janeiro 11, 2013

mais vendidos, menos criativos

Os 10 jogos mais vendidos nos EUA são todos sequelas, não existe um pingo de risco, inovação ou criatividade nesta tabela. Depois de ainda no ano passado o Short of the Week ter feito uma análise sobre a evolução do fenómeno das sequelas no cinema, podemos ver que o fenómeno extravasou o campo do cinema, e infestou completamente o domínio dos videojogos. Este é um fenómeno que à luz das novas correntes de transmedia merece um estudo em profundidade, com categorias de análise que se foquem sobre o social, o psicológico e o criativo.


Os 10 jogos mais vendidos nos EUA em 2012
  1. Call of Duty: Black Ops II (360, PS3, PC, Wii U)
  2. Madden NFL 13 (360, PS3, Wii, PSV, Wii U)
  3. Halo 4 (360)
  4. Assassin's Creed III (360, PS3, PC, Wii U)
  5. Just Dance 4 (Wii, 360, Wii U, PS3)
  6. NBA 2K13 (360, PS3, Wii, PSP, Wii U, PC)
  7. Borderlands 2 (360, PS3, PC)
  8. Call of Duty: Modern Warfare 3 (360, PS3, Wii, PC)
  9. Lego Batman 2: DC Super Heroes (Wii, 360, NDS, PS3, 3DS, PSV, PC
  10. FIFA Soccer 13 (360, PS3, Wii, PSV, 3DS, Wii U, PSP)
Além da falta de criatividade no campo das sequelas, impressiona a total ausência de diversidade das próprias sequelas. Como é possível ter 5 FPS e 3 jogos de Desporto?! É insano. No caso dos jogos de desporto falamos de jogos que já tiveram mais sequelas do que muitas séries têm de episódios. É um óptimo filão este dos jogos de desporto, que todos os anos sai um novo, mudam-se as camisolas, baralha-se e volta-se a dar.

E depois ainda me perguntam porque a minha lista de Melhores Videojogos de 2012 só tem jogos independentes, bem acho que aqui está a resposta sobre aquilo que a indústria nos tem dado. De tanto quererem ouvir os fãs, de quererem criar uma relação com os consumidores, criaram um ciclo vicioso de produção, sem qualidade, e que só poderá conduzir ao declínio da própria indústria.

[via The Guardian]

janeiro 10, 2013

autoria, criatividade e dedicação

Malaria (2013) é um trabalho de excepcional qualidade artística, no sentido em que inova no campo da linguagem cinematográfica e o faz com uma enorme competência técnica, contribuindo para toda uma coerência do artefacto que o eleva acima do mero experimentalismo.


Edson Oda diz-nos que se baseou no género cinematográfico Western, na criação de Malaria fazendo uso além do western de origami, time lapse, ilustração, e banda desenhada. Mas o filme não é apenas um multiplicidade de técnicas e efeitos, é muito mais do que isso, porque toda direcção de arte é extremamente coesa, contando com um guião que demonstra um enorme talento na escrita para audiovisual. Existe aqui uma muito clara noção de tempo e ritmo, e a música é fundamental para conduzir e enfatizar e emocionalidade de cena para cena, é soberbo. Percam cinco minutos e vejam, porque vale todos os segundos.

Malaria (2013), Edson Oda

Edson Oda já tinha utilizado esta técnica, ou conjunto de técnicas, antes para fazer um pequeno filme, Writer (2012). Esse primeiro filme foi feito para submeter a um concurso patrocinado por Quentin Tarantino a propósito do seu último filme Django Unchained (2012). Oda submeteu e venceu, foi o escolhido por Tarantino, com quem pôde depois conversar em Los Angeles na Comic Con. Vejam o filme aqui abaixo.

