novembro 02, 2007

Profissão multidisciplinar

Raph Koster publica hoje no seu blog aquilo que ele considera serem as posições de uma equipa de produção de videojogos AAA. Como pessoa da indústria assumimos que ele sabe do que está a falar e desse modo adaptei o seu esboço para algo mais facilmente compreensível ao qual adicionei informação relevante já catalogada por Olivia Crosby.

· Executive Producer (owner)

Gestão
· Producer (process owner)
· Director (vision owner or lead designer)
· Technical Director (manager of programmers or lead programmer)
· Art Director (manager of artists)
· Lead Designer (manager of designers)

Equipas
· Specialty lead (lead client programmer, lead systems designer, lead animator, etc)
· Specialists (systems designer, scripter, environment artist, rigger, UI programmer)

Especialidades de Programação
· Rendering: the complex programming required to get pictures on the screen.
· Network programming: programming for network based play is its own speciality.
· Database programming: so is programming to interact with databases.
· Engine programming: usually the guts of how a game works.
· Gameplay programming: usually systems specific to a game.
· UI programming: usually someone has to be devoted to just the HUD and controls.
· Tools programming: every team has someone who makes tools for everyone else. Maya exporters, placement tools, etc.
· FX programming: stuff like particle systems often consume insane amounts of time.
. AI programming

Educação em Programação
«Because they are translating ideas into numerical equations, programmers need strong math skills (trigonometry, linear algebra, and analytical geometry...) These subjects teach programmers to describe how the objects in a video game move through space and hone programmers' ability to manipulate numbers.

Game programmers should learn C and C++, as these are the programming languages most often used in the industry. Many jobs also require assembly language. Standards change quickly in the industry; programmers need to learn new languages and techniques throughout their careers. Most game programmers have a bachelor's degree in computer science, although some major in related subjects, such as cognitive science and electrical engineering. Those working on complex problems, such as a new artificial intelligence system, sometimes have advanced degrees.»

Especialidades de Arte
· Texturing: making pretty textures.
· Technical artist: may write shaders in code. May help set the tech specs for the art.
· Environment creation: a specialty of artist that is good at making places.
· Lighting: often pushed off on one artist, but there’s a bunch of chops required.
· Writing: what it says on the tin.
· Foley: sound effects.
· Composer
· Cutscene people

Educação em Artes
«Game artists need a visual imagination. They find inspiration by observing nature; studying movies, comics, and fine art; and experimenting with new ideas. Game artists must also be able to apply basic math concepts, especially when working on 3-D games. "When you add a third axis, you really have to understand geometry". Artists working in 3-D should know how to use modeling and animating software and should be able to teach themselves new features and techniques. Ability to communicate with programmers is another must.

Most people in these occupations have formal training in fine arts or art-related subjects, such as animation or industrial design. They study drawing, painting, color theory, sculpture, and graphic design. Those with bachelor’s degrees are usually more likely to be hired. "It is very important to get a traditional education in the arts.. The degree of artistic skill required is rising."»

Especialidades de Design

· Systems design: designing how the gameplay will actually work.
· Game balance: running numbers, mostly. A highly valuable (and rare) subspecialty.
· User interface design: often pushed off on artists or lead designers.
· Behavioral scripting: adding new game behaviors — this is what we usually think of as “scripting designers.”
· Content design: quest writing, itemization, etc (filling in data in tables, usually).
· Level design: map building. Straddles the line between art and design, usually.
· Modeling: making 3d meshes.
· Rigging: setting them up to animate.
· Animating: actually animating them. These two are not the same thing, and some people are better at one than the other.

Educação em Design
«Communication is one of a designer’s most important skills. Need a strong ability to write, to communicate ideas, to persuade and manage. Creative writing, English, theater, and other liberal arts classes help many designers to strengthen those skills. Designers work with artists, programmers, and musicians throughout development. In fact, sometimes a designer is also the lead programmer, artist, or producer. But even if designers have other duties, their role is unique. They oversee the entire game playing experience, instead of concentrating on one element. "Artists might want to paint beautifully intricate art, and that’s good.. but if the art slows down the game too much, it can't be used."

