Aqui ficam três ofertas de trabalho na academia internacional - Canada, Inglaterra e EUA - todas no campo dos Media Interativos (Interactive Media).
01 Offer: Assistant/Associate/Full Professor (tenured or tenured-track) – Game Development and Entrepreneurship
Who: University of Ontario Institute of Technology
Country: Canada
Deadline: January 31, 2012Offer Link
02 Offer: Lectureships/Senior Lectureships in Interactive Systems
Who: Teesside University
Country: UK
Deadline: 24 November 2011
Offer Link:
03 Offer: Tenure Track Faculty Position in Design and Interactive Media
Who: Northeastern University
Country: USA
Deadline: December 1, 2011
Offer Link
novembro 01, 2011
outubro 30, 2011
A vida vista pelo Cinema
Minimalismo. O minimalismo permite a complexificação da mensagem sem limites. The Tree of Life (2011) é um poema audiovisual, uma exteriorização de uma ideia da vida, por Terrence Malick, que precisa de ser apreciado com tempo dedicado.
Fiz a leitura deste filme em três tempos distintos que acabo por assumir como camadas de leitura ou dimensões de sentido.
Dimensão 1 - O primeiro visionamento de The Tree of Life precisa de ser feito sem preconceitos, trailers, nem sinopses. Precisa de ser experienciado, vivido, sentido ainda que dificilmente possamos obter significado de tudo o que vemos na primeira abordagem.
Dimensão 2 - Num segundo visionamento começamos a construir o puzzle de mensagens embebidas. O que primeiramente nos tocou, ganha agora significados mais concretos e coerentes com toda a experiência.
Dimensão 3 - Finalmente numa terceira leitura já na posse de muita informação exterior à obra, a fábula, a nossa ideia mental do filme, eleva-se, explana-se, e ganha um novo pulsar.
Dimensão 1
Esta é uma obra que usa as essências fílmicas para comunicar: o visual, o sonoro, o drama e a montagem. O diálogo é escasso, o texto é escasso, mas quando surge tem sempre um propósito, um sentido, uma mensagem.
Exige de nós uma grande atenção ao detalhe, ao pormenor, ao fluxo. Faz-nos pairar por entre a vida e a morte. Seguimos todos aqueles personagens, sentimos os seus anseios, os seus medos, as suas constantes inconstancias. Sentimos a vida que vem e se vai.
Dimensão 2
Grace and Nature. O filme aborda a existência da vida, que vai da Terra ao Humano, seguindo um dualismo conservador: Deus ou Acaso.
Fala-se em Deus, no pecado, alma, o além, mas vemos apenas o mundo. Vemos as suas essências, nos seus elementos mais belos, perfeitos, naturais e sem dependência humana: a água, o fumo, o calor, o orgânico, as curvas, as texturas, a rugosidade, a irregularidade, a fragmentação, a união, a germinação. Aqui não há Deus.
A morte de um irmão, de um filho, é o ponto de partida, e serve o questionamento. Tudo se desenrola a partir daqui, uma tentativa de explicar a vida através da morte. Não há Deus, mas para Malick não é tudo um Acaso. Existe Esperança, existe Reencontro.
Dimensão 3
Para entrar mais adentro do filme, por forma a preencher os buracos do minimalismo, precisamos de entrar mais dentro do autor.
Malick é reconhecido pela sua reclusão, pela dificuldade de partilha do seu mundo com quem o rodeia. Não permitia que a sua ex-mulher entrasse no seu escritório ou soubesse o que este andava ler ou a ouvir, não esteve em Cannes para receber a Palma de Ouro.
Malick assemelha-se assim a Kubrick, ambos reclusos e donos da autoria completa das suas obras. E neste trabalho podemos mesmo dizer que em termos de mensagem The Tree of Life está muito próximo de "2001, A Space Oddissey" (1968).
Mas sobre este filme em concreto existe um facto da vida de Malick que se sente a trespassar todo o filme. O irmão mais novo de Terrence Malick suicidou-se em Espanha enquanto tinha aulas de viola com Andrés Segovia em 1968. Segovia foi um virtuoso da guitarra clássica no século XX, um dos expoentes máximos da arte, também altamente reconhecido pelo seu estilo de ensino assente no Autoritarismo e Medo.
Com esta terceira dimensão começamos a voar sobre os sentidos do filme, a compreender muito do que ficou por dizer. Mas The Tree of Life é uma experiência artística, como tal deve ser experienciada, não pode ser explicada.
Fiz a leitura deste filme em três tempos distintos que acabo por assumir como camadas de leitura ou dimensões de sentido.
Dimensão 1 - O primeiro visionamento de The Tree of Life precisa de ser feito sem preconceitos, trailers, nem sinopses. Precisa de ser experienciado, vivido, sentido ainda que dificilmente possamos obter significado de tudo o que vemos na primeira abordagem.
Dimensão 2 - Num segundo visionamento começamos a construir o puzzle de mensagens embebidas. O que primeiramente nos tocou, ganha agora significados mais concretos e coerentes com toda a experiência.
Dimensão 3 - Finalmente numa terceira leitura já na posse de muita informação exterior à obra, a fábula, a nossa ideia mental do filme, eleva-se, explana-se, e ganha um novo pulsar.
Dimensão 1
Esta é uma obra que usa as essências fílmicas para comunicar: o visual, o sonoro, o drama e a montagem. O diálogo é escasso, o texto é escasso, mas quando surge tem sempre um propósito, um sentido, uma mensagem.
Exige de nós uma grande atenção ao detalhe, ao pormenor, ao fluxo. Faz-nos pairar por entre a vida e a morte. Seguimos todos aqueles personagens, sentimos os seus anseios, os seus medos, as suas constantes inconstancias. Sentimos a vida que vem e se vai.
