abril 12, 2020

Literatura como arena de debate

Em "Elizabeth Costello" (2001) Coetzee cria uma nova abordagem ao romance usando ensaios seus, textos escritos e previamente publicados de não-ficção, que coloca na boca de uma personagem ficcional, que depois é obrigada defender-se da crítica. Parece uma forma de auto-questionamento, como se Coetzee quisesse por à prova as suas próprias ideias e crenças recorrendo ao romance como arena de debate virtual, usando as suas propriedades de simulador de realidade para se confrontar consigo mesmo. O resultado é muito impressivo, com um ritmo balanceado entre a racionalização e a sensorialidade, oferecendo conclusões muito atuais sobre a certeza e a verdade.
São 8 capítulos que debitam 8 conferências da escritora Elizabeth Costello, não são 8 temas, por que algumas conferências ampliam e oferencem diferentes perspectivas, do mesmo modo que nem todas as 8 foram alvo de publicação prévia de ensaio de Coetzee, as últimas 2 não foram. De entre os temas, temos:

1. A importância da literatura e seu criador, e ainda o fim inevitável da nossa passagem por esta vida.
Começa de forma muito racional, fica-se com a ideia de que o livro vai ser uma espécie de discussão meta-literária, interessante, mas desligada emocionalmente.

2. As propriedades e distinções do romance africano, nomeadamente os fatores da oralidade
Começamos a sentir Costello, começamos a perceber que é mais do que um ser racional, que sente e se sente, nomeadamente quando discorda.

3 e 4. Os direitos dos animais e o Holocausto
Aqui atinge-se um primeiro clímax, o racional fica para trás, é tudo força emotiva, é tudo dureza e violência verbal, somos levados a questionar-nos, quase mesmo a parar de ler de tão horrível o que estamos a imaginar.

Mas é aqui que Coetzee usa de forma mais extensiva a arena virtual, já que segue para uma segunda parte onde questiona tudo o que disse em defesa dos animais, colocando em causa ou em debate os extremos, e os dedos acusatórios.

5. Ataque às Humanidades pela Teologia
Neste ponto parece que mudamos totalmente, e voltamos à racionalização completa, mas é aqui que Coetzee nos surpreende, nos apanha de surpresa e nos tira o tapete. Antes de entrar aí, dizer como este capítulo me atirou de volta à leitura de “Incompletude” de Goldstein, pelo oposto desse livro. Em Incompletude é de ciência exata que se trata, de certezas absolutas, mas as humanidades não lidam com certezas absolutas, e de repente isso serve de mote à teologia para as questionar, e nós com ela, mesmo sabendo que não existe ali qualquer razão, porque a razão aqui não se aplica. É um momento brutal de ataques e contra-ataques entre duas personagens ficcionais, que facilmente poderão ter surgido na vivência de Coetzee enquanto professor universitário das humanidades.

O empenho na discussão sobre o valor das humanidades é tão grande que quase sentimos um choque elétrico quando entra a sensorialidade em bruto. Coetzee joga claramente nesse choque, sabendo que elevou o discurso a um nível de desapego emocional, de repente reenquadra toda a cena, e por meio de um simples flashback coloca-nos no lugar de voyeur, enquanto sentimos o arrepio que faz o livro tocar-nos bem dentro.

6. A descrição do Mal
Este é o ponto menos conseguido, talvez porque estando a aproximar-se dos questionamentos finais, Coetzee opte por começar a baixar o tom, ou porque a metáfora sensorial usada, apesar de imensamente poderosa, e que me fez engolir em seco, não se aproxime da metáfora velada de que se vai falando mas nunca se descrevem a propósito das torturas nazis. Mas a discussão que traz é profunda, e é algo com que me debato há tantos e tantos anos, e fica clara nesta simples frase:
“Se o que escrevemos tem o poder de nos tornar pessoas melhores, certamente tem também o poder de nos tornar piores.” diz Elizabeth Costello, em jeito de questionamento
Todas as semanas me questiono sobre isto a propósito da literatura, cinema e jogos. Se nos fazem bem, poderão também fazer-nos mal?

7 e 8. Últimos dois capítulos 
São estranhos, muito racionalizados à mistura com absurdo místico e existencialista. O primeiro com um debate em redor dos deuses gregos e suas relações sexuais com humanos. O último que surge tal qual um tribunal kafkiano na chegada ao purgatório de Elizabeth Costello.

