junho 23, 2012

curtas de animação para a escola

O Bristish Film Institute (BFI) é reconhecido, entre outras coisas, pelo seu trabalho em prol da literacia audiovisual. Ao longo dos últimos anos tem criado inúmeros materiais de suporte ao uso do cinema como objecto de aprendizagem. Nesse sentido são bem conhecidas as colectâneas de curtas metragens que têm saído em DVD do BFI: Ciné-minis, Story Shorts, Story Shorts 2, Starting Stories e Starting Stories 2.

La Queue de la Souris (2008) de Benjamin Renner 

A colectânea Ciné-minis: Short French Films for Language Learning and Literacy (2010) é a mais recente, e está particularmente dirigida para a aprendizagem de língua estrangeira, neste caso o francês, mas os filmes têm muito mais para dar às crianças que os virem. O dvd vem acompanhado com guias para uso dos filmes em sala de aula para cada filme.


Interessante porque tive o prazer de conhecer o mentor deste projecto Mark Reid em 2009 quando esteve em Itália no Second Congress on Media Literacy, aonde esteve para receber o prémio Evens Prize for Media Education 2009, em ex-aequo com a minha colega Sara Pereira. O projecto da Sara, trabalhava a ideia de booklets distribuídos com jornais e pode agora ser integralmente visto online. O projecto do Mark trabalhava o uso de curtas metragens na escola, acabando por se concluir neste Ciné-minisDesta colectânea destaco os filmes de animação, que na sua generalidade são filmes adaptados de livros ilustrados, e deixo links para os restantes. Vejam todos, mas particularmente La Queue de la Souris e Le Loup Blanc.

La Queue de la Souris (2008) Benjamin Renner


Le Loup Blanc (2006) Pierre Luc Granjon [filme integral]


Le génie de la boîte de raviolis (2006) Claude Barras


Bouts en Train (2006) Emilie Sengelin


Le Bon Numéro (2005) Aurélie Charbonnier

Os restantes filmes, são em imagem real e podem ser encontrados online à excepção de Tarif Unique (2004) de Alexandre Coffre. StrictEternum (2005), Didier Fontan; Un bisou pour le monde (2007), Cyril Paris; Les Crayons (2005), Didier Barcelo; Regards libres (2005), Romain Delange; Le Baiser (2005), Stefan Le Lay, 00H17 (2005) Xavier De Choudens.

junho 22, 2012

destruído por dentro

Um filme curto, mas poderoso, vale a pena guardar 5 minutos em privado, e em silêncio. Apreciem a beleza da natureza e da cinematografia, e envolvam-se com a capacidade do espírito humano para encontrar motivação dentro de si, e continuar. A síntese está nesta última frase,

“I’ve shared a rope with 19 people who are now dead”


junho 21, 2012

Porque Criamos?

Poucas vezes pensamos na razão pela qual criamos. Why Man Creates (1968) é um dos poucos filmes realizados por Saul Bass, reconhecido designer de genéricos cinematográficos, e é um filme que coloca a questão de modo directo, indagando sobre as possíveis respostas.


Why Man Creates (1968) ganhou o Oscar para melhor documentário curto em 1968, e depois disso foi durante mais de uma década utilizado como referência nas escolas básicas americanas. É um filme com forte valor educacional, mas para além disso no campo estético é um artefacto de excelência. Podemos encontrar vários momentos de expressão audiovisual que ainda hoje contém um carácter perfeitamente atual e diria mesmo ainda capaz de surpreender. Claramente que se sente um ritmo mais clássico, ou seja pausado e lento, estamos nos anos 1960, mas nem por isso enfadonho para a nossa época. O que me leva defender a continuidade da sua recomendação para uso nas escolas.




O filme desenvolve-se em oito partes: O Edifício, Deambulação, O Processo, Juízo, A Parábola, Divagação, A Busca, e A Marca. Sendo que a última parte, da Marca, serve de síntese e conclusão sobre as possíveis resposta à questão de partida. Uma conclusão que é muito clara e bastante evidente, e acredito que para muitos custe até a aceitar, que tudo se resuma a apenas isto, a Expressão Humana. Mas é verdade que quanto mais os anos passam, e mais trabalho neste campo, mais certezas tenho de que a resposta está mesmo à nossa frente.
"Man has struggled against tie, decay, destruction, against death. 
Some have cried out in torment and agony.
Some have fought with arrogance and fiery pride.
Some challenge the Gods, matching power with power.