Dimensão 2
Grace and Nature. O filme aborda a existência da vida, que vai da Terra ao Humano, seguindo um dualismo conservador: Deus ou Acaso.
Fala-se em Deus, no pecado, alma, o além, mas vemos apenas o mundo. Vemos as suas essências, nos seus elementos mais belos, perfeitos, naturais e sem dependência humana: a água, o fumo, o calor, o orgânico, as curvas, as texturas, a rugosidade, a irregularidade, a fragmentação, a união, a germinação. Aqui não há Deus.
A morte de um irmão, de um filho, é o ponto de partida, e serve o questionamento. Tudo se desenrola a partir daqui, uma tentativa de explicar a vida através da morte. Não há Deus, mas para Malick não é tudo um Acaso. Existe Esperança, existe Reencontro.
Dimensão 3
Para entrar mais adentro do filme, por forma a preencher os buracos do minimalismo, precisamos de entrar mais dentro do autor.
Malick é reconhecido pela sua reclusão, pela dificuldade de partilha do seu mundo com quem o rodeia. Não permitia que a sua ex-mulher entrasse no seu escritório ou soubesse o que este andava ler ou a ouvir, não esteve em Cannes para receber a Palma de Ouro.
Malick assemelha-se assim a Kubrick, ambos reclusos e donos da autoria completa das suas obras. E neste trabalho podemos mesmo dizer que em termos de mensagem The Tree of Life está muito próximo de "2001, A Space Oddissey" (1968).
Mas sobre este filme em concreto existe um facto da vida de Malick que se sente a trespassar todo o filme. O irmão mais novo de Terrence Malick suicidou-se em Espanha enquanto tinha aulas de viola com Andrés Segovia em 1968. Segovia foi um virtuoso da guitarra clássica no século XX, um dos expoentes máximos da arte, também altamente reconhecido pelo seu estilo de ensino assente no Autoritarismo e Medo.
Com esta terceira dimensão começamos a voar sobre os sentidos do filme, a compreender muito do que ficou por dizer. Mas The Tree of Life é uma experiência artística, como tal deve ser experienciada, não pode ser explicada.
The only way to be happy is to love.
Unless you love, your live will flash by.
Be good to them.
Wonder.
Hope.
outubro 29, 2011
"Eppur Si Muove" de Galileu para os jogos
And Yet it Moves (2010) é um jogo independente que nasceu de um projeto realizado em 2007 por quatro estudantes - Christoph Binder, Felix Bohatsch, Jan Hackl e Peter Vorlaufer - para uma cadeira de informática do Departamento de Design e Avaliação Tecnológica da Universidade Tecnológica de Viena, Austria. Esse projeto deu origem a um protótipo (PC | Mac) que foi depois apresentado em vários festivais, tendo ganho o Independent Games Festival Student Showcase em 2007. A versão de 2010 foi totalmente refeita e estendida, e pode agora ser adquirida para PC ou Mac via Steam, ou para Wii via Shop Channel.
O meu interesse em trazer aqui este jogo prende-se com dois elementos: o gameplay e a arte. And Yet it Moves apresenta um gameplay baseado no género de plataformas, mas com um twist inovador. O jogo permite-nos não só controlar o personagem mas também o mundo. Isto é, para podermos jogar temos de controlar os movimentos do personagem e levá-lo a passar de plataforma em plataforma, mas em cima disso temos uma segunda condição que passa por termos de ajustar o mundo, fazendo-o rodar de forma a permitir que o nosso personagem prossiga o seu caminho. Assim, a jogabilidade torna-se mais exigente cognitivamente, uma vez que temos a todo o momento de controlar o mundo e o personagem simultaneamente, o que configura níveis de recompensa mais elevados. Aliás logo em 2007, muito provavelmente motivado por And Yet it Moves, surgiu um outro jogo online Once in Space (2007) que de algum modo copia o gameplay e que foi agora lançado para Flash.
Aliás uma outra coisa que é muito interessante verificar é que a base deste gameplay saiu, assim como o próprio nome do jogo, da descoberta de Galileu sobre o facto de a Terra se mover em volta do Sol, e não o seu contrário. Historicamente admite-se que Galileu terá murmurado, "Eppur si Muove" ("And Yet it Moves" ou seja "No entanto Esta Move-se"), depois de ter assinado uma declaração perante a Inquisição em que assumia que tinha errado os seus cálculos. A igreja acusava-o de heresia por ter questionado os ensinamentos bíblicos que referiam a Terra como o centro do mundo.
A segunda componente que me entusiasmou neste jogo assim que vi o trailer foi a arte. O jogo é construído a partir de recortes e colagens de papel rasgado. O personagem é esboçado apenas, e os NPCs são meras fotografias também recortadas. Os recortes não são apresentados com uma total perfeição, antes pelo contrário, apresentam-se propositadamente mal recortados, mas sendo uma constante no jogo, criam um coerência na representação visual. Como se tivéssemos que jogar sobre um mundo de recortes e colagens criados por uma criança. Apesar de já de si ser interessante, quando joguei apercebi-me que provavelmente existiria ali outra razão por detrás daquela representação visual, uma razão técnica. E essa razão veio a comprovar-se quando fui ler no site do jogo sobre o processo de construção da arte.
Brilhante. Nem mais, quando as competências nos faltam, o que devemos fazer é improvisar essas competências. Quando a vontade de criar se sobrepõe à existência de competências, ser criativo pode passar por ser capaz de encontrar alternativas, ir além da forma comum de fazer, socorrer-se daquilo que o mundo nos dá.
