setembro 24, 2012

The Renter (2011)

O vencedor do Grande Prémio Cinanima 2011 acaba de ser colocado online. The Renter (2011) foi criado pelo americano Jason Carpenter, tendo iniciado a sua produção quando ainda andava na CalArts, apenas o terminaria um par de anos depois do curso. Carpenter diz-nos que a história permaneceu, porque é baseada na sua infância, ainda que exagerada aqui e ali, o universo criado faz parte das suas memórias.


Em termos expressivos o trabalho explora de forma inovadora a animação de pintura, do borrão de tinta, do ruído visual tudo dentro de uma enorme coerência visual. Ao ver o filme pela primeira vez, pensei que existia ali muita arte tradicional, muito papel riscado, mas algumas coisas pareciam demasiado vectorizadas para o ser. Na verdade Carpenter diz que optou por utilizar apenas ferramentas digitais, queria explorar e ver o que elas lhe conseguiam dar. Usou o extensivamente Photoshop para trabalhar as texturas e o Flash para animar, e isso nota-se mas nem por isso como um mau efeito antes servem para demonstrar que o que conta é a identidade visual que se procura, e não a ferramenta que se usa.




Based on a true story, it follows a young boy, who discovers that daycare can be a harsh and confusing world, where caring is shown in unexpected ways. ​

The Renter (2011) de Jason Carpenter

[Via Short of the Week]

sufocado pela perda

Grounded é uma curta experimental de ficção científica, criada por Kevin Margo director de VFX na Blur. O experimentalismo ocorre ao nível da narrativa que busca expressar sentimentos de Kevin Margo em relação ao seu falecido pai, e para isso utiliza efeitos de recorrência narrativa criando realidades paralelas para dar corpo à sua história. A introspecção é expressa num registo minimal jogando com o espectador, obrigando-o a uma atenção redobrada em busca de pistas que o possam ajudar no processo de inferição de sentidos.


Em termos de mensagem Grounded é uma obra muito interessante porque apesar de todo o aparato CGI envolve-nos em sentimentos pessoais e íntimos. Temos aqui o autor a socorrer-se do meio que melhor domina para exorcizar as suas culpas, medos, e desejos. Como diz Jason Sondhi do Short of the Week, é um trabalho CGI que ao contrário da corrente atual não se limita a ser um espectáculo visual, tem algo para nos dizer, algo profundamente humano.



No campo formal a beleza e perfeição das atmosferas conseguidas exigem anos de experimentação ao nível da direcção de arte visual assim como na criação de efeitos visuais. Para se entrar pela técnica adentro aconselho verem os VFX Breakdowns (aqui abaixo) depois de verem o filme. Por mais que veja estes breakdowns nunca me canso, porque são a prova de que os sistemas de produção se alteraram drasticamente, e hoje fazer um filme não se mede mais pelo número de pessoas que temos nem pelo dinheiro que conseguimos angariar, mas mede-se apenas e só pelo talento e empenho dos criadores.

Grounded (2011) de Kevin Margo

One astronaut's journey through space and life ends on a hostile exosolar planet. Grounded is a metaphorical account of the experience, inviting unique interpretation and reflection by the viewer. Themes of aging, inheritance, paternal approval, cyclic trajectories, and behaviors passed on through generations are explored against an ethereal backdrop.

VFX Breakdowns

Para chegar a este resultado final Kevin Margo utilizou uma 5D II para as cenas base, e uma 7D para criar cenas a 60fps, com três lentes - 24, 50 e 135. A montagem foi feita com o Vegas, e o tracking com PFtrack. Para o desenvolvimento 3D, usou o Zbrush, Vray e o 3ds Max. Na composição final de tudo trabalhou com o Fusion e o AE/MagicBullet para a gradação de cor.

memórias perdidas

Curta inspiradora sobre as memórias digitais, sobre as transformações na sociedade que todo este poder de registo externo tem vindo a operar, e ao mesmo tempo sobre toda a sua efemeridade e desconexão da realidade humana. Lost Memories (2012) é um filme de Francois Ferracci que tem trabalhado como director de arte e de VFX.


