junho 24, 2013

Do humanismo ao mercantilismo. Arte, desporto e universidades.

"Mona Lisa Curse" (2008) é um documentário que trata um assunto bastante sensível em termos financeiros, e por isso mesmo foi jogado para debaixo do tapete. O assunto aqui tratado assola-me há já alguns anos, tendo encontrado aqui uma voz que diz frontalmente muito daquilo que eu penso sobre muita da arte contemporânea, e sobre os mercados da arte. O mais preocupante, é que aquilo que aqui é discutido em termos de mercados, não se veio a aplicar apenas à arte, mas antes se propagou a quase todo o tipo de atividade com valor humano intrínseco.


"Mona Lisa Curse" foi criado por Robert Hughes, crítico de arte durante mais de 30 anos da revista Time, e considerado pela The New Yorker o mais famoso crítico de arte de sempre. Neste filme Hughes dá conta do modo como a arte se transformou num negócio, num investimento de mercado, durante a segunda metade do século XX. Hughes marca o início desta cruzada com a vinda da Mona Lisa para Nova Iorque, em 1963, onde foi exibida no MET durante um mês, tendo tido honras de celebridade de cinema. As pessoas vieram aos milhares para a ver, e nada mais seria igual no mundo da arte. Os museus abriram-se à população, e a arte tornou-se num objecto de cobiça.
"The Kennedys managed to turn the Mona Lisa into a kind of 15th-century television set — instead of 1.5 million people looking at one image flashed on 1.5 million screens, you had them all looking at it on one screen, which was the picture itself, and that was the only difference. They didn’t come to look at the Mona Lisa, they came in order to have seen it. And there is a crucial distinction, since one is reality and experience, and the other one is simply phantom.” Robert Hughes
Em termos financeiros, Hughes diz que o mercado da arte é o maior mercado desregulado do mundo, apenas ultrapassado pelo mercado da droga. Ao longo dos últimos 30 anos, fomos assistindo à evolução, altamente especulativa, do valor da arte. Desde o quadro de Warhol, "Men in Her Life", que não passa de uma reprodução de várias fotografias de Elizabeth Taylor, vendido em 2010, por Jose Mugrabi, por 63 milhões de dólares até à insanidade da compra de "The Card Players" de Cézanne pela Família Real do Qatar, por 250 milhões de dólares em 2011. As razões destes valores, nada têm que ver com as obras em si, nem com os seus autores, a única coisa relevante aqui é a garantia do investimento. Ou seja, são valores que o mercado acredita serem possíveis recuperar no futuro, mas estamos no puro reino da especulação, a criar um bolha que mais tarde, ou mais cedo, acabará por rebentar.

The Physical Impossibility of Death in the Mind of Someone Living (1991) de Damien Hirst. Avaliado em 12 milhões de dólares. Uma obra tão única, que em 2006 devido a deterioração do animal,  a obra teve de ser refeita, com um novo tubarão!!!

O problema agrava-se quando falamos de arte contemporânea, e de artistas como Jeff Koons, Damien Hirst, ou no caso português de Joana Vasconcelos. Como diz Hughes, os preços das suas obras são totalmente manipulados pela promoção e publicidade, e nada têm que ver com a qualidade das mesmas.
“The market is manipulated by collectors who decide to bid up the work of an artist [they’ve already invested in]. So when artist X comes up on the auction block, the collectors all bid it up, so that they can then multiply the value of their existing holdings in artist X by the value of the inflated sale.” [Telegraph]
Enquanto via este documentário, não conseguia parar de pensar, no que pensariam os colecionadores depois de verem aquilo que Robert Hughes diz de forma tão frontal. Mas a reposta à minha questão não tardou, descobri que este documentário passou uma única vez em Inglaterra, no Channel 4, a 5 de Dezembro 2009, às 18h. Não foi vendido para mais nenhum canal de televisão. Ou seja, não só não passou mais vez nenhuma na televisão britânica, como não passou em nenhuma televisão de qualquer outro país do mundo. Mais, não existe à venda em nenhum formato, nunca foi editado por qualquer instituição ou empresa. A única cópia que circula online, é a gravação dessa única vez que passou na televisão, e é difícil de encontrar online, porque está constantemente a ser retirada dos sites por infração de direitos, ao contrário da maior parte dos documentários sobre arte da BBC. Isto é obviamente fruto do poder de influência dos senhores que são ridicularizados no filme. O documentário não é apenas uma afronta à sua intelectualidade, é antes de mais um verdadeiro perigo para a valorização da sua "mercadoria".