O meu interesse em trazer aqui este jogo prende-se com dois elementos: o gameplay e a arte. And Yet it Moves apresenta um gameplay baseado no género de plataformas, mas com um twist inovador. O jogo permite-nos não só controlar o personagem mas também o mundo. Isto é, para podermos jogar temos de controlar os movimentos do personagem e levá-lo a passar de plataforma em plataforma, mas em cima disso temos uma segunda condição que passa por termos de ajustar o mundo, fazendo-o rodar de forma a permitir que o nosso personagem prossiga o seu caminho. Assim, a jogabilidade torna-se mais exigente cognitivamente, uma vez que temos a todo o momento de controlar o mundo e o personagem simultaneamente, o que configura níveis de recompensa mais elevados. Aliás logo em 2007, muito provavelmente motivado por And Yet it Moves, surgiu um outro jogo online Once in Space (2007) que de algum modo copia o gameplay e que foi agora lançado para Flash.
Aliás uma outra coisa que é muito interessante verificar é que a base deste gameplay saiu, assim como o próprio nome do jogo, da descoberta de Galileu sobre o facto de a Terra se mover em volta do Sol, e não o seu contrário. Historicamente admite-se que Galileu terá murmurado, "Eppur si Muove" ("And Yet it Moves" ou seja "No entanto Esta Move-se"), depois de ter assinado uma declaração perante a Inquisição em que assumia que tinha errado os seus cálculos. A igreja acusava-o de heresia por ter questionado os ensinamentos bíblicos que referiam a Terra como o centro do mundo.
Escultura criada por Marten Braas, que parece abstrata mas quando recebe o sol pela manhã reflete na sua sombra a frase "Eppur si Muove".
A segunda componente que me entusiasmou neste jogo assim que vi o trailer foi a arte. O jogo é construído a partir de recortes e colagens de papel rasgado. O personagem é esboçado apenas, e os NPCs são meras fotografias também recortadas. Os recortes não são apresentados com uma total perfeição, antes pelo contrário, apresentam-se propositadamente mal recortados, mas sendo uma constante no jogo, criam um coerência na representação visual. Como se tivéssemos que jogar sobre um mundo de recortes e colagens criados por uma criança. Apesar de já de si ser interessante, quando joguei apercebi-me que provavelmente existiria ali outra razão por detrás daquela representação visual, uma razão técnica. E essa razão veio a comprovar-se quando fui ler no site do jogo sobre o processo de construção da arte.
"Our team lacked a specialized visual game artist, so we looked for a style we liked that we would be able to produce. The roughness and analog feel of a world set in a paper collage provided just what we wanted, without the necessity of specialized artists building it. Each object, plant or animal that the player encounters is ripped out of a photo or movie image and rendered in scraps of paper. Every level was designed through a meticulous handmade process, including various back- and foreground layers, making it more interesting to play through." [*]
Brilhante. Nem mais, quando as competências nos faltam, o que devemos fazer é improvisar essas competências. Quando a vontade de criar se sobrepõe à existência de competências, ser criativo pode passar por ser capaz de encontrar alternativas, ir além da forma comum de fazer, socorrer-se daquilo que o mundo nos dá.
outubro 28, 2011
Off Book: "Video Games"
Esta semana saiu o novo episódio da série Off Book, e é sobre Videojogos. Este pequeno documentário fala-nos do poder dos jogos ao nível do storytelling, algo que ainda há pouco tempo seria impensável.
A discussão passa pelo lado do mainstream mas assume a defesa do mundo indie como aquele que mais evoluiu e novas ideias trouxe à arte. Os protagonistas entrevistados são Eric Zimmerman, Jesper Juul, Leigh Alexander e Syed Salahuddin.
Episódios anteriores
1 - Light Paint
2 - Type
3 - Visual Culture Online
4 - Steampunk
5 - Hacking Art
6 - Street Art
7 - Etsy Art & Culture
Video games are more important than they seem. They are a storytelling medium, a place for self-expression. The age-old tradition of gaming teaches us strategy, maneuvering, and the importance of making choices. From the cinematic experiences of mainstream gaming, to the hyper-personal environments of indie games, gaming activity defines the way we live and interact with information, and each other.
Episódios anteriores
1 - Light Paint
2 - Type
3 - Visual Culture Online
4 - Steampunk
5 - Hacking Art
6 - Street Art
7 - Etsy Art & Culture
outubro 22, 2011
Mourir Auprès de Toi (2011)
Aqui fica mais um excelente trabalho de Spike Jonze, Mourir Auprès de Toi (2011), desta vez em parceria com Simon Cahn suportado pelo design de Olympia Le-Tan.
A ideia para a criação deste filme surgiu do facto de Jonze ter pedido a Olympia Le-Tan que esta lhe fizesse um bordado da capa original de Catcher in the Rye (1951) de J. D. Salinger para ele pendurar na sua parede, ao que Olympia terá respondido que em troca quereria um filme, e assim começou um projeto que duraria 6 meses a criar.
Jonze é sobejamente conhecido pelo seu trabalho na indústria dos videoclips e das curtas, contando ainda com três longas de culto - Being John Malkovich (1999), Adaptation (2002), Where the Wild Things Are (2009). Olympia Le-Tan tornou-se conhecida pelas malas de mão e bijutaria manufaturadas, mas mais do que isso, pelas capas bordadas limitadas de primeiras edições de livros de culto.
O filme apresenta-se como um doce para todos os amantes de literatura e livrarias, e ainda de stop-motion. Numa livraria de Paris, a Shakespeare & Company, os personagens das capas dos livros ganham vida quando chega a noite. O esqueleto de Macbeth de Shakespeare, com a voz de Jonze, salta da capa para se apaixonar pela rapariga da capa do Dracula (1897) de Bram Stoker. O resto do filme retrata as aventuras passadas pelo casal até conseguirem ficar juntos. Pelo meio o filme vai brincando com capas de outros livros, que enriquecem fortemente a significância da narrativa e da ação, transformando este pequeno filme numa verdadeira pérola.