Um casal que tira fotografias num lugar turístico, e que em vez de aproveitar o momento, se perde no meio do processo de registo desse momento. O contraste entre o digital e o analógico tão bem explorado por via do casal que eleva a discussão para o patamar daquilo que faz de nós seres humanos. São as experiências que criam a nossa identidade, e não os registos dessas experiências. Este é um vídeo que vem totalmente de encontro a um texto que escrevi para a Eurogamer sobre a Posse e a Experiência.


De tudo, a única coisa que realmente importa são as relações humanas e não os espólios exibicionistas e narcisistas. O momento em que a Polaroid regista aquela imagem esclarece tudo isso, não queremos ser apenas uma imagem, continuamos a ser feitos de emoções e momentos.



Fica aqui o link para o breakdown dos VFX.

setembro 23, 2012

Monsterbox, 3d com muita cor

Mais um filme da escola de Bellecour (Lyon, França) da licenciatura em Infografia 3d. Depois de na semana passada ter aqui trazido Destiny do mestrado em 3d e Entretenimento, agora é a vez de Monsterbox de Ludo Gavillet, Lucas Hudson, Colin Jean-Saunier et Dérya Kocaurlu. Uma escola a continuar a seguir.



O que me impressionou mais foi a cor, de tão brilhante quase fluorescente, de uma diversidade enorme, e com excelentes contrastes. Claramente nos atira para as sequências iniciais em Sunnyside no filme Toy Story 3 da Pixar. A história não é original, um dos monstros até é demasiado parecido com Stitch, ainda assim o final está muito bem conseguido e consegue surpreender.



Vale a pena dar uma vista de olhos no making of depois de ver o filme.

Prometheus, a arte da forma

Não vi quando saiu, mas desde então tenho lido muitos comentários ao filme, muitos negativos, e isso foi bom, porque me baixou imensamente as expectativas, contribuindo provavelmente para o facto de eu ter sentido o filme como uma obra poderosa. Um filme é muito mais do que aquilo que diz, para mim é a forma como o diz que mais interessa.


Prometheus serve-nos uma atmosfera que em nada fica a dever a Alien (1979), cruza uns rasgos musculados de Aliens (1986) mas pouco. O filme suga-nos para o seu interior, e por duas horas sentimos aquele espaço como real, existente e consequente. Isto era o forte da série, e continua a ser aqui. Esteticamente assistimos a um ambiente que mescla muito bem cenários e mecânicas barrocas que nos atiram para o nosso passado, trabalhados num tom grotesco, com cenários de um futuro tecnologicamente avançado. O cruzamento funciona ainda entre o puramente orgânico e o puramente artificial, criando uma mistura que nos deixa pouco à vontade, e cria a estranheza em nós para que o thriller não se sinta forçado, mas antes faça parte do ambiente de modo natural. Já não é apenas HR Giger que temos aqui, porque o grotesco foi minorado, no sentido em que as criaturas são agora totalmente antropomórficas (não todas), criando familiaridade e proximidade afastando-nos do puro grotesco. Mas o seu sentido atmosférico continua aqui a imperar nomeadamente na tendência para um monocromático de tons azulados.


A essência narrativa do filme está na ausência de respostas para as questões levantadas, nomeadamente o graal, tantas vezes buscado. Ainda que aqui a semi-resposta tenha procurado fundir o esoterismo com alguma cientificidade. Diria mesmo que nesta primeira parte Prometheus nos lança numa espécie de ideal semi-criacionista. Semi porque não está de acordo com as datas nem com a identidade do criador definido por esse movimento. Aliás talvez mesmo para fugir a essa ligação, os "criadores" sejam aqui apelidados de Engenheiros. Ainda assim a tese é um tanto ridícula no sentido em que a hipótese apresenta o planeta Terra plenamente desenvolvido, com toda a atmosfera necessária à existência de vida já estabelecida, e no entanto incapaz de dar origem à vida, o que não faz qualquer sentido numa perspectiva evolucionária. Ou seja, aqui advoga-se que teria sido necessário o aparecimento de uma estrutura (DNA) vinda de fora do planeta para acender a centelha da vida.


