junho 01, 2014

“Ida” (2013), imagens pintadas

Não tenho muito para dizer sobre “Ida” (2013) de Pawel Pawlikowski, porque as ideias que sinto são audiovisuais, é cinema no seu estado mais puro. Como tal, escolha as palavras que escolher nunca vos poderei passar o sentimento de experienciar “Ida”. É preciso ver, ouvir e deixar-se tocar, "Ida" é uma espécie de sopro compacto de emoções estéticas.




O centro das atenções está na cinematografia, que é absolutamente espantosa, não por seguir os cânones, mas por ser tecnicamente tão cuidada e tão coerente com o todo. Várias nuances retiram a abordagem do cânone atual, o uso do quadro 1:33 que praticamente desapareceu, e depois toda a composição visual em antítese com tudo aquilo que se ensina nas escolas de cinema. Grande parte do filme é passado com os personagens colados ao fundo da imagem, ficando um enorme espaço vazio por cima das suas cabeças que contribui para a criação de um peso imenso, intensificando o drama da narrativa que se vai desenrolando. Em termos plásticos a técnica de preto e branco é cristalina, sem cristalizar os contrastes, que acabam por se esbater através de difusos cinzas, criando a sensação de imagem pintada, em vez de fotografada.
"There were no cuts. Each scene was done mainly from one angle. We didn’t rearrange lights for each scene…

The general thing is to take things away. With production designers, the obvious thing to do is to create a realistic environment with bits and pieces from the period. And what I was doing was constantly taking away and leaving only a limited number of objects in the shot, which would carry more force. So the image isn’t an imitation of reality, but it’s a reality in its own right. It works through suggestion rather than replicating reality…

I would cut out images that seemed too beautiful. I tried hard for the images not to feel like beautiful images in their own right. They would never be divorced from the emotional content and the actors’ presence, from the dramatic subtext of the scene. I get annoyed by pretty photography that's in love with itself, that doesn't point beyond itself…" 
Pawel Pawlikowski
Muito interessante saber que o cinematógrafo original se demitiu do filme, por não aceitar a abordagem visual pouco ortodoxa de Pawlikowski. Desse modo a cinematografia acabou por ficar a cargo do operador de câmara, Lukasz Zal, que por não ter nada a perder aceitou as ideias do realizador.

Pawlikowski não refere influências directas, mas assume ver regularmente 8 1/2 (1963) de Fellini, daí que o entenda e siga tão bem, já que é também dos poucos filmes que revisito com alguma regularidade, acima de tudo pela cinematografia, que parece claramente inspirar Pawlikowski. E sigo-o mais ainda, no modo como vê o cinema da atualidade e se pode ver no parágrafo abaixo, em que expressa uma certa desilusão, algo que ainda há poucas semanas aqui expressei também.
“The real inspiration for how this film looks was my impatience with cinema, where the vein of cinema is going. I wanted to make an anti-cinema film where there are no pointless camera moves, no pointless close-ups. I’m not emotionally excited by the power of cinema’s tricks anymore. Maybe it’s my personal midlife crisis. I’d love to see something that was calm and meditative, where you suggest more than show, where each kind of shot has some kind of density and tension, not just in the drama and the acting, but in the visuals, and where acting and image and sound are all part of the same thing. When I watch most films, with some exception, I always ask myself: “Why is the camera moving? Why is there a close-up now? Why does this have to be handheld now?” It was a way of purifying, getting rid of habits, and doing something really simply. Looking at a picture, contemplating it, while not really reading the emotional charge. But staying away from the kind of cinema rhetoric that I’m finding myself more and more impatient with.” Pawel Pawlikowski

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