janeiro 04, 2011

Rushdie e a narrativa jogo


Salman Rushdie nunca foi grande fã dos videojogos, contudo parece que agora está a tentar fazer um esforço para se aproximar da arte. Em 1995 num entrevista feita por David Cronenberg para a revista Shift, dizia o seguinte:

"Cronenberg: Do you think there could ever be a computer game that could truly be art?
Rushdie: No."
Justificando
"Rushdie: In the end, a work of art is something which comes out of somebody’s imagination and takes a final form. It’s offered and is then completed by the reader or the viewer or whoever it may be”

No entanto vendo a entrevista abaixo, para o Big Think, e percebendo que o seu próximo livro deverá conter lógicas narrativas influenciadas pelos videojogos, sou obrigado a concordar com o Jesper Juul, que este deverá ter uma "relação de amor-ódio" com os videojogos.




[via The Ludologist]

Videojogos em 2010

Aqui fica uma excelente infografia de Michael Fahey de síntese do ano de 2010 no campo dos videojogos para a Kotaku. Tenho de confessar o que já tinha sentido ao longo de todo o ano, que foi um ano sem grandes picos em termos de obras. Os maiores eventos estiveram mais relacionados com a tecnologia nomeadamente o Kinect da Xbox, o Move da Sony e o iPad da Apple.

Quanto aos jogos e ao que mais se destacou em termos de impacto o título parece-me que deverá ir para Red Dead Redemption da Rockstar. Isto porque apesar da enorme expectativa criada à volta de Heavy Rain da Quantic Dream, este não conseguiu o impacto desejado. Contudo e do meu lado é sem dúvida a obra deste ano. Não deixei aqui ainda nenhuma review do jogo porque apenas o terminei uma vez, e queria fazê-lo mais umas duas ou três vezes para poder ter uma noção mais completa da dimensão e impacto da narrativa do jogo.
Claramente que tivemos muito mais do que isto como se pode ver na infografia, mas no geral não passaram de sequelas - Assassin's Creed 2; BioShock 2; Mass Effect 2; Super Mario Galaxy 2; Just Cause 2; God of War 3. Existe ainda um titulo que gostaria de ter jogado mas não consegui ainda Alan Wake.

janeiro 03, 2011

há vida para além de Farmville

Depois de quase um ano sem nada mostrar que era possível criar outro fenómeno como Farmville eis que se fez luz com CityVille, novamente pela Zynga. Nada de muito novo na jogabilidade, mas isso podemos de dizer da grande maioria dos restantes jogos sociais - Fishville, Frontierville, Pet Ville, Cafe World - presentes no Facebook e que tentaram ao longo de mais de um ano derrubar o jogo com maior número de jogadores da história das redes sociais. Assim e ao fim de alguns níveis posso dizer que CityVille funciona como uma excelente fusão entre o melhor da socialização de Farmville da Zynga e o melhor da sensação de progressão de Social City da Playdom. Social City ainda recentemente reconhecido com o prémio Best Social Network Game Award no The First Annual Game Developers Choice Online Awards.

Pelas contas do InsideSocialGames o CityVille ultrapassou Farmville na véspera do Natal 2010. Nesta altura atingindo os 60 milhões de jogadores face aos 58 milhões de Farmville. De notar que CityVille demorou menos de 1 mês a atingir um valor que Farmville demorou 4 meses a conseguir.
Mas por esta altura Farmville estava já em declínio, o seu pico foi atingido em Março de 2010 com 83.76 milhões de jogadores, há cerca de 9 meses, e era este número que ainda precisávamos de ver se CityVille conseguiria atingir. Esse número foi então hoje oficialmente anunciado pela InsideSocialGames, referindo que CityVille atingiu a marca de 84 222 766 jogadores. Um feito impressionante. Mais ainda se referirmos que o jogo foi lançado a 2 de Dezembro de 2010 tendo feito apenas ontem um mês de vida.
O que pode estar na base de tudo isto, é difícil explicar. Numa questão CityVille foi totalmente diferente de Farmville, na promoção. Enquanto Farmville não teve qualquer forma de divulgação ou marketing desenhado para si, foi lançado apenas como um pequeno jogo para o Facebook, CityVille foi o oposto. Desde o ataque directo a todos os jogadores, da extensa rede que ainda é Farmville para os convencer a ir até CityVille (ver imagem abaixo), até à promoção pelas vias próprias do Facebook com botões enormes fazendo referência ao jogo. Aliás enquanto Farmville conseguia 18 mil jogadores em 24 horas o que é já de si era um feito impressionante, CityVille consegue no mesmo tempo 290 mil jogadores.

