novembro 01, 2009
Doubt (2008)
Aqui ficam as minhas impressões em jeito de memória escrita do filme Doubt (2008) de John Patrick Shanley com Meryl Streep e Philip Seymour Hoffman. Tinha o filme em agenda há bastante tempo, acabei por o ver agora que passou no TVCine. Os actores são de grande relevo, o realizador tem como vantagem o facto de ter escrito e dirigido a peça homónima para teatro, e aqui ter feito a sua adaptação e realização. Tudo bons ingredientes, para além disso a crítica foi unânime, o público e os festivais também em considerar este um bom filme. Ou seja seria difícil não nos agradar.
Mas na verdade, posso dizer-vos que a primeira sensação com que fiquei foi de algum desagrado. Claramente que o que está aqui em causa é a dramatização de cada personagem e isso em Teatro funciona de forma muito mais saliente que no cinema. Mesmo que aqui tenhamos excelentes actores não só os dois principais Streep e Hoffman mas também a deliciosa interpretação de Viola Davis como mãe do pequeno rapaz negro, e ainda a deslumbrante transformação de Amy Adams.
A base do filme é usar o artifício da Dúvida para nos questionar sobre outras matérias. Julgo que o problema aqui está na forma como Shanley representa a dúvida que em meu parecer é demasiado superficial, sendo que opta por a enquadrar na forma como a trata na encenação e não tanto no tema em discussão. Tratando-se de religião, a dúvida deveria ser algo de mais elevado, espiritual. Mas claro, o problema é que estamos em 1964 e as questões então eram bem diferentes assim como o peso da religião na sociedade. Ter dúvidas, era visto como uma fraqueza e não como um virtude.
Shanley opta por encenar a dúvida e depois deixa-nos pendurados sob ela, não nos aliviando com uma resposta clara, em jeito de simulação e de experienciação dada a tomar ao espectador. É bom porque nos obriga a pensar, é mau porque nos deixa com um travo na garganta, queremos respostas. Mas na verdade, é essa a condição da dúvida, não ter resposta. E é por isso que Doubt segundo o bom principio Brechtiano se eleva e passa de uma resposta visceral de desgrado a uma resposta reflexiva de pleno agrado.
memórias
Dou-me conta de algo que vem acontecendo com a minha memória, a sua infalibilidade, já não é a mesma de antigamente, nomeadamente no que se refere a conhecer e lembrar o que já vi e não vi, o que li e não, o que joguei e não, o que apreciei e não. Por isso e depois de ver e adicionar Doubt (do qual falarei já a seguir) à minha listagem de filmes, parei um pouco para olhar para os mais recentes títulos e dou-me conta que parte deles tenho dificuldade em saber do que tratam. Nunca tive memória para decorar deixas, aliás não consigo cantar qualquer canção de cor ao contrário da minha filha que pode passar uma tarde inteira a debitar o seu reportório.
Mas isto vem agravando-se, a razão é evidente, o excesso de informação que nos dá menos espaço/tempo para a necessária "rehearsal" por um lado e o aparecimento de momentos da vida que se sobrepõem em termos de importância na nossa memória de longo-prazo e por isso descartam ou melhor desligam anteriores memórias. Deste modo vejo-me obrigado a adicionar a data de visualização à minha lista e para aumentar as hipoteses de reconhecimento vou tentar deixar sempre uma pequena nota aqui no blog sobre o filme visto, na esperança de que a sua leitura possa evocar elementos perdidos na minha memória do filme em causa.
Mas isto vem agravando-se, a razão é evidente, o excesso de informação que nos dá menos espaço/tempo para a necessária "rehearsal" por um lado e o aparecimento de momentos da vida que se sobrepõem em termos de importância na nossa memória de longo-prazo e por isso descartam ou melhor desligam anteriores memórias. Deste modo vejo-me obrigado a adicionar a data de visualização à minha lista e para aumentar as hipoteses de reconhecimento vou tentar deixar sempre uma pequena nota aqui no blog sobre o filme visto, na esperança de que a sua leitura possa evocar elementos perdidos na minha memória do filme em causa.
outubro 31, 2009
referências
Trata-se, isso sim, de observar que vivemos num país católico em que este tipo de mercantilismo dos livros, da cultura, da relação dos criadores com os leitores, não suscita a mais pequena reacção (já não digo de indignação, mas apenas de dúvida metódica). E, no entanto, um escritor como José Saramago escreve um livro e tanto basta para que os vigilantes dos bons costumes nos venham alertar para as ameaças que pairam sobre a nossa civilização. Portugal, hello...