Designers need technical skills as well: They need to understand computer programming and software design. To be a good designer, you have to understand how games work. Designers have to be able to understand the technical hurdles programmers face. Most designers earn a college degree. The most common degree concentrations are English, Art and computer science. However, a designer’s most significant training comes from experience. Designers usually begin their careers as game artists, programmers, testers, or producers.»


Finalmente e sobre o facto de se poder notar nesta descrição a omnipresença da programação ou código, recuperei um outro post do Raph Koster que fala exactamente da necessidade dos designers saberem programar pelo menos um minimo. E é para isso mesmo que existem as tais Scripting Languages, linguagens de alto nivel mais próximas da linguagem natural e que permitem um acesso facilitado a quem não tem grandes conhecimentos de programação. Assim Koster diz,

"At the very least you need to seat designer and programmer together to work like Siamese twins — like a lyricist and the composer. But better yet is to acknowledge that systems, for better or worse, are defined in code. And therefore knowing how to code at least a little is like saying that a painter needs to know how to use a paintbrush, or a composer really should play at least one instrument even if not as master (..) scripting designer prototype and iterate, and then port the final result over to a robust programmer-created system (..) again, it’s not about being as good as a professional programmer. It’s about understanding the tools of your chosen medium well enough to actually work with them."

novembro 01, 2007

Uma Nova Espécie

O novo filme da Dove foi realizado pela agência Ogilvy & Mather de Toronto e a sua direcção artística pertence a Tim Piper. Mais um filme publicitário que trás implícita não só uma mensagem mas ferramentas de desconstrução visual que poderão ajudar a sociedade a "olhar" o mundo por detrás do plasma de modos diferentes. Filme produzido para a chamada "Campanha para a Beleza Real" da Dove. No vídeo pode ver-se o processo e as ferramentas que operam sobre a modelo para criar a chamada beleza "perfeita"

No wonder our perception of beauty is distorted.

Optei por extrair as imagens do filme porque permite uma análise mais cuidada do que é que foi transformado e verificar de forma chocante que a pessoa que aparece no outdoor no final já não é a mesma. 
O processo intermédio da maquilhagem física transforma um rosto feminino num rosto mais masculino mais poderoso atribuindo-lhe maçãs no rosto, uma face e queixo mais largos. Por sua vez a maquilhagem virtual transforma esse rosto masculinizado em algo mais angélico através de um pescoço inexistente, um nariz e lábios simétricos mas acima de tudo através da enorme quantidade de brilhos adicionados à pele e lábios. É caso para perguntarmos, como é possível equacionar beleza numa face que já não apresenta uma coloração de pele mas sim um branco de papel de parede.


 
Mas mais chocante é que esta cara não é nem poderia ser de um ser humano. Repare-se na simetria facial, repare-se na ausência de expressão, na ausência de singularidade, em suma, um ser criado pelo homem à imagem da racionalidade da beleza longe da sua forma orgânica e natural.
A Dove faz parte do pacote de anunciantes que se juntaram para criar o denominado programa de Literacia dos Media o Media Smart que vai iniciar-se brevemente em Portugal. Não posso deixar de defender aqui este movimento que apesar de ter contornos comerciais, não deixa de ser uma mais valia no imenso vazio do ensino da Representação Visual das nossas escolas. Ontem ouvia na TSF uma professora dizer que isto era como "colocar o Lobo a tomar conta das ovelhinhas". Realmente a metáfora parece aplicar-se que nem uma luva, mas isso assim é, se pensarmos a publicidade numa lógica de persuasão a qualquer preço. Não me choca nada pensar que empresas privadas possam ter uma atitude de serviço público. Aliás não é por acaso que existe a denominação PSA (Public Service Announcement) para filmes que tenham um intuito de serviço público que funcionam como alerta e apelo - campanhas rodoviárias ou de reciclagem, as lutas contra a sida, o racismo, a tortura, o tráfico sexual, etc.

Para finalizar fica o filme ainda da Dove mas realizado especificamente para o programa Media Smart, que tem neste caso específico, um target feminino dos 13 aos 16.

