Este livro, To Forgive Design: Understanding Failure (2012), trata um tema crítico da atividade humana, “a falha”, o estudo e análise do modo como falhamos na realização das nossas ações. O livro foca-se na engenharia, nomeadamente civil e mecânica, mas o ponto ilustrado serve qualquer outra engenharia, serve o design, serve toda a atividade criativa, acabando por servir toda a atividade humana. Mais serviria se o autor tivesse conseguido focar-se nessa essência como promete o título, não o conseguindo perdeu o livro e perdemos nós.
Esta questão da falha tornou-se um tópico central dos estudos sobre criatividade na última década, contando com um livro dedicado ao tema por Sarah Lewis, “The Rise: Creativity, the Gift of Failure, and the Search for Mastery” (2014), foi também amplamente discutido por Catmull no “Creativity Inc.” (2014), sendo tópico de imensos artigos e até motivo de uma exposição artística, "Permission to Fail”, que termina este mês nos EUA.
A vantagem de Petroski é que não se interessou pelo tema agora, antes já tinha publicado “To Engineer Is Human: The Role of Failure in Successful Design” em 1985. O autor refere o facto do livro ter mantido procura a razão pela qual resolveu escrever este novo. Não tendo lido o livro de 1985, acredito, pela resenha do mesmo, que avançou pouco, nomeadamente naquilo que o título prometia, a formulação de conhecimento. Alguns dos exemplos que aparecem na resenha do livro anterior servem mais uma vez a discussão aqui, tendo-se acrescentado exemplos relevantes como a queda das Torres Gémeas em 2001, o acidente do poço de petróleo aberto durante meses debaixo do mar pela BP em 2010, ou entrando um pouco no design industrial o problema do iPhone 4 com a receção.
Podemos dizer que “To Forgive Design: Understanding Failure” falha, o que acaba por ser irónico. Mas ao manter-se quase todo o tempo colado à descrição dos acidentes, é verdade que Petroski vai à essência da falha de cada acidente reportado, mas isso não chega para um livro, menos ainda para um livro que pretende elencar a essência do conceito. Não basta dar exemplos, dissecá-los, dar mais exemplos, mais detalhados, mais suportados, mais focados. Quando se constrói conhecimento, é necessário olhar para o todo e retirar daí conclusões, sintetizar ideias, focar mas também criticar, sustentar a descrição mas também sustentar o conceito, e isso pouco acontece aqui.
Diga-se que este problema tinha surgido exatamente da mesma forma em “The Rise”. Nessa altura referi que era um problema de conhecimento tácito, ou seja o ato de falhar precisa de ser experimentado, tornando complicado o problema de expressar o mesmo por palavras. Contudo depois de ter lido mais este livro sobre o tópico, julgo que o problema é mais evidenciado pelo parágrafo com que abri o texto, o facto da falha estar presente em toda a ação humana, tornando difícil a sua conceptualização sem entrar por discussões abstracts e filosóficas que acabam por acrescentar pouco. No fundo o modo como Petroski e Lewis fazem o seu trabalho, despejando descrições de dezenas de casos, acaba por ser a única forma de chegar à sua essência, o problema é que para isso precisávamos de ter livros sobre falhas em cada domínio.
E era isso mesmo que pensava ao ler este livro. Porque razão fazemos tantos livros sobre Casos de Sucesso quando o modo como as pessoas aprendem efetivamente é a partir dos casos de falhanço? Existe aqui um certo paradoxo que é querermos emular os melhores, os que não falharam, sem compreender onde estão os problemas que provavelmente se vão atravessar na nossa frente, e que só poderemos conhecer a partir dos exemplos de quem os enfrentou.
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