Um discurso como o proferido por Robert Hughes, um dos críticos de arte mais importantes do século XX, pode deitar abaixo muito do valor especulativo que muitos artistas têm granjeado. Como diz Hughes, o trabalho de Andy Warhol era vazio, a sua importância foi fabricada, tal qual uma campanha de promoção nos media. Algo que Dali também seguiu quando foi para os EUA. Estamos a falar da valorização da imagem, do estatuto de excentricidade que confere distinção e celebridade, para assim conseguir inflacionar a sua importância, e no final o seu valor. No final do documentário Hughes conversa com o colecionador, Alberto Mugrabi, filho de um dos detentores da maior colecção de artefactos de Andy Warhol, e pergunta-lhe o que ele pensa de Warhol. Aqui fica o diálogo,
Mugrabi: "I think Warhol is probably one of the most visionary artists of our time." 
Hughes: "I thought he was one of the stupidest people I have ever met in my life." 
Mugrabi: "Why is that?"
Hughes: "Because he had nothing to say." 
Posso até admitir que Hughes reage com demasiada violência, talvez com algum ressabiamento. Ou até que simplesmente não foi capaz de evoluir com os tempos, se manteve preso aos seus parâmetros do passado. Nomeadamente no caso dos museus, não posso de todo defender instituições fechadas. Acredito que estas devem estar abertas à população, e tudo devem fazer para conseguir atrair as pessoas até si, para que possam todas usufruir de obras que pertencem à humanidade. Agora Hughes tem razão quando ataca o caminho trilhado no sentido da massificação dos museus, no modo como se tornaram em máquinas de fazer dinheiro. Um museu deveria servir de guardião de obras únicas, não deveria dedicar-se a celebrizar as obras, a transformar a arte numa mercadoria de promoção do nome do museu.

O maior problema, é que não foi apenas a Arte que se transformou nisto, tudo no ocidente se transformou nisto. Desde a FIFA e o Comité dos Jogos Olímpicos no mundo do desporto, às grandes Universidades americanas, que agora exportam os seus modelos para todas as europeias, tanto na Educação como na Ciência. Há 20 anos seria impensável uma universidade fazer um spot publicitário, hoje tornou-se banal. Em Portugal podemos até ouvir, na rádio, universidades a anunciar duas licenciaturas pelo preço de uma. Ou seja, não interessa o que se aprende, interessa apenas o canudo, o valor da mercadoria que se compra.

O mercantilismo simplesmente canibalizou o humanismo. Em nome de uma alegada auto-sustentabilidade financeira, vale tudo. Os sistemas de produção de conhecimento e cultura - Educação, Ciência, Arte, Deporto, etc - precisam de se autojustificar constantemente, porque a sociedade simplesmente deixou de os considerar valores intrínsecos da humanidade. Tudo depende agora de alguém com dinheiro, que lhe ache graça, e decida investir. E assim, a arte, a ciência, a cultura, o desporto, passam a ter o valor que os mercados lhe atribuem, nada mais do que isso.


Caso o vídeo acima deixe de estar disponível, use este link para fazer download (400 mb).

junho 21, 2013

porque evoluímos tanto nos últimos 13,000 anos

"Guns, Germs, and Steel: The Fates of Human Societies" é um livro de Jared Diamond de 1997, entretanto vertido para um documentário de três horas da National Geographic em 2005. A ideia central passa por explicar porque é que as sociedades da Europa e Ásia (Eurasia) se sobrepuseram às restantes sociedades do globo em termos económicos, baseado simplesmente na Geografia, ou seja na posição geográfica ocupada no globo. Jared Diamond é professor na UCLA e este seu livro foi premiado em vários eventos desde então, incluindo o Pulitzer.