A Última Foto

Parte da Ultima cena de Leonardo da Vinci (1495-1498)

"A Última Ceia" data de entre 1494 e 1498 e a sua presença física encontra-se em Milão no convento de Santa Maria delle Grazie. A pintura foi realizada com recurso ao método da têmpera que fazia uso da gema de ovo como colante da pigmentação sobre uma base de gesso e que pelo que podemos ver, não teve os melhores efeitos ao nível da durabilidade. É uma das imagens mais famosas do mundo cristão, talvez a mais famosa a seguir à de Jesus na cruz por talvez representar toda a ideologia cristã visualmente: a fraternidade, a família, a partilha e ainda os derradeiros momentos da vida de Jesus assim como todos os seus Apóstolos. Simbolicamente a imagem é uma janela para o sagrado mundo da Bíblia.

O acesso à presença física desta imagem é bastante complicado,
O espaço estreito não permite que mais de 20 pessoas entrem ao mesmo tempo. Elas precisam reservar uma visita meses antes. Por isso, cerca de 300 mil pessoas conseguem vê-la anualmente. Além disso, os visitantes não podem ficar a menos de dois metros de distância da imagem. [1]
Desse modo a empresa HAL9000 realizou um trabalhos verdadeiramente minucioso para digitalizar a integralidade da imagem e depois colocou-a online. A imagem digital criada contém, nada mais que uns estonteantes 16 milhões de pixels. Para terem uma ideia, pensem numa imagem captada por uma vulgar máquina de 6 MP e agora multipliquem essa imagem 2666 vezes.

outubro 31, 2007

I Am Elena

ATENÇÃO o filme contêm cenas que algumas pessoas mais sensíveis poderão julgar chocantes.
Maria e Elena são duas identidades de uma mesma pessoa que acabarão por se fundir numa apenas e só.


Trafficking is Torture
Filme produzido pela The Body Shop para a associação a Helen Bamber Foundation. Graficamente muito duro e chocante. A reter o poder da sugestão e a perceber o quão forte pode ser uma mensagem meramente sugerida e não mostrada. Tudo está na face de Emma Thompson, na sua excelente interpretação e no movimento gráfico do seu corpo, nada se vê e se pararmos para reflectir saberemos que não é real, é um filme, até é uma actriz de Hollywood. Contudo a mensagem não deixa de se sustentar e criar impacto.
Já agora deixo aqui a ligação para um pequeno apontamento deixado no blog já há algum tempo sobre The Secret Life of Words (2005), um filme que aborda a questão. E agora que penso no assunto, um dos melhores filmes sobre o assunto e que retrata a triste realidade Russa pós-Perestroika e a sua relação com os países vizinhos, nomeadamente a Suécia é Lilja 4-ever (2002), podem encontrar nos videoclubes portugueses.

outubro 28, 2007

Compêndio da Poética Fílmica

O último livro de David Bordwell, Poetics of Cinema, vai finalmente chegar às lojas. Segundo DB o livro vai ficar pelos $45 o que é bastante para um paperback. No entanto se pensarmos que o livro tem cerca de 500 páginas e 500 fotografias não me parece assim tão exorbitante. Aliás pensando agora que a minha tese com apenas 400 páginas e 200 fotografias ficou, numa impressão a preço de estudante, por 50€. No entanto não deixam de ser interessantes as afirmações de DB relativamente ao papel dos editores no processo e a comparação ao mundo da música.
From age fifteen or so I’ve been a compulsive writer. Scribble, scribble, scribble. I’ve been at work on one book or another for over thirty years. I’ve got several projects in mind for my next effort, but I’ve held back committing. Is there any point in publishing more books, at least as books?
I mean this as a serious question. Would it have made any difference to me or my readers if Poetics of Cinema appeared as pdfs, available at a price considerably less than $45? Wouldn’t I find more readers? What about variable pricing? If Radiohead can do it, why can’t I? Somebody in film studies should try putting a digital book for sale online; maybe I will. But for a few years at least, this last baggy monster will be available only in dead-tree format.
Sobre o livro em si este trata, para mim, as questões fundamentais dos estudos fílmicos ou seja a poética, no seu sentido aristotélico ou se quisermos uma perspectiva literária, no seu sentido gramatical, do cinema.
As a kind of reverse engineering, film poetics looks at both structure and texture. I argue that we ought to study how films are constructed architecturally, as revealed for instance in plot structure or narration. Poetics also concentrates on stylistic patterning, the way filmmakers organize the techniques available to the medium. Poetics traditionally deals as well with thematics, the subjects and ideas that are mobilized by filmmakers and reworked by large-scale form and cinematic style.
Fundamentalmente a poética fílmica preocupa-se com o estudo das convenções, normas, tradições, rotinas que sugerem as escolhas criativas dos autores para o desenvolvimento de determinadas reacções nos espectadores. A tradição vem do formalismo russo e tanto Bordwell como Kristin Thompson têm sido os seus grandes defensores desde os anos 80, marcando aqui uma cisão grande com as questões da escola fílmica francesa e criando assim uma espécie de segunda via ou escola anglosáxonica.

