPOILER***]. É difícil parar de ler, mais ainda para quem tem filhos nestas idades.


Educação Chinesa vs. Educação Ocidental
Esta é uma das questões que mais polémica gerou nos EUA, e que merece alguma reflexão, até porque Chua sendo uma académica sabe que as coisas não são preto ou branco. O título do artigo WSJ é um título feito para criar polémica, e ajudar às vendas, assim como o início do livro assume um carácter mais carregado de modo a enfatizar mais a mudança de atitude ao longo do livro. Apesar disso Chua diz várias vezes no livro que não está a contrapor a cultura asiática ou chinesa contra a ocidental ou americana, ela define melhor o que quer realmente dizer, ao referir-se claramente à cultura da maior parte dos emigrantes chineses. Existe assim um duplo factor, ser asiático e ser emigrante, esta segunda característica é também cara ao povo português, e ao seu reconhecido esforço e trabalho além fronteiras.
"In one study of 50 Western American mothers and 48 Chinese immigrant mothers, almost 70% of the Western mothers said either that "stressing academic success is not good for children" or that "parents need to foster the idea that learning is fun." By contrast, roughly 0% of the Chinese mothers felt the same way. Instead, the vast majority of the Chinese mothers said that they believe their children can be "the best" students, that "academic achievement reflects successful parenting," and that if children did not excel at school then there was "a problem" and parents "were not doing their job." Other studies indicate that compared to Western parents, Chinese parents spend approximately 10 times as long every day drilling academic activities with their children. By contrast, Western kids are more likely to participate in sports teams." [Amy Chua, 2011]
O maior problema deste duplo factor são os níveis elevados de exigência e de expectativas que se criam, fruto de uma cultura habituada ao respeito e esforço do colectivo, agravado pela vivência dura de se estar deslocado do seu lugar. A exigência decorre do modo asiático baseado no trabalho duro, e que fica bem evidente no provérbio chinês "Ninguém que consiga levantar-se 360 dias no ano antes da madrugada, é incapaz de fazer a sua família rica". Por outro lado as expectativas fazem parte do ideal de pessoas que conseguem ter força suficiente para deixar o seu país e partir em busca de algo melhor. Para o fazer é preciso não só ambição como a expectativa de conseguir ser mais do que seria ficando onde está, por isso é natural que isto se reflicta depois no modo como se procurará educar os filhos.


Yuja Wang toca de modo frenético Flight of the Bumble-Bee

Para quem quiser perceber porque existem tantos prodígios asiáticos na música clássica - Yo-Yo Ma, Conrad Tao, Lang Lang, Yuja Wang, Rachel Lee, Ji-Hae Park - este livro levanta apenas a ponta do véu. Uma cultura de esforço continuado, progredindo através de uma contínua selecção dos melhores professores, e das melhores escolas. No caso das filhas de Amy Chua, além das horas de treino com os professores, existiam ainda mínimos diários em casa de duas horas, levando a totalizar 5 horas de prática diária nos dias de aulas, todos os dias do ano, mesmo quando de férias. Chua refere que de cada vez que saíam para algum lado, só escolhiam hotéis que tivessem piano, de modo a que a filha pudesse continuar a treinar as suas duas horas diárias.

Podemos criticar, e dizer que isto é apenas puro egoísmo da mãe que quer um filho perfeito, mas quem é mãe e pai, sabe bem o que custa educar uma criança. Sabe bem o que custa criar hábitos e rotinas. E que para fazer o que esta mãe faz é preciso dedicar-se de corpo e alma. Ao ler o livro só pensava, como consegue esta mãe dar aulas em Yale, orientar alunos, escrever papers, escrever livros, tomar conta de uma casa, ter dois cães, e ainda dedicar tantas horas diárias à educação das filhas, matérias lectivas e ainda o piano e o violino de cada filha, é de tirar o fôlego. A realidade é que nós os pais do ocidente simplesmente preferimos o caminho mais fácil, se a criança não quer desistimos, Chua diz isso várias vezes no livro, e isso vai sendo dito aqui e ali em livros mais recentes sobre a educação, porque se vão descobrindo problemas de outra ordem (O pequeno ditador, 2007; A Criança e a Obediência, 2008; Um bom pai diz Não, 2009). Os nossos filhos não sofrem o stress da competitividade, mas sofrem o seu contrário pela ausência de objectivos e expectativas, chegam aos momentos cruciais da vida, aquele em que têm de tomar decisões, e não fazem ideia do que querem ou não querem.

