Hoje foi um dia para esquecer nas auto-estradas. Quando saí de Aveiro estavam 3 mais 3 carros acidentados na entrada para a A25, pela A29 encontrei mais uns 4 acidentados, ao chegar à entrada do Porto apanhei uma fila ainda na A29 que me fez estar mais de uma hora em pára arranca até chegar ao corte para a A3, com mais uns dois carros acidentados entre o Freixo e as Antas, e na A3 até Braga vi mais um carro acidentado e dois parados.
No meio de tudo isto valeu-me o audiobook Freakonomics (2005) de Steven Levitt, que acabei de ler/ouvir. É um livro impressionante não pelas interpretações polémicas e conhecidas, mas pela forma intuitiva e rigor científico que Levitt fala dos dados. É um livro a ler por qualquer aluno das ciências sociais e a ler por quem se interesse um mínimo pela análise do social a partir dos números e das estatísticas. Abre-nos a mente e os horizontes a forma como podemos ler a vida, distanciando-nos de todas as questões morais e olhando exclusivamente para os números, pedindo-lhes respostas. Ajuda também a perceber o que está por detrás do trabalho de investigação nas ciências sociais e o quão difícil é o trabalho de obtenção dos dados necessários.
Para além das ilações sobre o impacto do aborto sobre as taxas de crime, julgo que as interpretações sobre o papel dos pais nos resultados dos filhos, sobre as questões eternas da natureza ou cultura, assim como as constatações sobre a "batota" nas relações humanas e o controlo de informação e o seu declínio com a web são motivos mais do que suficientes para tornar este livro uma leitura obrigatória.
Mais
Análise de SuperFreakonomics (2009).
novembro 06, 2009
O presente de natal perfeito
Excelente trabalho de motion grahics surpreende-nos pela originalidade e criatividade do movimento e da sua relação com a constante mutação entre forma e o fundo. Filme criado pelos Communication Design alumnus Tom Theall (BFA'09) para a Cruz Vermelha Americana.
[a partir de UNT]
[a partir de UNT]
novembro 05, 2009
Prince of Persia, o filme
Visualmente assombroso, Prince of Persia: The Sands of Time (2010), com um bom actor, Jake Gyllenhaal (Donnie Darko, Borkeback Mountain, Zodiac), parecido com o personagem da encarnação 3d e ainda com Alfred Molina e Ben Kingsley. A realização será de Mike Newell, mas tendo em conta que é uma produção de Jerry Bruckheimer isso definirá muito mais o filme, e o trailer reflecte isso mesmo, uma estética decalcada do sucesso Pirates of the Caribbean.
novembro 02, 2009
Dexter comic e animado
A narrativa de Dexter sofre uma nova mutação agora será a vez de comic animado. Early Cuts é uma série animada de 12 episódios exclusivos para a web e focados sobre os anos de juventude de Dexter. Ridiculamente e porque falamos de web, os episódios publicados pela Showtime, só serão acessiveis a utilizadores nos EUA.
No vídeo abaixo é possível ver o processo de criação da série animada numa apresentação bastante interessante e informativa. A composição foi toda realizada com recurso so After Effects.
No vídeo abaixo é possível ver o processo de criação da série animada numa apresentação bastante interessante e informativa. A composição foi toda realizada com recurso so After Effects.
Gripes e suicídos
Sendo algo off-topic parece-me importante deixar aqui esta nota a bem de todos. Aliás estive para falar do assunto quando regressei de Bolonha na semana passada, onde não encontrei desinfectantes por todo lado, nem nos aeroportos de Frankfurt nem de Bolonha. Mas também não na Universidade de Bolonha nem em qualquer outro local. Nos media também pouco ou nada, e a única coisa que me chegou de gripe A aos ouvidos e olhos em 5 dias fora de Portugal (na Europa) foi a notícia de que o Obama preparava um plano para enfrentar a gripe A nos EUA. Isto poderá dizer-nos muito sobre a permeabilidade do jornalismo nacional e não só...
Mas hoje deixo aqui uma mensagem porque encontrei algo que procurava, dados científicos sobre o real potencial da chamada Gripe A e a sua relação com a gripe sazonal que nos afecta desde que nascemos. Coloco aqui apenas um excerto que em minha opinião mostra tudo a nu, e deixo o resto para lerem no sítio original de publicação. O texto vem assinado por Teresa Forcades i Vila, médica especialista em Medicina Interna e Doutorada em Saúde em Pública.
Para quem questiona a autenticidade do texto desta senhora e da sua boa-vontade deixo aqui a ligação para os números oficiais que podem ser obtidos publicamente através de um organismo Europeu pago pelos impostos de todos nós o European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC) e o excerto concreto onde os números aparecem.