Conclusões

Vários críticos tentaram encontrar uma interpretação que respondesse pela soma dos temas e discussões realizadas (ex. James Wood). Não concordei com o que fui lendo, porque não encontrei essa interpretação, mesmo depois de forçada por esses críticos. Porque no final senti que estava perante um Coetzee que tinha lutado de forma extraordinária pelo aprofundamento das suas certezas, mas que terminava apenas com mais dúvidas ainda.

Julgo que a grande conclusão, e isso faz parte da matriz das Humanidades, é que o mundo e toda a sua complexidade não é explicável por meras racionalizações. Tudo aquilo de que temos certeza, só a temos no momento em que olhamos para tal pela perspetiva que nos conduziu a essa certeza. Quando mudamos o ângulo, quando vemos a questão de outra perspectiva, de imediato nos assaltam as dúvidas sobre algo que até ali eram apenas certezas. Claro que isto é questionável quando entramos numa modelação orientada pelas ciências exatas, mas esse é um debate diferente, ainda que nesse ponto existam também todas as questões levantadas pelos teoremos de Godel.

No fundo, Coetzee escreveu um livro que plasma de forma frontal toda a teorização pós-moderna que nos diz que o mundo em que hoje vivemos está montado sobre fragmentos de ideias que não passam de ilusões de verdade. Porque não há verdade, não há certezas, não há finalidades, tudo é e não é. Vivemos em ilhas de realidade cada vez mais reduzidas, cada vez mais individualizadas, quando vez mais sozinhos. E por isso a leitura termina com um travo forte de tristeza, porque é difícil não nos questionarmos se foi para isto que elevámos tanto as nossas capacidades de compreensão do real... e isto sente-se claramente naquele capítulo final, kafkiano, absurdo... como se fosse inevitável aportar ali...


Nota quantitativa no GoodReads.

abril 10, 2020

Who's Afraid of Virginia Woolf?

Sendo uma peça de teatro (1962), foi como filme que o conheci há muitos muitos anos, mas mais do que isso, foi por meio deste filme (1966) que compreendi a importância da performance dramática e da direção de atores, e o quanto ambas eram fundamentais para que a arte cinematográfica fosse capaz de nos hipnotizar e transportar para outra realidade ao longo de duas horas. Obviamente o cinema importou do teatro o drama, e este pode por si apenas dar vida completa a um texto, mais ainda quando se tem ao seu serviço performances divinas como as de Elizabeth Taylor e Richard Burton. Mas não podemos esquecer que o cinema tem um realizador que põe em cena, que dirige os atores juntamente com as câmaras, e por via da composição, enquadramento e direção Mike Nichols acabaria tornando o texto de Edward Albee numa obra imemorial.
Mas a leitura do texto não é uma experiência perdida. Tenho referido a dificuldade de ler teatro, pela falta imensa que faz a dramatização, mas ler esta peça transportou-me até às tragédias gregas. Não sei se por me trazer continuamente à mente o filme, mas a verdade é que o vi há quase 30 anos, por isso tenho apenas impressões dele na memória. Contudo a leitura da peça consegue colocar-nos frente aos personagens, imaginá-los em movimento e sentir a sua verve, muito pela força do diálogo escrito por Albee. Podemos dizer que o texto colocado na boca dos personagens é duro, ríspido, direto, rápido e dito sempre no momento certo. Apesar de comédia, o seu tom negro transporta-o para a tragédia, com os quatro personagens a mais parecerem estar numa arena digladiando-se com palavras, vendo quem fere mais, mais rápido, quem chega ao final de pé.
O texto toca na essência de dois casais de académicos, pondo a nu não só as ilusões da vida em casal, mas também das ilusões da dignidade das profissões e dos seus legados. O twist final, um passe de mestre de Albee que tornaria a peça imemorável, é ele mesmo a cabal assunção de toda a ilusão, tornando a peça numa obra central do século XX.

