fevereiro 14, 2009

o tempo e a falta dele

O recente artigo de Chris Hardwick na Wired, Diary of a Self-Help Dropout: Flirting With the 4-Hour Workweek fez-me repescar um texto que tinha ideia de escrever para aqui, mas que fui deixando de lado, sobre o mundo recheado de conteúdos que se amontoam e nos roubam tempo para viver.

Saber que o tempo que se passa em contacto com os conteúdos raramente pode ser considerado trabalho uma vez que do ponto de vista produtivo o resultado é nulo, contudo não pode existir trabalho no seu encalço sem a realização desta tarefa menos nobre que pressupõe: ver, ouvir, ler, jogar e interagir. Assim vejamos o que é necessário para que possamos prosseguir uma carreira académica na área do entretenimento digital e media interactivos, tendo em conta um dia com 24 horas.

um dia, 24 horas
  • VER - Cinema - 105m
  • VER - Séries TV - 60m
  • JOGAR - Jogos Digitais - 60m
  • INTERAGIR - Conteúdos Online - 45 m
  • INTERAGIR - Novos Softwares - 30 m
  • LER - Literatura Ficção - 60m
  • LER - Literatura Técnica - 45m
  • LER - Jornais e revistas - 45m
  • LER - Papers - 45m
  • OUVIR - Música - 15 min (e enquanto outras tarefas)
Dá um total de 8h30, ou seja, poderia ser um normal dia de trabalho. No entanto depois é ainda necessário organizar ideias, entranhar e reflectir para poder criar, escrever, desenhar e só depois então começar a produzir algo.
  • PENSAR - Reflectir - 30m
  • ESCREVER - Ideias - 15m
  • DESENHAR - Esboços - 15m
  • PRODUZIR - Gestão/Organização - 15m
  • PRODUZIR - Programação de computadores - 60m
  • PRODUZIR - Composição/Desenho digital - 60m
  • PRODUZIR - Papers - 15m
Mais umas 3h30, o que perfaz um total diário de cerca de 12h00. Mas aqui não incluímos ainda nada do que é o chamado "trabalho real" diário e que passa por dar aulas, preparar materiais para as aulas, atender alunos, orientar mestrandos, realizar tarefas administrativas, preparar e dar palestras, preparar e apresentar comunicações, preparar projectos, lançar novas ideias. O que por si só deveria perfazer 35horas semanais, ou melhor 7 horas diárias. Perfazendo um total de 19h00.

"Some days I'm just overwhelmed by everything on my to-do list" Chris Hardwick

Mas ainda temos a família, a mulher que quer ser ouvida, os filhos que vão e vêem do infantário, que querem interagir, brincar, falar, mudar fraldas e contar histórias. Para acompanhar temos ainda as compras de casa, os tempos para almoçar e jantar, a manutenção da habitação e dos transportes, as contas da casa, as interacções com o banco, os seguros, e as empresas que prestam serviços. Para isto, nada menos do que 5 horas diárias, e ficamos com uma soma de 24h00.

Até parece que afinal apesar de parecer um pouco cansativo e até talvez esgotante é bem possível. Só nos esquecemos foi do tempo para dormir. Pois, é que no meio de tudo isto ainda temos de arranjar tempo para dormir. Será então isto possível.

2 comentários:

  1. Cumprimentos,

    O meu nome é Nelson Ramos (53331) e sou estudante na Universidade do Minho no segundo ano do curso de Ciências da Comunicação. Mais concretamente, sou seu aluno na unidade curricular AúdioVisual e Multimédia que lecciona na Instituição.
    Ainda estou a iniciar o que poderá ser uma carreira académica na área do entretenimento digital e media interactivos, contudo este post dá para entender que realmente é muito complicado alcançar e cumprir à risca o plano apresentado. Claramente e conforme vamos prosseguindo na carreira vão sendo apresentadas novas tarefas que obrigam a uma boa gestão do nosso tempo, mas penso que também temos que ter consciência até onde queremos chegar. A minha vontade é um dia poder chegar a um estatuto que me permita simplesmente ser feliz na área de trabalho que gosto mais de desempenhar, mas o que vou ter que fazer para aí chegar é algo que ainda estou a aprender.

    ResponderEliminar
  2. Olá Nelson, bem-vindo à área e ao blog. O que aqui tracei diz respeito a algo que poderia ser encarado como um plano óptimo para o dia-a-dia, incluindo fins-de-semana e feriados. Contudo sabemos que o plano é um tanto utópico e como tal temos de nos adaptar da melhor forma, fazendo a melhor selecção em função do que queremos para nós e para os que nos rodeiam.
    Acima de tudo julgo que a sua ultima afirmação é digna de reflexão por todos nós.
    "ser feliz na área de trabalho que gosto mais de desempenhar"
    É este o caminho, não devemos esquecer contudo que qualquer seja essa área, ela requer sempre muito trabalho, contudo se gostarmos dela, esse trabalho será visto como algo que nos pode até dar prazer e como tal ser-lhe retirado o peso negativo do factor "trabalho".

    ResponderEliminar