"Mourir Auprès de Toi" (2011) de Steve Jonze e Simon Cahn, com arte de Olympia Le-Tan. Pode ser visto online na Nowness.
A ideia para a criação deste filme surgiu do facto de Jonze ter pedido a Olympia Le-Tan que esta lhe fizesse um bordado da capa original de Catcher in the Rye (1951) de J. D. Salinger para ele pendurar na sua parede, ao que Olympia terá respondido que em troca quereria um filme, e assim começou um projeto que duraria 6 meses a criar.
Making of compilado pelo co-realizador Simon Cahn
Jonze é sobejamente conhecido pelo seu trabalho na indústria dos videoclips e das curtas, contando ainda com três longas de culto - Being John Malkovich (1999), Adaptation (2002), Where the Wild Things Are (2009). Olympia Le-Tan tornou-se conhecida pelas malas de mão e bijutaria manufaturadas, mas mais do que isso, pelas capas bordadas limitadas de primeiras edições de livros de culto.
O filme apresenta-se como um doce para todos os amantes de literatura e livrarias, e ainda de stop-motion. Numa livraria de Paris, a Shakespeare & Company, os personagens das capas dos livros ganham vida quando chega a noite. O esqueleto de Macbeth de Shakespeare, com a voz de Jonze, salta da capa para se apaixonar pela rapariga da capa do Dracula (1897) de Bram Stoker. O resto do filme retrata as aventuras passadas pelo casal até conseguirem ficar juntos. Pelo meio o filme vai brincando com capas de outros livros, que enriquecem fortemente a significância da narrativa e da ação, transformando este pequeno filme numa verdadeira pérola.
"Mourir Auprès de Toi" (2011) de Steve Jonze e Simon Cahn, com arte de Olympia Le-Tan. Pode ser visto online na Nowness.
criando desde pequenos
A revista Visão Júnior promoveu um concurso no seu 7º aniversário que tinha como prémio uma Nintendo 3DS por cada ano do aniversário, para tal era necessário criar uma maqueta física, de um conceito para um novo jogo para a Nintendo 3DS. Ora os hábitos portugueses de participação em concursos de novas ideias, são reduzidos. Aliás como acontece com a generalidade da atividade de participação em atividades comunitárias, associativas ou políticas. Somos um povo amargurado, que se fecha, que interioriza em excesso e daí que tenhamos dificuldades em exteriorizar, empreender e defender as nossas ideias.
Deste modo os resultados deste concurso revelam-se verdadeiramente surpreendentes. Tendo em conta que era um concurso que exigia dedicação, investimento e construção, é impressionante saber que foram submetidos nada menos que 332 trabalhos. Não estamos a falar, de enviar um SMS, de escrever uma frase, nem mesmo de fazer apenas um desenho. O que foi pedido passava pelo desenvolvimento de uma maqueta física para um possível jogo 3D para poder servir de conceito ao desenvolvimento de um novo jogo para a consola da Nintendo a 3DS. Ou seja estamos a falar de seleção de materiais - plástico, papel, cartão, tecidos - de cortar e recortar, de desenhar e pintar, de colar e agrafar.
Sei que é apenas um passatempo, e que existia uma boa cenoura no final do cordel, ainda assim julgo que isto demonstra que a nossa sociedade pode estar a mudar. Que as gerações mais novas, podem ser diferentes, provavelmente sentem-se mais seguras, não apresentam aparentemente entraves ao empreendedorismo, à criação e partilha de ideias.
Os trabalhos foram submetidos por crianças entre os 8 e os 13 anos. Dos 13 trabalhos seleccionados pela revista, - 7 primeiros prémios, mais 6 segundos prémios - seleccionei a partir das imagens os melhores conceitos seguindo a arte, e só depois o design uma vez que não tenho acesso ao documento escrito que o concurso pedia.
Deste modo os resultados deste concurso revelam-se verdadeiramente surpreendentes. Tendo em conta que era um concurso que exigia dedicação, investimento e construção, é impressionante saber que foram submetidos nada menos que 332 trabalhos. Não estamos a falar, de enviar um SMS, de escrever uma frase, nem mesmo de fazer apenas um desenho. O que foi pedido passava pelo desenvolvimento de uma maqueta física para um possível jogo 3D para poder servir de conceito ao desenvolvimento de um novo jogo para a consola da Nintendo a 3DS. Ou seja estamos a falar de seleção de materiais - plástico, papel, cartão, tecidos - de cortar e recortar, de desenhar e pintar, de colar e agrafar.
Sei que é apenas um passatempo, e que existia uma boa cenoura no final do cordel, ainda assim julgo que isto demonstra que a nossa sociedade pode estar a mudar. Que as gerações mais novas, podem ser diferentes, provavelmente sentem-se mais seguras, não apresentam aparentemente entraves ao empreendedorismo, à criação e partilha de ideias.
Os trabalhos foram submetidos por crianças entre os 8 e os 13 anos. Dos 13 trabalhos seleccionados pela revista, - 7 primeiros prémios, mais 6 segundos prémios - seleccionei a partir das imagens os melhores conceitos seguindo a arte, e só depois o design uma vez que não tenho acesso ao documento escrito que o concurso pedia.
Martim Gonçalves, 13 anos
Francisco Tavares, 9 anos
Inês Lebre, 12 anos
Sofia Monteiro, 13 anos
Luana Ambrósio, 11 anos
outubro 21, 2011
Godin: "Somos todos Esquisitos" (2011)
O último livro de Seth Godin é mais um manifesto sobre o funcionamento do marketing e das sociedades, das transformações que as tecnologias têm vindo a impor aos modelos de consumo. Godin é autor de mais de uma dezena de livros, incluindo Permission marketing (1995), Unleashing the Ideavirus (ebook grátis) (2000), Tribes (2008) todos no campo do marketing.