Dan Brown contra Saramago, João Lopes in Sound + Vision, 30 Outubro 2009
outubro 28, 2009
Literacias, discussão pós-congresso
Estive na semana passada no Second European Congress on Media Literacy em Itália onde apresentei e moderei várias sessões e que me permitiram reflectir sobre o que está em causa e o que se move por detrás de tudo isto.
Na verdade nunca consigo deixar de pensar que as questões de literacia são algo que vem de há muitos anos, essencialmente todos os que se interessam pelo estudo do cinema e trabalham na academia sempre tiveram este desejo secreto, de criar uma sociedade "letrada" em imagens visuais e sonoras. Mesmo em Portugal nos anos 70 e 80 assistimos a muita discussão sobre o potencial uso ou criação de currículos para as escolas assentes no vídeo e/ou cinema que nunca deram em nada. E se olharmos para o que ainda temos é ridícula e insustentável a manutenção daquelas disciplinas que dão pelo nome de Educação Musical e Educação Visual que não são mais do que um embuste, um acto deliberado de faz de conta. Devemos ser das sociedades da Europa que apesar de apresentar uma taxa de alfabetismo de quase 100% apresentamos uma ausência gritante de conhecimentos mínimos sobre arte (pintura, escultura, arquitectura, música, cinema, etc.). Esta ausência tem impactos claros e profundos sobre tudo o que poderemos chamar de literacia mínima para lidar com a sociedade actual. Assim não está em causa apenas uma literacia dos Media, e nem uma literacia Digital, antes disso precisamos de uma Literacia Artísitca sem a qual as anteriores ficam coxas.
O que é a Literacia? De uma forma simplificada e dirigida ao primeiro nível de literacia que conhecemos a do texto, a literacia é tradicionalmente definida como um saber "ler e escrever". Para completar este binómio e em consonância com as reais expectativas de um letrado devemos acrescentar uma terceira dimensão a da "interpretação" sem a qual o saber ler “não funciona”. Assim e tendo em conta este triângulo de partida temos que a aplicação de Literacia a qualquer outra dimensão do saber terá de implicar sempre estas componentes, sem as quais não haverá um domínio da literacia desse campo. A proposta apresentada pela Carta Europeia para uma Literacia dos Media , vai nesse mesmo sentido e apresenta os chamados “Três Cs” – “Cultura, Critíca e Criatividade”
A este assunto voltarei nos próximos meses com a escrita de um artigo alargado para uma revista científica.
Na verdade nunca consigo deixar de pensar que as questões de literacia são algo que vem de há muitos anos, essencialmente todos os que se interessam pelo estudo do cinema e trabalham na academia sempre tiveram este desejo secreto, de criar uma sociedade "letrada" em imagens visuais e sonoras. Mesmo em Portugal nos anos 70 e 80 assistimos a muita discussão sobre o potencial uso ou criação de currículos para as escolas assentes no vídeo e/ou cinema que nunca deram em nada. E se olharmos para o que ainda temos é ridícula e insustentável a manutenção daquelas disciplinas que dão pelo nome de Educação Musical e Educação Visual que não são mais do que um embuste, um acto deliberado de faz de conta. Devemos ser das sociedades da Europa que apesar de apresentar uma taxa de alfabetismo de quase 100% apresentamos uma ausência gritante de conhecimentos mínimos sobre arte (pintura, escultura, arquitectura, música, cinema, etc.). Esta ausência tem impactos claros e profundos sobre tudo o que poderemos chamar de literacia mínima para lidar com a sociedade actual. Assim não está em causa apenas uma literacia dos Media, e nem uma literacia Digital, antes disso precisamos de uma Literacia Artísitca sem a qual as anteriores ficam coxas.
