Livros de Agosto 2014 [Goodreads]
Fiz breves análises de cada um destes livros que podem ser lidas no Goodreads, e fiz ainda três análises um pouco mais extensas aqui no blog de The Martian, O Consolo da Filosofia e A Obra-Prima Desaparecida.
. Consolação para a Impopularidade através de Sócrates;A Sócrates vai buscar o método do raciocínio lógico, para nos afastar da busca pelo popular, pelo gosto da maioria, estabelecendo a base da relevância no que se pode sustentar por uma argumentação da razão versus simples intuição. Em consonância, a Epicuro e Seneca vai buscar as ferramentas para trabalhar a frustração através da racionalização dos constrangimentos do mundo material e social, que se definem plenamente pela metáfora estóica do "cão preso à carroça que o puxa, podendo optar por resistir ou manter-se a par e livre no círculo do seu alcance". Dentro deste círculo de possibilidade, a nossa capacidade para operar pela razão pode libertar-nos. Aliás esta secção em que Botton trabalha a Frustração humana por via de Seneca fez-me recordar o belíssimo discurso de um outro filósofo contemporâneo, David Foster Wallace, quando nos dizia, a "Educação é Água" (excerto aqui abaixo).
. Consolação para a Falta de Dinheiro através de Epicuro;
. Consolação para a Frustração através de Seneca;
. Consolação para a Inadaptação através de Montaigne;
. Consolação para um Coração Destroçado através de Schopenhauer;
. Consolação para as Dificuldades através de Nietzsche;
"It is extremely difficult to stay alert and attentive, instead of getting hypnotized by the constant monologue inside your own head (may be happening right now). Twenty years after my own graduation, I have come gradually to understand that the liberal arts cliché about teaching you how to think is actually shorthand for a much deeper, more serious idea: learning how to think really means learning how to exercise some control over how and what you think. It means being conscious and aware enough to choose what you pay attention to and to choose how you construct meaning from experience. Because if you cannot exercise this kind of choice in adult life, you will be totally hosed." David Foster Wallace, 2005Apesar de estar dividido em 6 partes iguais, o livro de Botton oferece-se a uma divisão em duas partes, sendo a primeira de âmbito mais geral e generalizável, e a segunda de âmbito mais concreto e fechado sobre cada um dos seus autores. E aqui Montaigne serve de passagem entre o generalizável e o pessoal, a sua perspicácia e abertura para proceder a uma primeira abordagem daquilo que poderemos chamar de ciências sociais. Montaigne procurou conhecer e comparar costumes sociais entre diferentes sociedades, povos e comunidades para assim chegar ao âmago daquilo que somos, compreendendo aos poucos que quanto mais sabemos, mais sabemos que nada sabemos, a lembrar Sócrates. E é aí que Montaigne se afunda no âmago da sua pessoalidade, da busca interna, depois de buscar respostas no mundo exterior acaba por resignar as suas ideias ao ser individual. Aqui Montaigne comete um erro, que depois Schopenhauer e Nietzsche não deixarão passar, e que diz respeito à construção do eu no tempo, através do esforço, trabalho e muita persistência. Montaigne procurou dentro de si depois de ter exaurido o mundo à sua volta, e ter encontrado as ferramentas para proceder a uma espécie de auto-perscrutação.
“I originally wrote “The Martian” as a free serial novel, posting one chapter at a time to my website. Thanks to my previous attempts at writing, I had a small but loyal following of readers who read each chapter as I finished it. This turned out to be an amazing process. I got tons of feedback as the story progressed, and I fine-tuned the novel as I went along… I’ve received fan emails from astronauts, people in Mission Control, nuclear submarine technicians, chemists, physicists, geologists and folks in pretty much every other scientific discipline. All of them had nice things to say about the book’s technical accuracy, though some of them also sent formal proofs detailing where I’d gone wrong. I corrected those problems (mostly) in the final edition that went to print.” [fonte]Em termos literários não é um grande livro, embora em termos narrativos esteja muito concebido, quase ao nível de um Dan Brown. Deste modo ao fim de 1/5 do livro somos sugados e não mais queremos parar de ler até virar a última página. E isto é tanto mais interessante quando sabemos que este é apenas o segundo livro escrito por Andy Weir, ambos auto-publicados, que ele vem da área da informática e que dedica grande parte dos seus tempos livres ao cálculo de dinâmicas orbitais. Deste modo a sua preocupação central, além da coerência científica, passava por garantir o balanceamento do storytelling, não a experimentação estética.