Aquilo que posso dizer é que depois de lerem Guns, Germs, and Steel nunca mais verão o mundo da mesma forma. Estamos perante uma análise evolucionária do homem em função da geografia, e aquilo que Diamond faz é simplesmente brilhante. Ele conseguiu com esta obra trazer a Geografia para o centro da discussão científica no que toca às questões essenciais sobre a espécie humana. Ler este livro é redescobrir o mundo.

A questão central começa por ser enunciada por um político da Nova Guiné, "Por que é que vocês, brancos, desenvolveram tanta tecnologia e a trouxeram para a Nova Guiné, mas nós, os negros tínhamos tão pouca tecnologia própria?" A que se segue a constatação de que várias sociedades mesmo depois de colonizadas e libertadas, continuaram a ter dificuldade em progredir no seu próprio bem-estar.

Eurasia

A resposta a isto está neste livro, que nos diz que esse avanço civilizacional não tem nada que ver com diferenças genéticas, nem sequer culturais, mas antes com a influência da geografia sobre a evolução dos povos em cada espaço do planeta. Diamond defende que as diferenças originaram a partir das condições ambientais distintas que favoreceram a progressão, estagnação e a regressão das sociedades. O ponto central desta evolução e diferenciação está exactamente no processo de agricultura.

Antes de criarmos as civilizações vivíamos dispersos pelo globo, como pequenos grupos nómadas, em busca de locais que nos oferecessem a melhor comida. Com o surgimento da agricultura descobrimos que era possível ficar no mesmo sítio, produzindo a nossa própria comida, não sendo necessário mais viver à custa da aleatoriedade da natureza. Ou seja, a partir do momento em que nos tornámos sedentários, e iniciámos a atividade da agricultura, o engenho humano ganhou maior liberdade para evoluir, para através da experiência acumulada fazer mais e melhor. A população cresceu, o trabalho especializado apareceu, e com este surgiram as hierarquias, as organizações, e os países.

Até aqui nada de novo, todos demos isto na escola. A inovação de Diamond passa por analisar o fenómeno da criação das sociedades nas diferentes partes do globo, através das condições ambientais que permitiram a evolução dos processos da agricultura. E aqui Diamond diz-nos que a Eurasia era um local privilegiado, em termos de clima e consequentemente do tipos de plantas possíveis, e ainda da existência de animais domesticáveis.

Ao todo a Eurasia domesticou 13 espécies de grandes animais (Cavalo, Vaca, Cabra, Ovelha, Porco, Galinha, Cão, etc.). A América do Sul domesticou uma (Lama), e o resto do mundo nenhuma. Nunca conseguimos domesticar animais próximos como a Zebra, o Javali ou o Elefante, menos ainda Rinocerontes, Bufalos, Leões, Tigres, Águias, etc. Assim a nossa superioridade hoje enquanto espécie neste planeta, advém do facto de termos conseguido subjugar outras espécies às nossas necessidades. Nesse sentido a Eurasia foi a zona do planeta em que se geraram as melhores condições para essa dominação. Daí à dominação de outros povos, foi um passo.

As espécies animais domesticadas pelo homem

Diamond vai ainda ao ponto de analisar as condições climatéricas de outras partes do globo para explicar porque razão mesmo depois de colonizadas, nunca conseguiram evoluir por si próprias. Fala nomeadamente das condições muito pouco favoráveis dos trópicos no que toca à agricultura e a facilidade de propagação de doenças que tornam o ambiente muito hostil aos processos de sedentarização.

O trabalho de Diamond é extenso, levanta muitas questões, lança muitas mais hipóteses, assim como levantou um conjunto de críticos às suas teorias. Do meu lado restaram-me poucas dúvidas sobre as teorias de Diamond porque ele é exímio na sua comunicação e detalhe. Existe um cuidado muito grande na forma como nos vai apresentando as suas ideias e conclusões, muito suportadas por evidências claras e objectivas. E se neste livro Diamond se detém para explicar porque as sociedades prosperam, no seu livro seguinte, Collapse: How Societies Choose to Fail or Succeed (2005) que ando agora a ler, detém-se sobre as razões que levaram ao desaparecimento de várias civilizações no nosso planeta.