Some have celebrated life.
Some have burned with faith.
Some have spoken in voices we no longer understand.

Some have spoken eloquently.

Some have spoken inarticulately, some haltingly.

Some have been almost mute.
 
Yet among all the variety of human expression, a thread of connection, a common mark can be seen. That urge to look into oneself and out at the world and say: 
This is what I am. I am unique. I am here. I am."

Why Man Creates (1968) de Saul Bass

Pensar criando com as mãos

Muito bom este pequeno documentário Power of Making criado pelo museu britânico de arte e design Victoria & Albert. Quatro criadores são entrevistados enquanto criam e produzem, com as próprias mãos. Falam-nos dos seus processos de criação, de como chegam à originalidade, de como raciocinam e criam.


Um documentário que põe em evidência o facto do raciocínio abstracto não ser o único importante, nem único capaz de gerar bem-estar, ou se quiserem riqueza. Aliás esta deformação do pensamento da sociedade está bem patente no final do filme quando o criador de componentes anatómicas para implantes hospitalares diz o seguinte,
"I remember one time, when some kids came to the studio, and they informed us that they thought we were very poor, because we were working with our hands."
É isto que se ensina às crianças nas escolas clássicas, é isto que elas percepcionam quando o que está em causa em todo o processo de aprendizagem é apenas responder de forma correcta a meia dúzia de questões num exame escrito. O que elas não sabem, é que aquilo que estão a conceber como mundo, vai servir-lhes apenas se continuarem no mundo académico. No dia em que saírem da redoma de vidro protegida pelos muros das escolas, vão perceber o quão diferente é o mundo.


E é isto que é preciso que as pessoas compreendam. Que nem todos podem fazer o mesmo, porque simplesmente não são capazes. Uma designer de sapatos poderá ter dificuldade em interpretar os Lusíadas, assim como um matemático brilhante dificilmente conseguirá desenhar os componentes anatómicos necessários à reconstrução de corpos desfigurados todos os dias nas estradas nacionais.


Dizer que quem pensa abstractamente bem é mais importante do que quem constrói com as mãos, não é apenas um erro, é discriminatório e segregacionista.

junho 19, 2012

Ditadura da Austeridade, Thatcher, Merkel e Friedman

Vi o filme, The Iron Lady (2011), no mês passado mas volto a ele. Dei-lhe apenas 2 estrelas, pela ausência de alcance. Um filme biográfico sobre uma personagem desta natureza, transmite muito pouco sobre a pessoa em revisão. A tranquilidade e calma com que fizeram fluir toda a narrativa, dá a impressão de uma neutralidade, mas talvez não tanto assim, se analisado mais em detalhe.

"Poucas pessoas são neutras nos sentimentos para com Thatcher, excepto os criadores deste filme" Ebert, 2012

Não existem obras neutras, nem discursos neutros, porque simplesmente "é impossível não comunicar". O que aqui temos é uma tentativa de lavagem da figura política. Ainda assim, e é sobre isso que me interessa este texto, o momento da guerra das Malvinas/Falklands, é o melhor do filme. Pelo menos aqui, o filme não se limita a fluir, ainda que tente. Não fosse o surgimento desta "guerra" e Thacher, não teria sobrevivido sequer até ao final do primeiro mandato. Guerra entre aspas (temos de chamar guerra, porque no meio da aberração política fizeram-se mais de mil mortos), porque é difícil chamar guerra a um conflito sobre meia dúzia de metros de terra que não interessavam a ninguém.


Ou melhor, interessaram a quem lançou a suposta guerra. Tanto a Argentina como a Inglaterra viviam momentos difíceis, por isso nada melhor do que ter uma guerra a decorrer, que fosse capaz de levantar os mais puros instintos da espécie humana, da luta pelo território. Por atacado o nacionalismo / populismo e com isso toda a força emocional de um povo, contra tudo e contra todos, "contra os canhões marchar".  Com isto Thatcher conseguiu, não apenas permanecer como primeira-ministra do Reino Unido, ao longo de 11 anos, como conseguiu impor as mais duras reformas de sempre, nunca antes vistas num país democrático, impondo a tríade milagrosa: "desregulamentação financeira", "flexibilização do trabalho", e "privatização do estado".

Guerra das Malvinas/Falklands, foram mortos mais de 700 argentinos e 200 ingleses.