Writer (2012), Edson Oda

Sobre Edson Oda ele é licenciado em Comunicação pela Universidade de São Paulo, e está a fazer o mestrado em Cinema na USC, Los Angeles. Mas não se pense que a técnica aqui desenvolvida caiu de um acto de inspiração. Antes de tudo isto, Oda já tinha trabalhado em publicidade no Brasil trabalhando em equipas que ganharam vários Cannes Lion, entre outros prémios individuais. Aliás antes de ganhar o concurso do Tarantino, já tinha ganho o prémio Melhor Filme de Estudante no Big Apple Film Festival 2010 e sido selecionado para o San Francisco Indie Film Festival 2010, com o filme, Laugh and Die. (2010). Podem ver aqui abaixo também.

Laugh and Die, (2010), Edson Oda

Tinha ficado surpreendido com Malaria estreado agora em 2013, depois vi Writer estreado a meio de 2012 e percebi que tínhamos aqui alguém claramente talentoso no campo do storytelling. Mas depois de ver Laugh and Die de 2010 percebi que não era mero talento, mas pura dedicação, e paixão pelo que faz. Oda demonstra uma enorme evolução nas suas competências para usar o meio audiovisual. Laugh and Die está bem escrito, tem um bom actor, mas a parte visual está ainda um bocadinho tremida. Depois Writer melhora imensa no campo visual, mas continua a sofrer no campo sonoro, e depois vem com Malaria, e apresenta um filme poderoso em todas as frentes. Writer era uma espécie de diamante em bruto, mas Malaria traz-nos esse diamante completamente cortado e polido, capaz de brilhar em toda as suas faces.
Tarantino dizia ao jovens talentos aspirantes a realizador que "precisavam de encontrar a própria voz", de encontrar a sua identidade autoral. Julgo que aqui podemos já ver um bocadinho disso, reparem como todos os três filmes trabalham uma perspectiva de fantasia da morte. Para mim mais do que tudo, o que o seu trabalho demonstra é que continua a haver muito espaço para inovar e ser criativo no mundo do cinema.

janeiro 09, 2013

Educação: O Estado Somos Todos Nós

Já consegui ler o estudo do FMI - Rethinking The State—Selected Expenditure Reform Options, January 2013. É um artigo preconceituoso fundamentado numa visão do mundo como um Mercado, contra a natureza de um Estado Social. Neste caso específico contra uma nação que desenhou uma constituição em nome de todos, e não apenas em nome dos mais fortes, dos mais dotados, dos mais espertos. Todos os assuntos neste relatório - Saúde, Educação, Seg. Social - são discutidos partindo de um único pressuposto: o Privado faz melhor do que o Estado, porque as leis do Mercado (oferta/procura) são mais eficientes que as leis da Sociedade.


Aparte isto, identifico problemas ao longo de todo o relatório que passam pela tentativa de ler o país pelas estatísticas, sem tentar compreender de que são feitas essas estatísticas. Nomeadamente quando fala de Educação, que é o que conheço melhor, e compara com os outros países Europeus, esquecendo todo o historial do país em análise, tudo o que foi conquistado, nos últimos 20 anos, e nos últimos 10 anos.

Não se pode olhar para uma estatística e usar comparativamente sem interpretar o que ela quer dizer. E para se poder interpretar corretamente é preciso conhecer a realidade daquilo que está contido naqueles números. No caso específico da Educação temos décadas de atraso face aos outros países. Não somos um país sequer de nível médio, estamos no fim da cauda em termos educativos da população. Tivemos de caminhar muito para chegar aos resultados que tivemos no PISA 2009. Não são algo para desprezar como faz este relatório.