Isto é importante porque a esta altura eu e muitos outros já duvidávamos da possibilidade de vermos aparecer outro fenómeno como Farmville. Várias razões poderiam ter ditado o aparecimento do fenómeno, nomeadamente o aumento exponencial do Facebook aquando do aparecimento do Farmville. Aliás e por isto mesmo CityVille foi já submetido a uma extensa e profunda análise no Gamasutra pelo designer Tadhg Kelly (Parte 1 e Parte 2).

leitor de música tangível

A IDEO é uma empresa de design e consultoria nas áreas criativas, com sede residente em Palo Alto, EUA mas espalhada pela Europa e China. É uma empresa que trabalha de perto com as questões de Interacção Humano-Computador, Factores Humanos, Engenharia de Software, entre outras áreas. Foi responsável por imensos projectos inovadores e alguns disruptivos como o rato para o Lisa da Apple. O rato utilizado ao longo dos anos 80, 90 e ainda início dos 2000, o posicionamento era dado por duas rodas de coordenadas accionadas por uma esfera.

O que podemos ver no projecto do vídeo abaixo é uma plataforma física, o C60 Redux, que serve de leitor de música. Ao contrário dos leitores de discos, cds ou cassetes neste podemos colocar o "objecto com música" sobre a superficie de qualquer modo, sem qualquer orientação espacial. Podemos criar listas de músicas seguindo apenas a organização da leitura que ocorre sobre o tabuleiro.

“A simple music player interaction.
Just keep track of cards.
No mouse, no screen.
Antidote to point and click.
Facilitates cooperative interaction.
A three year old can use it,”

Criatividade e Storytelling

Imagem de Christine

Para começar bem o ano aqui ficam três palestras sobre o assunto que mais vai ocupar o meu ano de 2011, a Criatividade e o Storytelling. Depois de muito termos ouvido Ken Robinson falar sobre a criatividade e a educação, vale a pena escutar dois designers consagrados - John Maeda e Stefan Sagmeister - e um verdadeiro storyteller - Jay O'Callahan. Os três estiveram na conferência 99% de 2010 organizada pela Behance Network, uma rede dedicada a quem trabalho nas áreas criativas. O lema da conferência é nem mais,

"It's time to stop dreaming and start doing"


John Maeda: Looking for Superman



Stefan Sagmeister: Don't Take Creativity For Granted


Jay O'Callahan: The Power of Storytelling

Um Blog, porquê?

Acabo de ler a Lista de dez conselhos para quem quer começar um blog de António Granado e julgo que vale a pena replicar aqui esses conselhos.

1. Um blog tem de ser um compromisso sério e livre

2. Um blog deve ter um tema e explorá-lo profundamente

3. Blogar deve ser partilhar conhecimento e ter gosto nisso

4. Postar com frequência deve ser uma preocupação

5. Um blog é um espaço público, não é uma conversa de amigos

6. Um blog tem uma voz própria e deve ser coerente com essa voz

7. Antes de começar um blog, pensar duas vezes

8. Vale a pena apostar num domínio próprio e brincar com as ferramentas

9. Um blog pode ser a porta de entrada na profissão de jornalista

10. Os blogs não estão fora de moda

Gostei desta listagem de conselhos, sincera e honesta e que fazem da blogosefera o espaço de partilha de conhecimento que é nos dias de hoje.
Dos 10 conselhos e aplicados ao caso do Virtual Illusion excluiria os últimos 3.
O ponto 8 sobre o domínio é interessante mas não é tudo, além de que um dominio próprio é no meu entender já uma deturpação do carácter do blog. Isto no sentido em que um blog é parte de uma comunidade alargada que partilha uma mesma plataforma, logo uma mesma identidade no seu link.
Quanto ao 9, é interessante para todos os que trabalhem na área, de resto, o blog será cada vez mais um elemento relevante de análise num portefólio.
E o 10, porque não é um conselho, antes uma constatação, como tal não se enquadra nesta lista.

