“a lot of people say they are bad at technology, but I think that a lot of technology is bad at humans” Amber Case
"2016 Interaction Design Today" da IxDA
“a lot of people say they are bad at technology, but I think that a lot of technology is bad at humans” Amber Case
“Qualquer romance, mesmo razoavelmente longo, representa apenas uma fração infinitesimal daquilo que se sabe sobre o mundo. Aquilo que eu sei sobre Liberdade é maioritariamente acerca dos seus quatro personagens principais, os quais cresceram a partir do pequeno pedaço de mundo conhecido pelo seu criador. Representar um mundo é uma forma de permitirmos a nós mesmos sentir pequenas coisas de modo mais intenso, e não de conhecer muita informação.” no Guardian.De certa forma, Franzen optando por não seguir nenhuma das abordagens de subversão do texto, modernas ou pós-modernas, acaba por inovar no modo como consegue rentabilizar e complexificar a estrutura clássica de contar histórias, nomeadamente pelo brilho com que desenvolve uma estrutura de tão fácil compreensão, impregnada de construções frásicas imensamente complexas. Neste sentido podemos dizer que Franzen é menos lírico que Roth ou Nabokov e imensamente mais acessível que Foster Wallace ou McCarthy, contudo é tão ou mais competente que qualquer um deles, exatamente pelo modo como entrelaça a forma narrativa de complexidade mantendo o seu fluir tranquilo.
"Não sabia o que fazer, não sabia como viver. Cada nova coisa que encontrava na vida impelia-o numa direcção que o convencia por completo da sua rectidão, mas depois surgia uma outra coisa nova que o impelia na direcção oposta, mas que também lhe parecia certa. Não havia nenhuma narrativa controlada: aos seus próprios olhos parecia ser uma bola de pinball puramente reactiva, num jogo cujo o único objectivo era manter-se vivo só mesmo para estar vivo." p.392
"Holbrooks creates beautiful things, but never for the sake of beauty alone. Behind every frame we produce, there is thoughtfulness, integrity and value. Holbrooks paints from a broad spectrum of hues -- from the lurid to the luminescent, -- always with the goal of building narrative richness. We seek to inspire viewers’ continued thought and conversation than to provide tidy endings to our stories. We love working in the short form; where economy is essential, one must be ruthlessly compelling to make an impact with lasting resonance. In every form and duration, Holbrooks seeks to engage with the power of honesty and sensitivity."Mas se a arte visual é soberba, toda a enfatização criada na faixa sonora incrementa terrivelmente o seu valor, desde logo com a belíssima narração do ator Richard E. Grant, mas acima de tudo pelo fantástico trabalho de foley da Antfood. Porque mais do que aquilo que se diz, conta aqui o como se diz, e toda a curta é em si mesmo um exercício estilístico de construção de uma experiência estética que nos obriga a parar, contemplar e refletir.
Sinopse: "Things of worth are often neglected in favour of that which might be more immediately gratifying. Unfortunately, the things that are neglected are often lost forever, irreplaceable. This is the story of a man with a misguided and intense focus – one which started in his youth and carried on to old age. His life events are chronicled through the loss of his teeth – and how his obsessive efforts to amend what was damaged bring on yet further destruction."
“Assim, meu Deus, a confissão que faço em tua presença, é e não é silenciosa; a boca se cala, mas meu coração clama. Tudo o que digo aos homens de verdadeiro já tinhas ouvido de mim, e nem ouves nada de mim que antes não me tivesses dito.”Mas “Confissões” não é apenas mais uma autobiografia, nem tão pouco se tornou relevante por ser uma, ou mesmo a primeira autobiografia da nossa história escrita, o seu valor reside antes no impacto, no lastro produzido ao longo de séculos e séculos. “Confissões” é central na caracterização de toda a sociedade ocidental, embrenhada nos valores do cristianismo, e mesmo para quem deles se tenha afastado, tem de com eles conviver todos os dias, já que eles são a raiz e os pilares da nossa moral. São 16 séculos de permanência na cultura formativa de uma sociedade, num discurso direto de grande proximidade interior, completamente distinto daquilo que se encontra na Bíblia, que faz com que a mensagem passe, não apenas de modo fácil, mas de modo efetivo.
