setembro 03, 2012

Old School vs. New School

Old School vs. New School (2012) é o último trabalho de Freddie Wong que agora assina pela Rocket Jump. freddiew como é conhecido online criou há algum tempo um canal no YouTube que se tornou um sucesso de visualizações, cada nova curta tem sempre acima de um milhão de visualizações. freddiew trabalho num registo muito semelhante à dupla dos Corridor Digital, curtas que satirizam videojogos e filmes populares, com recurso a uma panóplia de efeitos especiais.


A particularidade de freddiew e Corridor Digital é que ss Fx são sempre muito bem conseguidos, ainda que por vezes se note o lado amador. Mas dá para perceber que tudo é feito com muito poucos recursos, e que raramente se diferenciam das grandes produções de hollywood, daí o sucesso.


O que esta curta Old School vs. New School traz de interessante é uma discussão atual mas aqui tornada visual, e que passa por uma guerra entre a conceptualização do gameplay dos jogos antigos e os conceitos de jogo nos jogos atuais Uncharted, Assassin's Creed, Halo ou Tomb Raider. Quem é mais forte, ou melhor quais são os verdadeiros jogos?


Podemos notar algumas influências na curta de uma outra curta de homenagem aos 8 bits, Pixels (2010) de Patrick Jean. Por outro lado julgo que a ideia do buraco no ceu pode ter sido retirada de Avengers (2012).

 

Filmes de Agosto 2012

Mês de Agosto como sempre fica repleto de bons filmes, passo o ano a guardar filmes para os quais não consigo disposição para ver durante as fases de maior trabalho. Depois no verão dá para relaxar e ver obras mais pesadas, difíceis ou antigas. Nas notas máximas nada de especial a assinalar, tirando a primeira obra de Haneke, todas as outras são referências clássicas do cinema mundial. Depois nas quatro estrelas, um belíssimo filme Turco, e uma repescagem de Carlos Saura. Já nas três estrelas só filmes atuais, nada de especial a dizer, talvez ainda escreva sobre Cabin in the Woods sobre o seu modelo narrativo e o trabalho do género. Já nas duas estrelas aparece um filme que me surpreendeu pela negativa, de tanto ouvir falar em Hunger Games, esperava algo, não que fosse uma revolução estética, mas pelo menos algo novo na história, afinal traz-nos aquilo que já tantas vezes vimos, sem nada de novo.

xxxxx Seventh Continent 1989 Michael Haneke Austria [Análise]

xxxxx La Notte 1961 Michelangelo Antonioni Itália

xxxxx L'Avventura 1960 Michelangelo Antonioni Itália [Análise]

xxxxx Germania anno zero 1948 Roberto Rossellini Itália

xxxxx Roma, Città Aperta 1945 Roberto Rossellini Itália [Análise]


xxxx Once Upon a Time in Anatolia 2011 Nuri Bilge Ceylan Turquia

xxxx Silent Souls 2010 Aleksei Fedorchenko Russia [Análise]

xxxx My Voyage To Italy 1999 Martin Scorsese Itália [Análise]

xxxx Ponette 1996 Jacques Doillon France

xxxx Cria Cuervos 1976 Carlos Saura Espanha

xxxx L'eclisse 1962 Michelangelo Antonioni Itália

xxxx Paisà 1946 Roberto Rossellini Itália


xxx Avengers 2012 Joss Whedon EUA

xxx Madagascar 3: Europe's Most Wanted Eric Darnell EUA

xxx The Cabin in the Woods 2011 Drew Goddard EUA [Análise]

xxx Le Havre 2011 Aki Kaurismaki Finlândia

xxx Machine Gun Preacher 2011 Marc Forster EUA

xxx Headhunters 2011 Morten Tyldum Noruega

xxx My Week with Marilyn 2011 Simon Curtis UK



xx The Hunger Games 2012 Gary Ross EUA

xx The Raid Redemption 2011 Gareth Evans Indonesia


[Nota, Título, Ano, Realizador, País]
[x - insuficiente; xx - a desfrutar; xxx - bom; xxxx - muito bom; xxxxx - obra prima]

setembro 02, 2012

Sete Pecados por Dali

A Divina Comédia (1308- 1321) de Dante Alighieri faz parte da história religiosa da Europa, como tal tem servido de pano de fundo aos mais diversos trabalhos e aos mais diversos artistas. Desde Bosch a William Blake, de Gustave Doré a Rodin, e mais recentemente de David Fincher à Visceral Games, muitos têm trabalhado Dante.


