abril 28, 2008

The Savages

The Savages, 2007, Tamara Jenkins, USA, Fox Searchlight Pictures

Dois irmãos quarentões e sós têm de tratar do pai que está também só e sofre de degeneração cognitiva. Um professor universitário doutorado em Drama, e uma “trabalhadora temporária” com mestrado em artes que anda à procura da primeira produção de uma das suas peças para teatro. O argumento percorre uma espiral de eventos que obriga à aproximação dos dois irmãos em favor de um pai que se manterá imutável reflectindo o padrão do pai ausente.

O filme abre com o forte contraste entre o lirismo da Sun City coberta de sol e perfeição romantizada com som de caixa de música com a neve que cai à porta da Nursing Home de Buffalo representando um autêntico banho de realismo que nos absorve e nos transporta do filme para o quotidiano do que nos espera. A identificação é grande dado que esta realidade se pode concretizar do nosso lado enquanto filhos ou pais, qualquer uma das situações faz já parte deste século onde cada vez mais a idade perdura sem sabermos muito bem o que fazer com ela.

O screenplay de Tamara é construído na base de acções minimalistas, onde apesar de se apresentar uma realidade dura, ela é contida um pouco à semelhança das emoções que vão assolando Linney e Hoffman. O filme assume totalmente a estética arquetípica do cinema independente americano onde tudo parece acontecer por assim estar predestinado e sobre o qual os personagens têm muito pouco ou nenhum controlo demonstrando amiúde as fragilidades interiores sem nunca se assumirem ou se expressarem abertamente, como que com medo dos eventos a que estão votados. Contudo o argumento vai-se encarregando de através de uma forma quase voyeurista apresentar essas mesmas propriedades que acontecem quando vemos Hoffman chorar na casa de banho ou quando vemos Linney dando a mão ao cão enquanto espera que o namorado atinja o orgasmo.

A realização é toda ela muito segura, muito perfeita e não deixa nada ao acaso desde o contraste entre o Arizona e Buffalo, ao contraste versus proximidades dos dois irmãos (as interpretações de Linney e Hoffman são sublimes) que com a música que acompanha vão criando um eficaz balanceamento entre o drama e a comédia muito típico deste tipo de cinema. Existe sempre um drama maior que a vida que é acompanhado por alguma ironia de quem observa, como quando vemos Linney a praticar aeróbica em frente ao televisor à mistura com os pequenos momentos de humor pelos quais cada personagem vai passando e que no final Tamara fecha com o título do novo livro de Hoffman: "No Laughing Matter: Dark Comedy in the Plays of Berthold Brecht".

abril 27, 2008

do cartoon para o real

Jessica Rabitt é o terceiro personagem a sofrer uma adaptação para o real depois de Mário, o personagem da Nintendo e Homer Simpson. Um trabalho feito no anonimato por Pixeloo, que diz ter enveredado por estas experiências por sentir que o seu trabalho profissional com photoshop não lhe estava a oferecer suficientes desafios.

No vídeo abaixo é possível ver um making-of de 10 minutos que reflecte o trabalho de muitas horas para criar Jessica Simpson. O vídeo reflecte apenas a primeira hora desse trabalho contudo julgo ser muito revelador e enriquecedor para quem pretenda dedicar-se a trabalhar com esta ferramenta.

abril 26, 2008

poesia em realtime

Novo "jogo" digital, the Graveyard, desenvolvido pelo colectivo Auriea Harvey e Michael Samyn. No seguimento do manifesto, Realtime Art Manifesto, este objecto faz todo o sentido e defende por completo o caminho aí traçado. Não é um artefacto fácil, no sentido em que os objectivos não são concretos e ainda menos evidentes. Contudo é uma obra que procura desencadear um conjunto de emoções e estados de alma através da atmosfera e linguagem não verbal da personagem. Como eles referem, "It's more like an explorable painting than an actual game. An experiment with realtime poetry, with storytelling without words".

abril 25, 2008

incerteza criativa

Amy Tan é escritora de ficção com vários best sellers do New York Times com obras como The Joy Luck Club, The Kitchen God’s Wife, The Hundred Secret Senses, The Bonesetter’s Daughter, e Saving Fish from Drowning com traduções em mais de 35 línguas e vários prémios. Para além disso é editora literária e tem trabalhado como consultora criativa.