O que é a Literacia? De uma forma simplificada e dirigida ao primeiro nível de literacia que conhecemos a do texto, a literacia é tradicionalmente definida como um saber "ler e escrever". Para completar este binómio e em consonância com as reais expectativas de um letrado devemos acrescentar uma terceira dimensão a da "interpretação" sem a qual o saber ler “não funciona”. Assim e tendo em conta este triângulo de partida temos que a aplicação de Literacia a qualquer outra dimensão do saber terá de implicar sempre estas componentes, sem as quais não haverá um domínio da literacia desse campo. A proposta apresentada pela Carta Europeia para uma Literacia dos Media , vai nesse mesmo sentido e apresenta os chamados “Três Cs” – “Cultura, Critíca e Criatividade”
Cultura - “Alargar a sua experiência sobre diferentes tipos de conteúdos e formas mediáticas”O que nos parece genericamente bem embora se sinta algum desacordo entre os dois primeiros pontos e dessa forma julgamos que poderemos ser mais específicos e directos ainda. Se olharmos para cima, temos “ler”, “interpretar”, e “escrever”, assim poderíamos ter de uma forma mais genérica:
Crítica - "Desenvolver capacidades criticas de análise e apreciação dos media”
Criatividade - “Desenvolver capacidades criativas na utilização dos media como formas de expressão, comunicação e participação no debate público”
“Acesso” – “Interpretação” – “Criação”
A este assunto voltarei nos próximos meses com a escrita de um artigo alargado para uma revista científica.
outubro 19, 2009
Idents do Telejornal
A partir do Mediascópio, aqui ficam alguns idents (genéricos ou vinhetas de identificação corporativa) do Telejornal do primeiro canal da RTP dos últimos 25 anos. Vale a pena avaliar a evolução.
1986
1989
1996
2007
1986
1989
1996
2007
Comunicação Sonora
Trago aqui uma comunicação de Julian Treasure, presidente da Sound Agency, especialista no design de som nomeadamente para a optimização de espaços de produtividade - escritórios, hotéis, etc. Treasure fala sobre a relevância e impacto do som sobre nós, e apresenta as quatro formas como o som nos afecta. Para entrar no detalhe aconselha-se o livro do autor Sound Business (2007).
"Physiological" (Fisiológico) - O som tem impactos sobre o nosso corpo. As sirenes provocam choques de cortisol que nos alertam. As ondas do mar relaxam pela frequência e ritmo. O som afecta a respiração, batimentos cardiacos e as ondas cerebrais.
"Psychological" (Emocional)- A música e canto dos pássaros têm impactos sobre as nossas emoções.
"The 4 ways sound affects us" (2009) por Julian Treasure
"Physiological" (Fisiológico) - O som tem impactos sobre o nosso corpo. As sirenes provocam choques de cortisol que nos alertam. As ondas do mar relaxam pela frequência e ritmo. O som afecta a respiração, batimentos cardiacos e as ondas cerebrais.
"Psychological" (Emocional)- A música e canto dos pássaros têm impactos sobre as nossas emoções.
"Over hundreds of thousands of years we've learned that when the birds are singing, things are safe. It's when they stop you need to be worried.""Cognitively" (Cognitivo) - Quando temos duas pessoas a falar em simultâneo para nós, temos dificuldade em compreender ambas. Isto explica porque a nossa produtividade baixa quando existem sons concorrentes.
"If you have to work in an open-plan office like this, your productivity is greatly reduced. And whatever number you're thinking of, it probably isn't as bad as this. (Ominous music) You are one third as productive in open-plan offices as in quiet rooms. And I have a tip for you. If you have to work in spaces like that, carry headphones with you, with a soothing sound like birdsong. Put them on and your productivity goes back up to triple what it would be.""Behavioural" (Comportamental) - Movemo-nos em função do som, e em busca do som que nos dá prazer.
"The 4 ways sound affects us" (2009) por Julian Treasure
outubro 15, 2009
A História
E depois de vários posts exclusivamente sobre alta tecnologia trago algo tecnologicamente mais primitivo, mas do ponto de vista significativo bem mais importante, um pequeno documentário, Birth of Cinema (2009). É um pequeno filme de 9m40s que faz mais pela história do cinema do que vários livros escritos nos últimos anos. Nomeadamente esclarecer com imagens de facto e em concreto: o quê, quem, como e quando. Julgo que este filme pode ajudar, também porque se socorre das imagens factuais, à discussão Edison (1894) ou Lumiere (1895), adicionando e muito bem Muybridge (1878) e Augustin (1888). É um filme a ver obrigatoriamente por todos os alunos de cinema, audiovisual, vídeo e televisão mas também por todos os outros estudantes e não estudantes, amantes da 7ªarte. Isto é, ou pelo menos devia ser, cultura geral.