“não é desta forma que Agostinho conta a sua história. O problema do sexo é apenas uma concha à volta de um mistério mais profundo, o funcionamento da vontade humana. É um assunto ao qual Agostinho retornou uma e outra vez nos seus sermões e livros. A mente comanda o corpo, mas não pode comandar a si mesma. Por que não podemos desejar o nosso desejo? Ou, muitas vezes decidimos fazer alguma coisa, mas a vontade é mais fraca para seguir adiante. Como, se a vontade é uma coisa, é que isso pode ser possível? Para explicar estes enigmas, Agostinho teve uma ideia que moldaria a consciência ocidental durante séculos: a noção de que os seres humanos têm duas vontades em si, uma desafiante que quer autonomia e uma disciplinada que quer servir a Deus. A única maneira de alcançar a felicidade, Agostinho acreditava, era subordinar a primeira à segunda." (fonte)Ou seja, a consciência boa e a consciência má, o certinho e o diabinho. Algo que se veio a converter mais tarde numa dualidade entre mente e corpo, pela mão de Descartes. A mente pura, a única capaz de chegar à verdade, e o corpo, resquício de nós, tal concha impeditiva de aceder à verdade, que por meio dos seus sentidos biológicos distorce o real. Algo que Platão já concebia, na sua oposição entre representação e real, e que perdura até aos nossos dias. Mesmo hoje, depois de amplamente demonstrado, o quão orgânicos somos, da ausência e impossibilidade de qualquer dualidade, o modelo abstracto dessa dualidade, satisfaz as nossas ânsias sobre os porquês das nossas dúvidas. Porque aquilo que somos não é uno, não é igual todos os dias, nem em todos os lugares, nem com todas as pessoas, e quando nos questionamos porquê, fica mais fácil ter um bode expiatório, de preferência algo que possamos dizer, com satisfação, que não podemos controlar, seja o desejo, a carne, ou a emoção.
“Vi tua Igreja cheia de fiéis que, por um caminho ou por outro, progrediam. Quanto a mim, aborrecia-me a vida que levava no mundo, e era para mim fardo pesadíssimo, agora que os apetites mundanos, como a esperança de honras e riquezas, já não me animavam para suportar tão pesada servidão. Essas paixões haviam perdido para mim o encanto, diante de tua doçura e da beleza de tua casa, que já amava. Mas sentia-me ainda fortemente amarrado à mulher. Sem dúvida o Apóstolo não me proibia de casar, embora em seu ardente desejo de ver todos os homens semelhantes a ele, exortasse a um estado mais elevado. Mas eu, ainda muito fraco, escolhia a condição mais fácil; por isso, vivia hesitando em tudo o mais, e me desgastava com preocupações enervantes, pois a vida conjugal, a que me julgava destinado e obrigado, ter-me-ia obrigado a novas incumbências, que eu não queria suportar.”Sendo uma boa leitura, não deixa de apresentar problemas, muitos até, não apenas no seu conteúdo, tendo em conta a data em que foi escrito e o grau de assertividade, próprio à retórica, que Agostinho imprime ao discurso, mas também em parte pelo método, ou talvez ausência deste, na busca do interior. Não tínhamos ainda método científico, nem tão pouco aqui serviria muito, mas tinhamos Sócrates, e Agostinho conhecia o seu trabalho, por isso métodos de argumentação existiam, não é um problema de ter de se começar do zero. O maior problema de Agostinho surge na circularidade reducionista do seu discurso, que ao embrenhar-se na busca e definição de um conceito, se centra neste apenas, analisando todas as perspectivas que nele desembocam, esquecendo contudo tudo o que dele impacta o contexto circundante. O modo como tenta definir o tempo e a memória, nos últimos livros são totalmente demonstrativos deste processo de aprofundamento, em que objetivamente Agostinho se afasta, ou impede outros elementos de serem chamados à argumentação, mantendo a mesma fechada sobre si, em círculo, tornando impossível emergir qualquer ideia nova. Muito provavelmente porque imbuído do mesmo método que definiu na sua busca por Deus, no seu questionamento sobre a sua possibilidade, e na impossibilidade de chegar a qualquer evidência, foi construindo e desenhando um sistema de argumentação, que funciona na base da amplificação da abstração conceptual, ou seja, na construção de camada sobre camada de ideias, sem suporte, na ânsia de que elas acabem por se suportar umas às outras.