A verdade de que não conhecem a realidade de que falam, vem à superfície quando dizem que a FP nacional possui uma larga camada de trabalhadores com baixas qualificações. Pois é, caro FMI, a nossa FP é pouco formada, porque o país como um todo é pouco formado. Andamos a lutar por fazer evoluir isto, mas começámos muito mais tarde que todos os outros. Não é algo que se veja numa única medição de PISA ou nos rankings das escolas nacionais. Deveriam saber que na FP 47.9% têm Licenciatura, enquanto no privado, só 10.6% têm licenciatura. Sendo que o número de pessoas com o 12º ano estão equiparados, nos 20%. Se consideram que 67.7% é um valor baixo de pessoas com formação acima do secundário, então o que devemos dizer do sistema privado que nem metade disto tem, ficando-se pelos 30.5% (isto são dados do Banco de Portugal, ainda que relativos a 2006).

Mas este problema é verdadeiro, precisamos de fazer subir aquele 67.7% para 90% na FP e no privado. Mas isso não é algo que vai acontecer investindo o mesmo que investe um país que já possui toda a sua população formada. Ou fazendo "mais com menos" como nos dizem encarecidamente os senhores do FMI. Porque vejamos como é que o FMI pretende solucionar o problema da Educação em Portugal. Apresentam duas ideias centrais:

1 - Reduzir os recursos humanos do Ensino Público Português em 50%.
2 - Aumentar as Escolas Comparticipadas (Charters) pelo Estado.

Porquê? Segundo o FMI porque:

1 - Os professores no topo recebem de mais.
2 - Os professores no topo trabalham de menos.
3 - As escolas comparticipadas têm melhor pontuação nos Rankings.
4 - As escolas comparticipadas são mais baratas.

Segundo o FMI isto faria com que:

1 - Os professores que saem das escolas públicas vão para as escolas privadas comparticipadas, ajudar a melhorar os resultados.
2 - Os professores que ficam, com medo de sair trabalham mais e melhor.

E eu respondo,

1 - Os rankings não são importantes. Mas analisados, a diferença nos rankings é rídicula, em 50 escolas, as Públicas só conseguiram 2 escolas no Top, as Comparticipadas conseguiram 4 é mais 100% verdade, mas no total as restantes 46 são privadas. Ou seja, na realidade em termos de TOP 50, as escolas Comparticipadas, só ficaram 4% à frente das Públicas!

2 - Mas nos rankings ainda, podemos ver que abaixo do TOP 50 existem centenas de Escolas Públicas à frente de Escolas Comparticipadas e até de Escolas Privadas. Não são apenas 2 escolas a mais, são centenas, e o que fazer, confiamos tudo no Top 50?

3 - Confiamos mesmo? Então o que dizer das 26 Comparticipadas que pertencem ao grupo que foi recentemente denunciado pela TVI. 26 num total de 81 Escolas Comparticipadas, dá 32% destas Escolas, em que se exploram violentamente os professores psicologicamente e economicamente, explicando a razão pela qual ficam mais baratas estas que as escolas públicas.

4 - Nestas 26 escolas, tudo é trabalhado em função dos Rankings, eliminando alunos maus se assim tem de ser. Algo que não pode acontecer numa Escola Pública que serve a todos, e não apenas a alguns.

5 - Nestas 26 escolas o professores, não são uma figura de autoridade, mas um mero empregado, ao serviço do patrão. Cumpre ou vai para a rua, incluindo as notas que dá, porque aqui o aluno é um cliente. E o cliente tem ou não sempre razão?

6 - Finalmente sobre os salários. Estes não são altos nem são baixos. Dependem do tamanho das instituições. Um estudo do Banco de Portugal diz que os salários são altos no público no campo da Educação, Segurança e Medicina. Mas que são mais baixos noutros campos em que existem grandes empresas em Portugal fora do Estado, por exemplo Gestão, Telecomunicações e Informática. Ou seja se por acaso Portugal viesse a ter mais escolas privadas do que públicas, o tamanho dos salários seriam invertidos, tal como acontece nas escolas americanas.

