janeiro 01, 2013

Filmes de Dezembro 2012

O último mês de 2012 trouxe-me muito bons filmes, com o filme de João Canijo a surpreender com intensidade. Por outro lado tive desilusões com filmes que pensei que iria adorar, Holy Motors, e boas surpresas com filmes que pensei que não conseguissem aguentar todo o hype em seu redor, Cloud Atlas. No texto seguinte, deixarei a lista dos melhores filmes deste ano.

xxxxx Amour 2012 Michael Haneke França [Análise]

xxxxx Sangue do meu Sangue 2011 João Canijo Portugal [Análise]

xxxx Tabu 2012 Miguel Gomes Portugal

xxxx Cloud Atlas 2012 Wahowski Alemanha [Análise]

xxxx Beasts Of The Southern Wild 2012 Benh Zeitlin EUA [Análise]

xxxx Separation 2011 Asghar Farhadi Irão [Análise]
xxxx The Gold Rush 1925 Charles Chaplin EUA

xxx Brave 2012 Mark Andrews and Brenda Chapman EUA
xxx Looper 2012 Rian Johnson EUA
xxx Monsieur Verdoux 1947 Charles Chaplin EUA

xx Holy Motors 2012 Leos Carax France [Análise]
xx Premium Rush 2012 David Koepp EUA

x Envy 2004 Barry Levinson EUA

dezembro 31, 2012

emoção em estado puro

Girls first Ski Jump (2012) é um pequeno vídeo online, sem montagem nem interpretação, pura realidade e emoção, captada com uma pequena câmara (Countour), montada no capacete de uma menina de 10 anos. Kevin B. Lee num ensaio vídeo sobre os melhores vídeos online de 2012 diz apenas,

these two minutes capture the transformative drama of sport more profoundly than any Olympic highlight
O vídeo é emoção em estado bruto, consegue em dois minutos completar um arco narrativo completo, gerando não apenas a emoção do salto, mas dando a ver todo o sentir da primeira experiência de um salto de ski. É belíssima a abertura com o sussurrar, com o diálogo estabelecido com quem incentiva, é quase pornográfico em termos emocionais audiovisuais, porque é estar dentro do sentir emocional humano, sem máscaras, sem arte, no estado puro, até que finalmente arranca e se sente a adrenalina converter o medo em alegria. Chegando ao final, aquilo que era apenas o lamento humano, transforma-se por via da arte de uma sombra numa rotunda vitória, digno do melhor cinema.

Melhor 2012: Mais Vistos e Entrevistas

Passou-se mais um ano e é sempre muito interessante olhar para trás e ver o que se fez, o que se publicou, e procurar compreender ao que é que os leitores deste blog deram mais valor. Analisei os 50 artigos mais visitados, e verifiquei que os três tópicos dominantes são: videojogos, audiovisual e criatividade. Sendo que o audiovisual e videojogos estão praticamente empatados. Por outro lado o tópico da Educação aparece apenas uma vez, mas aparece em primeiro lugar, o que denota duas ideias possíveis: escrevo pouco sobre educação, mas é um tópico que interessa a muitos dos que passam por aqui. Assim deixo aqui em destaque os 21 artigos de 2012 mais vistos neste ano, juntamente com um agradecimento a todos os que por aqui passaram.

Mais Vistos de 2012

01. O Fim da Universidade, ou a simples arrogância tecnológica [Educação]

02. "Estrangeiros", estranhezas do absurdo [Arte/Dança]

03. Minecraft of Thrones, dedicação e talento [Criatividade]

04. "Uncharted 3", incapaz de surpreender [Videojogos]

05. História e tecnologia do primeiro videojogo [Videojogos]

06. "Viagem de Bartolomeu Dias" (1995) [Videojogos]

07. Crioestaminal: da culpa irreversível [Audiovisual/Publicidade/Ciência]

08. "Steve Jobs" de Walter Isaacson, e o seu Manifesto [Livros]

09. "Indie Game: The Movie" é simplesmente inspirador [AV/VJ]

10. Regras da Pixar [Criatividade]

11. Jonah Lehrer forjou citações [Livros/Plágio]

12. "Imagine: How Creativity Works" [Livros]

