abril 06, 2008

animando muros

Não consegui encontrar muita informação sobre a pessoa por detrás do artista BLU, contudo julgo que para já me basta conhecer e admirar o seu trabalho estética e ideologicamente. Um artista que se desenvolveu através do graffiti e evoluiu criando um estilo muito próprio, muito figurativo e generativo. Nem sempre constituido pelas mais belas visões, faz-me lembrar esteticamente o traço cartoonesco desenvolvido para The Wall (1982) de Alan Parker. Blu tem dois tipos distintos de trabalho a pintura em muros degradados dando lugar a murais que desaparecem com o tempo, e as animações realizadas através desses mesmos murais. O que mais me impressionou foi a parte da animação tecnicamente muito boa e esteticamente capaz de nos colocar a reflectir. Para se perceber melhor Blu e o que é a animação de murais, vejam o trabalho, fantoche, em baixo.



Entretanto descobri que está em execução um documentário, Megunica, pela América Latina sobre o trabalho deste artista. Podem ser vistas alguma reviews sobre os trabalhos em andamento para o documentário pela Culture and Travel e Creative Review. E já agora aproveitem para espreitar o interessante trailer do documentário.

Obrigado pela dica Vinicius.

abril 04, 2008

pressão, competição e a Natureza Humana

in: Super Interessante, 120, Abril 2008
"(..) Instituto Tecnológico do Massachusetts, pioneiro em campos como a robótica, a inteligência artificial ou a supercomputação que recebeu, apenas nas últimas duas décadas, dez prémios Nobel (72 em toda a sua história), dois Turing (informática) e quatro Gairdner (biomedecina), mais do que qualquer outra escola. A lista de feitos do MIT (..) é um autêntico arquivo dos avanços tecnologicos fundamentais do sécula XX, desde os primeiros robôs humanoides, aos ecrãs tacteis às proteses cibernéticas. Foi dos seus laboratórios que sairam o relógio atómico, a máscara funcional de gás, o túnel de vento, até o sistema de controlo das naves Apollo. Hoje o MIT (..) continua a atrair a élite cientifica, o que acaba por gerar uma pressão académica brutal. De facto ostentava, até há uma década, juntamente com Harvard, a maior taxa de suícidios estudantis do mundo.
O primeiro dia como aluno do MIT é inesquecivel e aterrador. Inesquecivel, porque é possivel passar por baixo de uma macieira que descende directamente da árvore que inspirou Isaac Newton. Aterrador , pois aventurar-se no Corredor Infinito é uma experiencia intimidante. Nessa passagem, suecessivas portas ostentam os nomes de prémios Nobel ou do criador de uma tecnologia que faz hoje girar o planeta. Os átrios estão repletos de anúncios de seminários, conferências, aulas nocturnas e cursos. O último avanço em medicina, a mais recente inovação astronautica, a revolução genética, o futuro da geologia: os olhos não conseguem abarcar tudo e mergulhamos de súbito, numa onda de angústia." (p.52)

Into the Wild de Sean Penn (2007)
It's a mistery to me
we have a greed
with which we have agreed

You think you have to want
more than you need
until you have it all you won't be free

society, you're a crazy breed
I hope you're not lonely without me

When you want more than you have
you think you need
and when you think more than you want
your thoughts begin to bleed

I think I need to find a bigger place
'cos when you have more than you think
you need more space

society, you're a crazy breed
I hope you're not lonely without me
society, crazy and deep
I hope you're not lonely without me

there's those thinking more or less less is more
but if less is more how you're keeping score?
Means for every point you make
your level drops
kinda like its starting from the top
you can't do that...

society, you're a crazy breed
I hope you're not lonely without me
society, crazy and deep
I hope you're not lonely without me

society, have mercy on me
I hope you're not angry if I disagree
society, crazy and deep
I hope you're not lonely without me

Society de Eddie Vedder, da banda sonora do filme Into the wild

abril 03, 2008

março 30, 2008

digital a preto-e-branco

Mais uma excelente descoberta de um novo talento do mundo de arquitectos do desenho digital. Maxim Zhestov tem apenas 22 anos e é designer em Ulyanovsk, Russia.

março 28, 2008

emoção à flor da pele

Mais um impressionante PSA criado pela Red Rabit para a Dunkelziffer e que retrata os efeitos dos traumas não tratados desenvolvidos a partir dos abusos sexuais na infância. Esteticamente as imagens impressionam e não são aconselhadas às pessoas mais sensíveis. Julgo que o fica aqui demonstrado é a evidência da arte publicitária em atacar e manipular as emoções necessárias e pretendidas pela mensagem, neste caso o nojo. Está lá tudo aquilo que nos repugna biologicamente: os brilhos do suor, os pêlos, a pele escurecida, os ruidos de fluídos associados à languidez e depois a evidência da invasão do espaço intimo.