Não sei como se confirmará tudo isto numa segunda parte, já que se entre-abre a discussão sobre quem criou os engenheiros, atirando-nos para o mito de Prometeu. O filme foi claramente feito a pensar numa segunda parte, e sem ela fica tudo em aberto. É mais do que jogar no minimalismo, ficam mesmo muitas pontas soltas que só poderão ser fechadas numa segunda parte. Não é contudo por não acreditar nesta ideia criacionista a partir do exterior que desdenho o filme, se não teria de o fazer em muitos outros ângulos, trata-se de um filme ficcional, estamos no reino do mito, e o filme nada perde com isso.







setembro 22, 2012

OffBook #28: "The Art of Web Design"

O episódio desta semana na OffBook é sobre The Art of Web Design. Pequena revisão histórica sobre a evolução do design na web, desde o HTML, CSS e Flash passando pelas discussões sobre forma ou conteúdo, até aos fundamentos da experiência do utilizador.



Uma das questões mais interessantes levantadas pelo documentário está relacionada com as plataformas móveis que vieram alterar profundamente o desenho em função do utilizador e do contexto. Não é possível saber se um site vai ser visto: rodeado de milhares de pessoas num concerto num ecrã diminuto; na intimidade de um quarto num tablet; ou num escritório num ecrã de 27'. É preciso desenhar experiências visuais que sejam adaptáveis, moldáveis e fluídas. Se esse desafio já me preocupava quando tínhamos três ou quatro resoluções de ecrã e dois browsers nos anos 1990, nos dias de hoje tudo isto se multiplicou e complexificou enormente.


"The explosion of the internet over the past 20 years has led to the development of one of the newest creative mediums: the website."

Lista do Plano Nacional de Cinema

Está feita a selecção dos primeiros 36 filmes da melhor iniciativa realizada na Educação portuguesa nos últimos anos. A selecção foi feita por Graça Lobo, ex-dirigente do Cineclube de Faro e responsável pelo inovador programa nacional, Juventude Cinema Escola, que aqui serviu de modelo.

A Suspeita (1999) de José Miguel Ribeiro

Sobre a lista em si, são 36 filmes dos quais exatamente 50% (18) são portugueses. Temos 9 animações, 6 portuguesas. Tim Burton aparece listado três vezes, embora O Estranho Mundo de Jack não seja seu (foi realizado por Henry Selick, mas a estética é do Tim Burton), ainda assim é claramente excessivo. Numa lista de 36 filmes assume demasiada predominância uma estética em particular. Tematicamente compreendo a escolha, mas julgo que pelo menos um destes podia ter sido trocado por O Meu Vizinho Totoro ou Princesa Mononoke de Miyazaki.

História Trágica com Final Feliz (2005) de Regina Pessoa

Sobre os filmes em si, a lista denota uma clara preocupação com a mensagem social, definida no âmbito da formação dos jovens, pois falamos de públicos com idades entre os 10 e os 18 anos. Nesse sentido percebem-se as faltas no campo da história e estética da arte cinematográfica, desde Eisenstein a Tarkovski, de Murnau a Dreyer, passando por Welles e Kubrick, ou ao nível nacional João César Monteiro ou Pedro Costa. O cinema português fica ainda assim muito bem representado, e o que eu espero verdadeiramente, é que este programa sirva para fomentar a discussão em torno da arte, que ajude a desconstruir o poder expressivo, e a compreender o seu potencial. Não para criar novos públicos, embora também, mas acima de tudo para criar potenciais novos criadores.

O Garoto de Charlot (1921) de Charles Chaplin

Segundo ciclo do ensino básico
"Estória do gato e da lua" (1995), Pedro Serrazina (curta-metragem CM).
"O estranho mundo de Jack" (1993), Tim Burton (longa-metragem LM).
"A bola" (2001), Orlando Mesquita Lima (CM).
"Com quase nada" (2000), Margarida Cardoso e Carlos Barroco (LM).
"Aniki-Bobó" (1942), Manoel de Oliveira (LM).
"As coisas lá de casa" (2003), José Miguel Ribeiro (CM).
"O garoto de Charlot" (1921), Charles Chaplin (LM).
"ET, o extraterrestre" (1982), Steven Spielberg (LM).
"Diz-me onde fica a casa do meu amigo" (1987), Abbas Kiarostami (LM).