We Are All Weird (2011), é um pequeno livro de cento e poucas páginas, no qual Godin vem defender que para o marketing, as massas deixaram de ser prioridade, e o que é agora necessário é trabalhar para os Esquisitos, os nichos, as minorias. Godin assenta esta sua idea na expansão da base curva da normalidade, eboçando uma análise sobre o modo como esta se desenvolveu ao longo dos últimos 50 anos.
A partir desta análise, podemos verificar que as curvas de Bell se têm vindo a abater, a estender na base, fazendo com que a área central seja cada vez menor. Assim Godin diz-nos que a normalidade, que as massas que seguem um mesmo gosto, que ouvem uma mesma opinião, uma mesma música, veem um mesmo filme, leem um mesmo livro estão a desaparecer, e a dar lugar a pequenos grupos. Estes seus gráficos são bastante elucidativos de uma transformação decorrente do desenvolvimento tecnológico, nomeadamente a internet que consequentemente está a provocar alterações na nossa sociedade, desde o marketing aos mass media.
We Are All Weird (2011), é um pequeno livro de cento e poucas páginas, no qual Godin vem defender que para o marketing, as massas deixaram de ser prioridade, e o que é agora necessário é trabalhar para os Esquisitos, os nichos, as minorias. Godin assenta esta sua idea na expansão da base curva da normalidade, eboçando uma análise sobre o modo como esta se desenvolveu ao longo dos últimos 50 anos.
A partir desta análise, podemos verificar que as curvas de Bell se têm vindo a abater, a estender na base, fazendo com que a área central seja cada vez menor. Assim Godin diz-nos que a normalidade, que as massas que seguem um mesmo gosto, que ouvem uma mesma opinião, uma mesma música, veem um mesmo filme, leem um mesmo livro estão a desaparecer, e a dar lugar a pequenos grupos. Estes seus gráficos são bastante elucidativos de uma transformação decorrente do desenvolvimento tecnológico, nomeadamente a internet que consequentemente está a provocar alterações na nossa sociedade, desde o marketing aos mass media.
outubro 16, 2011
Entrevista com o concept artist Rui Pereira
Hoje trago uma entrevista que realizei via e-mail a um concept artist nacional com forte interesse no domínio dos videojogos. O Rui Pereira (36) é ex-professor de Educação Visual e Tecnológica, licenciado pela Escola Superior de Educação de Lisboa, tendo realizado cursos de animação tradicional na Gulbenkian (por Fernando Galrito), e de introdução ao 3d (por Omar Fernandes). Julgo que as respostas dadas são muito interessantes porque oferecem à comunidade uma visão por dentro dos processos criativos, e por outro lado apontam problemas e caminhos no campo da formação nesta área.
1 - Podes explicar-nos qual o processo genérico que segues na criação de ilustração e concept art? Ou seja por onde começas, fazes esboços, começas directamente no computador? Tens uma ideia de partida ou vais construindo?
Não tenho um método fixo para realizar uma ilustração, o processo é bastante orgânico e flexível. As ilustrações têm início logo em suporte digital mediante a utilização de uma mesa digital da Wacom. Por vezes, também o início é feito em papel, mas sem definir de forma rígida como a ilustração vai ficar. Normalmente são mais as linhas orientadoras da imagem que quero criar.
Uma ilustração pode ter início tendo como base várias técnicas. Pode ser iniciada a partir de uma fotografia, ou de uma pintura já feita anteriormente, ou simplesmente de uma sobreposição de imagens que sugiram formas e composições. A utilização de fotografias é um procedimento muito utilizado na criação de imagens, seja para criar ambientes realistas ou estilizados.
Quando crio uma imagem o ponto de partida nasce da minha cabeça, não de uma fotografia. Estar dependente única e exclusivamente desse suporte seria redutor. Quando quero ser eu a controlar este processo e não estar a depender dos famosos happy accidents ou da serendipidade, como lhe quisermos chamar, faço pequenos esboços onde organizo a composição e as formas recorrendo a valores claro escuro. Quando tenho algo mais concreto, aumento o tamanho do esboço e começo a definir melhor as formas. Ao mesmo tempo vou adicionando a cor, os blending modes do Photoshop dão muito jeito nesta fase.
Se optar por adicionar cor numa layer normal do Photoshop, defino primeiro as formas através da linha para ver concretamente aquilo que estou a pintar, muito semelhante àquilo que se faz numa pintura tradicional.
O grosso da imagem é definido logo de início, no entanto nada está definido que não possa ser alterado. À medida que vamos refinando a imagem, existem sempre novas ideias que podem ser postas em prática, umas resultam bem, outras nem por isso... A elasticidade do suporte digital também acaba por se tornar um dos seus defeitos. Por haver a possibilidade de alterar qualquer coisa em qualquer altura faz com que mudemos de ideia frequentemente, por vezes acabamos por nos perder...
É possível iniciar uma imagem a partir de uma fotografia, o software de edição de imagem actual permite manipular bitmaps de forma bastante fléxivel e dinâmica. Normalmente as fotografias são utilizadas para adicionar textura, variação cromática e interesse nas pinturas, recorrendo por exemplo aos blending modes do photoshop, ferramenta que mais utilizo para pintar digitalmente.
Apesar de ser uma aplicação muito poderosa, no fim, as decisões que tomamos na elaboração de uma imagem definem a mesma. Um filtro ou efeito especial não vão salvar uma ilustração. Existem muito bons ilustradores a usar o Photoshop de forma bastante amadora e no entanto conseguem realizar trabalhos fantásticos.