Mas o FMI sabe que assim é, então porque continua a propor esta receita? Simples, porque acredita, que um sistema regulado pelo mercado, funciona melhor do que um sistema regulado pela sociedade. Apesar do desastre de 2007, continuam a vender a mesma ideia. Tudo deve ser regulado pela lei da oferta e da procura, as pessoas devem ser afastadas das decisões. Quando dizem para mandar embora 50% dos recursos da Escola Pública Nacional, e financiar mais Escolas Comparticipadas, o que estão a dizer? Estão a dizer que querem transformar o Ensino Público, em Ensino Privado. Vendem-nos esta ideia dizendo que o Ensino será melhor, porque mais competitivo. Porque haverá professores pagos por serem bons, segundo as leis do mercado, e professores mal pagos por serem maus. E nós acreditamos?

Não. O ensino não é um produto. O ensino é algo que um país necessita como condição básica para poder progredir. Não em riqueza, mas como nação, povo, e cultura. A Educação não deve servir para criar seres altamente competitivos que tudo farão em função dos seus interesses. Mas o contrário, deve criar cidadãos que tudo farão para garantir o melhor para a sociedade como um todo. E nisto estou no polo oposto do que estes senhores do FMI acreditam ser uma Sociedade Alegre, Justa, e Rica. Aliás, estes senhores deviam olhar para as palavras sábias de uma das pessoas mais ricas do mundo, Warren Buffett, alguém que também previu o desastre de 2007. Se quiserem perceber um pouco melhor o que quer dizer esta frase de Buffet aconselho o seguinte texto.

"Make private schools illegal and assign every child to a public school by random lottery",
Warren Buffet

Nota final: Pouco é dito sobre o Ensino Superior, mas do que foi dito, só me deu para rir. Dizem que o nosso output científico é muito mau, e usam como sustentação um estudo de 2009 que usa dados de 2005!!!! Pois eu deixo-vos um mapa da revista Nature com o output dos 39 países que mais ciência produziram em 2012, e vejam lá onde está Portugal. E se não chegar podem ainda ver o Ranking of National Higher Education Systems 2012.



Outros textos sobre a nossa Educação Pública

. Vídeo, Alemanha e Educação, sobre os benefícios das escolas alemãs.
. Mitos da Educação em Portugal, sobre os mitos dos custos da nossa educação.
A Educação em Portugal e na Europa, comparação com as médias europeias.
Ideias de Crato para a Educação, 3 ideias em desacordo, e 3 ideias em acordo.


Actualização a 12.01.2012
Foram encontrados erros que o Público entretanto publicou. Alguns podem ter acontecido por lapso, mas outros acontecem por evidente omissão. São erros que retiram qualquer credibilidade que este relatório pudesse ter. Um dos quais é sobre as Propinas do Ensino Superior, como bem diz aqui o Reitor da UL, António Nóvoa, como pode o FMI falar das propinas portuguesas como valores baixos, sem apresentar um único quadro da média das propinas Europeias. Se o fizesse veríamos Portugal aparecer como um dos mais caros da Europa, triste mas real. Aqui fica a imagem do texto, cliquem para ampliar e ler.


janeiro 07, 2013

Animação: "The Sinking of the Lusitania" (1918)

The Sinking of the Lusitania (1918) é uma animação de carácter propagandístico de Winsor McCay. McCay pertence à história da animação pelo trabalho pioneiro que realizou com Gertie the Dinosaur (1914) (ver filme) e pela tira de banda desenhada Little Nemo in Slumberland (ver a primeira tira de 1905) que desenhou entre 1905 e 1927 para alguns jornais de Nova Iorque.