Nota em estrelas no GoodReads.

abril 08, 2020

Lógica e emoção em Gödel

Kurt Gödel foi uma das mentes brilhantes da ciência do século XX, existindo quem o compare a Aristóteles, a Einstein ou Heisenberg, mas ao contrário destes, e apesar do seu inabalável contributo, nunca conseguiu alcançar o mesmo patamar de respeitabilidade pública. Rebecca Goldstein procura neste livro colmatar esse problema. Para o fazer, traça a história de vida de Gödel, aproveitando a sua veia romancista para nos envolver empaticamente com vários personagens históricos, e enquanto o faz dá conta do contexto científico com que nos conduz até ao âmago demonstrativo dos dois teoremas da incompletude de Gödel. Gostaria de dizer que é um livro acessível, porque foi para isso que Goldstein trabalhou, e admito que fez um trabalho notável, mas ainda assim não é facilmente acessível a todos, talvez por que tal não seja possível para algo que constitui em si mesmo a complexidade primordial da lógica. Contudo Goldstein consegue com este livro tornar clara a relevância dos teoremas e só por isso vale completamente a sua leitura.
O livro apela diretamente a todos os que estudam matemática e mais ainda aos que gostam da mesma, mas é um livro escrito a pensar em todos aqueles que gostam de ciência. Gödel encarna o académico brilhante e humilde que deveríamos todos almejar ser, o problema de Gödel foi ter levado esse modo ao extremo, muito por conta da sua personalidade, sobre a qual falarei a seguir. Para compreender o livro e compreender a relevância do trabalho desenvolvido por Gödel, diria que ter tido Matemática até ao 12º ano é suficiente e necessário. Ainda assim, quando entramos na discussão explícita da demonstração, requer algum foco e dedicação.

Em termos de personalidade, podemos dizer que Gödel enquanto um dos principais companheiros de passeio, no campus de Princeton, de Einstein, era o oposto deste. Gödel era fechado, abominava a crítica, não se dava com ninguém, e no final ninguém se dava com ele. Pelo excelente trabalho feito por Goldstein, percebe-se que isso aconteceu pelo extremismo assumido por Gödel face à lógica. Os seus colegas no final já só se referiam a ele como a Lógica, já que para ele tudo tinha de ser decidido dentro de um quadro demonstrável de razões. Gödel concebia toda a realidade como lógica, enquanto tal, tudo o que fazia tinha de ser determinado por lógica, ora isto levanta um problema grave que foi demonstrado por António Damásio em 1994. A lógica, ou racionalização, sem a componente de emoção, conduz à inação, pela simples razão de que se detém em considerações racionais levadas ao infinito. Em toda a sua vida Gödel não publicou mais 100 páginas, tendo deixado milhares por publicar, tudo porque não se sentia seguro, faltava-lhe a garantia lógica para prosseguir, ou melhor, faltava-lhe um sistema emocional mais robusto. É a emoção que dita a nossa sobrevivência, exatamente porque é capaz de curto-circuitar a razão. Porque frente a um carro que está prestes a atropelar-nos não permite que entremos no cálculo da melhor rota de fuga, simplesmente nos impele a saltar na direção possível.

Por outro lado, foi exatamente esta obsessão de Gödel que o conseguiu levar à demonstração dos Teoremas da Incompletude. A sua necessidade de compreender as razões que sustentavam a Matemática fez com que desenvolvesse um sistema demonstrativo da sua impossibilidade universal, ou seja, da impossibilidade da matemática preceder e suportar a lógica do universo.

Enunciado do 1º Teorema
"Em qualquer sistema formal adequado à teoria dos números existe uma fórmula indecidível — ou seja, uma fórmula que não pode ser provada e cuja negação também não pode." 
Enunciado do 2º Teorema de
"Um corolário do teorema é que a consistência de um sistema formal adequado à teoria dos números não pode ser provada dentro do sistema."
Estes enunciados, são apenas descritivos não são os teoremas, que usam todo um conjunto de símbolos que formalizam o conhecimento e demonstram efetivamente a impossibilidade. O que é interessante é o facto desta demonstração ter ramificações sobre toda a ciência, porque sobre todo conhecimento humano. Penrose utilizou-os para demonstrar que o pensamento humano não é mecanicista nem demonstrável pela simples lógica, algo que é bastante discutido por Goldstein, nomeadamente na relação com a IA. Contudo, faltou na discussão a variável emoção, parte cabal do sistema cognitivo humano, e que continua a marcar a diferença entre o orgânico e máquina, exatamente pelo que disse acima. Para a máquina tem de existir uma ordem concreta, suportada em regras e pressupostos, para o humano não. Por isso nós erramos e a máquina nunca erra. Mas também por isso, nós inventamos, criamos o nunca visto, e máquina não. Tudo isto tem vindo a tornar-se mais discutível agora que as máquinas têm acesso a bases de dados de informação de todo o planeta em modo dinâmico, contudo, em essência, é a espada emocional sobre a lógica que nos separa da máquina.