Terceiro ciclo do ensino básico
"História trágica com final feliz" (2005), Regina Pessoa (CM).
"A noiva cadáver", Tim Burton (2005) (LM).
"Saída do pessoal operário da camisaria confiança" (1896), A. Paz dos Reis (CM).
"A invenção de Hugo" (2011), Martin Scorsese (LM).
"Serenata à chuva" (1952), Stanley Donen (LM).
"Shane" (1953), George Stevens (LM).
"Adeus, pai" (1996), Luís Filipe Rocha (1996) (LM).
"Eduardo mãos de tesoura" (1990), Tim Burton (LM).
"Romeu + Julieta" (1996), Laz Luhrman (LM).
"A suspeita" (1999), José Miguel Ribeiro (CM).
"O Barão" (2011), Edgar Pêra (LM).
"Um outro país" (1999), Sérgo Tréfaut (LM).

Ensino Secundário
"Persépolis" (2004), Marjane Satrapi e Vicent Paronnaud (LM).
"A noite" (1999), Regina Pessoa (CM).
"Douro, faina fluvial" (1931), Manoel de Oliveira (CM).
"Jaime" (1974), António Reis (CM).
"Rafa" (2012), João Salaviza (CM).
"Cidade das luzes" (1931), Charles Chaplin (LM).
"Os 400 golpes" (1959), François Truffaut (LM).
"Senhor X" (2010), Gonçalo Galvão Teles (LM).
"A esquiva" (2004), Abdelatif Kechiche (LM).
"Belarmino" (1964), Fernando Lopes (LM).
"Fado lusitano" (1995), Abi Feijó(CM).
"Os respigadores e a respigadora" (2000), Agns Varda (LM).
"Viagem à Lua" (1902), Georges Mélis (CM).
"O estranho caso de Angélica" (2010), Manoel de Oliveira (LM).
"Os salteadores" (1993), Abi Feijó (CM).
"A cortina rasgada" (1966), Alfred Hitchcock (LM).

a inevitabilidade do destino

Destiny é uma animação sobre o tema das viagens no tempo, dos mundos possíveis e das múltiplas realidades. Socorre-se destes temas para nos apresentar a inevitabilidade do destino.



Destiny é mais um filme brilhante de estudantes - Fabien Weibel, Sandrine Wurster, Victor Debatisse e Manuel Alligné - de animação 3D da Escola Bellecour que agora chega à rede. Em termos técnicos podemos dizer que é quase perfeito, desde o desenho dos personagens e cenários ao ritmo tão bem delineado pela montagem, iluminação e música. Mas é a narrativa o seu melhor, porque apesar de tratar um tema já muitas vezes explorado na ficção científica, consegue ainda assim prender-nos, e surpreender-nos.



[via Short of the Week]

