Passo a escrever alguma linhas no seguimento da
reflexão que lancei no Facebook há uns dias a propósito da comparação entre o Facebook e o Google+. Não é meu interesse avaliar aqui as plataformas em toda a extensão técnica, mas antes e só, lançar um olhar mais demorado sobre uma das principais estratégias de interacção social destas plataformas.
A estratégia de que falo está relacionada com aquilo que já antes denominei por substituto da linguagem não verbal nas redes sociais. Ou seja numa relação entre dois comunicantes a interacção processa-se no nível verbal, aquilo que é dito, e no nível não-verbal, como é dito. A melhor forma para avaliar o que é transmitido não-verbalmente é mudando o canal de transmissão. Em vez de ter um ser humano a emitir uma mensagem, usar exatamente as mesmas palavras mas apenas registadas em texto. E todos os que estão a ler isto já o perceberam, aquando da leitura de alguns e-mails mais dramáticos ou conflituosos, no fundo com grande carga emocional, que a dificuldade em interpretar corretamente o que está a ser dito aumenta.
Ora para colmatar esta problemática, e dado o aumento brutal da comunicação via texto, desenvolvemos um substrato icónico que acompanha muita da comunicação online, os chamados
Emoticons. Estes não passam de uma panóplia de pequenos gráficos que simbolizam de forma convencionada formas não-verbais de linguagem, alegre, triste, zangado, etc.
Enquadrada a não-verbalidade, podemos dizer que as estratégias "Like" e "+1" representam o pináculo da interação não-verbal das redes sociais. Ou seja, claro que podemos usar os
emoticons quando escrevemos. Mas tal como entre humanos, e particularmente em grupo, usamos muito mais vezes códigos não verbais para demonstrar concordância ou discordância, do que a verbalização de ideias. Expressar uma concordância ou discordância pode resumir-se a um rápido sim e não, dizer mais do que isto, implica uma muito maior reflexão sobre o que nos é dito, e consequentemente uma estruturação dessa reflexão em verbalização. Diria em termos médios, que por cada dez cliques no Like/+1, teremos uma interação escrita. Não tenho qualquer dado para suportar estes números, e cada um reage e convive com o grupo e a rede social de formas muito distintas, ainda assim arisco este ratio com base no que venho analisando.
Para além da importância não-verbal resta dizer algo que deveria ter dito logo no início, é que só existe interação na comunicação se ambos emitirem alguma informação. Aliás tendo em conta a dificuldade, tempo e trabalho que requerem a emissão de informação verbal, podemos dizer que a ideia do Facebook com o Like foi verdadeiramente revolucionária. Isto porque conseguiu gerar interação onde dantes esta não existia. Repare-se na diferença de quantidade de interação nas caixas de comentário dos blogs, e agora nos Likes no Facebook. Ou seja o Facebook criou uma maneira quase tão fácil de interagir como quando num grupo sorrimos para a pessoa que está a falar.
Deste modo, julgo que fica compreendida a importância que o Like e o +1 possuem para as redes sociais, o modo como estes assumem um posicionamento central na estratégia de comunicação e influenciam o discorrer e a manutenção dos laços sociais. Posto isto interessa então perceber como se diferenciam as estratégias do Facebook e do Google+ neste campo específico, e saber se existem vantagens, problemas, ou mais valias de um lado, ou do outro.
O Facebook usa dois elementos em conjunto para dizer uma mesma coisa, o texto "Like", traduzido no icon "Thumb Up" (polegar para cima). O Google+ usa apenas o “+1”. A apresentação do somatório de cliques em Like e em +1 é apresentado por ambos. Vejamos em quadro comparativo.
Na separação temos então que o Facebook usa não só o Like, como faz uso de um segundo ícone, “Thumbs Up”, que coloca junto do somatório de cliques. O Google+ fica-se pelo +1, depois apresenta então o somatório mas de forma isolada. O Google+ tem a vantagem de ter um símbolo universal que não precisa de ser traduzido, para além disso simplifica tudo, com apenas um símbolo. Apesar de tudo isso ambas as plataformas usam a mesma lógica que permite a interação entre as pessoas através de um simples clique, apresentando ambas os nomes de quem clica, e por consequência obrigam a que essa interação só possa acontecer em terreno positivo. Nenhuma destas redes permite as reações negativas, o que é normal, uma vez que a reação negativa não aumenta as relações, antes pelo contrário destrói-as, que é oposto da razão de existir da rede.
Diria que até aqui a abordagem do Google+ sendo mais sintética, mais universal, é mais clara em termos comunicativos e mais inteligente. O problema aparece no item final de comparação, que está no modo como a interação é valorada no clique pelos intervenientes. Aqui eu considero que a separação é muito grande. Porque dizer “Gosto disto” mais “Thumb Up” ou dizer “dou +1 a isto” provoca reações nos intervenientes, sejam emissores, receptores ou assistência, muito diferentes.
Os seres humanos em termos persuasivos, e de relacionamento social, reagem muito melhor às emoções do que à abstração por números. Fazer "like" tem toda uma componente humana que o "+1", impessoaliza e matematiza. Já não bastava o numérico, “1”, ainda foi adicionado um símbolo “+” que torna o meu clique numa expressão matemática de incrementação! Esta abstração desprende-se das relações, o seu objetivo é o lógico e não afectivo, e isto põe em causa a essência da conexão, que não se mede pelo número mas pela forma da relação.
Para se poder perceber o alcance das palavras nada melhor do que ramificá-las pelos sinónimos que nos podem passar pela cabeça de modo natural quando clicamos em cada uma destas palavras ícones ou expressões:
gosto: Adoro, Desejo, Amo, Estimo, Aprecio, Agrada-me, etc
thumb up: Força, Bravo, Ânimo, Aprovado, etc
+1: Mais, Também, Idem, Adiciona, Incrementa, etc
Tenho de agradecer a todos os intervenientes na discussão: o Luis Santos, Leonel Morgado, Roger Tavares, Cristina Carvalho, Fernando Cassola, Elsa Maltez, Artur Leão, Sergio Denicoli, Hugo Paredes, Diana Falcão, Paulo Simões, João Paulo, Thiago Falcão, Mario Ventura, Abel Dantas, Margarida Gomes e a todos os que não tiveram tempo para se expressar textualmente mas clicaram no Like! Deixei para último o Luís Sequeira, apenas para agradecer mais veemente a sua energética reacção à minha no Facebook, e
ao texto no seu blog que acabou por me fazer decidir escrever também este. Inicialmente ainda pensei rebater os seus pontos, mas fica para uma próxima vez!