13. Vídeo, Alemanha e Educação [Audiovisual]

14. Inspiração política para criação de Cartoon-Interactivo [Videojogos]

15. Jogos Flash no iOS (iPhone/iPad) [Tecnologia]

16. Nas ondas de um livro [Audiovisual]

17. Usabilidade do iPad em regime de exclusividade [Tecnologia]

18. Videojogos no MoMA [Videojogos]

19. Artigos "estúpidos" na Sábado?! [Videojogos]

20. "O Talento é Sobrestimado" [Livros]

21. Manikako, a auto-estima na criatividade [Criatividade]

Pelo meio dos 50 artigos mais vistos estão as várias Entrevistas que fui fazendo ao longo de 2012, e que são um outro tipo de artigos que atrai muito interesse além dos videojogos, audiovisual e criatividade. Este ano realizei oito entrevistas com criadores e três sobre artefactos - Toren, Randobot, e Nostalgiqa. De notar que não tenho trazido entrevistas com artistas de videojogos nacionais porque os tenho entrevistado para o livro que estou a acabar de escrever sobre a história dos videojogos em Portugal, e que espero que saia no início de 2013. Ficam aqui os links para todas as entrevistas por ordem alfabética.

Entrevistados em 2012
André Sier - Artista Digital
Artur Leão - Senior VFX Artist
Diogo Valente - Director Criativo
José Alves da Silva - Character Designer 3d
Mário Domingos - Artista 3d
Nuno Caroço - Composite Artist
Pedro Mota Teixeira - Professor de Animação 3d
Rui Louro - Artista 3d


Estatísticas
Foram publicados 332 artigos em 2012, para um número de visitas que ascendeu às 208 000. Sendo que cerca de 30% proveio de Portugal, 30% do Brasil, 20% dos EUA e os restantes 20% de países europeus diversos.

dezembro 29, 2012

Arte e Ciência, segundo Richard Feynman

Em 1981 Richard Feynman deu uma entrevista ao programa Horizon da BBC, The Pleasure of Finding Things Out, na qual discutiu vários tópicos que estão na fronteira entre a Ciência e as Artes. Prémio Nobel da Física em 1965, Feynman foi um dos cientistas que mais se aproximou do espírito de comunicador de ciência de Carl Sagan. Embora num registo menos acessível, ainda assim abrindo a porta a quem tiver um mínimo de curiosidade.


O que aqui trago é uma parte dessa entrevista em que Feynman responde a uma ideia bastante partilhada na comunidade das artes e humanidades que diz que os cientistas destroem a beleza das obras, da vida, e do universo, porque na sua busca por explicações científicas desconstroem tudo nas suas unidades mínimas, subtraindo-lhes a beleza. Para um humanista, a interpretação é tudo, e ela deve enriquecer a obra em análise, não diminuí-la. Pois bem, aqui fica a magnífica resposta de Richard Feynman, que foi agora transformada numa belíssima animação por Fraser Davidson e que deixo a seguir ao texto.
“I have a friend who's an artist and has sometimes taken a view which I don't agree with very well. He'll hold up a flower and say "look how beautiful it is," and I'll agree. Then he says "I as an artist can see how beautiful this is but you as a scientist take this all apart and it becomes a dull thing".
I think that he's kind of nutty. First of all, the beauty that he sees is available to other people and to me too, I believe. Although I may not be quite as refined aesthetically as he is ... I can appreciate the beauty of a flower. At the same time, I see much more about the flower than he sees.
I could imagine the cells in there, the complicated actions inside, which also have a beauty. I mean it's not just beauty at this dimension, at one centimeter; there's also beauty at smaller dimensions, the inner structure, also the processes. The fact that the colors in the flower evolved in order to attract insects to pollinate it is interesting; it means that insects can see the color.
It adds a question: does this aesthetic sense also exist in the lower forms? Why is it aesthetic? All kinds of interesting questions which the science knowledge only adds to the excitement, the mystery and the awe of a flower. It only adds. I don't understand how it subtracts.

Richard Feynman - Ode To A Flower

Entretanto se o espírito de Feynman vos deixou entusiasmados, aconselho vivamente o visionamento das cinco partes da The Feynman Series, criada por Reid Gower, o mesmo autor da The Sagan Series. Dos cinco episódios deixo o primeiro sobre o Belo que mistura excertos da mesma entrevista dada à BBC, sobre a arte, estética e o universo. Abre com o texto acima enunciado e visualizado sobre a flor, e segue para a discussão da beleza do universo, das certezas e dúvidas. Toca cá dentro quando ele diz de forma tão sentida, quase no final, "mind you, and look at what’s out there…? how can we…? it isn’t in proportion…!". Destaco abaixo algumas transcrições retiradas da curta.