Pintura que retrata o ataque ao Lusitania (Autor desconhecido, Fonte)

The Sinking of the Lusitania (1918) é um filme de animação curto, que faz uso de cerca de 25 mil desenhos integralmente criados por McCay, entrecortados com títulos que vão dando informações sobre o que sucedeu em 1915. Nesse ano Lusitania era um dos maiores navios até então construídos e preparava-se para viajar dos EUA para Inglaterra. A zona marítima em redor de Inglaterra tinha sido declarada zona de guerra pela Alemanha, que patrulhava a zona com os seus submarinos U-boats artilhados com torpedos. A Embaixada alemã nos EUA fez questão de publicar panfletos nos jornais, e os passageiros do Lusitania receberam panfletos quanto aos riscos que corriam antes de embarcarem em Nova Iorque a 1 de Maio 1915. A 7 de Maio 1915 e sem qualquer aviso prévio o Lusitania foi abatido com torpedos, tendo afundado em menos de 20 minutos. Este acontecimento brutal acabaria por atirar os EUA para a primeira Grande Guerra Mundial.

A propaganda Britânica iria utilizar extensivamente o evento para incendiar a população contra a Alemanha. Desde rumores sobre existirem escolas na Alemanha que comemoravam o dia do afundamento do Lusitania, até medalhas que foram imprimidas, dizendo-se serem cópias de medalhas comemorativas alemãs sobre o abate do Lusitania, várias foram as acções tomadas para mover a população, para a incentivar a entrar no espírito da guerra.

Pelo lado da propaganda americana surgiria este filme de Winsor McCay. Sendo um filme de 1915, não é um filme brilhante, tanto na animação como na linguagem fílmica. Estávamos ainda na infância do cinema, e o cinema de animação que se fazia não passava de pequenos experimentos. Ainda assim o filme McCay fazendo uso de uma linguagem documental muito comum na época, juntamente com a música que terá sido tocada em sala aquando da projeção, serve completamente os objetivos. A animação serviu não apenas como expiação mas também como forma de dar compreender algo que era apenas uma ideia abstracta e distante para muitos.

É forçoso sentir-se tocado pelo que vemos. Tendo visto o filme agora pela primeira vez, foi inevitável para mim correlacionar o ataque ao Lusitania, com o ataque às Torres Gémeas, a 11 de Setembro de 2001. Porque o que vemos aqui não é um acidente como aquele que aconteceu com o Titanic. O que vemos aqui são milhares de pessoas inocentes a saltar de um barco, tal como as pessoas que saltaram das Torres Gémeas, não por um qualquer acidente, mas porque outras pessoas treinadas para os matar a isso os obrigaram. É um trabalho claramente de propaganda, que não só procura tornar visual uma ideia do que terá acontecido no mar, mas mais do que isso procura estimular nas pessoas o medo, e por outro lado o ódio para com quem perpetrou tão abominável feito. Neste sentido é um filme poderoso.


O filme está disponível no Internet Archive como cópia de domínio público, a que acedi através do Luís Frias. Mas aproveito para deixar aqui uma versão do YouTube, entretanto tratada pela National Geographic e com um pouco mais de qualidade.

janeiro 05, 2013

os nossos medos são as nossas histórias

A prova de que mais do que um powerpoint ou um vídeo, o que se tem para dizer e a forma como se diz é o mais importante, fica demonstrado em duas novas talks que a TED publicou esta semana. A primeira de Don Levy sobre os VFX no cinema, e a segunda de Karen Thompson Walker sobre a emoção do medo a partir da narrativa de Moby Dick.

Whaleboat and Crew Tossed into the Sea (1929), de Rockwell Kent para "Moby Dick"

Começando por Don Levy, o tema tinha tudo para fazer desta comunicação um momento TED inesquecível. Falar de uma das indústrias mais mágicas do nosso tempo, das tecnologias de efeitos especiais capazes de criar novos mundos, ilusões que parecem realidade e nos transportam para outra dimensões. Para o fazer Don Levy fala muito pouco e abre o resto do tempo para um filme cheio de imagens, cheio de filmes premiados com Oscars. Assim do que falou disse pouco, no filme em que apresenta várias comparações entre filmes do passado e mais atuais fica-se por isso mesmo, um conjunto de comparações. O resultado está à vista, como se poderá ver nos comentário deixados no site da TED e no YouTube, a desilusão com a talk é mais do que muita.