Treino vs. Educação
"Lulu was about 7, still playing two instruments, and working on a piano piece called "The Little White Donkey" (..) incredibly difficult for young players because the two hands have to keep schizophrenically different rhythms. 
Lulu couldn't do it. We worked on it nonstop for a week, drilling each of her hands separately, over and over. But whenever we tried putting the hands together, one always morphed into the other, and everything fell apart. Finally, the day before her lesson, Lulu announced in exasperation that she was giving up and stomped off. 
"Get back to the piano now," I ordered.
"You can't make me."
"Oh yes, I can."
 
Back at the piano, Lulu made me pay. She punched, thrashed and kicked. She grabbed the music score and tore it to shreds. I taped the score back together and encased it in a plastic shield so that it could never be destroyed again. Then I hauled Lulu's dollhouse to the car and told her I'd donate it to the Salvation Army piece by piece if she didn't have "The Little White Donkey" perfect by the next day. When Lulu said, "I thought you were going to the Salvation Army, why are you still here?" I threatened her with no lunch, no dinner, no Christmas or Hanukkah presents, no birthday parties for two, three, four years. When she still kept playing it wrong, I told her she was purposely working herself into a frenzy because she was secretly afraid she couldn't do it. I told her to stop being lazy, cowardly, self-indulgent and pathetic...
I used every weapon and tactic I could think of. We worked right through dinner into the night, and I wouldn't let Lulu get up, not for water, not even to go to the bathroom. The house became a war zone, and I lost my voice yelling, but still there seemed to be only negative progress, and even I began to have doubts.
 
Then, out of the blue, Lulu did it. Her hands suddenly came together—her right and left hands each doing their own imperturbable thing—just like that.
Lulu realized it the same time I did. I held my breath. She tried it tentatively again. Then she played it more confidently and faster, and still the rhythm held. A moment later, she was beaming.

"Mommy, look—it's easy!" After that, she wanted to play the piece over and over and wouldn't leave the piano. That night, she came to sleep in my bed, and we snuggled and hugged, cracking each other up."
[Amy Chua, 2011]
O que podemos ver neste excerto do livro é o resultado do treino, da prática, do trabalho árduo, longo e continuado. O problema deste excerto é o facto de estarmos a falar de uma criança de 7 anos, tudo o resto faz parte de um processo inevitável. Sem este é impossível ganhar mestria sobre uma atividade, seja esta qual for - na arte, no desporto, na ciência, etc. Um dos resultados mais importantes deste processo é o que Amy Chua refere várias vezes como sendo o objectivo último, "nada é divertido, até que sejas bom nisso". E isto é a base do que move o artista, do que move o desportista, do que move o criativo. Ser capaz de desempenhar com mestria uma técnica despoleta um sentido de realização que se traduz em gratificação psicológica, este é o elemento mais importante no desempenho de qualquer acção suportada por motivação intrínseca.

Claro que o caminho para se chegar à mestria pode ser alargado no tempo, minorando o esforço exacerbado. De qualquer modo o tempo a investir em qualquer prática não minora. É bem conhecida a regra das "10 000 horas de prática deliberada ou intencional" para se dominar um campo, fruto da investigação de Andrew Ericsson (1993, 2006). Isto não é propriamente nada de novo, Aristóteles já se referia a isto a propósito da excelência.


Apesar de tudo isto estar correcto e ter sido compreendido por nós há milhares de anos, falta aqui ainda um pequeno grande detalhe, o de que é preciso reconhecer que os seres humanos são todos diferentes. Não é por investirmos 10 000 horas que nos vamos tornar em génios executantes de uma qualquer prática ou atividade. Ou seja, não serei um grande violinista, ou um grande futebolista, apenas por ter investido este tempo. Os genes que cada um de nós carrega fazem muita diferença. Amy Chua não reconhece isso, e tal como outras pessoas continua ainda hoje a recusar a ideia que não nascemos tal qual "tábuas rasas" (Pinker, 2002). Veja-se a discussão entre ela e o marido a propósito do treino intensivo acima descrito,
"Jed took me aside. He told me to stop insulting Lulu—which I wasn't even doing, I was just motivating her—and that he didn't think threatening Lulu was helpful. Also, he said, maybe Lulu really just couldn't do the technique—perhaps she didn't have the coordination yet—had I considered that possibility?"You just don't believe in her," I accused."That's ridiculous," Jed said scornfully. "Of course I do.""Sophia could play the piece when she was this age.""But Lulu and Sophia are different people," Jed pointed out."Oh no, not this," I said, rolling my eyes. "Everyone is special in their special own way," I mimicked sarcastically. "Even losers are special in their own special way. Well don't worry, you don't have to lift a finger. I'm willing to put in as long as it takes, and I'm happy to be the one hated. And you can be the one they adore because you make them pancakes and take them to Yankees games." 
[Amy Chua, 2011]
Apesar de Amy Chua não reconhecer a diferença, isto acontece no início do livro, e ao longo do mesmo ela acabará por entender isso mesmo. Aliás essa é a grande lição que a autora do livro aprende, que somos todos diferentes, tão diferentes, que nem a prática mais severa é capaz de nos tornar em autómatos todos iguais. Por isso aprendemos que a Educação é muito mais do que o Treino. Aprendemos que o behaviorismo é importante, sem ele não pode existir verdadeira excelência na prática, mas é apenas uma parte da formação de um ser humano.

