dezembro 13, 2012

Cutscenes, "modo de usar"

No passado cheguei a pensar, por pouco tempo, que as cutscenes não deveriam existir na arte dos videojogos. A razão para ter sido apenas breve esta ideia foi porque tal como é dito neste Extra Credits, as cutscenes são uma ferramenta de comunicação como outra qualquer nos videojogos, como tal um criador não se deve autolimitar por mero fundamentalismo. Isto não invalida que não procuremos inovar a linguagem da interactividade, mas esta não pode realizar-se através da mera castração de uma ferramenta de storytelling.


Tal como no Cinema em que continuamos a usar actores em palcos que dramatizam cenas, seguindo aquilo que se faz no Teatro, nos videojogos também podemos utilizar cutscenes que utilizam os princípios cinematográficos. Aquilo que precisamos de perceber é a melhor forma de utilizar essas cutscenes, tal como o cinema fez com o palco, em que deixou de o apresentar filmado em plano geral e passou a colocar a câmara dentro do próprio palco. Ou seja a indústria precisa de compreender quando a cutscene deixa de ser uma ferramenta ao serviço do jogo, e passa a ser um elemento autónomo.


Neste sentido gosto deste Extra Credits do James Portnow, porque procura responder à questão académica, sobre qual será um possível bom uso das cutscenes. São apresentadas duas possibilidades, não sei se são as únicas, mas concordo com ambas:
"1 - The powerlessness of the player"
"2 - Context"
Apesar de Portnow defender que a primeira é menos importante, eu leio o contrário. E dou o exemplo da sequência de abertura do primeiro Max Payne. O facto de me ser retirado o controlo da acção na cena por via das cutscenes, é o que torna tão dramático e brilhante as mortes da família do meu personagem. Nesse sentido, estamos a fazer um uso muito específico e delimitado da cutscene, mas é para mim sem dúvida, uma das suas virtudes mais poderosas, o momento em que nos é retirado o controlo do mundo.

Cena de abertura de Max Payne (2001), vejam a partir de 3m14s. Embora só se possa compreender completamente, jogando o momento.

Quanto ao contexto, é natural que concordo, embora não sinta que seja uma necessidade absoluta. Concordo mais no sentido de as cutscenes não passarem dessa linha de contextualização. Ou seja, criarem o espaço contextual e atmosférico para a narrativa poder acontecer durante a interactividade, mas não irem além disso, correndo o risco de se autonomizarem do próprio jogo.

Extra Credits: Cutscenes

dezembro 10, 2012

Assistant Professor in HCI / Digital Media

The Department of Information Systems, School of Engineering at University of Minho, Portugal is looking for international candidates for one Assistant Professor - Tenure Track (na carreira portuguesa corresponde a Professor Auxiliar de carreira) position in the subject area of Engineering and Technology for Information Systems.


We are specially interested in candidates with a particular relevant CV in the area of Human-Computer Interaction and/or Digital Media to intervene in the context of the Master in Technology and Digital Art and conduct research in those and related areas within the context of the engageLab.

Master student works of 2012 (MTAD)

You can find the call for the position with the details on how to apply in English and Portuguese. The application process is open until the 10th of January, 2013.

School of Engineering at University of Minho

The school of Engineering at University of Minho is located in Guimarães, Portugal.

Guimarães, jointly with Maribor, is the European Capital of Culture in 2012, and was elected by the New York Times one of the 41 places to go in 2011. NYT called it one of the Iberian peninsula's emerging cultural spots.

For any questions and doubts contact Prof. Dr. Pedro Branco: pbranco@dsi.uminho.pt

dezembro 09, 2012

Sangue do Meu Sangue, uma obra-prima

Sangue do Meu Sangue é provavelmente um dos 10 melhores filmes portugueses de sempre. O seu registo é perfeito em toda a linha, realização, montagem, cinematografia, som, direcção de actores, guarda-roupa e claro os actores, os actores a servirem totalmente o cinema de João Canijo.