“Was I worried about whether my scenario would give me enough plot to sustain a novel? Did I wonder if being that realistic would make a boring story? Hell yes… the deeper into the book I got, the more excited I became, because I found that I was arriving at that place writers dream of: I was coming up with plot twists that genuinely surprised me, yet felt totally organic to the situation I’d dreamed up. This allowed me to do what writers treasure more than anything else: Catch the reader off-guard. There’s nothing better than knowing you’re going to outwit the reader. And the type of people who read sci-fi are very difficult to outwit.” [fonte]Dito isto, “The Martian” é o tipo de história que fará as delícias de qualquer amante de histórias de aventuras, em especial dos amantes de FC. Já a forma detalhada como foi tratado o tema da sobrevivência técnica dirá muito em especial a todos os engenheiros, ou todos o que possuem um espírito versado em ciência e tecnologia. O nosso astronauta sobrevivente, Mark Watney, possui dupla especialidade, é engenheiro mecânico e botanista, daí que apresente um largo leque de conhecimentos sobre o funcionamento do ecossistema de Marte assim como das maquinarias deixadas pela missão abortada. Ao longo do livro cada uma das suas acções é fundamentada em dados e análises concretas apresentadas por meio de um diário, o que para algumas pessoas se poderá tornar enfadonho, mas para quem conseguir acompanhar se torna tão cativante como viciante, e assim na essência do interesse narrativo.
“Well, when i was 4, my dad bought a trusty XBox. you know, the first, ruggedy, blocky one from 2001. we had tons and tons and tons of fun playing all kinds of games together - until he died, when i was just 6.A rede reagiu quase em uníssono e profundamente emocionada a esta história, porque ela dá conta de algo raro, o registo, a preservação, do comportamento de alguém que já partiu, de algo que apenas um videojogo poderia registar. Os site que falam sobre esta história multiplicam-se e as reacções no YouTube também, ficam alguns desses comentários
i couldnt touch that console for 10 years.
but once i did, i noticed something.
we used to play a racing game, Rally Sports Challenge. actually pretty awesome for the time it came.
and once i started meddling around... i found a GHOST.
literaly.
you know, when a time race happens, that the fastest lap so far gets recorded as a ghost driver? yep, you guessed it - his ghost still rolls around the track today.
and so i played and played, and played, untill i was almost able to beat the ghost. until one day i got ahead of it, i surpassed it, and...~
i stopped right in front of the finish line, just to ensure i wouldnt delete it.
Bliss.”
SoonKyu515: “one of the most touching comments i've ever seen on youtube..”Chega a estabelecer-se algum diálogo com algumas pessoas que recordam histórias parecidas
Jayden z: “really really touching story, I cried after read your story. “
Hochi1983: “sure your father will feel happy in heaven because he knows his son can do better than him :D”
Ng Karsten: “It did really touched me.Your dad will be proud of you as you have broken his record.”
A Sd: “When I read your touching story...just feel a shudder…”
Waye Fok: “this is really a touching story... Backup the data and never loose it :)”
Douglas AS: “You are not alone brother, your father will be at your side forever...Remember this…”
TommyJ77: “Dude I can't handle this. This hits me so hard. I used to play video games with my dad too. We'd play Mario Kart 64 and Zelda. He died when i was 16. How i envy that Ghost racer. :’(”O autor da partilha, 00WARTHERAPY00, procura minorar o sofrimento de TommyJ77, outra pessoa que também perdeu o pai, dizendo que são apenas umas linhas de código, mas na verdade são bem mais do que isso. Estas linhas de código, tal como os compostos químicos de uma fotografia ou o magnetismo de uma cassete de audio, preservam uma parte do ente que partiu. Se uma fotografia preserva a imagem e a cassete de audio preserva o som, este videojogo preservou o comportamento traduzido em acções de um carro de corridas. Ou seja, cada viragem, aceleração ou travagem representam decisões e escolhas únicas, pertença exclusiva dessa pessoa. Uma pessoa que já não existe, mas que de cada vez que se liga a consola parece emergir ali na nossa frente.
00WARTHERAPY00: “+TommyJ77 Memories are what counts. afterall, all i have is a bit of coded data. its only in their memorial meaning that it stands out.”