Para quem não tiver muito tempo, ou quiser um atalho para as ideias de Diamond, aconselho vivamente o visionamento do belíssimo documentário, Guns, Germs & Steel (2005) criado pela National Geographic que conta com o próprio Jared Diamond. Para tal uma simples pesquisa no YouTube retornará várias opções para ver os três filmes de 50 minutos cada.

junho 20, 2013

laboratório de investigação: engageLab

Trago o belíssimo vídeo criado pelo João Martinho sobre o nosso laboratório, engageLab na Universidade do Minho. É com grande alegria que o partilho aqui, acima de tudo por poder verificar através destas imagens, captadas ao longo de dias, a forma descontraída e bem disposta como as pessoas circulam pelo laboratório. Este laboratório só existe graças a todas estas pessoas, que lhe dão vida todos os dias, mesmo quando as condições se tornam mais difíceis. Obrigado a todas, e a todos.


O laboratório está situado fisicamente no Centro de Computação Gráfica, num espaço afecto ao Centro Algoritmi, mas enquanto entidade, é também parte do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade.  Deixo a definição oficial do laboratório e a seguir o vídeo.
engageLab is a laboratory at the intersection of arts and technology established by researchers of two research centres at University of Minho, the Centre for Communication and Society Studies and the Centre Algoritmi. engageLab aims to be a space of convergence of different fields and audiences, conducive of the intersection of different languages, integrating researchers from a variety of fields that contribute to imagine, research, design and implement the next generation of human-computer interaction systems combining the functional with the aesthetics of the experience, applied to a wide set of human activities and ideally inspiring new ones.

engageLab (2013) de João Martinho

junho 19, 2013

experimentação numérica e criativa

Em tempos de Processing 2.0 vale a pena ver o documentário Hello World! Processing (2013) criado pelo Ultra-Lab, um grupo dedicado ao open hardware. O documentário é interessante pelos projectos que mostra, pela quantidade de entrevistas realizadas, e acima de tudo pelo modo como introduz o universo do Processing em todo o seu esplendor experimental, processual e criativo.


O Processing é uma linguagem aberta criada para guiar as pessoas menos orientadas à matemática no processo de aprendizagem da programação. É uma linguagem pensada para iniciar o estudo da algoritmia, porque permite muito rapidamente obter feedback do que se vai fazendo. Tem a vantagem de ser desenhada sobre o Java e por isso ser multiplataforma. Por outro lado a versão 2.0 integra desde já os modos Javascript e Android, que permitem criar projectos directamente para HTML5 e Android.

O Processing é a linguagem de programação que utilizamos há mais de cinco anos no Mestrado em Tecnologia e Arte Digital. Há dois anos quando iniciámos o Mestrado em Media Interactivos, ainda demos uma oportunidade ao ActionScript 3.0, mas a partir deste ano passaremos a utilizar aqui também o Processing.


junho 18, 2013

Italo Calvino: "I see art as communication"

Sai na próxima semana um volume das cartas de Italo Calvino, Italo Calvino: Letters, 1941-1985 (2013) editado pela Princeton University Press. Entretanto a Maria Popova do Brain Pickings fez já uma análise do livro para o seu blog, no qual relata a descoberta de mais uma pérola sobre a definição da arte. Uma definição simples e clara, de que arte é comunicação.