Apesar de tanta perfeição, não posso deixar de destacar três elementos: a escrita, a realização, e a interpretação de Rita Blanco. Da escrita podemos destacar o emaranhado de nós, a forma como somos levados por entre as vidas daquelas personagens, a narrativa não nos prende a um personagem em particular, antes nos prende à essência da vida ali presente, do seu modo, do seu peso, da sua anunciada tragédia. Claramente que empatizamos, mas cada um segue o personagem mais próximo de si, não existe um centro, porque o centro é a vida, a narrativa não dá corpo a um herói que se manifesta, antes coloca em evidência uma forma de estar na vida, de a encarar, de a viver e sentir. Neste sentido Canijo aproxima-se muito de Mike Leigh, tratando realidades diferentes – Inglaterra e Portugal – mas de forma tão próxima. O que aqui é relevante é o espectador compreender o mundo a partir da perspectiva daquelas pessoas, um universo real, longe da realidade adocicada de telenovela ou mesmo de telejornal. Não deixa de ser estranho no mundo de hoje, termos de ver um filme ficcional para sentir a realidade que um telejornal deixou de ser capaz de nos dar a ver.


No campo da realização, fiquei verdadeiramente impressionado pelo trabalho de Canijo, porque apesar de conhecer o seu trabalho prévio, este têm-se evidenciado mais pela escrita do que propriamente pela realização. Mas aqui ele vai bem mais longe, e chego a pensar que estamos perante uma nova forma de filmar, de algum modo pós-moderna. No sentido em que somos transportados por entre o drama e tragédia por meio de um autêntico festim de diálogos cruzados, colocados em cena de modo simultâneo, não diferentemente do que aconteceria na realidade, mas diferente do que estamos habituados a ver. Até aqui o cinema tem sido assertivo na apresentação das suas ideias, os diálogos não se cruzam, a menos que sejam meramente figurativos, ora aqui isso torna-se parte da estética do filme. Sentimos um certo desejo de colocar o espectador em atividade “multitasking”, tendo de seguir diálogos em simultâneo no ecrã e que surgem por cada canal do estéreo. Não podemos deixar de dar a devida a atenção a cada um deles, mas sentimos que exige de nós, sentimos que o filme nos envolve, nos abraça e nos obriga a entrar adentro dele. A câmara assume o seu papel de narrador mas como se de um autor implícito se tratasse, porque é ela que nos conta, é ela que nos coloca na cena, nós percebemos claramente que estamos ali como que a invadir o espaço privado daquelas pessoas, um espaço do qual a câmara faz parte. A juntar a isto, a construção sonora é irrepreensível, porque assegura uma realidade muito clara do espaço em que estamos, do modo denso e profuso que se vive em cada um dos espaços que nos aparecem. Canijo conseguiu reconstruir "vida" na tela.


Finalmente o trabalho magistral de Rita Blanco, não apenas ela, todos os actores são magistrais de um naturalismo tão perfeito que nos parece que invadimos o seu espaço por meio da câmara. Todos eles integrados, mesmo aqueles que nos habituámos apenas a ver em telenovela, morfoseiam-se e assimilam o personagem, somos incapazes de os descolar do espaço em que se apresentam. Sente-se que isto só poderia ser conseguido com o espaço dado ao improviso, a naturalidade com que as emoções jorram no ecrã não se consegue com diálogo memorizado, tem de ser sentido, tem de ser jorrado no calor da construção da cena, ainda que claro siga directrizes. A cena mais conseguida nestes moldes acontece durante o almoço dos "carapaus do Nini" em que a força emocional da cena atinge um pico intensamente realista, deixando-nos por momentos ansiosos, e com o coração a bater mais rápido. Por outro lado o filme acentua ainda mais este naturalismo com o contraste dado pela família de classe alta que aparece a meio do filme e que se encena, no sentido clássico da palavra, em que não se sente o pulsar da vida, mas apenas e só a fachada construída daquilo que se espera ser uma vida. Ainda assim e no meio de todo este calor interpretacional, Blanco impressiona, porque tem um magnetismo, porque é ela e não uma personagem, porque embora não sendo, parece tanto, que só pode ser. Blanco é a mãe que lutou toda uma vida para dar o melhor aos seus filhos, mas nem sempre as coisas correram da melhor forma, mas ela ali está com uma força tremenda, capaz de continuar a lutar e a tudo fazer para garantir que os seus filhos terão algo melhor do que ela. Aliás, agora que corre na nossa sociedade aquela ideia de que os nossos filhos viverão pior do que nós, é bom que vejam este filme e percebam porque isso não pode ser verdade, porque não o permitiremos, nem hoje, nem nunca.

dezembro 08, 2012

curta, demasiado curta

Trago um pequeno filme que saiu há cinco meses, por altura dos Jogos Olímpicos de Londres 2012. Já o tinha visto antes, mas no seu formato curto de um minuto, só agora descobri que existia uma versão estendida, ou melhor que a versão original tinha 2m40.