Deixo três excertos centrais do livro sobre tudo isto. Os textos são da versão inglesa, mas as páginas são da versão portuguesa da Gradiva:
“Gödel’s incompleteness theorems. Einstein’s relativity theories. Heisenberg’s uncertainty principle. The very names are tantalizingly suggestive, seeming to inject the softer human element into the hard sciences, seeming, even, to suggest that the human element prevails over those severely precise systems, mathematics and theoretical physics, smudging them over with our very own vagueness and subjectivity. The embrace of subjectivity over objectivity—of the “nothing-is-but-thinking-makes-it-so” or “man-is-the-measure-of-all-things” modes of reasoning—is a decided, even dominant, strain of thought in the twentieth-century’s intellectual and cultural life. The work of Gödel and Einstein—acknowledged by all as revolutionary and dubbed with those suggestive names—is commonly grouped, together with Heisenberg’s uncertainty principle, as among the most compelling reasons modern thought has given us to reject the “myth of objectivity.” This interpretation of the triadic grouping is itself part of the modern—or, more accurately, postmodern—mythology.” p.38
“But these mathematical intuitions that cannot be eliminated and cannot be formalized: what are they? How do they come to be available to the likes of us? We are once again thrown up against the mysterious nature of mathematical knowledge, against the mysterious nature of ourselves as knowers of mathematics. How do we come to have the knowledge that we do? How can we? Plato himself had argued that the very fact that our reasoning mind can come into contact with the eternal realm of abstraction suggests that there is something of the eternal in us: that the part of ourselves that can know mathematics is the part that will survive our bodily death. Spinoza was to argue along similar lines.
Few scientifically minded, post-Gödel thinkers would perhaps be ready to follow Plato and Spinoza into drawing conclusions of our immortality from our capacity for mathematical knowledge. After all, we are not only living with the truth of Gödel but also the truth of Darwin. Our minds are the products of the blind mechanism of evolution. Still, many scientifically minded, post-Gödel thinkers have testified to hearing, within the strange music of Gödel’s mathematical theorems, tidings about our essential human nature. They have argued from Gödel’s incompleteness theorems to conclusions about what we are; or rather, to be more precise, about what we are not. Gödel’s theorems tell us, according to this line of reasoning, what our minds simply could not be.
In particular, what our minds could not be, so goes the reasoning, are computers. The mathematical knowledge that we possess cannot be captured in a formal system. That is what Gödel’s first incompleteness theorem seems to tell us. But formal systems are precisely what captures the computing of computers, which is why they are able to figure things out without having any recourse to meanings. Computers run according to algorithms and we, it seems, do not, from which it straightforwardly follows that our minds are not computers.” p.216
“Gödel’s theorems are darkly mirrored in the predicament of psychopathology: Just as no proof of the consistency of a formal system can be accomplished within the system itself, so, too, no validation of our rationality—of our very sanity—can be accomplished using our rationality itself. How can a person, operating within a system of beliefs, including beliefs about beliefs, get outside that system to determine whether it is rational? If your entire system becomes infected with madness, including the very rules by which you reason, then how can you ever reason your way out of your madness?” p.223

abril 06, 2020

A Odisseia está completa

"Assassin's Creed Odyssey" (2018) é um trabalho admirável de reconstituição histórica que usa os melhores ingredientes do entretenimento digital para nos manter imersos durante mais de 70 horas numa relação direta com a nossa Herança Cultural. Dos Jogos Olímpicos ao Teatro, da Política à Ciência, da Arquitetura à Natureza, das Histórias do Quotidiano à Mitologia, de Esparta à Atlântida, está tudo ao dispor de quem desejar mergulhar num mundo antigo completo e renovado que conhecemos apenas através de registos fragmentários. No domínio da jogabilidade agradará a todos os que gostam de narrativa e relações, assim como a todos os que gostam de combates e progresso, ou ainda a todos os que gostam de explorar e criar mundos à sua medida. É um jogo massivo, não apenas pela geografia — perdi a conta ao número de cidades, ilhas, montanhas, locais submersos assim como personagens e eventos que tudo ligam — mas também pela modelação do design que garante atributos para todos os perfis de jogadores. Não consigo imaginar o custo de produção de algo com esta magnitude, o número de pessoas envolvidas — do conceptual à finalização —, quantas vezes não dei por mim a pensar, "esta área apenas dava um jogo completo", mas depois percebia que essa área era apenas uma pequena parte de um todo gigantesco.
Foi uma viagem impressionante, muito mais do que visitar a Antiga Grécia em todo o seu esplendor, do Partenon aos belíssimos teatros, passando pela miríade de estátuas espalhadas por toda a Grécia assim como as magníficas ilhas mediterrânicas, tudo foi ainda mais impactante pelos encontros com os vários personagens da nossa história: Sócrates, Hipócrates, Herodotus, Aspasia, Péricles, Leonidas, Demérito, Protágoras, Sófocles, Eurípides, Aristófanes. E depois ainda, o envolvimento narrativo criado entre nós e todos estes personagens, nomeadamente tudo aquilo que aprendemos sobre a Democracia Ateniense, as guerras e a vida em Atenas. Sabiam que Péricles além de pai da democracia foi o mentor da construção do Partenon? Ou que Atenas foi fustigada por várias pestes e epidemias, tendo Hipócrates lutado contra as crenças para instituir práticas medicinais assentes na observação empírica? Ou que Esparta e Atenas passaram décadas a digladiar-se naquela que ficou conhecida como a Guerra do Peloponeso?