2 - Quais são as tuas fontes de inspiração? Diz-nos um ou dois autores que sigas e escolhe uma ou duas obras que consideres marcos nesta área.
Nos últimos dez anos houve um grande “boom” de artistas porque a pintura foi transportada para o meio digital. No passado os artistas tinham que investir muito mais dinheiro em materiais do que hoje. O acesso ao computador pela maioria das pessoas permitiu-lhes aceder a programas grátis que permitem desenhar e pintar, tais como o Gimp e outros. O único verdadeiro investimento obrigatório é naturalmente uma mesa digitalizadora, preços, há para todos os gostos e carteiras.
Penso que no que diz respeito a criação de imagens, a arte democratizou-se, pois permitiu que as pessoas que tinham vontade de pintar o fizessem de uma forma livre e despreocupada. Sem que a aquisição de materiais e outras condições os limitassem. Nesse sentido creio que o grande contributo do digital na pintura é realmente contrariar a linearidade criativa permitindo-nos fazer as experiências que quisermos e consequentemente desenvolvermos mais rápidamente as nossas competências enquanto pintores.
Mas respondendo à tua pergunta, as minhas fontes de inspiração são naturalmente os videojogos, o cinema e a ilustração em geral. Existem muito bons concept artists actualmente. Sou influenciado por todos eles sem excepção. Tento aprender com cada um alguma coisa que possa aplicar no meu trabalho.
Gosto particularmente do Daryl Mandryk e o Feng Zhu na área de concept design. Kekai Kotaki é excelente em ilustração e também concept design. Em matte painting o Dylan Cole é a minha referência, um artista de topo. No 3d talvez o brasileiro Krishnamurti Martins Costa, mais conhecido por Antropus.
Sou assinante da revista inglesa ImagineFX que curiosamente foi criada na década passada para responder a esta tendência para a fantasia e para a hiper realidade, presente nos jogos e no cinema. Os mundos e as histórias que no passado eram difíceis de reproduzir com os meios existentes, reemergiram com filmes como as prequelas da guerra das estrelas ou o Senhor dos Anéis de Peter Jackson. A revolução tecnológica que se viveu e vive actualmente deu asas à imaginação dos artistas e materializou as suas visões.
3 - De que modo a formação que fizeste te ajudou a desenvolver no teu trabalho?
O curso superior que fiz está naturalmente ligado às artes visuais, porém a formação que é feita carece de muitos factores decisivos de aprendizagem. Não nos foram dadas competências para sermos capazes de comunicar visualmente de forma eficaz e concreta.
Obviamente que o curso era para ensinar artes visuais e não para me tornar artista, contudo penso que as duas coisas estão ligadas. No meu percurso académico só me lembro de um professor de artes entre muitos que tive ao longo dos anos. Curiosamente foi o único que vi a desenhar e pintar para os alunos aprenderem.
De facto muitos dos académicos que dão formação não estão preparados para explicar conceitos importantíssimos como composição, teoria da cor, proporção, entre outros factores. Aqueles que o fazem tocam muito ao de leve nestas áreas essenciais. Lembro-me, já no ensino superior, de andar a pintar uma roda da cor onde a principal preocupação do professor era que eu não pintasse fora das linhas. Teria sido muito mais importante perceber a relação entre as cores e como elas são aplicadas nas obras dos pintores, essa matéria ficou por falar...
Tudo é deixado ao acaso e à "inspiração" interior do aluno. A verdade é que se alguém não tiver estes conceitos compreendidos, ou pelo menos presentes na concepção de uma imagem, algo vai falhar. A arte não funciona só por intuição, ela é noventa por cento trabalho e dez por cento inspiração. Ela só irá funcionará por intuição quando “tudo” o que está antes tenha sido apreendido. Só nessa altura é que deixamos de prestar atenção ao acelarador, à embraiagem, às mudanças e ao volante para estarmos mais atentos aquilo que se passa na estrada, permitam-me a metáfora. É o velho binómio: inconsciência/incompetência e inconsciência/competência...
Felizmente aprendi um pouco mais no ano em que fui aluno da sociedade nacional das Belas Artes. Todavia, esta instituição baseia-se numa formação clássica que não foca os ensinamentos em elementos verdadeiramente relevantes para um aspirante a concept artist. Não quero com isto dizer que aquilo que se aprende é irrelevante, longe disso, no entanto era interessante apostar mais em instituições que promovam a formação de alunos e especializá-los nestas áreas.
Existem escolas nos Estados Unidos da América focadas na formação de designers para a indústria de entretenimento, o Art Center College of Design em Pasadena, California é um deles. É normal que seja assim tendo em conta que a maior indústria de cinema do mundo esteja lá sediada, bem como muitos estúdios de videojogos. Mas também nem tudo são rosas, pelo que me apercebo em fóruns estrangeiros muitos users se queixam da falta de agentes formadores que preparem profissionais para estas áreas.
Tenho dedicado autonomamente bastante tempo a aprender os programas e a tentar entender a linguagem visual. Naturalmente que o tempo despendido é muito maior do que se me estivessem a indicar o caminho certo das coisas. As poucas escolas nacionais que oferecem formação nestas áreas pedem valores exorbitantes pelas formações que disponibilizam, pelo menos no meu entender. Se houver tempo disponível resta aos aspirantes a concept designers educarem-se a eles próprios e com alguma sorte ser-lhes dada uma oportunidade para mostrar o que valem.
4 - No campo dos jogos, fazes apenas arte? Tens interesse por outras componentes dos jogos como o design ou a programação? Gostarias de desempenhar outras funções?