O que Thatcher fez em 11 anos não foi novo, tinha sido já tentado em outros países, nomeadamente da América do Sul, mas via ditadura. Mas até nesse sentido, o filme, não é tão neutro como isso. No final do filme, sente-se que Thatcher, de democrata, tinha muito pouco, só o tom da sua voz, era suficiente para impor a política pretendida junto da oposição. Uma clara ditadora da austeridade. Olhando para o filme, não consigo deixar de estabelecer paralelos entre Thatcher e Merkel, no que toca à Ditadura da Austeridade. E isso está à vista de todos.

Sátira do cartaz do filme com Merkel no papel de Thatcher

Mas tudo isto, que parece um mero folhetim telenovelesco, é bastante mais incisivo. Esta ideia de um mundo Económico, de seres humanos regulados pela força das trocas financeiras, de um mundo auto-regulado através da oferta e procura dos mercadosnão são ideias de Thatcher, nem de Merkel. Por muito que lhes queiramos colar o rótulo de rainhas no comando, no final não passaram e ainda passam de fantoches nas mãos de teóricos da economia. O paradoxo de tudo isto, é que esses teóricos nunca governaram, nunca souberam o que é lidar com seres humanos, com comunidades, com valores morais e humanos. Sabem apenas ler estatísticas e conjecturar soluções teóricas, fruto de especulações de modelos matemáticos.

Diagrama matemático "Philips Curve" baseado nas teorias de Milton Friedman, que diziam que "quanto mais baixo for o desemprego, mais alta será a inflação". Uma teoria  que é apenas isso, uma teoria, mas quando aplicada como verdade absoluta, pode ter efeitos perversos.

E sobre tudo isto impressiona ainda que estes modelos matemáticos de economia social, tenham sido todos emanados de um mesmo centro nevrálgico, os anos 50-60 na Universidade de Chicago, nas figuras de Friedrich Hayek e Milton Friedman. Friedman que depois de morrer em 2006, depois do colapso dos mercados não-regulados em 2007, parece estar mais vivo que nunca na Europa. Para que se perceba o alcance da ideologia económica de Chicago, deixo uma afirmação de Friedman,
"Só uma crise - verdadeira ou percepcionada - produz mudanças reais. Quando a crise ocorre, as acções que se tomam dependem das ideias à sua volta. Isto, eu acredito, é a nossa função primordial: desenvolver alternativas às políticas existentes, mantê-las vivas e disponíveis, até que o politicamente impossível, se torne no politicamente inevitável." Milton Friedman, Capitalism and Freedom, 1962, p.IX
É isto, produzir uma crise de tal forma violenta (veja-se a pressão sobre os PIGS, veja-se o estado da Grécia, ou veja-se o estado atual de Portugal), em que aquilo que era impossível até aqui politicamente, se torna politicamente inevitável.

"Nós temos um sonho. Nós ainda estamos vivos. Nós só queremos paz. Mas ... temos que lutar."

Voltarei a este assunto novamente, não podemos calar, como alguns apregoam por este país fora.

junho 17, 2012

Nova editora: engagePress

No próximo dia 21 Junho 2012 4 de Julho vou apresentar, juntamente com o Pedro Branco, a nova editora de livros de "arte+ciência", a engagePress, que funcionará como editora do laboratório engageLab. Estão desde já todos convidados. O local será o LCD, Guimarães.


O nosso objectivo com este novo selo editorial é garantir uma maior transferência de trabalho académico para a sociedade, e para isso tudo será editado sob Creative Commons. Eu e o Pedro acreditamos que o mundo precisa de se libertar das amarras do copyright no que toca ao conhecimento. A criatividade é sempre gerada a partir do remix de conhecimento prévio, e sem acesso a este dificilmente se pode inovar e avançar. Precisamos de trabalhar para a criação de uma cultura de participação e disseminação do conhecimento criativo. Precisamos não só de desenvolver novas tecnologias criativas, mas também de libertar o conhecimento para que mais pessoas possam entrar no processo.


No dia da apresentação contamos com a presença do Heitor Alvelos que nos irá falar sobre a sua visão à volta destas questões, e contamos ainda com a presença das autoras dos dois primeiros livros, a Raquel Pinto e a Liliana Rocha.

Visitem o site para obter mais informações em engagePress. Os livros serão todos editados no formato Pdf e iPad.