A Divina Comédia é uma obra enorme, contém mais de 14 mil versos, está dividida em três livros - Inferno, Purgatório e Paraíso -,que por sua vez se subdividem em 100 cantos, cada um dos lugares de cada livro é constituído por nove círculos. Toda a obra é construída sob uma lógica matemática que sustenta a construção da narrativa de uma forma férrea. No livro do Purgatório existem sete círculos que são os mais conhecidos da obra, porque representam os chamados Sete Pecados Capitais Orgulho, Inveja, Ira, Preguiça, Avareza, Gula e Luxúria.

O Anjo Caído (gravura)

Descobri recentemente que Salvador Dali foi comissionado em 1951 pelo governo Italiano para desenvolver um conjunto de aguarelas para a impressão comemorativa dos 700 anos. Entretanto a comissão foi cancelada por causa de controvérsias sobre as simpatias manifestadas por Dali para com o Fascismo, e ainda pelo facto de a Itália estar a recorrer a um espanhol para criar um marco histórico italiano. Ainda assim Dali completou 100 ilustrações até 1959 que foram nesse ano publicadas por Joseph Foret numa edição limitada (33) e assinada. Depois disso foram feitas outras edições limitadas, sendo a mais conhecida a da Les Heures Claires.

Assim foi Criada a Terra (gravura)

Entretanto foi através do Open Culture que encontrei o site da Lockport Street Gallery onde é possível ver todas as 100 ilustrações. Para este artigo resolvi seleccionar apenas os Sete Pecados, ainda que estes não sejam todos directamente rotulados, mas da pesquisa que fiz estes parecem aproximar-se o mais possível. O site da Lockport apresenta os títulos para cada ilustração, mas para confirmar cada título é melhor seguir o site da Sociedade de Salvador Dali, porque vários títulos no Lockport estão errados. Abaixo ficam as melhores imagens que consegui de cada uma das sete xilogravuras.


A Vaidade

A Inveja 

A Ira

A Preguiça

A Avareza

A Gula

A Luxúria

Viagem pela Rússia

Silent Souls (2010) de Aleksei Fedorchenko evoca uma etnia milenar desaparecida, os Merja, que foi entretanto transformada pelos Eslavos, chegando à Rússia moderna apenas sob a forma de alguns costumes e tradições nas zonas de Rostov, Jaroslavl, a norte de Moscovo.


Mesmo não sabendo que o primeiro trabalho de Fedorchenko se tratava de um falso documentário, First on the Moon (2005), é difícil não nos questionarmos sobre a veracidade do que nos é apresentado em Silent Souls. Não os costumes e as tradições apresentadas, mas a hipótese de eles prevalecerem numa sociedade moderna, com o controlo e a legislação que nos rege. Seria possível transportar um corpo num carro comum embrulhado numa manta ao longo de vários quilómetros sem ninguém querer saber, e mesmo a polícia achar normal?


Mas isto é apenas a superfície da realidade que serve de ponto de partida à narrativa mágico-realista de Fedorchenko. O que o filme nos traz vai muito para além desses detalhes, e joga-se no mundo do espiritual, expondo a nu o modo como os Merja conceptualizam a vida, sob um olhar muito distinto dos grandes padrões religiosos da Europa ocidental. Aqui tudo é "água", e a nossa vida é apenas uma passagem no grande rio.


Se na história se evocam temas profundos adocicados pela magia de diferentes visões do mundo, na estética temos magia cinematográfica. Desde o ritmo calmo e sereno mas sem delongas à fotografia absolutamente magistral criada por Mikhail Krichman, tudo contribui para a criação de uma aura de transcendência da vida. Krichman recebeu a Osella de ouro em Veneza para esta fotografia, mas nada que surpreenda depois de ter assinado as magistrais fotografias dos três filmes de Andrey Zvyagintsev.


Silent Souls mexe connosco e questiona-nos, não dá, nem pretende dar respostas, é melancólico sem ser propriamente dramático, é uma viagem através de lugares frios e distantes, com costumes distintos mas que falam ao nosso interior. É um poema audiovisual.

A minha viagem ao Alaska

Legend of a Suicide de David Vann é uma obra poderosa de ficção assente em pormenores da vida do autor que lhe permitiram levar o romance a um nível de qualidade literária raramente vistos. O facto de se passar no Alaska e abordar a solidão humana em conjunto com o suicídio de um pai, ajuda a construir o cenário para uma viagem perfeita, mas é na escrita, e na narrativa que está o detalhe do trabalho de Vann.