E finalmente os números de mortalidade da Gripe A, actualizados para 2 de Novembro 2009,
Europa: 317 casos fatais
Mundo: 6153 casos fatais
Dados retirados da Influenza A(H1N1)v Outbreak Table constantemente actualizada pela ECDC.
Este é sem dúvida um fenómeno da modernidade em que as "narrativas globais" proliferam à velocidade dos media omnipresentes, em que a pós-modernidade sofre o seu retrocesso. Veja-se o recente fenómeno dos chamados "suícidos na France Telecom". Mais um caso alimentado pelos media de forma totalmente passiva e sem o mínimo esforço de análise da autenticidade do epifenómeno. Bastava aos jornalistas um simples exercício de matemática para saber como tratar o assunto, mas não, interessa muito mais a NARRATIVA. Na verdade o jornalismo é hoje muito mais drama do que facto. Além de que sabe bem ter o poder para linchar um CEO de uma grande empresa como acabou por acontecer.
Neste caso veja-se que segundo a OMS, a França apresenta uma taxa de suicídio relativamente a 2006, de 25,5 por cada 100,000 homens, e 9,0 por cada 100,000 mulheres. Agora verifique-se que o número de suicídios na France Telecom foi de 25,0 em 18 meses (quase todos, ou todos homens). Isto dá-nos um número de 16,6 por ano. Se tivermos em linha de conta que a France Telecom tem entre 100,000 a 120,000 funcionários, retirem-se as devidas conclusões.
Mas hoje deixo aqui uma mensagem porque encontrei algo que procurava, dados científicos sobre o real potencial da chamada Gripe A e a sua relação com a gripe sazonal que nos afecta desde que nascemos. Coloco aqui apenas um excerto que em minha opinião mostra tudo a nu, e deixo o resto para lerem no sítio original de publicação. O texto vem assinado por Teresa Forcades i Vila, médica especialista em Medicina Interna e Doutorada em Saúde em Pública.
Desde su inicio hasta el 15 de septiembre del 2009, han muerto de esta gripe 137 personas en Europa y 3.559 en todo el mundo [6]; hay que tener en cuenta que cada año mueren en Europa entre 40.000 y 220.000 personas a causa de la gripe [7]UPDATE:
Para quem questiona a autenticidade do texto desta senhora e da sua boa-vontade deixo aqui a ligação para os números oficiais que podem ser obtidos publicamente através de um organismo Europeu pago pelos impostos de todos nós o European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC) e o excerto concreto onde os números aparecem.
Applying the range to the EU population as a whole (around 500 million in 2008) would result in between 40,000 excess death in a moderate season and 220,000 in a bad season, though Europe has not seen a bad season for some years.Mas se não for suficiente podemos ainda comparar os mesmos com os números dos EUA mesmo devidamente tratados com métricas de redução de outras prováveis variáveis em vários artigos como este do Journal of Epidemiology que apontam para os 40,000/ano num período 1979-2001. Se tivermos em conta uma população similar à Europeia os números equivalem-se.
E finalmente os números de mortalidade da Gripe A, actualizados para 2 de Novembro 2009,
Europa: 317 casos fatais
Mundo: 6153 casos fatais
Dados retirados da Influenza A(H1N1)v Outbreak Table constantemente actualizada pela ECDC.
Este é sem dúvida um fenómeno da modernidade em que as "narrativas globais" proliferam à velocidade dos media omnipresentes, em que a pós-modernidade sofre o seu retrocesso. Veja-se o recente fenómeno dos chamados "suícidos na France Telecom". Mais um caso alimentado pelos media de forma totalmente passiva e sem o mínimo esforço de análise da autenticidade do epifenómeno. Bastava aos jornalistas um simples exercício de matemática para saber como tratar o assunto, mas não, interessa muito mais a NARRATIVA. Na verdade o jornalismo é hoje muito mais drama do que facto. Além de que sabe bem ter o poder para linchar um CEO de uma grande empresa como acabou por acontecer.
Neste caso veja-se que segundo a OMS, a França apresenta uma taxa de suicídio relativamente a 2006, de 25,5 por cada 100,000 homens, e 9,0 por cada 100,000 mulheres. Agora verifique-se que o número de suicídios na France Telecom foi de 25,0 em 18 meses (quase todos, ou todos homens). Isto dá-nos um número de 16,6 por ano. Se tivermos em linha de conta que a France Telecom tem entre 100,000 a 120,000 funcionários, retirem-se as devidas conclusões.
novembro 01, 2009
Doubt (2008)
Aqui ficam as minhas impressões em jeito de memória escrita do filme Doubt (2008) de John Patrick Shanley com Meryl Streep e Philip Seymour Hoffman. Tinha o filme em agenda há bastante tempo, acabei por o ver agora que passou no TVCine. Os actores são de grande relevo, o realizador tem como vantagem o facto de ter escrito e dirigido a peça homónima para teatro, e aqui ter feito a sua adaptação e realização. Tudo bons ingredientes, para além disso a crítica foi unânime, o público e os festivais também em considerar este um bom filme. Ou seja seria difícil não nos agradar.