Resumo Cinema 2010

Melhores 10 filmes produzidos em 2010


1 - Inception, Christopher Nolan
2 - Copie Conforme, Abbas Kiarostami
3 - Shutter Island, Martin Scorsese
4 - Buried, Rodrigo Cortés
5 - Black Swan, Darren Aronofsky
6 - The American, Anton Corbijn
7 - Alice in Wonderland, Tim Burton
8 - Scott Pilgrim vs. the World, Edgar Wright
9 - Toy Story 3, Lee Unkrich
10 - The Social Network, David Fincher

Foram 243 filmes vistos em 2010, mas apenas 36 filmes produzidos em 2010 (seguindo as datas da IMDB). Ficam de fora vários trabalhos produzidos em 2010 e que não tive ainda oportunidade de visionar, tais como: The King's Speech; 127 Hours; Biutiful; Winter's Bone; Rabbit Hole; Tron: Legacy; It's Kind of a Funny Story; Another Year; Uncle Boonmee Who Can Recall His Past Lives; Carlos; The Autobiography of Nicolae Ceausescu; Film socialism; Somewhere.
A vantagem de listar todos os filmes que vemos é poder no final de um ano olhar para trás e analisar em maior detalhe o que se fez, o que se privilegiou, a experiência em geral.

Origem dos filmes (243)

Tipologia das notas atribuídas aos filmes (243)


Divisão por géneros dos filmes (243)


[Para ver todos os 243 filmes veja a Lista Geral de Filmes]

janeiro 01, 2011

Filmes de Dezembro 2010

Dezembro teve dois filmes brilhantes, com duas interpretações femininas impressionantes, da parte de Juliette Binoche (Copie Conforme) e Natalie Portman (Black Swan). Em breve deixarei aqui um artigo sobre o cinema de 2010.

xxxxx Copie Conforme, 2010, France, Abbas Kiarostami, Drama

xxxxx Black Swan, 2010, USA, Darren Aronofsky, Drama


xxxx The Social Network, 2010, USA, David Fincher, Biopic
xxxx Scott Pilgrim vs. the World, 2010, USA, Edgar Wright, Comedy
xxxx The American, 2010, USA, Anton Corbijn, Drama

xxxx Buried, 2010, Spain, Rodrigo Cortes, Thriller
xxxx Despicable Me, 2010, USA, Pierre Coffin, Chris Renaud, Animation

xxxx Afterschool, 2008, USA, Antonio Campos, Drama
xxxx Guns, Germs and Steel, 2005, USA, Jared Diamond, Documentary
xxxx The Squid and the Whale, 2005, USA, Noah Baumbach, Drama


xxx Tangled, 2010, USA, Nathan Greno, Byron Howard, Animation

xxx Solomon Kane, 2009, France, Michael J. Bassett, Adventure
xxx El secreto de sus ojos, 2009, Argentina, Juan José Campanella, Drama

xxx Abrazos Rotos, 2009, Spain, Pedro Almodovar, Drama
xxx Deux jours à tuer, 2008, France, Jean Becker, Drama


xx Carriers, 2009, USA, Àlex Pastor, David Pastor, Horror
xx Dolan's Cadillac, 2009, USA, Jeff Beesley, Crime
xx Armored, 2009, USA, Nimród Antal, Crime
xx New Moon, 2009, USA, Chris Weitz, Fantasy
xx The Brothers Bloom, 2008, USA, Rian Johnson, Adventure
xx Bienvenue chez les Ch'tis, 2008, France, Dany Boon, Comedy
xx
The Longest Yard, 2005, USA, Peter Segal, Comedy

x Expendables, 2010, USA, Sylvester Stallone, Action
x Piranha 3D, 2010, USA, Alexandre Aja, Horror
x Star Crossed, 2009, Portugal, Mark Heller, Drama
x Whatever Lola Wants, 2007, Canada, Nabil Ayouch, Drama


[Nota, Título, Ano, País, Realizador]
[x - insuficiente; xx - a desfrutar; xxx - bom; xxxx - muito bom; xxxxx - obra prima]

[Lista Geral de Filmes e Ligações IMDB]

dezembro 30, 2010

2010 visto do Cinema em 4, 5 e 6 minutos

É com muito agrado que volto a trazer aqui trabalho de pessoas não profissionais, de pessoas que deram a conhecer o seu trabalho via online, neste caso YouTube. Nesse sentido vamos cada vez mais habituando-nos à ideia da criação pela comunidade para a comunidade.