Nesta palestra, Where does creativity hide?, oferecida na TED, em Fevereiro deste ano, Tan reflecte e conversa sobre os factores e raízes da criatividade com argumentos que atravessam desde a moralidade, à religião, física quântica, sorte ou acidente. Não sendo a típica palestra científica repleta de objectividade e retórica argumentativa de suporte, é refrescante e sem qualquer dúvida um contributo valioso para a compreensão de um dos fenómenos cognitivos mais opacos aos olhos da ciência.

abril 15, 2008

foam city

Aí está o novo da Sony a funcionar em pleno em toda a blogoesfera que se interessa por estas temáticas. De notar que se começou a ouvir falar no novo spot há meses atrás como se um novo filme 007 se tratasse e o filme estreia na internet antes mesmo de chegar às televisões. Foam City é o 4º filme da série Like No Other da Sony. Primeiro tivemos Balls em São Franciso, depois Paint em Glasgow, seguido dos Rabbits em NY e agoram a Foam em Miami. O filme é claramente inferior aos anteriores, uma vez que o conceito parece ter-se perdido no meio das imagens. Fica a música de Warren Ellis (de quem ainda falarei num próximo post), violinista da banda Nick Cave and the Bad Seeds, e a ideia.



[deve ser visto em alta-qualidade]

abril 14, 2008

Pangea day

Delicioso estética e ideologicamente ver um grupo de canto Francês cantar o hino dos Estados Unidos. Existem mais três pequenos filmes de um minuto com o mesmo conceito: Kenya sings for India; Japan sings for Turkey e Australia sings for Lebanon. Escolhi apenas um para referenciar aqui no blog, por razões de proximidade e do natural sentimento de contraste que desperta em nós europeus, contudo os restantes três filmes são eles também muito bons e vale a pena perder um minuto para ver e ouvir cada um. Os filmes foram feitos para o evento que se realiza já no próximo dia 10 de Maio 2008, Pangea Day.



Pangea Day is a global event bringing the world together through film. On May 10, 2008, live events in Cairo, Kigali, London, Los Angeles, Mumbai, and Rio de Janeiro will be linked to produce a program of powerful films, live music and visionary speakers. The program will be broadcast live to millions of people worldwide through the internet, television, and mobile phones.

Pangea Day was created by award-winning documentary filmmaker Jehane Noujaim in collaboration with the TED Conference after she won the prestigious TED Prize, which granted her a wish to change the world. Together, Jehane, TED, and the Pangea Day team — led by Executive Director Delia Cohen — have created Pangea Day to harness the power of film to enhance empathy, compassion, and peace.

recreando Tron

A famosa corrida "light cycles" do filme Tron (1982) foi agora recreada plano por plano, detalhe por detalhe. Uma das cenas mais memoráveis e referenciadas no mundo da computação gráfica foi reconstruída com recurso à técnica de animação de stop-action com os elementos replicados em cartão. Fiquei aqui a pensar no que terá sido mais complexo, a execução daquela cena em 1981 ou esta em 2007. A ter em conta que os computadores disponíveis no início dos anos 80 não permitiam qualquer tipo de pré-visualização, ou seja tudo o que vemos no ecrã era executado através de código que depois era processado, processo que levava vários dias a calcular (rendering), até os animadores poderem ver o resultado visual das suas linhas de código. A cena agora refeita pelos irmãos Huen é também algo delicada e merece os nossos aplausos, uma vez que parece ter sido feita completamente sem qualquer suporte de produção ou financeiro. A cena original pode ser vista aqui.

abril 13, 2008

monumental

Da agência Dynamo Advertising (Helsinki) e produzido pela Grilli Films, para a companhia de caminhos de ferro VR da Finlândia, aqui fica um filme verdadeiramente monumental como hino ao ambiente.

Pollution and climate change will destroy us.
The world will end in a flood.
But why you look so good? What is your secret?
[Mumbles “Training, training” in Finnish]
Very good idea, the train...



[deve ser visto em alta qualidade(8Mb)]

abril 06, 2008

animando muros

Não consegui encontrar muita informação sobre a pessoa por detrás do artista BLU, contudo julgo que para já me basta conhecer e admirar o seu trabalho estética e ideologicamente. Um artista que se desenvolveu através do graffiti e evoluiu criando um estilo muito próprio, muito figurativo e generativo. Nem sempre constituido pelas mais belas visões, faz-me lembrar esteticamente o traço cartoonesco desenvolvido para The Wall (1982) de Alan Parker. Blu tem dois tipos distintos de trabalho a pintura em muros degradados dando lugar a murais que desaparecem com o tempo, e as animações realizadas através desses mesmos murais. O que mais me impressionou foi a parte da animação tecnicamente muito boa e esteticamente capaz de nos colocar a reflectir. Para se perceber melhor Blu e o que é a animação de murais, vejam o trabalho, fantoche, em baixo.



Entretanto descobri que está em execução um documentário, Megunica, pela América Latina sobre o trabalho deste artista. Podem ser vistas alguma reviews sobre os trabalhos em andamento para o documentário pela Culture and Travel e Creative Review. E já agora aproveitem para espreitar o interessante trailer do documentário.

Obrigado pela dica Vinicius.