A cinematic journey through visual effects, de Don Levy

A segunda comunicação é de Karen Thompson Walker uma escritora que como a maior parte das pessoas das humanidades, ainda não usa powerpoint, nem vídeo, simplesmente se apresenta num púlpito e lê o que tem para dizer. Um pouco nervosa aqui e ali, mas o que tem para dizer é de tal forma cativante, que se sente a audiência cada vez mais silenciosa e concentrada no que ela diz. Resultado, é ver os comentários cheios de informação adicional, de pedidos até para que ela escreva um livro sobre o que acabou de apresentar.
Obviamente que Karen percebe de storytelling, e sabe como levar o público, mas ela está ali sozinha sem qualquer suporte, nada em que aliviar o seu nervosismo. Quase a nu, só se tem a ela própria e ao que percebe do que fala. No caso de Don Levy que veio artilhado com um vídeo com cheiro a Hollywood, faltou-lhe paixão, mas faltou-lhe realmente mostrar que sabia do que falava, que aquilo que tinha para dizer era verdadeiramente relevante.
Esquecendo o formal, Karen envolve-nos porque nos fala de algo importante, que todos conhecemos desde que nascemos, o medo. Retirei o seguinte excerto muito bom da sua talk e que resume o que ela foi ali dizer,
What if instead of calling them fears, we called them stories? Because that's really what fear is, if you think about it. It's a kind of unintentional storytelling that we are all born knowing how to do. And fears and storytelling have the same components. They have the same architecture. Like all stories, fears have characters. In our fears, the characters are us. Fears also have plots. They have beginnings and middles and ends. You board the plane. The plane takes off. The engine fails. Our fears also tend to contain imagery that can be every bit as vivid as what you might find in the pages of a novel. Picture a cannibal, human teeth sinking into human skin, human flesh roasting over a fire. Fears also have suspense. If I've done my job as a storyteller today, you should be wondering what happened to the men of the whaleship Essex. Our fears provoke in us a very similar form of suspense. Just like all great stories, our fears focus our attention on a question that is as important in life as it is in literature: What will happen next? In other words, our fears make us think about the future. And humans, by the way, are the only creatures capable of thinking about the future in this way, of projecting ourselves forward in time, and this mental time travel is just one more thing that fears have in common with storytelling.
Depois desta descrição sobre o que é o medo, Karen tenta ir ainda mais longe, procura estabelecer uma lógica de pensamento à volta do medo, apontando uma forma lógica de lidar com este. Karen fala-nos da análise artística e científica, e diz-nos que por vezes a análise científica dos nossos medos, procurando compreender de que são feitos, entrando no detalhe do que se constituem e do que quererão realmente dizer-nos, pode ajudar-nos a tomar decisões mais racionais.
Ficamos a ouvir Karen, e a dar-nos conta do quão importante e verdadeiro é o que esta acaba de nos dizer. Sabemos que a força das suas palavras se deve ao facto de as ter entrelaçado de forma magnífica numa história de marinheiros perdidos em alto mar, mas também sabemos que aprendemos algo de novo por a termos ouvido. E é isto que faz uma boa comunicação, ao ponto de me ter deixado com imensa vontade de ler o seu livro, The Age of Miracles (2012).


What fear can teach us de Karen Thompson Walker

geometria em movimento

That Will Be The Day (2012) é uma colaboração audio/visual entre o compositor Aldo Arechar e o motion grapher Matthew DiVito. A música é retirada do novo EP, "I", de Arechar que podem ouvir completo no Bandcamp. Se quiserem mais sigam para o álbum Water, também de 2012 e também completo online.


Mas se a música é sublime, considero o visual ainda mais. Já aqui falei do trabalho de Matthew DiVito quando este fez um jogo visualmente brilhante, Of Species (2011), para o Ludum Dare 24 que nomeei mesmo como um dos melhores jogos de 2012. Entretanto DiVito tem sido muito reconhecido online pelo seu trabalho fantástico com gifs animados.

