“The Science of Storytelling” é um pequeno livro criado por Will Storr a partir dos materiais que tem produzido para os cursos que vem lecionando sobre escrita criativa e storytelling. Como o título indica, o foco está naquilo que a ciência tem para nos dizer sobre a importância das histórias, narrativas, e do ato de contar histórias. Muita dessa ciência provém dos avanços no campo das neurociências realizados nos últimos 20 anos, que permitiu começar a compreender as histórias menos como mitos e fenómenos psicanalíticos e mais como esquemas cognitivos enraizados na biologia que suporta a nossa consciência. Autores como Damásio, Paul Zak, Paul Bloom ou Kahneman deram passos a partir da ciência, mas outros como Jonathan Gottschall, Brian Boyd, Patrick Colm Hogan ou David Herman souberam integrar esse conhecimento nas novas definições narrativas e de storytelling, tornando-os parte integrante do discurso académico que define hoje os estudos na área da narrativa. Storr não tem nada de novo para apresentar, contudo o modo jornalístico como comunica e apresenta todo este mundo de conhecimento científico pode fazer deste livro algo apetecível para um público leigo na matéria.
Para garantir este discurso leve, Storr não aprofunda a ciência do storytelling, antes se serve desta para lançar alguns conceitos que depois trabalha por meio da desconstrução de exemplos de obras reconhecidas, aproveitando muito bem essa desconstrução para explicar conceitos básicos do design narrativo, base dos cursos de escrita criativa. Diga-se que deste modo, para quem tiver apenas interesse em conhecer a área, com objetivos simples como compreender melhor como funcionam as histórias nos livros ou no cinema, ou porque nos apaixonam tanto as histórias, o livro acaba por servir bem. Contudo, não se espere um livro que dê resposta ao título, nem no seu avanço nem aprofundamento, digamos que é um título excessivamente ambicioso, ainda mais para alguém mais ligado à prática do contar de histórias do que à ciência propriamente dita.
Caro Nelson, onde enquadra os cursos de escrita criativa, no âmbito da ciência. Há algo de científico neles ou é apenas o aproveitamento de um nicho de mercado?
ResponderEliminarE a propósito de aproveitamento, já estive com um um dois livros na mão de Pedro Chagas Freitas. Ao folheá-los deparo-me com frases feitas, bonitas, mesmo brilhantes, mas acabo por pôr de lado, com receio de não passarem disso mesmo, e não terem sumo. Estarei a ser injusto?
Olá Joaquim,
EliminarSendo a escrita uma arte, a ciência tem pouco a dizer. Neste livro a ciência explica o modo como compreendemos as histórias e como as geramos, mas esta não explica a formula para criar histórias, porque não existem formulas, ainda que existam modelos.
Dito isto, as oficinas de escrita criativa são tão válidas como as oficinas de pintura, desenho ou animação. Existem rudimentos técnicos na base de qualquer arte que precisam de ser aprendidos e podem ser ensinados. O que é difícil é ensinar a excelência, essa depende de cada um apenas. Mas é possível aprender com alguém, nomeadamente se for uma pessoa capaz de ensinar, porque uma parte essencial na aprendizagem, nomeadamente das artes, está no processo de imitação, mas também no processo de experimentação que para melhorar precisa de feedback exterior. Ou seja, ter alguém numa oficina que lê o nosso trabalho, e nos explica o que fizemos bem e mal, e dá pistas para experimentar de outras formas, é muito importante.
Quanto à pessoa que menciona, não conheço as suas oficinas criativas, admito que possam ser interessantes, pois parecem ter bastantes participantes. Quanto aos livros publicados, dos vários que tive nas mãos, não se podem considerar livros, menos ainda romances. São folhas de textos vazios, aglomeradas num formato de livro, mas nada ali tem que ver com escrita no seu sentido literário.
O melhor conselho que encontrei nos últimos anos para dar a quem quer escrever foi o de começar por ler o livro "Escrever: memórias de um ofício" do Stephen King. Fiz uma recensão do mesmo aqui: Se quer escrever, leia, leia muito...