Quando vi a versão curta, adorei o 3d, essencialmente a luz e a cor, mas enquanto filme não me pareceu suficientemente forte para perder tempo a partilhar, o que em certa medida explica porque razão um filme tão bom não conseguiu tornar-se viral. Mas vendo agora a versão completa, percebi o que se passava com o filme curto, a animação parecia ser um mero sucedâneo dos vários desportos, sem qualquer contextualização, sem detalhe do ambiente, nem espaço para respirar o ritmo do filme. Esta versão de 2min40 mostra bem porque a Passion Pictures é uma das empresas mais conceituadas internacionalmente no campo dos VFx para publicidade, o filme completo é um verdadeiro deleite.


Comparem com a versão curta.

35 anos de plataformas e géneros

Esta semana analisei na Eurogamer a evolução dos géneros e plataformas dos últimos 35 anos na indústria dos videojogos a partir de dois gráficos realizados por um utilizador do Reddit, o NcikVGG que apresentam uma leitura gráfica baseada em 24 mil títulos que foram listados por vários utilizadores do site VideoGameGeek.


Podem ler a análise no site da Eurogamer.

dezembro 07, 2012

a música visualizada

Understand Music (2012) é um trabalho que procura dar uma forma visual à forma musical, explicando o que esta é por meio de movimento gráfico. É um trabalho curto, mas dada a sua pureza, simplicidade e coerência, posso dizer que é talvez o melhor trabalho que alguma vez vi com este objectivo, que é imensamente complexo, algo que os próprios autores acabaram por reconhecer no seu site.



Produzido por um recém criado estúdio alemão, Finally, dedicado às artes visuais, Understanding Music tenta dar forma visual à musicalidade por intermédio do conceito de livro, e do movimento gracioso de tudo o que se move no ecrã. A tipografia é utilizada de forma brilhante discutindo o que se ouve, mas também o que se vai vendo, dando uma maior profundidade a toda a conceptualização da ideia do que é a música. É um trabalho que demonstra um domínio técnico das artes de ilustração e animação muito apurado, assim como uma enorme sensibilidade estética. Um estúdio que muito facilmente conseguirá vingar em diferentes áreas do design de comunicação.
Music is a good thing. But what we did not know until we started with the research for this piece: Music is also a pretty damn complex thing. This experimental animation is about the attempt to understand all the parts and bits of it. Have a look. You might agree with our conclusion!
Understand Music, (2012) de Finally

dezembro 06, 2012

trilogia em videoclipe

Um músico, M83, junta-se com uma dupla de criativos visuais, Fleur & Manu, e criam aquela que será provavelmente a primeira trilogia no formato de videoclipe. M83 trabalha sonoridades electrónicas e uma das suas músicas mais conhecidas, Outro, foi recentemente utilizada no trailer do filme Atlas (2012). A ideia para a trilogia surgiu do facto deste último album de M83 ter surgido quase como uma banda sonora na cabeça Anthony Gonzalez, fundador do projecto M83.

“I love composing music and making music with pictures in my head, it’s really what’s driving me. Cinema is the biggest influence for me – even bigger than music itself, so this album is built as a soundtrack, as an imaginary film. This is what we tried to convey with this trilogy. When I first talked with Fleur and Manu about this video project it was pretty obvious we wanted the same results. I think they were the perfect directors to achieve this…”
As três curtas utilizam como pano de fundo o cinema de ficção científica, indo buscar referências a Village of the Damned,  Close encounters of the Third Kind, Akira ou 2001, A Space Odyssey. A narrativa começa com Midnight City, no qual um grupo de miúdos ganha poderes de telecinésia e foge de um asilo. No segundo, Reunion, os miúdos defrontam as autoridades e juntam-se, para no terceiro, Wait, nos levarem por uma viagem introspectiva cheia de questões à lá 2001.