"If you expected science to give all the answers to the wonderful questions about what we are, where we are going what the meaning of the universe is and so on then I think you can easily become disillusioned and then look for some mystic answer to these problems.
..
I can live with doubt and uncertainty and not knowing. I think it is much more interesting to live not knowing than to have answers that might be wrong.
..
But I don’t have to know an answer, I don’t have to… I don’t feel frightened by not knowing things, by being lost in the mysterious universe without having any purpose which is the way it really is as far as I can tell possibly. It doesn’t frighten me.
..
And so …altogether I can’t believe the special stories that’ve been made up about our relationship to the universe at large because they seem to be... too simple, too connected, too local, too provincial. The “earth,” He came to “the earth”, one of the aspects God came to “the earth!” mind you, and look at what’s out there…? how can we…? it isn’t in proportion…!"

Cloud Atlas (2012)

Cloud Atlas apareceu como um filme épico, um trailer de cinco minutos evidenciava um grande filme, cheio de efeitos especiais e questões profundas, com grandes actores, e uma tripla de realizadores de culto. Não falhou as expectativas criadas, é um filme admirável.


Quando comecei a ver percebi ao fim de pouco tempo que estava perante mais um filme experimentalista no campo narrativo, comparável a Inception, e por isso mesmo a minha reação foi imediata - parar de tentar compreender o filme, de dar sentido a tudo o que estava a ver no ecrã e simplesmente deixar-me levar pelo filme. Permitir que os autores brincassem com as minhas ideias, me lançassem no meio daquela explosão de significados, sensações, personagens e acções.


A decisão foi a mais acertada simplesmente porque o filme está construído para ser sorvido dessa forma. Toda a direção, montagem e música nos envolve, nos conduz ao longo das seis histórias, de modo a conseguirmos ganhar uma ideia do todo, sem contudo termos de perceber todos os detalhes. É um trabalho magistral que aqui temos, conseguir interligar tantas diferenças num único fio e dar-lhe uma lógica, criar uma experiência integral, coesa e una para o espectador. Fantásticos irmãos Wachowski e Tom Tykwer. Para quem quer compreender o sentido do filme, ele está todo condensado nesta pequena frase dita mais perto do fim do filme, por Somni,
“Our lives are not our own. We are bound to others, past and future. And by each crime and every kindness, we birth our future.”
Mas Cloud Atlas não é para ser interpretado em grandes prosas, foi feito para ser contemplado. Muito do que diz depende daquilo em que cada um de nós acredita. Neste sentido Lana Wachowski diz-nos que
"…we’re wrestling with the same things that Dickens and Hugo and David Mitchell and Herman Melville were wrestling with. We’re wrestling with those same ideas, and we’re just trying to do it in a more exciting context than conventionally you are allowed to. [...] We don’t want to say, 'We are making this to mean this.' What we find is that the most interesting art is open to a spectrum of interpretation." [fonte]
A montagem e a direcção são magistrais, mas o trabalho de make up é brilhante. Ver os vários actores encarnar tão diferentes personagens, é verdadeiramente virtuoso. Uma prova de fogo das suas competências, mas também de um trabalho enorme realizado pelo departamento de make up. O que mais achei interessante no make up, foi raramente ver a perfeição da pele, mas antes cicatrizes, deformações, e problemas que sugerem a existência de vida passada por aqueles personagens.




Cloud Atlas deverá ser o filme independente, Europeu, e Alemão mais caro de sempre, foram 100 milhões de dólares, algo apenas reservado à elite de Hollywood. Os Wachowskis filmaram a história do século 19 e as duas no futuro, enquanto Tykwer dirigiu a histórias dos anos 1930, 1970 e do presente 2012. O filme tem quase três horas, e o texto original é de David Mitchel.

dezembro 27, 2012

Mirage, curta para álbum

Frederic Kokott é um designer de vídeo e som que para promover o seu álbum Mirage, disponibilizado integralmente no Soundcloud, criou uma curta de animação absolutamente graciosa. Assim que abri o filme no Vimeo fiquei imóvel em frente ao computador, tal a beleza do ambiente, da atmosfera, das cores acompanhado pela graciosidade do ritmo visual e sonoro.