No campo mais técnico, pela primeira vez a série introduziu uma narrativa interativa, criando um sistema de personagens muito mais humanos, com relações dramáticas sobre as quais podemos verdadeiramente atuar. Não que a história ficcional seja brilhante, mas resulta, nomeadamente quando chegamos ao final e compreendemos que aquilo que temos é aquilo por que lutámos (existem múltiplos finais, ligados aos personagens que salvamos ou decidimos não matar). Por outro lado, o sistema de dificuldade está completamente transformado, desta vez, mesmo jogando no modo Fácil vão ter de repetir várias lutas e fazer muito level up, se quiserem progredir. O sistema usa um balanceamento que vai ajustando as dificuldades de cada área geográfica à nossa progressão em experience points. Por isso mesmo, os skill points são importantes e precisam de ser bem geridos. Mas o melhor é mesmo toda a gama de possibilidades de stealth que nos leva a ter de parar para pensar e decidir a melhor estratégia para resolver certos problemas, já que os nossos inimigos estão longe de serem meros bots em loop.

Deixo-vos 40 imagens para aguçar o vosso interesse.



abril 05, 2020

Interconexões criativas de Alien

“Memory: The Origins of Alien” (2019) é um documentário sobre um filme marcante do final do século XX, “Alien” (1979), mas mais do que isso, é um documentário sobre a arte cinematográfica, não tanto sobre produção, realização ou receção do público, mas essencialmente sobre o processo criativo, a sua ideação e design. Alexandre O. Philippe, o realizador, fez um trabalho notável na escavação de informação e geração de pistas e ligações que vão desde a infância do guionista, Dan O' Bannon, até às mais elaboradas personagens da Grécia Antiga. É uma hora e meia de descoberta e demonstração das interconexões e interdependências que se jogam no processo criativo, nas afinidades e sincronicidades entre indivíduos e suas relações com todo o imaginário colectivo. Obrigatório.
O documentário torna claro como Alien emergiu de um mundo de mitos e histórias, textos e imagens, sons e movimentos, filtrados por três mentes brilhantes: Dan O' Bannon, HR Gigger e Ridley Scott. Dan criou o ninho de onde brotou a semente que foi depois acarinhada por Giger e finalmente traduzida por Scott para a obra que hoje conhecemos. O filme desde sempre apelou ao nosso olhar contemplativo, obrigando-nos a ir ao fundo das nossas referências, mas vê-lo à luz de toda esta informação, ganha dimensões ainda maiores, e afunda-se ainda mais dentro de nós, parecendo querer tocar em quase tudo aquilo que somos, como se conseguisse de algum modo ser ele próprio um personagem, rico e multifacetado, um artefacto vivo, denso e infinitamente enredado em todos os pontos e momentos da sua geração.


Deixo-vos apenas uma lista do que fui apontado ao longo do filme: Dan O' Bannon, John Carpenter, H. P. Lovecraft, "Seeds of Jupiter" (1951), Série B dos anos 1950, “Dark Star” (1974), Roger Corman, “The Thing” (1951, 1982), HR Giger, imaginário do Antigo Egipto, Ridley Scott, “Fury” (1944) de Francis Bacon, "Oresteia" (458 a.C) de Ésquilo, imaginário da Antiga Grécia, “Narcissus” (1897) e “Nostromo” (1904) de Joseph Conrad, imaginário da disparidade entre classes, etc. etc. E muitas imagens.