Joguei pela primeira vez um jogo de computador em 1981, desde aí que fiquei apaixonado pelos jogos. Esse gosto manteve-se até hoje, ainda que jogue bastante menos do que no passado. Mas vou-me mantendo actualizado e estou atento às novas tendências. Possuo todas as consolas da "nova geração" e ocasionalmente jogo. Talvez me dê mais gozo nesta etapa como gamer de ver os outros a jogar, e reparar como a jogabilidade os afecta.
Gosto de criar imagens que espelhem mundos distantes e personagens de mundos fantásticos, mas também tenho muito interesse em participar na elaboração da experiência de jogo. Todos nós poderemos ter ideia para um jogo, mas materializar essas ideias é um processo bastante mais complicado. Penso ter a psicologia de um game designer no sentido em que tenho bastante presente a psicologia de que tudo tem que ser pensado, tudo tem que fazer sentido, seja na mecânica de jogo, seja na coerência da realidade alternativa que tentamos criar. No livro "Game Design - From blue sky to Green Light" de Deborah Todd no primeiro capítulo escreve: "Game designers are universally fascinated by what makes people tick" - Penso que me identifico bastante com esta definição.
1 - Podes explicar-nos qual o processo genérico que segues na criação de ilustração e concept art? Ou seja por onde começas, fazes esboços, começas directamente no computador? Tens uma ideia de partida ou vais construindo?
Não tenho um método fixo para realizar uma ilustração, o processo é bastante orgânico e flexível. As ilustrações têm início logo em suporte digital mediante a utilização de uma mesa digital da Wacom. Por vezes, também o início é feito em papel, mas sem definir de forma rígida como a ilustração vai ficar. Normalmente são mais as linhas orientadoras da imagem que quero criar.
Uma ilustração pode ter início tendo como base várias técnicas. Pode ser iniciada a partir de uma fotografia, ou de uma pintura já feita anteriormente, ou simplesmente de uma sobreposição de imagens que sugiram formas e composições. A utilização de fotografias é um procedimento muito utilizado na criação de imagens, seja para criar ambientes realistas ou estilizados.
Quando crio uma imagem o ponto de partida nasce da minha cabeça, não de uma fotografia. Estar dependente única e exclusivamente desse suporte seria redutor. Quando quero ser eu a controlar este processo e não estar a depender dos famosos happy accidents ou da serendipidade, como lhe quisermos chamar, faço pequenos esboços onde organizo a composição e as formas recorrendo a valores claro escuro. Quando tenho algo mais concreto, aumento o tamanho do esboço e começo a definir melhor as formas. Ao mesmo tempo vou adicionando a cor, os blending modes do Photoshop dão muito jeito nesta fase.
Se optar por adicionar cor numa layer normal do Photoshop, defino primeiro as formas através da linha para ver concretamente aquilo que estou a pintar, muito semelhante àquilo que se faz numa pintura tradicional.
O grosso da imagem é definido logo de início, no entanto nada está definido que não possa ser alterado. À medida que vamos refinando a imagem, existem sempre novas ideias que podem ser postas em prática, umas resultam bem, outras nem por isso... A elasticidade do suporte digital também acaba por se tornar um dos seus defeitos. Por haver a possibilidade de alterar qualquer coisa em qualquer altura faz com que mudemos de ideia frequentemente, por vezes acabamos por nos perder...
É possível iniciar uma imagem a partir de uma fotografia, o software de edição de imagem actual permite manipular bitmaps de forma bastante fléxivel e dinâmica. Normalmente as fotografias são utilizadas para adicionar textura, variação cromática e interesse nas pinturas, recorrendo por exemplo aos blending modes do photoshop, ferramenta que mais utilizo para pintar digitalmente.
Apesar de ser uma aplicação muito poderosa, no fim, as decisões que tomamos na elaboração de uma imagem definem a mesma. Um filtro ou efeito especial não vão salvar uma ilustração. Existem muito bons ilustradores a usar o Photoshop de forma bastante amadora e no entanto conseguem realizar trabalhos fantásticos.
2 - Quais são as tuas fontes de inspiração? Diz-nos um ou dois autores que sigas e escolhe uma ou duas obras que consideres marcos nesta área.
Nos últimos dez anos houve um grande “boom” de artistas porque a pintura foi transportada para o meio digital. No passado os artistas tinham que investir muito mais dinheiro em materiais do que hoje. O acesso ao computador pela maioria das pessoas permitiu-lhes aceder a programas grátis que permitem desenhar e pintar, tais como o Gimp e outros. O único verdadeiro investimento obrigatório é naturalmente uma mesa digitalizadora, preços, há para todos os gostos e carteiras.
Penso que no que diz respeito a criação de imagens, a arte democratizou-se, pois permitiu que as pessoas que tinham vontade de pintar o fizessem de uma forma livre e despreocupada. Sem que a aquisição de materiais e outras condições os limitassem. Nesse sentido creio que o grande contributo do digital na pintura é realmente contrariar a linearidade criativa permitindo-nos fazer as experiências que quisermos e consequentemente desenvolvermos mais rápidamente as nossas competências enquanto pintores.
Mas respondendo à tua pergunta, as minhas fontes de inspiração são naturalmente os videojogos, o cinema e a ilustração em geral. Existem muito bons concept artists actualmente. Sou influenciado por todos eles sem excepção. Tento aprender com cada um alguma coisa que possa aplicar no meu trabalho.
Gosto particularmente do Daryl Mandryk e o Feng Zhu na área de concept design. Kekai Kotaki é excelente em ilustração e também concept design. Em matte painting o Dylan Cole é a minha referência, um artista de topo. No 3d talvez o brasileiro Krishnamurti Martins Costa, mais conhecido por Antropus.