Para mais informação sobre o livro e o tema sugiro a leitura da auto-review no blog de DB e o texto dele sobre a história dos estudos da poética fílmica de 1989, disponível online. Ao que parece este texto que foi para mim muito inspirador e de certa forma até fundador de um modelo de investigação, foi agora completamente revisto e está presente no livro também.

outubro 27, 2007

International Academic Positions / Emprego Académico

CANADA

Assistant Professor area of Computer Game Development

School of Computer Science, Carleton University

Applications are invited for a tenure-track faculty position at the level of Assistant Professor, in the School of Computer Science at Carleton University. We are interested in candidates with expertise in the area of Computer Game Development. Applications are accepted at any time and the recruitment process will continue until the position is filled. The successful candidate will have demonstrated excellence and commitment in both teaching and research; will be expected to develop a strong externally funded research program, supervise students, and develop and teach undergraduate and graduate courses.

Send curriculum vitae and names of three referees to: Professor Frank Dehne, Director, School of Computer Science, Carleton University, 1125 Colonel By Drive, Ottawa, Ontario K1S 5B6, email: director@scs.carleton.ca.

deadline: November 30, 2007 but applications will be considered until the position is filled. The start date for the position is July 1, 2008.


SINGAPORE

Various research positions in Automated Storytelling/Game AI/Planning
Interactive Intelligence Lab & National University of Singapore

Are you ready to push the boundaries of digital entertainment?

The research project will address the area of automated real-time storytelling for games in a dynamic, user-specific way that adapts to the player's actions. Think of a Lord of the Rings game - if the player plays Frodo and decides not to destroy the ring but instead tries to convince the elves to join forces against Sauron, how would the story change, i.e., how would we generate a story alternative in an automated way so that a great story experience for the player is still guaranteed?
Primary areas of research in the project are artificial intelligence,
planning, storytelling, and user assessment. We are looking for:

- 1 Post-Doc
- 4 PhD Students
- 1 Research Engineer (Programming)
- 1 Research Engineer (Artist)

The project will start IN JANUARY, and while we'll likely not fill all positions right at the start, please contact me AS SOON AS POSSIBLE in case you are interested: Alexander Nareyek, alex@ai-center.com.


HOLLAND

Assistant Professor New Media and Digital Culture (0,8 fte)
Department of Media and Culture Studies, Utrecht University

Applicants require a PhD, teaching experience on bachelor and master
level, and should be able to demonstrate affinity with the core themes
of the MA program New Media and Digital Culture: contemporary debates,
media comparison, popular culture, identity and participation,
communication and technology. We prefer candidates who are familiar with current debates in the field of computer game studies.

Salary: betwee € 2,279 and € 4,190.

For more information, please contact Joost Raessens, telephone +31 (0)30 253 6270 or by e-mail: Joost.Raessens@let.uu.nl. You can also have a look at our website.

deadline: November 11, 2007


PhD-researcher in Game and Media Technology (1,0 fte)
Department Information and Computing Sciences of Utrecht University

You will work on a project on automatic world generation based on real data. Building virtual worlds from real data such as panorama images is still a very labor intensive work, error prone, slow, and expensive. Therefore, the results is often small-scale, of low resolution, and not accurate. Our objectives are to research new algorithms to build virtual worlds automatically and from multiple data sources in order to alleviate these problems. We will exploit a combination of techniques from geometric pattern recognition, computer vision, and computational geometry. The envisioned results are methods that build virtual worlds fast and accurately. In this way, the quality of training people, mission planning, contingency planning, and decision making can be improved.