Mas na verdade, posso dizer-vos que a primeira sensação com que fiquei foi de algum desagrado. Claramente que o que está aqui em causa é a dramatização de cada personagem e isso em Teatro funciona de forma muito mais saliente que no cinema. Mesmo que aqui tenhamos excelentes actores não só os dois principais Streep e Hoffman mas também a deliciosa interpretação de Viola Davis como mãe do pequeno rapaz negro, e ainda a deslumbrante transformação de Amy Adams.
A base do filme é usar o artifício da Dúvida para nos questionar sobre outras matérias. Julgo que o problema aqui está na forma como Shanley representa a dúvida que em meu parecer é demasiado superficial, sendo que opta por a enquadrar na forma como a trata na encenação e não tanto no tema em discussão. Tratando-se de religião, a dúvida deveria ser algo de mais elevado, espiritual. Mas claro, o problema é que estamos em 1964 e as questões então eram bem diferentes assim como o peso da religião na sociedade. Ter dúvidas, era visto como uma fraqueza e não como um virtude.
Shanley opta por encenar a dúvida e depois deixa-nos pendurados sob ela, não nos aliviando com uma resposta clara, em jeito de simulação e de experienciação dada a tomar ao espectador. É bom porque nos obriga a pensar, é mau porque nos deixa com um travo na garganta, queremos respostas. Mas na verdade, é essa a condição da dúvida, não ter resposta. E é por isso que Doubt segundo o bom principio Brechtiano se eleva e passa de uma resposta visceral de desgrado a uma resposta reflexiva de pleno agrado.
memórias
Dou-me conta de algo que vem acontecendo com a minha memória, a sua infalibilidade, já não é a mesma de antigamente, nomeadamente no que se refere a conhecer e lembrar o que já vi e não vi, o que li e não, o que joguei e não, o que apreciei e não. Por isso e depois de ver e adicionar Doubt (do qual falarei já a seguir) à minha listagem de filmes, parei um pouco para olhar para os mais recentes títulos e dou-me conta que parte deles tenho dificuldade em saber do que tratam. Nunca tive memória para decorar deixas, aliás não consigo cantar qualquer canção de cor ao contrário da minha filha que pode passar uma tarde inteira a debitar o seu reportório.
Mas isto vem agravando-se, a razão é evidente, o excesso de informação que nos dá menos espaço/tempo para a necessária "rehearsal" por um lado e o aparecimento de momentos da vida que se sobrepõem em termos de importância na nossa memória de longo-prazo e por isso descartam ou melhor desligam anteriores memórias. Deste modo vejo-me obrigado a adicionar a data de visualização à minha lista e para aumentar as hipoteses de reconhecimento vou tentar deixar sempre uma pequena nota aqui no blog sobre o filme visto, na esperança de que a sua leitura possa evocar elementos perdidos na minha memória do filme em causa.
Mas isto vem agravando-se, a razão é evidente, o excesso de informação que nos dá menos espaço/tempo para a necessária "rehearsal" por um lado e o aparecimento de momentos da vida que se sobrepõem em termos de importância na nossa memória de longo-prazo e por isso descartam ou melhor desligam anteriores memórias. Deste modo vejo-me obrigado a adicionar a data de visualização à minha lista e para aumentar as hipoteses de reconhecimento vou tentar deixar sempre uma pequena nota aqui no blog sobre o filme visto, na esperança de que a sua leitura possa evocar elementos perdidos na minha memória do filme em causa.
outubro 31, 2009
referências
Trata-se, isso sim, de observar que vivemos num país católico em que este tipo de mercantilismo dos livros, da cultura, da relação dos criadores com os leitores, não suscita a mais pequena reacção (já não digo de indignação, mas apenas de dúvida metódica). E, no entanto, um escritor como José Saramago escreve um livro e tanto basta para que os vigilantes dos bons costumes nos venham alertar para as ameaças que pairam sobre a nossa civilização. Portugal, hello...
Dan Brown contra Saramago, João Lopes in Sound + Vision, 30 Outubro 2009
outubro 28, 2009
Literacias, discussão pós-congresso
Estive na semana passada no Second European Congress on Media Literacy em Itália onde apresentei e moderei várias sessões e que me permitiram reflectir sobre o que está em causa e o que se move por detrás de tudo isto.