Italo Calvino, Maio 1942
"I’ve read your poem. I too, if you remember, wrote a Hermetic poem in my early youth. I know that gives enormous satisfaction to the person who writes it. But whether the person who reads it shares this enthusiasm is another matter. It’s too subjective, Hermeticism, do you see? And I see art as communication. The poet turns in on himself, tries to pin down what he has seen and felt, then pulls it out so that others can understand it. But I can’t understand these things: these discourses about the ego and the non-ego I leave to you. Yes, I understand, there’s the struggle to express the inexpressible, typical of modern art, and these are all fine things, but I …" Italo Calvino, Maio 1942
Esta asserção de Calvino é de grande relevância pelo simples facto de dar razão à minha assunção do valor da arte. A arte é sempre um meio, um canal de expressão, e uma obra de arte é sempre um acto de comunicação com outrém. A criação artística não é hermética, é exteriorização do virtual transformada em algo real, que conecta o nosso ser com o dos nossos semelhantes.

Para quem não conhece, recomendo a sua obra maior, "Se Numa Noite de Inverno Um Viajante" da Editorial Teorema.

junho 17, 2013

A importância das Artes e Humanidades

Trago um filme feito pelo Art and Humanities Research Council que serve de introdução à estratégia do concelho para 2013-2018, sob a designação, The Human World: The Arts and Humanities in our Time. Enquanto filme está muito bom, talvez demasiado grande para a web, mas o conteúdo é de grande pertinência não apenas para UK, mas para toda a Europa, incluindo Portugal.


“The arts and humanities profoundly affect the ways we see and experience our human world (..)
When you think about what Britain is really good at - higher education, research - those are right at the top of the tree. But the other thing we're so great at is the creative industries, and the creative economies and the cultural life of this country, which has intangible positive rippling effects across the world in terms of the way other countries see us, in the way they trust us. We are in austere times, no one can escape that, but those who think it's all a question of just investing in manufacturing, or just investing in engineering or the hard sciences, really need to wake up to the realities of our current way of life." Professor Rick Rylance 
The Human World: The Arts and Humanities in our Time (2013-218)

Existem duas citações referenciadas no filme que valem sempre a pena recordar quando falamos da importância das artes e da cultura. Um delas diz-nos que uma vez foi sugerido a Winston Churchill cortar no financiamento às artes, para financiar a guerra que a Inglaterra travava contra a Alemanha, ao que ele terá respondido,

“Then what would we be fighting for?”

A segunda citação é bastante mais recente, e é de um amante do cruzamento entre a tecnologia e a arte, Steve Jobs, que disse alguns meses antes de morrer,

“It is in Apple’s DNA that technology alone is not enough, it’s technology married with liberal arts, married with the humanities, that yields us the results that make our heart sing.”

junho 14, 2013

movimentos do Design

A Universidade Aberta inglesa criou um conjunto de seis filmes de animação, Design in a Nutshell, para explicar seis movimentos chave da história do Design: Gothic Revival, Arts and Crafts, Bauhaus, Modernism, American Industrial Design, Postmodernism. Cada filme tem cerca 1m30, ou seja em menos de dez minutos é possível ver todos e ganhar novas noções da história do design.


Desses seis escolho apenas três para colocar aqui, aqueles com que mais me identifico, e que servem para categorizar aquilo que procuro fazer através deste blog. Assim sendo os três movimentos mais relevantes aqui, são: 2/6 Arts and Crafts, 3/6 Bauhaus, e 6/6 Postmodernism. Deixo os links para que possam ver os restantes três filmes: 1/6 Gothic Revival, 4/6 Modernism, 5/6 American Industrial Design (os números indicam a ordem aconselhada, mas podem ser vistos em qualquer ordem).

O movimento Arts & Crafts é de grande relevância, porque aparece juntamente com a Revolução Industrial, como reacção humana aos produtos criados pela máquina. O que estava em causa era a criatividade, a singularidade, a personalização. Os artefactos criados pelas máquinas eram todos iguais, feitos em série. Nesse sentido surge o movimento que conceptualiza a importância dos objectos feitos pelos artesãos, feitos à mão, os verdadeiros e autênticos. O movimento é ainda mais importante, porque é dele que vai surgir toda a concepção que hoje temos de Arte, de algo imbuído de um espírito autoral e único. A sua marca mantém-se ainda hoje, e é tanto mais evidente com as novas movimentações decorrentes do aparecimento da Web2.0.