O livro contém uma espécie de cinco contos que falam sobre o mesmo mas com diferentes abordagens, seja no tempo, no espaço, ou mesmo nos eventos. O livro consegue encantar-nos porque nos transporta para um universo próprio do autor, não é o Alaska, mas é o Alaska de Vann, é Roy e Jim, pai e filho. E a uma determinada altura somos levados ao engano, e o livro parece dar uma volta de 180º, e não queremos parar de ler, porque queremos saber, queremos perceber como é que a narrativa permitiu que aquilo acontecesse. Temos uma espécie de twist a meio do livro e ficamos há espera que outro twist aconteça no final, mas esse twist vai dar-se dentro de nós, quando começamos a encaixar todos os cinco contos, e a estrutura global narrativa começa a fazer sentido e somos capazes de dar sentido a tudo o que ali se passou.

Aleutian Islands, Alaska (Hawkfish)

O livro tem sido descrito como uma espécie de exorcismo para Vann, e bem parece, como que se pudesse através da arte literária não só libertar-se de um peso, mas ao mesmo tempo jogá-lo para o outro lado da rede. O próprio Vann define à posteriori o conto central como uma espécie de vingança sobre o seu pai, mas acredito mais que Vann se tenha deixado levar pela escrita, e que este tenha sido o seu grito literário. Um grito forte inaudível mas muito pesado emocionalmente.  Sem dúvida, que toda a arte tem o poder de nos desenterrar, de nos elevar, mas fazer o que Vann faz não está ao alcance de todos.

A narrativa é experimental mas está de acordo com o atual modo de escrita, algo influenciada pelos modelos narrativos cinematográficos de deslinearização do enredo (veja-se Memento ou Inception). Uma tentativa de fazer discorrer a narrativa num modo associativo de ideias e não meramente encadeado cronologicamente. Não é a toa que Vann chega a ser comparado a Virginia Woolf. Diria que estamos perante uma nova corrente na criação ficcional, uma espécie de neo-estruturalismo, em que se busca maravilhar o leitor não pelo que se diz, mas pela forma como se diz. A arte pela arte.


Algumas notas mais. 
a) Não leiam a sinopse do livro que está no sítio do autor pois fala tangencialmente do twist central.
b) A capa da Penguin é magistral, e em papel funciona ainda melhor porque o peixe vem imprimido em papel brilhante que contrasta fortemente com o amarelo da capa.
c) A obra original tem um inglês elaborado, nomeadamente os primeiros contos e os últimos. Para quem não esteja totalmente à vontade, aconselho a tradução portuguesa da Ahab.


5/5

setembro 01, 2012

o fim do nada

The Seventh Continent (1989) de Michael Haneke é forte, muito forte, e é estranho, ou nem por isso, como a obra que se me chama a coacção é Every day the Same Dream (2009) da Molleindustria. Apesar de serem média diferentes, a mensagem aproxima-se, claro que sem o poder emocional do cinema, mas aqui apenas e só por causa do realismo fotográfico, da ausência de comicidade, e do facto de não ser dado à experimentação nem ao nosso controlo. No filme é assim, e nada podemos mudar para ser diferente.
O filme toca num ponto fundamental da nossa existência, e por isso é impossível sairmos indiferentes da experiência. Alguns pensarão que é um exagero, mas sendo baseado num caso real, tudo ganha outro contorno. Poderíamos nós chegar àquele estado? Todos queremos acreditar que não, mas… Não existe ali crise que explique, e esse é o grande problema de todo o filme e que Haneke trabalha de forma brilhante, apresentando sem propor causas, nem explicações.
Em termos estéticos, tal como diz Haneke, numa entrevista de 2005, a Serge Toubiana, uma das coisas mais impressionantes no filme é o ritmo a que decorre. Como uma composição musical, somos levados pelo ritmo audiovisual, sentimo-nos a progredir na história até que percebemos para onde estamos a ir, e não queremos acreditar que estamos a ser levados para ali.

agosto 31, 2012

Jovens Criadores 2012 e Residência no Canada

Estão abertas as inscrições para o concurso Jovens Criadores 2012. Já na sua 15ª edição, esta é uma iniciativa conjunta do Instituto da Juventude e do Clube Português de Artes e Ideias, que se destina a dar a conhecer artistas em início de carreira, até os 30 anos, de nacionalidade portuguesa ou residentes no país. As inscrições decorrem até 14 de Setembro.


As áreas a concurso são: Artes Digitais, Artes Plásticas, Banda Desenhada, Dança, Design de Equipamento, Design Gráfico, Fotografia, Ilustração, Joalharia, Literatura, Moda, Música, Teatro e Vídeo. Os projectos seleccionados serão apresentados na Mostra Jovens Criadores 2012. Do corpo de artistas seleccionados é escolhida uma delegação que representará Portugal na próxima edição da Bienal de Jovens Criadores da Europa e do Mediterrâneo ou da Mostra de Jovens Criadores da CPLP.