Parte 1 - Midnight City


Parte 2 - Reunion

Parte 3 - Wait

Se preferirem ver directamente no YouTube, usem o link para a playlist com os três filmes.

dezembro 04, 2012

Remix na TED

Kirby Ferguson foi ao palco da TED falar sobre Embrace the Remix que tem por base o seu trabalho conceptual em redor da criatividade. Depois de quatro brilhantes vídeos que formam a série, Everything is a Remix, em que Kirby demonstrou com exemplos muito claros como é que a criatividade humana funciona, agora podemos ver tudo isto resumido numa TED de 10 minutos.


O trabalho de Kirby tem duas frentes muito concretas, uma pretende explicar como se processa a inovação e criação humanas. Num segundo plano e assente nesta desconstrução pretende desmascarar aquilo que grandes empresas como a Apple, entre outras, andam a fazer  com as suas patentes e os seus processos em tribunal, demonstrando que estas deixaram de contribuir para a inovação e criatividade, mas antes para a sua castração.



O que Ferguson diz não é nada de novo, e foram já muitos os inventores, artistas, designers, engenheiros e criadores que admitiram que aquilo que fizeram não passou de fruto da inevitabilidade do avanço da raça humana ou da "inevitabilidade da tecnologia". É exatamente assim que funciona todo o espirito científico, construir em cima do conhecimento de quem veio antes de nós, e só assim conseguimos evoluir civilizacionalmente. Vejam a talk e vejam pelo menos o quarto vídeo que é o mais elaborado da série.

dezembro 02, 2012

Filmes de Novembro 2012

Este mês consegui ver um filme que andava há 14 anos para ver, e nem sequer é um filme inacessível, simplesmente em todo este tempo não consegui encontrar o momento certo, com a disposição certa para o ver. Falo de The Thin Red Line (1998) que não me desapontou, longe disso, mas julgo que por o ter visto depois de The Tree of Life (2011) acabei por não lhe conseguir dar a nota máxima. Muito provavelmente se o tivesse visto em 1998 teria dado a nota máxima, e por isso estarei a ser injusto. Para além desta obra do Malick vi ainda dois belíssimos filmes de que falei aqui já no blog, About Elly e The Boy in the Stripped Pyjamas. Pelo lado negativo, apanhei duas grandes surpresas, Cosmopolis e Savages. Cosmopolis tem uma belíssima primeira parte, mas não se aguenta na segunda metade. Savages, acaba por ser demasiado como o próprio título, e acaba por me retirar o resto da paciência que ainda tinha para Oliver Stone, inevitável lembrar-me de Natural Born Killers, mas aqui sem a componente formal, nem qualquer espírito crítico, acaba por ir em minha opinião na direcção errada. Surpreso fiquei também com o facto de Amazing Spider-Man não passar de um remake de Spider-Man de 2002, passaram apenas dez anos! Impressiona mais ainda porque é um dos personagens Marvel mais rico em histórias, porquê voltar ao mesmo!

xxxxx About Elly 2009 Asghar Farhadi Irão [Análise]

xxxx The Boy in the Striped Pyjamas 2008 Mark Herman UK [Análise]

xxxx The Thin Red Line 1998 Terrence Malick EUA

xxx Atmen 2011 Karl Markovics Austria

xxx PingPong 2006 Matthias Luthardt Alemanha

xxx Wonderful Days 2003 Moon-saeng Kim Coreia Sul

xx Savages 2012 Oliver Stone EUA

xx Cosmopolis 2012 David Cronenberg Canada

xx The Amazing Spider-Man 2012 Marc Webb EUA

xx People Like Us 2012 Alex Kurtzman EUA

xx Extraterrestrial 2011 Nacho Vigalondo Espanha

xx Trespass 2011 Joel Schumacher EUA



[Nota, Título, Ano, Realizador, País]
[x - insuficiente; xx - a desfrutar; xxx - bom; xxxx - muito bom; xxxxx - obra prima]