Se a vida se pudesse resumir a praticar 10 000 horas teríamos a esta altura já conseguido transformar a educação de todos os seres deste planeta. Dizer que as pessoas não são educadas porque são preguiçosas, é não compreender o quadro geral daquilo de que somos feitos. Somos seres complexos e a própria escola sofre deste problema, ou melhor algumas visões da escola. A ideia de ter exames escolares não é mais do que isto, uma visão fechada sobre o valor da educação, limitada ao mero treino. Leia-se o texto SAT’s right answers are all wrong (2013) de Monica Cohen, deixo aqui a ideia principal,
"Affluent students today learn to read for nuance in expensive private schools, but then are trained to read for simplicity by often expensive test-prep tutors. That they are coached to strategize the right test answer rather than respond meaningfully to the material doesn’t really matter, because when the testing is over, they will return to the classrooms where it is the play of ideas and the depth of thought that matter most, and where they will learn to interpret tricky texts and complex situations. The education these lucky students enjoy, whether in good private schools or good public ones, is ultimately not about strategizing the right answer on a test. It is an education of the mind and the heart. Its goals encompass not only the know-how required to make the world better materially or our bodies stronger medically, but the knowledge necessary for navigating ethical choice, failure, loss, love, the integrity of the soul. It is the education we use when we choose a partner or vote. It is the education we turn to when we find ourselves in a dark forest, for the clear path was lost. In other words, this is an education that is supposed to serve students well after college." [Monica Cohen, 2013]
Uma coisa é treinar e praticar, outra muito diferente é crescer interiormente como ser humano, algo que não se constrói apenas despejando muita prática e muita informação sobre um ser humano. A educação não pode ser apenas prática repetitiva, embora também tenha de o ser, correndo o risco de apenas criarmos autómatos. Nem todos poderão ser o Melhor Violinista do mundo, não só porque poderão não ter genes que lhes permitam a melhor acção motora, ou genes que lhe garantam a motivação infindável para continuar a praticar. Mas mais ainda, porque num planeta de milhões, apenas 1 estará na sua geração em primeiro no ranking dos melhores, todos os restantes estarão abaixo dessa posição. Não é assim matematicamente possível que todos possam estar em primeiro lugar. Além disso a vida que vivemos é feita de tantas variáveis imprevisíveis que contribuem para o acaso (Kahneman, 2011) dos acontecimentos que experimentamos diariamente. Deste modo não pode de forma algum ser recomendável que se exija isso de uma criança. Porque ao fazê-lo estaremos a criar expectativas praticamente impossíveis, que inevitavelmente conduzirão à frustração, ao desespero, e à depressão. Veja-se a TED Talk de Ji-Hae Park (2013) para saber mais sobre o sentir da depressão, e que noutros casos acabam de forma trágica.

Criatividade vs. Productividade 
Sem treino e prática não é possível melhorar tecnicamente, nao é possível ser-se verdadeiramente bom, menos ainda brilhante, em nada. Qualquer actividade só pode ser dominada com muita repetição, insistência. Uma educação completa não pode ignorar o treino, o behaviorismo, mas também não pode tornar este no seu único fundamento. A educação do ser humano deve seguir abordagens ricas e diversificadas, que envolvam também o construcionismo, o construtivismo e acima de tudo o cognitivismo. O objectivo último da educação deve ser o de desenvolver estruturas de lógica de pensamento autónomas, porque só assim a pessoa poderá ser capaz de analisar as acções que realiza de modo repetitivo no treino e na prática. Só assim poderá ir ao seu âmago para assim poder não apenas continuar a repetir, mas fazer diferente, subverter e inovar. Não é por acaso que temos magníficos executantes asiáticos, mas temos muito poucos compositores asiáticos. A autora admite-o no livro, mas não pára para perceber porquê, o que me deixou perplexo. O problema é que o treino, está apenas preocupado com a actividade em si, despreza o executante, para o behaviorismo este não é parte da equação, este deve apenas fazer tudo para corresponder ao estímulo. Desse modo não se cria espaço para o individual, para o personalizado, para as diferenças que cada ser humano comporta, no fundo a raíz elementar da criatividade humana. [Atualização 6.2.216: Encontrei um texto que toca exatamente sobre este ponto de Adam Grant, How to Raise a Creative Child. Step One: Back Off].