Sou assinante da revista inglesa ImagineFX que curiosamente foi criada na década passada para responder a esta tendência para a fantasia e para a hiper realidade, presente nos jogos e no cinema. Os mundos e as histórias que no passado eram difíceis de reproduzir com os meios existentes, reemergiram com filmes como as prequelas da guerra das estrelas ou o Senhor dos Anéis de Peter Jackson. A revolução tecnológica que se viveu e vive actualmente deu asas à imaginação dos artistas e materializou as suas visões.
3 - De que modo a formação que fizeste te ajudou a desenvolver no teu trabalho?
O curso superior que fiz está naturalmente ligado às artes visuais, porém a formação que é feita carece de muitos factores decisivos de aprendizagem. Não nos foram dadas competências para sermos capazes de comunicar visualmente de forma eficaz e concreta.
Obviamente que o curso era para ensinar artes visuais e não para me tornar artista, contudo penso que as duas coisas estão ligadas. No meu percurso académico só me lembro de um professor de artes entre muitos que tive ao longo dos anos. Curiosamente foi o único que vi a desenhar e pintar para os alunos aprenderem.
De facto muitos dos académicos que dão formação não estão preparados para explicar conceitos importantíssimos como composição, teoria da cor, proporção, entre outros factores. Aqueles que o fazem tocam muito ao de leve nestas áreas essenciais. Lembro-me, já no ensino superior, de andar a pintar uma roda da cor onde a principal preocupação do professor era que eu não pintasse fora das linhas. Teria sido muito mais importante perceber a relação entre as cores e como elas são aplicadas nas obras dos pintores, essa matéria ficou por falar...
Tudo é deixado ao acaso e à "inspiração" interior do aluno. A verdade é que se alguém não tiver estes conceitos compreendidos, ou pelo menos presentes na concepção de uma imagem, algo vai falhar. A arte não funciona só por intuição, ela é noventa por cento trabalho e dez por cento inspiração. Ela só irá funcionará por intuição quando “tudo” o que está antes tenha sido apreendido. Só nessa altura é que deixamos de prestar atenção ao acelarador, à embraiagem, às mudanças e ao volante para estarmos mais atentos aquilo que se passa na estrada, permitam-me a metáfora. É o velho binómio: inconsciência/incompetência e inconsciência/competência...
Felizmente aprendi um pouco mais no ano em que fui aluno da sociedade nacional das Belas Artes. Todavia, esta instituição baseia-se numa formação clássica que não foca os ensinamentos em elementos verdadeiramente relevantes para um aspirante a concept artist. Não quero com isto dizer que aquilo que se aprende é irrelevante, longe disso, no entanto era interessante apostar mais em instituições que promovam a formação de alunos e especializá-los nestas áreas.
Existem escolas nos Estados Unidos da América focadas na formação de designers para a indústria de entretenimento, o Art Center College of Design em Pasadena, California é um deles. É normal que seja assim tendo em conta que a maior indústria de cinema do mundo esteja lá sediada, bem como muitos estúdios de videojogos. Mas também nem tudo são rosas, pelo que me apercebo em fóruns estrangeiros muitos users se queixam da falta de agentes formadores que preparem profissionais para estas áreas.
Tenho dedicado autonomamente bastante tempo a aprender os programas e a tentar entender a linguagem visual. Naturalmente que o tempo despendido é muito maior do que se me estivessem a indicar o caminho certo das coisas. As poucas escolas nacionais que oferecem formação nestas áreas pedem valores exorbitantes pelas formações que disponibilizam, pelo menos no meu entender. Se houver tempo disponível resta aos aspirantes a concept designers educarem-se a eles próprios e com alguma sorte ser-lhes dada uma oportunidade para mostrar o que valem.
4 - No campo dos jogos, fazes apenas arte? Tens interesse por outras componentes dos jogos como o design ou a programação? Gostarias de desempenhar outras funções?
Joguei pela primeira vez um jogo de computador em 1981, desde aí que fiquei apaixonado pelos jogos. Esse gosto manteve-se até hoje, ainda que jogue bastante menos do que no passado. Mas vou-me mantendo actualizado e estou atento às novas tendências. Possuo todas as consolas da "nova geração" e ocasionalmente jogo. Talvez me dê mais gozo nesta etapa como gamer de ver os outros a jogar, e reparar como a jogabilidade os afecta.
Gosto de criar imagens que espelhem mundos distantes e personagens de mundos fantásticos, mas também tenho muito interesse em participar na elaboração da experiência de jogo. Todos nós poderemos ter ideia para um jogo, mas materializar essas ideias é um processo bastante mais complicado. Penso ter a psicologia de um game designer no sentido em que tenho bastante presente a psicologia de que tudo tem que ser pensado, tudo tem que fazer sentido, seja na mecânica de jogo, seja na coerência da realidade alternativa que tentamos criar. No livro "Game Design - From blue sky to Green Light" de Deborah Todd no primeiro capítulo escreve: "Game designers are universally fascinated by what makes people tick" - Penso que me identifico bastante com esta definição.
outubro 15, 2011
Off Book: "Etsy Art & Culture"
Da nova série web da PBS, saiu esta semana saiu o 7º episódio sobre a Etsy Art & Culture.
Episódios anteriores
1 - Light Paint
2 - Type
3 - Visual Culture Online
4 - Steampunk
5 - Hacking Art
6 - Street Art
America has a long tradition of handmade arts and crafts. In the manufacturing age, however, much of this work was overshadowed by the homogenizing force of retail culture. But the passion for handmade arts didn’t disappear, and persisted through the years in local craft fairs. Now in the age of the internet, these local craft cultures and artists have found a unifying online community, Etsy, that provides a platform for communication and sales to appreciative fans and customers, as well as a medium to connect with each other and share ideas across the globe.
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1 - Light Paint
2 - Type
3 - Visual Culture Online
4 - Steampunk
5 - Hacking Art
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