Alguns dos artistas nacionais foram aqui descobertos, nomes como Alexandra Moura, André Murraças, André Sier, Cristina Filipe, Gonçalo M. Tavares, João Fazenda, João Garcia Miguel, João Pedro Vale, José Luís Peixoto, Rudolfo Quintas, Soraya Vasconcelos ou Tiago Guedes. Toda a informação sobre a iniciativa está em Clube Português de Artes e Ideias, podem aí descarregar o regulamento e a ficha de inscrição. Mais info pode ser conseguida através do telefone 963784030 ou e-mail: press@artesideias.com.


Para além desta iniciativa o Clube Português de Artes e Ideias tem aberto um concurso para uma bolsa de residência na área da criação literária em Montreal em 2013. Os autores deverã já ter publicado trabalho anteriormente e a data limite é 1 de Outubro 2012. Mais info aqui.

agosto 20, 2012

RIP: Tony Scott (1944-2012)

Tony Scott morreu hoje com 68 anos, e ao que tudo indica foi suicídio, saltou da ponte Vincent Thomas em LA. Estou chocado, e só isto me fez interromper a pausa neste blog.


Vi todos os seus filmes, apesar de nunca me ter assumido um seu fã, mais porque adorava o trabalho do seu irmão, e por comparação, nunca consegui colocar o Tony Scott ao nível de Ridley Soctt. Apesar de operarem temáticas bastante distintas no início, uma simples comparação por exemplo entre Someone to Watch Over Me (1987) de Ridley e Revenge (1990) de Tony, dois filmes que se podem comparar no género, dá para ver de imediato o que eu sentia falta em Tony. Ridley sempre foi fabuloso em termos expressivos visuais, a sua formação de base em Pintura permitia-lhe brincar com a luz de uma forma inigualável, os brilhos, a saturação da cor, a sombra sobre o que não interessava e a forte iluminação sobre o que era importante. Tony por outro lado assumia um carácter muito mais naturalista na luz, menos expressivo, fazendo-se valer da acção criada no ecrã, em vez da estética visual.

Top Gun (1986)

Em termos metafóricos podemos dizer que era menos intelectual que Ridley, mas completamente hiperactivo. Um dos elementos centrais de Tony Scott tem sido e com forte acentuação nos seus últimos filmes a corrida contra o tempo. Com isso criava um verdadeiro frenesim visual e sonoro, experiências cinematográficas inesquecíveis. Em certa medida podemos ver o Tony Scott como um mentor de Michael Bay.

Enemy of the State (1998)

Por outro lado era um realizador adorado pelo público e também por uma grande parte da crítica, aliás só isso explica que tenha conseguido realizar 16 filmes de grande orçamento, com grandes estrelas de hollywood. É uma produção impressionante criada ao longo de quase 30 anos, dá um filme de grande produção a cada 2 anos.
  • Unstoppable (2010)
  • The Taking of Pelham 1 2 3 (2009)
  • Deja Vu (2006)
  • Domino (2005)
  • Man on Fire (2004)
  • Spy Game (2001)
  • Enemy of the State (1998)
  • The Fan (1996)
  • Crimson Tide (1995)
  • True Romance (1993)
  • The Last Boy Scout (1991)
  • Days of Thunder (1990)
  • Revenge (1990)
  • Beverly Hills Cop II (1987)
  • Top Gun (1986)
  • The Hunger (1983)

True Romance (1993)

Praticamente todos os seus filmes foram sucessos de bilheteira. Por outro lado alguns dos seus filmes transformaram-se em filmes de culto: The Hunger com David Bowie e Catherine Deneuve e True Romance com guião de Quentin Tarantino. Eu apesar de não ser um fã acérrimo, gostei de quase todos os seus filmes, talvez o menos conseguido tenha sido Revenge. De todos gostei do Top Gun quando saiu, podemos quase comparar Top Gun a uma canção pop dos anos 1980, sendo hoje um filme indissociável dessa década. Contudo os seus melhores trabalhos além das duas obras de culto, são para mim Enemy of the State e claro Man on Fire. Gostei bastante também de The Fan com De Niro, de Deja Vu com Denzel Washington e The Taking of Pelham 123 com Travolta, embora estes dois últimos estejam já demasiado carregados de uma estética visual que difere da sua marca, fruto da atual excessiva "maquilhagem" em pós-produção de Hollywood.

Man on Fire (2004)

Tony Scott foi responsável por dar lugar a uma geração inteira de actores negros de Hollywood, começando com Eddie Murphy em Beverly Hills Cop II, passando por Damon Wayans em The Last Boy Scout, Will Smith em Enemy of the State e trabalhando umas impressionantes 5 vezes com Denzel Washington em Crimson Tide, Man on Fire, Deja VuThe Taking of Pelham 1 2 3, Unstoppable.

Tony Scott marcou e marcará a história de Hollywood por muitos anos.