Les Demoiselles d'Avignon (1907). Picasso passou meses a trabalhar nesta pintura, partindo de ideias anteriores de outros grandes pintores como Cézanne ou Gauguin, para criar algo verdadeiramente diferente de tudo o que se tinha visto até ali. No vídeo acima podemos ver a exuberância técnica da repetição de Yuja Wang, aqui podemos ver a exuberância técnica da inovação por Picasso.

Paradoxalmente para se poder obter o melhor da criatividade, ou seja o melhor da individualidade de cada um, precisamos de socializar, diria mesmo maximizar a socialização. Não é por acaso que a criatividade germina mais facilmente em meio urbano, ou que a Pixar tenha desenhado todo o seu estúdio para que este provocasse o máximo de encontros fortuitos entre os seus empregados (Lehrer, 2012). Daí que faça muito mais sentido que as pessoas frequentem a escola num mesmo espaço, do que estejam sentados em sua casa e à distância. Ou seja, o treino e a prática excessiva conduzem a uma exclusão do social, algo que se pode ver bem nas regras acima ditadas por Amy Chua às suas filhas, logo na abertura do livro, que depois ao longo do livro a autora acaba por admitir mais como objectivos do que como regras estritas.

A recente decisão da Yahoo de banir o trabalho a partir de casa foi com este mesmo objectivo, o de aumentar a criatividade da sua empresa, e não de aumentar a produtividade da empresa. Até porque os estudos mostram que as pessoas produzem mais quando sozinhas, porque praticam mais, sem distracções e ao seu ritmo,
"Stanford economist Nicholas Bloom took employees at a huge Chinese travel agency and randomly assigned some to work from home while others worked in the office. Sure enough, in terms of sheer amount of work, the stay-at-homes did 13 percent more overall. Bloom’s previous studies found that firms with policies that allowed remote work were more productive in general than the companies that didn’t have such policies in place." [Clive Thompson, 2013]
Da minha experiência sinto exactamente isto. Quando fico a trabalhar em casa produzo bastante mais, porque não existem as pequenas conversas de corredor ou café que por vezes se prolongam e nos atrasam, ou que por vezes nos retiram do assunto em que estamos envolvidos. Mas sinto que fazer isto durante vários dias seguidos começa a confinar-me o pensamento, a fechar-me em ciclos de ideias. O Facebook ajuda, mas é muito diferente de estar presencialmente com as pessoas. A serendipidade que surge nestes momentos é algo que a comunicação assíncrona não consegue estimular. Por outro lado este modelo que se baseia na total imprevisibilidade das variáveis sociais é muito dado ao erro, e no final é o erro que faz de nós seres criativos. É também o erro que torna quase impossível simular Inteligência Artificial parecida com a nossa. O DeepBlue venceu Kasparov porque o que lhe era pedido não requeria intuição nem criatividade, antes apenas lógica bruta. Nós não queremos uma sociedade de seres lógicos, de Spocks, queremos uma sociedade autónoma, diversa e rica emocionalmente.

Amy Chua sintetiza as duas culturas educativas da seguinte forma,
"Western parents try to respect their children's individuality, encouraging them to pursue their true passions, supporting their choices, and providing positive reinforcement and a nurturing environment. By contrast, the Chinese believe that the best way to protect their children is by preparing them for the future, letting them see what they're capable of, and arming them with skills, work habits and inner confidence that no one can ever take away." [Amy Chua, 2011]
No fundo sintetiza aqui a diferença entre criar seres criativos e criar seres produtivos. O que nos leva à questão deixada por Thompson a propósito da decisão da Yahoo,
"Productivity and creativity, in other words, can be polar opposites. So how to find a balance?" [Clive Thompson, 2013]
O que todos nós temos de perceber é que precisamos de ser capazes de aplicar o melhor dos dois mundos. Uma pessoa muita criativa incapaz de produzir, não pode ser criativa, porque nada cria. Uma pessoa muito produtiva, sem criatividade, limitar-se-á a fazer o que lhe mandam, contribuindo apenas para a estagnação da comunidade em que se insere. Por isso defendo o moto - criar, criar, criar sempre - mas feito de um modo socialmente envolvido, em busca do melhor de si, daquilo em que se pode ser bom, e não apenas na busca de uma auto-formatação por meio da obstinação. O reforço positivo e o ambiente de carinho são essenciais, mas, são-no tanto como os hábitos de trabalho e a confiança interior construída na base da persistência.


Edição Analisada
Battle Hymn of the Tiger Mother, 2011, Penguin Group
Edição Portuguesa
O Grito de Guerra da Mãe Tigre, 2013, Lua de Papel

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Talent is Overrated. What really separates world-class performers from everybody else, (2010), análise