Na verdade nunca consigo deixar de pensar que as questões de literacia são algo que vem de há muitos anos, essencialmente todos os que se interessam pelo estudo do cinema e trabalham na academia sempre tiveram este desejo secreto, de criar uma sociedade "letrada" em imagens visuais e sonoras. Mesmo em Portugal nos anos 70 e 80 assistimos a muita discussão sobre o potencial uso ou criação de currículos para as escolas assentes no vídeo e/ou cinema que nunca deram em nada. E se olharmos para o que ainda temos é ridícula e insustentável a manutenção daquelas disciplinas que dão pelo nome de Educação Musical e Educação Visual que não são mais do que um embuste, um acto deliberado de faz de conta. Devemos ser das sociedades da Europa que apesar de apresentar uma taxa de alfabetismo de quase 100% apresentamos uma ausência gritante de conhecimentos mínimos sobre arte (pintura, escultura, arquitectura, música, cinema, etc.). Esta ausência tem impactos claros e profundos sobre tudo o que poderemos chamar de literacia mínima para lidar com a sociedade actual. Assim não está em causa apenas uma literacia dos Media, e nem uma literacia Digital, antes disso precisamos de uma Literacia Artísitca sem a qual as anteriores ficam coxas.
O que é a Literacia? De uma forma simplificada e dirigida ao primeiro nível de literacia que conhecemos a do texto, a literacia é tradicionalmente definida como um saber "ler e escrever". Para completar este binómio e em consonância com as reais expectativas de um letrado devemos acrescentar uma terceira dimensão a da "interpretação" sem a qual o saber ler “não funciona”. Assim e tendo em conta este triângulo de partida temos que a aplicação de Literacia a qualquer outra dimensão do saber terá de implicar sempre estas componentes, sem as quais não haverá um domínio da literacia desse campo. A proposta apresentada pela Carta Europeia para uma Literacia dos Media , vai nesse mesmo sentido e apresenta os chamados “Três Cs” – “Cultura, Critíca e Criatividade”
A este assunto voltarei nos próximos meses com a escrita de um artigo alargado para uma revista científica.
Na verdade nunca consigo deixar de pensar que as questões de literacia são algo que vem de há muitos anos, essencialmente todos os que se interessam pelo estudo do cinema e trabalham na academia sempre tiveram este desejo secreto, de criar uma sociedade "letrada" em imagens visuais e sonoras. Mesmo em Portugal nos anos 70 e 80 assistimos a muita discussão sobre o potencial uso ou criação de currículos para as escolas assentes no vídeo e/ou cinema que nunca deram em nada. E se olharmos para o que ainda temos é ridícula e insustentável a manutenção daquelas disciplinas que dão pelo nome de Educação Musical e Educação Visual que não são mais do que um embuste, um acto deliberado de faz de conta. Devemos ser das sociedades da Europa que apesar de apresentar uma taxa de alfabetismo de quase 100% apresentamos uma ausência gritante de conhecimentos mínimos sobre arte (pintura, escultura, arquitectura, música, cinema, etc.). Esta ausência tem impactos claros e profundos sobre tudo o que poderemos chamar de literacia mínima para lidar com a sociedade actual. Assim não está em causa apenas uma literacia dos Media, e nem uma literacia Digital, antes disso precisamos de uma Literacia Artísitca sem a qual as anteriores ficam coxas.
O que é a Literacia? De uma forma simplificada e dirigida ao primeiro nível de literacia que conhecemos a do texto, a literacia é tradicionalmente definida como um saber "ler e escrever". Para completar este binómio e em consonância com as reais expectativas de um letrado devemos acrescentar uma terceira dimensão a da "interpretação" sem a qual o saber ler “não funciona”. Assim e tendo em conta este triângulo de partida temos que a aplicação de Literacia a qualquer outra dimensão do saber terá de implicar sempre estas componentes, sem as quais não haverá um domínio da literacia desse campo. A proposta apresentada pela Carta Europeia para uma Literacia dos Media , vai nesse mesmo sentido e apresenta os chamados “Três Cs” – “Cultura, Critíca e Criatividade”
Cultura - “Alargar a sua experiência sobre diferentes tipos de conteúdos e formas mediáticas”O que nos parece genericamente bem embora se sinta algum desacordo entre os dois primeiros pontos e dessa forma julgamos que poderemos ser mais específicos e directos ainda. Se olharmos para cima, temos “ler”, “interpretar”, e “escrever”, assim poderíamos ter de uma forma mais genérica:
Crítica - "Desenvolver capacidades criticas de análise e apreciação dos media”
Criatividade - “Desenvolver capacidades criativas na utilização dos media como formas de expressão, comunicação e participação no debate público”
“Acesso” – “Interpretação” – “Criação”
A este assunto voltarei nos próximos meses com a escrita de um artigo alargado para uma revista científica.
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