É Cinema, e após todos estes anos, continua a ser a máquina de emoções e de sonhos mais eficaz de toda a palete de media à nossa disposição, em pleno século XXI.
Em jeito de crítica acredito que Messimer teria ficado com um documento mais forte porque coeso e harmonioso se terminasse em Le Voyage dans la Lune ou nas fotos do primeiro filme pornográfico da história. A entrada da corrente "Slapstick Style" aparece de forma verdadeiramente redundante um vez que o primeiro filme cómico é apresentado previamente. Para além disso se falamos desta, porque não de todas as outras...
É Cinema, e após todos estes anos, continua a ser a máquina de emoções e de sonhos mais eficaz de toda a palete de media à nossa disposição, em pleno século XXI.
Em jeito de crítica acredito que Messimer teria ficado com um documento mais forte porque coeso e harmonioso se terminasse em Le Voyage dans la Lune ou nas fotos do primeiro filme pornográfico da história. A entrada da corrente "Slapstick Style" aparece de forma verdadeiramente redundante um vez que o primeiro filme cómico é apresentado previamente. Para além disso se falamos desta, porque não de todas as outras...
100% Tempo Real, 100% Belo
O novo game engine da Crytek aqui está, CryEngine3. Parece que vamos começar a ver o real poder gráfico da actual geração de consolas em acção.
[a partir de Kotaku]
[a partir de Kotaku]
outubro 12, 2009
Avatar, conteúdo e Fx
Porquê Avatar?
Do lado dos Fx, Cameron não se poupou a investir na produção das mais avançadas tecnologias para concretizar o seu sonho. Em Avatar é utilizado um sistema de Camara Virtual que permite durante a rodagem com os actores, ver em tempo real as suas performances já incrustadas nos cenários CGI, ajustando as cenas, os actores e a câmara em função dos seus objectivos.
Em estreia a 18 de Dezembro 2009
"Jake Sully is a former Marine who was wounded and paralyzed from the waist down in combat on Earth...Ou seja, o filme retrata os anseios de muitos dos seguidores de Descartes e das suas Meditações Metafísicas, na tentativa de separação da mente do corpo e na possibilidade de injecção da mente em outro corpo. Avatar é o sonho tornado realidade. Uma perspectiva da filosofia da consciência com frutos recentes no cinema em filmes como Ghost in the Shell (1995), Dark City (1998), Matrix (1999), Existenz (1999) ou The Thirteenth Floor (1999).
Pandora a lush jungle-covered extraterrestrial moon filled with incredible life forms, some beautiful, many terrifying. Pandora is also home to the Na’vi, a sentient humanoid race, who are considered primitive, yet are more physically capable than humans...
Since humans are unable to breathe the air on Pandora, they have created genetically-bred human-Na’vi hybrids known as Avatars. On Pandora, through his Avatar body, Jake can be whole once again."
Do lado dos Fx, Cameron não se poupou a investir na produção das mais avançadas tecnologias para concretizar o seu sonho. Em Avatar é utilizado um sistema de Camara Virtual que permite durante a rodagem com os actores, ver em tempo real as suas performances já incrustadas nos cenários CGI, ajustando as cenas, os actores e a câmara em função dos seus objectivos.
"It’s like a big, powerful game engine. If I want to fly through space, or change my perspective, I can. I can turn the whole scene into a living miniature and go through it on a 50 to 1 scale. It’s pretty exciting." Cameron no NYTOu seja Cameron detém um controlo sobre a cena CGI que lhe permite ali em plena rodagem dirigir a câmara virtual e ajustar toda a cena preparando-a para alterações que decorram no set real.
“ This film is a true hybrid — a full live-action shoot, with CG characters in CG and live environments.” Cameron no NYT
Em estreia a 18 de Dezembro 2009
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