White Xmas (2012) gif animado de Matthew DiVito

Aliás este meu texto surge com duas novidades de DiVito, porque depois de realizar este vídeo em Novembro passado, voltou a entrar no LudumDare 25 em Dezembro. Como resultado temos agora The White Rabbit (2012), mais uma obra visualmente brilhante. Desta vez já não em Flash, mas em Unity, com movimentação 3d, com pedaços de narrativa, sem qualquer gameplay, mas capaz de gerar em nós momentos de profunda contemplação. O jogo é curto como já era Of Species, mas tendo em conta a qualidade visual produzida em 48 horas, era díficil pedir mais.

The White Rabbit, (2012), Matthew DiVito, Ludum Dare 25 [Play]

O filme que podem ver aqui abaixo obedece à mesma lógica visual de ambos os jogos - Of Species e The White Rabbit. O filme envolve-nos num mundo geométrico que poderia facilmente atirar-nos para o vazio, austero e árido, mas que DiVito contrapõem muitíssimo bem com luz muito quente, extremamente radiante, e brilhos estelares que nos emocionam. Temos aqui uma imagem de marca no trabalho de DiVito que pode ser vista tanto nos jogos, como nos filmes, como nos gif animados. Esta sua necessidade de iluminar com intensidade mas de forma difusa, fazendo brilhar objectos que nos atraem, aquecendo o ambiente com tons pastéis e luzes com temperaturas quentes, em busca da criação de novos espaços acolhedores, é sublime.

That Will Be The Day (2012) de Matthew DiVito e Aldo Arechar

padrões do storytelling fílmico

Já aqui falei de Kogonada quando falei da nova tendência criativa do universo vídeo online, os supercuts. Trago agora os seus dois mais recentes trabalhos, o primeiro que analisa o elemento da passagem em Yasujirô Ozu. O segundo que trabalha excertos dos filmes que ganharam últimas edições do Moët British Independent Film Awards.


Não consigo deixar de me espantar e de dizer aqui, apesar de tudo o que já disse no texto anterior, que Konogada tem não só um olhar clínico, como uma enorme facilidade em materializar as ideias que observa. Aqui o objectivo de Kogonada é concentrar num efeito estilístico a marca autoral e estética de um autor.
The films of Ozu are filled with people walking through alleys and hallways: the in-between spaces of modern life. This is where Ozu resides. In the transitory. It’s what he values as a filmmaker. Alleys are not an opportunity for suspense but for passage. 
Ozu // Passageways

Já no segundo filme, Kogonada concentra-se em alinhar não apenas os padrões visuais, mas vai mais longe na tentativa de desenvolver quase uma espécie de mini-gramática dos verbos do storytelling cinematográfico. É extremamente interessante a forma como ele junta todas estas sequências, lhes desenha um padrão claro, e nos faz perceber mais concretamente do que é feito a linguagem do cinema.

2012 Moët British Independent Film Awards

janeiro 04, 2013

Ranking of National Higher Education Systems 2012

"A nation’s economic development depends crucially on the presence of an educated and skilled workforce and on technological improvements that raise productivity. The higher education sector contributes to both these needs: it educates and trains; it undertakes pure and applied research. Furthermore, in a globalised world, a quality higher education system that is well-connected internationally facilitates the introduction of new ideas, and fosters trade and other links with foreign countries, through the movement of students and researchers across national frontiers."