We ask MSc degree in Computer Science, Mathematics, or any other relevant
discipline. Knowledge and experience in programming (C++), algorithms and
data structures, pattern recognition, computer vision.

Salary: between € 1,956 and € 2,502

For more information please contact dr. R. Veltkamp, e-mail: Remco.Veltkamp@cs.uu.nl or dr. M.J. van Kreveld, e-mail: marc@cs.uu.nl. More information.

deadline: November 23, 2007


2 PhD researchers in Game design (0,8 fte each)
Faculty of Arts and the Humanities of Utrecht University

The aim of this interdisciplinary research program is to investigate how media and game theory can be called upon to improve the design and thereby the learning results of educational entertainment and serious games. For that purpose, researchers from different disciplines such as media and culture studies and educational sciences aim to build upon theories of serious games and gaming according to which games are not only designed and played to entertain, but also to educate, train, and inform.

We are looking for two excellent and enthusiastic researchers with master's degrees preferably in the humanities with knowledge and/or experience in the field of media and culture studies, in particular new media and digital culture. With evident expertise in game studies, applicants with other master’s degrees will be considered as well.

Salary: between € 1,956 and € 2,502

For further information, contact dr. J. Raessens, telephone +31 30 253 6270, e-mail: Joost.Raessens@let.uu.nl. More information.

deadline: November 15, 2007

Televisão, um estatuto português

Portugal um país no qual o ensino das artes se resume a duas cadeiras denominadas por Educação Visual e Educação Musical. Duas cadeiras que para além de serem manifestamente insuficientes, no caso musical resumem-se apenas a dois anos dados no 2º ciclo. Têm ainda a particularidade de estimular uma aprendizagem meramente técnica descurando totalmente os fundamentos das artes em questão.

Na música, os alunos que tenham a sua educação restringida à escola pública, no final de 12 anos de estudos, não terão a mínima noção sobre quem foi Mozart, Beethoven ou Bach ou o que os distingue. Não terão o mínimo de conhecimento sobre estética ou performance, não serão capazes de distinguir uma sinfonia de um concerto...

Na área visual e tendo em conta que ao denominar-se por esta etiqueta estaríamos a falar de todo um espectro que pode ir desde o desenho, pintura ou escultura até ao cinema, fotografia ou videojogos. Mas detendo-nos apenas e só na pintura, o que sabe um aluno da escola pública portuguesa ao fim de 12 anos de escolaridade? Saberá ele quem foi Van Gogh, Miro, Matisse, Bosch, Dali e porque não Pomar, Resende, Vieira da Silva ou Paula Rego?!! Saberá ele distinguir um quadro impressionista de uma obra expressionista? Mais importante que isto, saberá ele perceber que uma imagem (pintada, fotografada ou filmada) é antes de tudo uma montagem de elementos subjectiva composta por um ou mais autores, que o significado da imagem não tem uma significante tão relacional como o da palavra e que o valor denotativo parecendo por vezes ser parte da própria realidade é apenas um mote para a elaboração conotativa?