A Bauhaus é sobejamente conhecida e sempre invocada quando se fala de design. Foi a primeira grande escola de design, e continua ser hoje recordada como a escola do design. A sua marca mantém-se, e continua a estar muito presente no meio de nós, nomeadamente no campo da tecnologia, de tudo o que tem saído da Apple.

O pós-modernismo é um movimento que ainda se encontra em ebulição, ainda anda à procura de se definir. Sabemos que o questionamento e a subversão é chave, o fascínio pela multiplicadade, desmultiplicação, pelo não-linear, pelo fim da unicidade formal e semântica. Eu diria que é de todos o mais intelectualizado, e aquele que corresponde mais ao momento que se vive, de procura de sentidos, de procura de direcções, no meio de tanta turbulência e indefinição em que a sociedade foi jogada pela velocidade do tempo.

junho 13, 2013

Grandes Livros: "1984"

Em tempos de Google, Facebook e o PRISM, é tempo de revisitar 1984, o livro que agora voltou aos tops de vendas dos EUA. Por isso resolvi trazer aqui o documentário, Great Books: "George Orwell's 1984", do Discovery Channel, que vi há algum tempo, e nos fala de Orwell e a escrita de 1984. O documentário fala-nos da ideias que terão inspirado Orwell a escrever 1984, a segunda guerra mundial, seguido pela fase dos medos da guerra nuclear. Acredito que em última análise, Orwell como jornalista terá percebido o poder e alcance das máquinas de propaganda totalitarista de Hitler e Estaline, e terá sido a partir daí que começou a desenhar a ideia do Big Brother na sua mente.



1984 de George Orwell é uma das obras de ficção científico-políticas mais relevantes do século XX, dado o momento em que surge, o tempo da guerra fria, e as previsões que faz, muito fáceis de ligar com os tempos que se viviam. O livro foi escrito em 1948, e projectado para 1984, ano em que toda a sociedade seria controlada através de sistemas de televisão, em que todos teriam a responsabilidade de se vigiar uns aos outros, em que tudo seria alegadamente "transparente". A obra entra pelos subterrâneos desta possibilidade ficcional e apresenta os seus piores problemas. Desmonta o momento em que as pessoas deixam de ser humanos para passarem a ser meras estatísticas, sem livre-arbítrio.

Em todos estes anos, tudo temos feito para caminhar nesta direcção, muito pouco se fez para o evitar, acreditando num "bem maior" que aqui é claramente exposto e desmascarado. Fica o documentário que podem ver no YouTube com legendas em português. Claro que depois de ver o documentário, aconselha-se vivamente a ler o livro, se ainda não o tiverem feito, a sua riqueza é insubstituível.

Great Books George Orwell's 1984 , (2000), Discovery Channel

O documentário tem 45 minutos, e está dividido em três partes. Aqui ficam os links para: Parte 2 e Parte 3

ShotsOfAwe #03: "Mortalidade"

Novo filme da série Shots of Awe de Jason Silva fala-nos da ideia de mortalidade. Ao contrário dos filmes anteriores, e imbuído da própria ideia subjacente ao conceito em discussão, Jason faz um episódio muito mais calmo, sereno e tranquilo. Existe aqui uma mudança de discurso, depois dos vertiginosos Awe e Singularity, agora uma análise que leva o espectador através de uma ideia que nos é muito próxima, e que nos custa discutir muitas vezes, mas que não deixa de estar presente, todas as horas, todos os minutos.


Tenho algum desencontro com este episódio em concreto, porque Jason defende aqui a possibilidade conceptual do fim da morte, algo que eu não aceito. O meu primeiro texto neste blog há 10 anos foi exactamente sobre isto. Chegados a um ponto em que deixamos de precisar da biologia e podemos viver para sempre, a questão imediata que se me suscita, é viver para quê? Mas percebo a forma optimista e vigorosa como ele defende esta ideia, no sentido de existir um desejo humano em todos nós, de deixar uma marca cá, de demonstrar que tivemos uma palavra a dizer neste mundo, que servimos de alguma coisa, que fomos importantes para a vida.