Com um domínio de After Effects impressionante, ao ponto de na minha primeira visualização acreditar estar a ver um filme feito num qualquer software 3d. Claro que depois de saber percebemos porque as coisas aparecem como aparecem, ainda que continue a estar muito bem conseguido.Vejam os making-of de AE, parte 1 e parte 2. E já agora vejam também os making-of do desenvolvimento do álbum, da construção das batidas, e dos efeitos sonoros.


Depois de verem a curta, ouçam o álbum, está também muito interessante.

Melhor 2012: Videojogos

Aqui ficam os 15 melhores videojogos do ano de 2012. Procurei concentrar-me nos jogos independentes lançados por pequenos estúdios e pequenas equipas*. A lista obedece aos seguintes critérios, por ordem: Inovação no DesignInovação no Storytelling; e Experiência Gerada. Os jogos já analisados no VI possuem ligação para a análise que justifica a sua entrada nesta lista. Os que não foram analisados aqui têm um link para a página do jogo, e um pequeno texto justificativo da sua escolha.

1 - Journey, ThatGameCompany, PS3, EUA

2 - The Unfinished Swan, Giant Sparrow, PS3, EUA

3 - The Walking Dead, TellTale Games, Multi, EUA

4 - Dear Esther, TheChineseRoom, PC+Mac, Inglaterra

5 - Thomas Was Alone, Mike Bithell, PC+Mac, Inglaterra

6 - FEZ, Polytron, Xbox Live, Canada [Link]
Um conceito simples mas capaz de inovar um dos designs de jogo mais explorados, a plataforma. Além de inovador, o jogo exerce um excelente desafio cognitivo sobre os jogadores, recompensando-os com uma estética carregada de detalhe e ternura.

7 - Papo & Yo, Minority, PS3, Canada [Link]
Apesar do design não ser surpreendente, traz para a cultura dos jogos um tema complexo e bastante difícil de transformar em jogo. Nesse sentido é um jogo que não pode ser apenas analisado pelo gameplay, mas deve ser experienciado com especial atenção às analogias temáticas que são muito bem suportadas esteticamente.

8 - PID, Might & Delight, Multi, Suécia [Link]
No meio de tanta beleza que saiu em 2012 será difícil escolher apenas um jogo, mas PID destaca-se, e poderia muito bem levar o prémio da melhor Arte Visual do ano. Tanto o design do ambiente como a animação são uma delícia que de tão gratificantes que são, conseguem tornar o elevado grau de dificuldade do jogo num elemento ainda mais apaixonante.

9 - Super Hexagon, Terry Cavanagh, iOS, Irlanda

10 - Connections, mindfulXp, Flash, EUA [Free]
Um simples jogo indie como Connections (2012) pode ser configurado para nos ajudar a perceber melhor a construção das relações em sociedade, as conexões, e assim servir na construção de conhecimento no campo das ciências sociais. É todo um mundo novo que espera esta linguagem, que ainda tem muito para dar a toda a sociedade. [Texto escrito para a Eurogamer]

11 - Dys4ia, Anna Anthropy, Flash, EUA [Free]

12 - Unmanned, Molleindustria, Flash, EUA [Free]

13 - Puwang, David Amador, iOS, Portugal

14 - Midas, Wanderlands, Flash, Austrália, [Free]
Midas apresenta um puzzle inovador e inteligente. Com um conceito simples, e com um tema de fundo que justifica plenamente as ações, envolve-nos e desafia-nos a encontrar as soluções nível após nível. Este é o segundo puzzle desta equipa que já em 2011 nos tinha trazido o não menos brilhante Impasse.

15 - Of Species, Matthew DiVito, Flash, EUA [Free]


Menções honrosas
A Slower Speed of Light, Unity, (2012)
Fog and Thunder, Flash, (2012)
Incredipede, Flash, (2012)
. January, Flash, (2012)
Souvenir, Unity, (2012)

* Porquê apenas jogos indie? 
Porque jogo poucos jogos AAA; porque esses já têm imenso quem fale deles; e porque acredito que aqui temos mais inovação do que nos AAA. Quando fiz a lista dos Melhores Jogos de 2011, ainda fiz questão de frisar que era uma lista apenas dos melhores independentes. Este ano simplesmente retirei essa referência, porque esta é a lista dos melhores jogos de 2012 que eu joguei, nada mais.