Nos últimos anos e no final de cada ano, montagens de imagens dos filmes estreados nesse ano, surgem no YouTube realizadas por amantes de cinema. O YouTube começou em 2005, e a primeira montagem que consigo encontrar data do ano de 2006 criada por Matthew Shapiro, na altura com 14 anos, e que desde então e no final de cada ano, nos vem dando o privilégio de ver uma retrospectiva de um ano inteiro em pouco mais de quatro minutos:2006, 2007 action, 2007 drama, 2008 e 2009 .

Em 2008 Kees van Dijkhuizen, também aluno do secundário, em Hague, Holanda, juntou-se a esta aventura e criou uma retrospectiva mais ousada que a de Matthew Shapiro, alargando de 4 para 6 minutos, trabalhando já não apenas a imagem, mas também o som, e com uma banda sonora mais rica, além de passar dos cerca de 100 filmes de Shapiro para cerca de 300 representados. Assim e desde então tivemos: 2008 e 2009.

Este ano de 2010, os habituais 2010 The Cinescape de Shapiro e o Cinema 2010 de Dijkhuizen foram acompanhados por Filmography 2010. Criado por Gen Ip, de Vancouver, Canada, aluna universitária em Comunicação, assumindo que seguiu os passos de Dijkhuizen e Shapiro, produziu a montagem sensação deste final de ano cinematográfico no YouTube, é de todas estas retrospectivas a mais vista de sempre, com 2 milhões de hits, dobrando o recorde de quase 1 milhão de hits de Cinema 2009 de Dijkhuizen.

Reconheçamos desde já o valor deste tipo de trabalho. Apesar de não existir criação de imagem propriamente dita, o trabalho de montagem executado tanto por Shapiro, Dijkhuizen como por Gen Ip é altamente expressivo, e capaz de construir uma mensagem própria. Nomeadamente os trabalhos 2009 e 2010 são trabalhos de edição de uma qualidade impressionante. Juntar cenas de cerca de 300 filmes é já de si algo muito, muito trabalhoso, mas ainda assim conseguir criar sentido dessa gigantesca montanha de cenas, atribuir-lhe uma lógica, sonorizar a mesma fazendo uso de sons originais e adicionando novas camadas, é sem dúvida um trabalho dantesco que tem de ser reconhecido, elogiado e promovido.

E foi-o ainda recentemente pela Fox que contratou Dijkhuizen para realizar um trabalho dentro do género, de retrospectiva dos 15 anos de produção da Fox Searchlight. Sobre este trabalho de Dijkhuizen, é possível ver como ele se destaca no talento para a montagem vendo os dois trabalhos de retrospectiva presentes na página comemorativa dos 15 anos da Searchlight. Dijkhuizen destaca-se totalmente da outra montagem, tal como nos seus projectos anuais pela capacidade em criar sentido e coerência a partir de imagens dispersas, fazendo uso da sonoridade, imagem e mensagem de cada cena, de cada filme.

Sobre o processo de criação destas retrospectivas cinematográficas, Dijkhuizen refere 300 horas como o tempo investido para produzir Cinema 2010, Gen Ip refere 2 meses para Filmography 2010. No concreto e como se chega a um trabalho destes, Dijkhuizen diz-nos,
"I’ve reached a stage now where I can literally see images in my head during each track, so I make these little mini-edits in my head when I listen to my iPod on the bus... from then on it’s try try and try."

Parece algo simples, mas é algo que requer não apenas uma enorme motivação e paixão pelo cinema e pela montagem mas requer uma enorme vontade de fazer, capaz de suportar horas e horas de trabalho até atingir o ponto requerido. Aliás ele diz-nos isso mesmo, "Making a video like this requires time and passion that most people just don’t have. They like to think that they do, but they don’t." Nem mais.