“Então veria que a sucessão dos tempos não é feita senão de uma sequência infindável de instantes, que não podem ser simultâneos; que, pelo contrário, na eternidade, nada é sucessivo, tudo é presente, enquanto o tempo não pode ser de todo presente. Veria que todo o passado é repelido pelo futuro, que todo futuro segue o passado, que tanto o passado como o futuro tiram seu ser e seu curso daquele que é sempre presente. Quem poderá deter a inteligência do homem para que pare e veja como a eternidade imóvel, que não é futura nem passada, determina o futuro e o passado?”Não conheço a obra de Agostinho, para além deste livro, mas li algures que este trabalho não terá sido tão espontâneo como se quer apresentar. Que este terá sido um trabalho escrito não para se encontrar a si próprio, mas antes para conduzir os seus leitores à conversão. Não tenho qualquer dado que suporte esta teoria, que pode não passar de mera conspiração, contudo tendo ou não sido assim, o mais relevante está no texto que temos na nossa frente que demonstra uma mestria profunda da retórica, do uso da narração, do storytelling, para envolver e persuadir. Todo o livro se apresenta como uma jornada — em três atos, com introdução, desenvolvimento e conclusão — em que se parte da ignorância da dúvida de si; para se entrar num novo reino, o do conflito existencial; para o qual se encontra no final uma resposta, a conversão, capaz de fechar todas as pontas, libertando-nos do peso da inconsciência, garantindo a total satisfação do leitor da narrativa.
“No princípio criou Deus o céu e a terra. A terra era invisível e informe, e as trevas se estendiam sobre o abismo.” Ouço estas palavras, meu Deus, e não encontrando menção do dia em que criaste essas coisas, concluo dessa omissão que se trata do céu do céu, do céu intelectual, onde a inteligência conhece simultaneamente e não por partes; não por enigma, ou como um espelho, mas por inteiro, em plena luz, face a face; conhece não ora isto, ora aquilo, mas, como disse, simultaneamente, sem a sequência temporal. Concluo também que se trata da terra invisível, informe, estranha às vicissitudes do tempo, que ora causam isto, ora aquilo, pois onde não há forma não pode haver isto ou aquilo.”
“Gentrification is a visual poem that expresses the mix of feelings Mielgo has about the way cities transform when new money moves in. “I’m not criticizing gentrification and I’m not promoting it—I have a lot of mixed feelings about it, and this is just one way to look at it,” he says.” (Adobe Creator)
"the better state in my experience is to have some idea what the story is, and sometimes it’s just the tiniest kernel of something that you enjoyed writing. Then once you put it down on the page and write it and rewrite it, it’s actually your own discontent with it that in some slow mysterious way urges it to that higher ground. And often it’ll do so in ways that surprise you." George SaundersO processo aqui descrito por Saunders é tão simples que pode a alguns servir de desencanto, mas é no fundo o processo base da generalidade das construções criativas. Agitar o pensamento, começar num ponto e ir seguindo o mesmo por forma a deixar o nosso não-consciente contribuir também para a elaboração. Saunders é peremptório neste processo, “a bad story is one where you know what the story is and you're sure of it”, ou seja, o modo de chegar ao original, à essência da criação, é pela libertação e audição do “sentir” interno.
"I think that a good story is one that says, at many different levels, we’re both human beings, we’re in this crazy situation called life that we don’t really understand, can we put our heads together and confer about it a little bit at a very high non-bullshitty level? Then all kinds of magic can happen." George SaundersO documentário foi criado pela Redglass Pictures e produzido por Ken Burns, o documentarista que sintetizou o storytelling como "1+1=3". O filme estreou no final do ano passado no The Atlantic.