"While there are a number of international rankings of universities, less effort has been put into quantitative rankings of national systems of higher education. The international rankings of universities emphasise the peaks of research excellence. They throw no light, however, on issues such as how well a nation’s higher education system educate all its students, possessing different interests, abilities and backgrounds. Evaluation was done on 48 national higher education systems by providing rankings in four broad areas:"

• Resources (Portugal = 23)
"Governments typically provide core funding for teaching in public institutions. We measure total funding in both relative terms, as a percentage of GDP, and in absolute terms, namely funding per student, taking account of differences in purchasing power of money in different countries. "The availability of financial resources are definitely essential because they condition the degree of autonomy of research universities" (Salmi, 2011)."

• Environment (Portugal = 21)
"The regulatory environment is important for ensuring that resources are used efficiently. Excessive regulation of employment conditions will limit the contributions of academics and the capacity to attract and retain globally-competitive talent. Restraints on competition may hinder innovation in teaching methods."

• Connectivity (Portugal = 24)
"The worth of a national higher education system is enhanced if it is well connected with the rest of the nation’s society and is linked internationally in education and research. High connectivity provides two measures of the worth of a nation’s higher education system: it is an indicator of the
quality of teaching and research and it is an indicator of absorption of new discoveries and ideas."

• Output (Portugal = 28)
"A good higher education system provides the nation with a well-trained and educated workforce that meets the country’s needs, provides a range of educational opportunities for people with different interests and skills, and contributes to national and world knowledge. To capture these desired outcomes we use measures of research output and impact, student throughput, the national stock of researchers, the number of excellent universities, and employability of graduates."


"There is a strong relationship between resources and output: of the top eight countries in output, only the UK and Australia are not in the top eight for resources. There is some evidence of groupings of neighbouring countries. The four Nordic countries are all in the top seven; four east Asian countries (Hong Kong SAR, Japan, Taiwan and Korea) are clustered together at ranks 18 to 22; Eastern European countries (Ukraine, Czech Republic, Poland, Slovenia) are together in the middle range; and the Latin American countries (Chile, Argentina, Brazil and Mexico) cluster together. It would seem that while many countries may feel they cannot hope to match the higher education system in the United States, they do want to match that of their neighbours.

The United States and the United Kingdom have the world’s top universities. But on a weighted per capita basis the depth of world class universities is best in Switzerland and Sweden, with Israel and Denmark next in rank order."


[All the text in this post was taken directly from the Full Report 2012 U21 Ranking of National Higher Education Systems. Universitas 21 is a global network of research-intensive universities: University of Amsterdam • University of Auckland • University of Birmingham • University of British Columbia • Pontifical Catholic University of Chile • University of Delhi University of Connecticut • University College Dublin • University of Edinburgh • Fudan University • University of Glasgow • University of Hong Kong • Korea University • Lund University • McGill University • University of Melbourne • Tecnológico de Monterrey • University of New South Wales • University of Nottingham  University of Queensland • Shanghai Jiao Tong University • National University of Singapore • University of Virginia • Waseda University]

janeiro 03, 2013

OffBook #34: "The Art of Creative Coding"

É já um dos melhores episódios da série OffBook porque trata uma das áreas mais importantes das artes digitais e porque o faz de forma bastante informativa. O tratamento dado ao tema, The Art of Creative Coding, é feito dentro do espírito da comunidade, citando apenas ferramentas opensource - Processing, Cinder e Open Frameworks - fazendo com que o documental ganhe um verdadeiro lado pedagógico.


No vídeo podemos ver entrevistas com Daniel Shiffman do Interactive Telecommunications Program, NYU, Keith Butters do Barbarian Group, e ainda James George e Jonathan Minard do RGBDToolkit. A equipa da PBS Arts seguindo o seu instinto pedagógico deixa-nos ainda a lista completa de todos os trabalhos utilizado no documentário. Pena não apresentar nenhum trabalho nacional do João Martinho Moura ou do André Sier, dois dos mais conceituados artistas nacionais na área



É isto que se faz no nosso Mestrado em Tecnologia e Arte Digital da Universidade do Minho sendo o local onde o João Martinho Moura, não apenas realizou o seu mestrado, mas onde é agora docente.