Sobre os objectivos destes trabalhos, para além do reconhecimento pela comunidade, Gen Ip sintetiza bem dizendo
"Film is a fantastic storytelling medium so when you can put multiple movies together and make them work cohesively, the result can be quite revealing about the culture and society that they come from."
Vendo os trabalhos deste ano, 2010, podemos dizer que possuem estilos bem diferentes. Shapiro continua colado ao facilitismo de editar tudo sobre uma música apenas, apesar disso faz um bom trabalho de crescendo seguindo em total sintonia o clímax da musica, conseguindo produzir o tal sentimento de "nostalgia" que Dijkhuizen elogia em Shapiro. Já Dijkhuizen optou este ano por ser menos abrangente focando-se em algumas obras chave para construir a unidade do conjunto das cenas. Gen Ip é quem mais arrisca porque abre totalmente o leque, constrói todo trabalho dividido em várias categorias, juntando assim grupos de imagens em momentos temáticos. Eu diria que van Dijkhuizen com a sua terceira montagem faz algo já mais profissional, a experiência e também o talento permite-lhe criar um objecto mais uno, integrado e compacto. Por outro lado Filmography 2010 de Gen Ip atinge provavelmente os 2 milhões de hits graças ao primeiro minuto que é um dos minutos mais bem conseguidos de todas estas retrospectivas de qualquer um dos autores mencionados. Visual, sonora e musicalmente (Ratatat ajuda) perfeito.

Vejam agora os três trabalhos de 2010 e façam boa viagem.




Cinescape 2010 de Matt Shapiro




Cinema 2010 de Kees van Dijkhuizen




Filmography 2010 de Gen Ip



Informação adicional
Entrevista a Gen Ip
Entrevista a Kees van Dijkhuizen

dezembro 28, 2010

de American a Scott Pilgrim

Em dia de semi-pausa, vi dois filmes com sentido estético totalmente oposto, visual e narrativamente falando, The American (2010) e Scott Pilgrim vs. the World (2010).

The American é um filme lento, que nos imprime um tempo pausado e nos faz entrar adentro do personagem excepcionalmente bem desenhado por George Clooney. Sentimos o filme como uma brisa realista, voando sobre nós que nem uma borboleta por entre um riacho e flores de Outono. É uma obra de mestria total do tempo e ritmo narrativo, visualmente forte e sedutora. Somos deleitados pela lentidão narrativa que nos transporta e nos leva a compreender quem é aquele personagem e precisamente do que precisa ou o que procura, sem nunca o dizer, sem sequer o tentar, apenas nos levando a sentir.


Por outro lado Scott Pilgrim vs. the World é todo um oposto, ritmo acelerado, realidades não consistentes, de pura fantasia com acções sem consequência, e ainda assim o que tem então um filme destes para nos arrebatar? É um filme que pertence a toda uma nova geração de cineastas americanos independentes, que utilizam o melhor da arte do espectáculo de Hollywood subvertendo-a para comunicar ideias simples e despretensiosas. É um filme feito à imagem de Wes Anderson (Rushmore,1998; The Royal Tenenbaums, 2001), Jason Reitman (Thank You for Smoking, 2005; Juno, 2007) e muito, mas mesmo muito de Kevin Smith (Mallrats, 1995; Chasing Amy,1997; Dogma, 1999).

Scott Pilgrim um herói de BD é totalmente transportado para o cinema, literalmente e visualmente falando. Mas toda esta forma de falar cinematograficamente está cheia de intertextualidades provenientes de sitcoms (Seinfeld), videojogos (Pac-man, Street-Fighter, Zelda), e comics (Marvel e Manga). No final do filme, no momento em que a Espada já não assume o lado do Amor mas do Auto-respeito, fez-se luz, "this is it, this is Gamefication". Era a linguagem do cinema a assumir a totalmente e de forma explicita e sem pudor a gramática dos videojogos.

Claramente que este não é um filme para todos, precisam de trazer na bagagem a cultura dos videojogos, dos comics e das sitcoms e algum humor. Mas The American também não é para todos exige contenção, paciência e gosto pela arte.


O que retenho dos dois filmes? Uma experiência enriquecedora, capaz de me tocar e despertar ideias e motivações. O que os une? A competência expressiva.