setembro 20, 2012

Journey, uma viagem emocional

Jenova Chen começou a sua carreira no mundo dos jogos no curso de Media Interactivos da Universidade de Southern California. O seu primeiro jogo surgiu a partir de um conceito submetido a um concurso da própria Universidade que ganhou, tendo recebido 20 mil dólares para fazer Cloud (2005). O conceito de Cloud, era tão simplesmente procurar desenvolver estímulos emocionais de tranquilidade num jogo, algo ainda hoje pouco comum. Esta mesma premissa esteve depois presente no jogo que este realizou como projeto do seu mestrado Flow (2006) em Flash, e que seria depois portado para a PS3 no ano seguinte. Em 2009 a premissa continuava viva com Flower, e agora chega-nos Journey (2012).
Nos primeiros jogos Chen utilizou como mecânica base de movimento, o voar (em Flow era mais uma espécie de nadar, mas muito próximo). Claramente numa tentativa de operar o sentimento de flow, definido por Csíkszentmihályi e que deu nome ao seu jogo de mestrado, por via da sensação de liberdade que a navegação em ambiente digital proporciona ao utilizador. Em Journey, essa mecânica tornou-se bem mais complexa, com maior diversidade de movimento e com muito mais detalhe.
Journey procura manter o sentimento de liberdade ou libertação em busca da tranquilidade, através da navegação. Podemos andar a pé, mas podemos fazer grandes saltos que nos permitem flutuar e voar por breves instantes, e que nos atiram de imediato para Cloud. Por sua vez o andar da nossa personagem é muito rico em diversidade estética. O mais evidente aparece na forma de deslizar nas areias, evocando a liberdade do sandboard, e aproximando-se em termos de controlo da câmara, do deslizar em Flower. Mas aquilo que mais me impressionou, e foi logo a abrir o jogo, foi a variabilidade no andar que surge quando este está a subir um monte de areia face ao simples andar. Não é apenas o design do personagem que se altera, mas a sua simultaneidade com o movimento do mesmo, e com a câmara, tudo junto cria uma espécie de lentidão que se apodera do nosso andar, quase conseguimos sentir o "nosso corpo" a enterrar-se na areia fina e seca.
Journey à semelhança dos jogos anteriores, tem objectivos difusos, ainda que dos quatro jogos seja o mais definido. Ou seja, o que é relevante é o processo de chegar ao objectivo, e não o objectivo em si. Em Journey o objectivo acaba por assumir um peso muito maior a partir do meio do jogo, para se assumir como central no final do jogo. Journey não procura apenas explorar a estimulação da tranquilidade, e viver da experiência da viagem, quer antes criar uma experiência completa de jogo. E neste sentido Journey oferece uma experiência, ainda que minimal do ponto de vista do enredo e interacção, totalmente clássica no arco dramático. Journey começa por nos introduzir ao mundo, às mecânicas, e objectivos de forma calma e relaxada. À medida que vamos avançando o mundo vai-se complexificando, ficando mais escuro e pesado, chegando mesmo a gerar medo, para no final nos dar um clímax capaz de libertar toda a tensão desenvolvida, produzindo em nós uma diversidade emocional pouco comum nos videojogos, e com uma enorme intensidade.
Neste sentido Journey é o culminar de anos de experiência na tentativa de implementar um conceito pouco trabalhado na arte dos videojogos. Aqui atingiu-se um ponto no qual foi possível num jogo juntar todas as emoções comuns ao mundo da narrativa, tão utilizada na literatura e cinema. O ambiente que se introduz, o conflito que nos envolve, e finalmente a libertação desse conflito, e a sensação de um completo fechamento da experiência. Tudo o que eu disse acima contribui para isto, mas existe um outro detalhe, que é para mim extremamente relevante para o que aqui foi feito, a duração do jogo. Journey tem uma duração média de jogo de duas horas, o que é para mim o limite para se construir uma experiência audiovisual narrativa óptima, tal como já defendi no passado. É possível começar a jogar e acabar numa única jogada, e isto contribui tremendamente para que o jogador capture todo o sentido narrativa, atribua valor à experiência, e não se perca nos detalhes, que acabariam por diminuir o impacto do clímax final do jogo. Aliás, isto já foi questionado, e a resposta do Chen não podia ser mais clara: "We don't want to add any filler, because people are paying money to experience that. If we add filler, that's disrespect". Foi exatamente por causa deste filler que achei Uncharted 3 um jogo menos conseguido
Não posso fechar este texto, sem referir o multiplayer. Não percebi logo que o outro personagem era um outro jogador, mas depois de perceber, só posso dizer que atravessar o clímax final na companhia de um outro jogador, ainda que desconhecido, é um forte catalisador do momento. Tanto que o outro jogador, assim que acabámos o jogo, pediu logo amizade para poder falar da experiência comigo. O multiplayer está muito bem conseguido, porque o sistema só permite dois jogadores de cada vez, e não identifica quem é o outro. Deste modo ele é mais um daquele universo. A colaboração não é estimulada, ainda assim por várias vezes que tentava saltar zonas altas, e outro jogador vinha até mim para me dar energia e ajudar-me a voar, ou quando ficava à minha espera numa determinada zona como que a indicar-me o caminho, sentia-se a beleza da entre-ajuda.
Journey é uma experiência única, como tal merece ser experienciado e absorvido em todas as suas dimensões. Mais sobre a arte do jogo pode ser visto no vídeo de lançamento do livro Art of Journey, mas vejam apenas depois de jogarem. Se quiserem saber mais sobre a produção do jogo podem ver o post-mortem da Robin Hunicke na GDC Europe deste ano.