Se acreditam que o vosso trabalho merece estar estar nesta colecção contactem-nos.

flutuar sobre a acção

Está longe de ser tão forte como o trailer de Dead Island, mas socorrendo-se de uma técnica parecida, embora mais do tipo carousel, consegue levar-nos ao longo dos três minutos que dura, num constante tom de surpreendimento por aquilo que se vai desvelando a partir do exterior dos enquadramentos que se vão abrindo. É um excelente trabalho da francesa Unit Image.


Por outro lado não posso deixar de concordar com Phil Harrison sobre o facto da E3 2012 ter apresentado um nível de violência elevadíssimo. Nomeadamente o trailer the Last of Us e Tomb Raider,  que juntamente com este trabalham todos em níveis exagerados de opressão, destruição, e agressão. Muito sinceramente não entendo o porquê desta ênfase na violência, e neste caso mais ainda, por ser um jogo exclusivo da Nintendo.


[via Motionographer]

junho 16, 2012

Nas ondas de um livro

Há algum tempo que falo nisto, não há melhor forma de uma empresa se dar conhecer que é através da criação de propriedade intelectual própria e original. O portefólio de trabalhos para outras empresas é interessante, mas está longe de mostrar exactamente quem está por detrás de uma empresa. Além de que um trabalho como estes abre potencial para continuidade de exploração da ideia, seja em novas curtas, seja em merchandising, físico ou virtual.


É claro que um trabalho com esta qualidade não é para qualquer empresa. Em Much Better Now (2011), podemos encontrar não apenas uma história cativante, mas uma metáfora absolutamente brilhante, que passa por fazer das folhas de um livro as ondas do mar prontas a surfar. Depois a expressividade do personagem é uma delícia. A qualidade estética da atmosfera criada, nomeadamente a cor e a luz, são totalmente coerentes com a mensagem, e tecnicamente perfeitas.




A curta foi criada pela Salon Alpin que é uma empresa criada por dois austríacos, mas localizada em Lisboa. Como dizem os realizadores da curta e fundadores da empresa, Phillip Comarella e Simon Griesser, "viemos das montanhas, mas a nossa sede é junto ao mar".

Much Better Now (2011) de Phillip Comarella e Simon Griesser

Making of Much Better Now

junho 15, 2012

"Indie Game: The Movie" é simplesmente inspirador

Indie Game: The Movie (2012) é o filme que qualquer criador de videojogos vai querer ver, e é obrigatório para todos aqueles que desejam criar videojogos. O filme mostra não só o que está em causa na criação de um videojogo, mas acima de tudo, plasma na perfeição todo o espírito Indie.

Tommy: "It's not a game I made for the people. I make it for myself."
Edmund: "I make games to express myself."
Phil: "It's me. It's my ego, my perception of myself"
Mas a verdade é que isto acontece no momento da criação, no auge da expressão do Eu. Quando se liberta a obra no mundo, o desejo é igual para qualquer artista. Que os outros o percebam, o compreendam, e gostem dele. Como é dito no filme, "é como lançar um filho no mundo".




Isto quer dizer que um artista pretende expressar o seu interior, tudo o que lhe vai na alma, e quer fazê-lo racionalmente, mas como as suas emoções ditam, não como as lógicas de mercado pedem, aqui tudo é emoção e razão em sintonia. Mas isto não quer dizer que não queira saber sobre aquilo que os outros pensam, porque todos queremos. Só que queremos fazer algo de tão puro, de tão único, e ainda assim esperar que os outros nos entendam e nos sigam.




Este filme põe uma pedra final na discussão sobre os videojogos serem, ou não, uma arte. Para quem ainda tiver dúvidas, veja o documentário e perceba o que está por detrás do design de um videojogo, e porque é que estes são uma arte.




O momento no fim do filme em que Edmund nos fala daquilo que mais lhe diz a audiência, em que ele imagina um miúdo que esteve há espera, como ele estaria, para ver sair o jogo e poder jogá-lo. E imagina o momento em que a criança se dá conta que o jogo foi feito por apenas duas pessoas, o Edmund e o Tommy, e o miúdo simplesmente pensa que pode vir a ser como eles, e também criar o seu próprio jogo, que está ao seu alcance. Isto é o ponto mais alto do movimento indie. Um verdadeiro hino ao espírito criativo.


Façam um favor a vós mesmos e comprem o filme - Direct Download, Steam, iTunes - e vejam, e revejam, vale todos os segundos.

Trailer Indie Game: The Movie (2012)