Julgo que o pensamento de muitos dos nossos grandes educadores e políticos nos dirá que o mais importante está na Matemática e no Português (como as recentes campanhas a apelar ao ensino da Matemática e da Leitura) e que tudo o resto pode ser adquirido através da cultura geral. E isto equivale a dizer através da televisão. Tanto mais que os manuais escolares que se vendem aos nossos filhos vêm agora impregnados de trabalhos que se socorrem de contextos televisivos, tais como reality shows e afins. Sendo que a lógica, que até parece tê-la, é que os miúdos não conhecem mais nada e assim será mais fácil motivá-los e levá-los a aprender. Como digo, até parece ter lógica, tudo o que motive é bem-vindo. Mas pergunto, não nos estaremos a esquecer da questão mais uma vez do ovo e da galinha? Se eles não trazem o conhecimento de casa, devemos então chover no molhado, valorizando esses rudimentos de cultura que estes trazem consigo para a escola? Ou não deveríamos antes fornecer-lhe novas ferramentas de desconstrução do real que lhes permitissem aprender a "olhar" para o mundo. Não estaremos a condicionar estas pessoas, que não têm recursos para frequentar escolas de Ballet, aulas de violino ou de expressão plástica, à rotina fabril do trabalho sem questionamento das 9h às 5h. Mas não terá chegado a altura de dizer basta. Não percebemos já, que a China é o novo mercado e que Portugal é uma gota desprezível na imensidão de mão-de-obra barata.

Vejamos então, o que é que temos conseguido com este sistema. A primeira evidência é a total subserviência aos modelos impingidos pela Televisão. A televisão representa em Portugal no século XXI, não um quarto poder, mas o primeiro. Não é novidade isto que eu digo, Emídio Rangel terá dito que tanto venderia sabonetes como presidentes, com o poder que a antena nacional lhe colocava nas mãos. A verdade é que não andava muito longe da verdade. Se olharmos para a realidade que contextualiza a vida quotidiana das classes D e C veremos que ela está completamente carregada de simbologia televisiva. A própria sociedade habituou-se a atribuir valor apenas àquilo que aparece na televisão e acima de tudo àqueles que na televisão são vistos. A máxima mudou, já não estamos no tempo em que "se apareceu na televisão é verdade" mas antes "se não está na televisão, não existe".

Vejamos o caso dos actores portugueses e comparemos teatro, cinema e televisão. Um actor em Portugal que se limite a uma carreira no teatro ou no cinema nunca poderá ambicionar a grande carreira porque mais cedo ou mais tarde verá trabalhos serem-lhe recusados porque o seu nome não é suficientemente conhecido para poder vender bilhetes. Casos de sucesso como Alexandre Lencastre ou Ana Zanatti teriam o mesmo impacto num cartaz caso não tivessem recorrido a uma carreira televisiva? E o que dizer dos fenómenos de popularidade de Ruy de Castro ou Diogo Infante, seriam o mesmo sem a televisão?

Pois é, e na literatura. Na semana passada assistimos a uma histeria desenfreada das três revistas de informação semanal relativamente às figuras de José Rodrigues dos Santos e Miguel Sousa Tavares relativamente ao facto de estarem ambos prestes a lançar novos romances no mercado. Ambos representam pesos pesados nas vendas de livros nacionais. Agora pergunto quantas capas de revista ou jornal foram dadas a outros escritores portugueses contemporâneos tais como Lídia Jorge, José Luís Peixoto, Jacinto Lucas Pires, Pedro Paixão, Luísa Dacosta, Mário Cláudio entre muitos outros.


O problema é que este estatuto que a televisão confere não se aplica apenas aos actores ou escritores. Este estatuto é conferido a todo e qualquer indivíduo que se coloca sob as lentes dos canais e aos quais a televisão atribui um "selo de qualidade" implícito. Pensemos nos líderes de opinião portuguesa: Marcelo Rebelo de Sousa, Pacheco Pereira, António José Teixeira, Francisco Moita-Flores, Rogério Alves... Mas agora que me indago, para quê ir mais longe do que o nosso primeiro-ministro. Quem era José Sócrates em 2005 e quem é agora. E já agora quem foi o anterior primeiro-ministro e para que não digam que não tinha sido eleito por sufrágio, então quem é o actual líder da bancada parlamentar do maior partido na oposição?

É uma realidade, já não é uma mera ficção, já não é mera hipótese, a televisão vende sabonetes assim como vende primeiros-ministros. Mas não só, a televisão constrói a realidade portuguesa. Quando sei que o primeiro local para onde os portugueses telefonam após uma tragédia é a televisão e não 112. Quando as pessoas perdem o emprego não se dirigem ao sindicato mas à televisão. Quando as pessoas são burladas ou são roubadas vão à televisão e não há polícia. É natural que tenhamos de nos colocar a pensar que algo vai mal. Sobre esta questões deixo ficar o interessantíssimo vídeo enviado por Luís Santos, obrigado.



“Se está na televisão é bom, se não, não estava lá”. Neste mesmo sentido têm as Universidades, mais as privadas que as públicas, sejamos honestos, aproveitado para contratar estas “personalidades” para figurarem nas suas listas docentes. Não porque o aporte que estes trazem à edificação lectiva represente uma mais-valia para os alunos mas antes porque a sua mais-valia está caracterizada por um retorno financeiro à custa da atractividade que os seus nomes poderão conseguir na angariação de novos estudantes para as suas fileiras. Mas então e porque é que estes estudantes são conduzidos por estes nomes. Porque lhes soa a pessoa informada, pessoa de grande capacidade intelectual, pessoa capaz de abrir horizontes? Não me parece. Aqui o que funciona é uma vez mais o lado mágico da presença em face da celebridade, não conta o que ele faz ou o que ele é, mas antes a sua imagem plasmada num ecrã que todos conhecem e todos viram e agora “eu estou aqui na mesma sala e na sua presença e por isso sou um privilegiado face aos outros que não podem ter acesso a este pequeno momento que será apenas nosso”.

Apenas para concluir algo que não se pode, nem resumir nem detalhar, porque um blogue não é propriamente o espaço ideal para discursos tão longos. Gostaria apenas de deixar uma linha apelando a que se elevem os critérios de orientação das nossas camadas jovens e para o qual não basta um Plano Tecnológico, seria bom que o nosso governo começasse a pensar seriamente numa nova aposta para a próxima legislatura que assentasse num Plano Artístico e Criativo. Um plano que defendesse como máximas a criatividade e a imaginação. Em que os valores intrínsecos do indivíduo fossem apoiados para produzir inovação e diferença, não permitindo o esmagamento operada pela filtragem do senso comum, das maiorias ou de meros objectivos económicos.

UPDATE 29.10.2007: Agradeço ao Luís Pereira o envio da seguinte informação.
Começa hoje aquela que é, nas palavras de João Soeiro Carvalho, comissário da Conferência Nacional de Educação Artística (CNEA), "a maior conferência algum dia feita nesta área em Portugal"

outubro 26, 2007

Leopard substitui Tiger

O novo sistema operativo (OS) da Apple será lançado dentro de aproximadamente duas horas com o nome de Leopard. Um sistema que se pretende que venha a concorrer directamente com o Vista (ver review). A superioridade dos OS da Mac sempre foram uma realidade embora em anos passados, nomeadamente derivado à hegemonia Microsoft muitas pessoas tenham passado a utilizar plataformas Windows. No entanto desde o lançamento do iPod que as coisas se modificaram e a Apple conseguiu um novo fôlego. Este ano com o lançamento do iPhone foi mais uma trunfo publicitário que funcionou muito bem. Mas a revolução de Steve Jobs foi mesmo a mudança dos processadores da Motorola para a Intel que veio permitir que o Windows pudesse correr num Mac tal como corre num PC. Esta alteração que inicialmente desenvolveu nos utilizadores Mac uma espécie de revolta julgando a Apple como uma traidora dos princípios da independência face à Intel criou toda uma outra onda online de ajuda aos utilizadores Windows que viram aqui uma oportunidade para pular a cerca - MaconIntel; GetaMac; BootCamp. Agora não há mais barreiras físicas e tudo se joga no software.

interpretação neurológica do real

Mais uma fantástica talk na TED. Ramachandran é um dos maiores especialistas em neurociência tendo trabalho fundamentalmente sobre os modelos como o nosso cérebro interpreta a realidade dadas as limitações neurofisológicas. Ou seja o modo ilusório como o nosso cérebro atribui significado à realidade. Trabalhos como a ilusão de presença de partes do corpo ausentes (phantom limbs) ou as questões relacionadas com a aprendizagem pela imitação baseadas nos neurónios espelho. Cientista que trabalha em áreas próximas de António Damásio e faz lembrar os trabalhos de Oliver Sacks relatados no livro The Man Who Mistook His Wife for a Hat (1985) .