[a partir de OSOCIO]

XI Jornadas de Ciências da Comunicação

As XI Jornadas de Ciências da Comunicação (organizadas pelo grupo de alunos de Comunicação da Universidade do Minho - GACSUM) acontecem já na próxima semana, nos dias 1 e 2 de Abril (terça e quarta). O tema genérico das jornadas deste ano é “Verdade ou Consequência”, uma alusão ao jogo com o mesmo nome, mas também o mote para debates sobre a comunicação. A lista de participantes convidados é extensa e justifica plenamente a deslocação ao evento para todos quantos se interessam pelas ciências da comunicação.

Alexandre Silva - Responsável pela comunicação Corporativa da Bosch
André Rabanea - Director da Torke Stunt Marketing Estratégico
Bruno Carvalho - Porto Canal
Carlos Coelho - Presidente da Ivity Brand Corp
Carlos Liz - Director geral da APEME
Carlos Rodrigues Lima - Jornalista do Expresso
Diogo Andrade - Director Criativo e de Tecnologia da Spellcaster Studios
Diogo Valente - Director Criativo da Dreamlab
Filipe Pina - Produtor de jogos da Seed Studios
Francisco Coelho - Docente do IPAM
Henrique Agostinho - Director de marcas da Sonae Sierra
Ivan Franco - Director de I&D da YDreams
José Menezes - Director de Comunicação da leYa
José Pedro Marques Pereira - Jornalista da RTP
Júlia Costa - Coordenadora de eventos da Solinca/Sonae
Luciano Ottani - Realizador da Showoff-Films
Manuel Carvalho - Director-adjunto do Público
Nelson Calvinho - Director da revista de jogos Hype!
Paulo Baldaia - Director da TSF
Pedro Almeida - Director do Mestrado Comunicação e Multimédia da Universidade de Aveiro

Exposição de Tecnologia e Arte Digital

Os mestrandos em Tecnologia e Arte Digital da Universidade do Minho divulgam a sua primeira mostra interactiva intitulada "Run". A inauguração acontece já este Sábado, dia 29 pelas 22h, no Fórum da Maia. Esta amostra apresentará os projectos realizados no âmbito do Mestrado em Tecnologia e Arte Digital da Universidade do Minho, nos quais a componente interactiva constitui o denominador comum, contemplando não só a vertente artística como a vertente educativa e tecnológica.

A exposição estará patente do dia 29 de Março ao dia 12 de Abril, no horário de Segunda a Sábado 15h-19h (Quarta 10h-19h).

março 25, 2008

Le Scaphandre et le Papillon

Un film émouvant.
Título original: Le Scaphandre et le Papillon
Título internacional: The Diving Bell and the Butterfly
de Julian Schnabel, França, 2007

Toca-nos o sentir, toca-nos a percepção, toca-nos a emoção. Não conseguimos ficar indiferentes a uma condição que pode vir a ocorrer connosco próprios. Ao contrário das doenças de degeneração cognitiva onde perdemos a noção de identidade e dessa forma o mundo se torna num emaranhado de abstracções o que temos aqui é a manutenção completa da intelectualidade em detrimento da parte física, aquela que tantas vezes desprezamos por pensarmos que nada mais é que uma habitáculo para o nosso ser. Damásio refere que a nossa emoção fica registada no nosso corpo e não propriamente na nossa mente, e desse modo não existe lugar para criar uma divisão corpo/mente. Sem o corpo podemos continuar a imaginar e a sentir, contudo isso estará sempre ligado à memória que fixou os marcadores emocionais do que é bom e do que é mau, perde-se o acesso à regeneração desses mesmos marcadores. O que aqui vemos é alguém soterrado pelo seu corpo, uma espécie de escafandro que vai puxando o que resta da sua vida para o fundo através de um enorme peso gravitacional e à medida que nos vamos afundando as águas vão ficando mais turvas e indecifráveis. Temos sempre a ideia de que a visão é o sentido mais importante de todos e que este nos dá acesso ao mundo, mas não chega, falta a percepção física desse mundo que nos é dada pela ecologia do ambiente (Gibson, 1969) e que nos chega através de milhares de informações que o nosso sentir (que é mais do que aquilo que os nossos 5 sentidos realizam individualmente) filtra e transforma em informação essencial à manutenção do nosso ser no mundo.

Como filme, a primeira meia hora é sem dúvida o filme que se quer mostrar, tudo o resto é uma reconstrução dramática de algo que já não existia, mas que serve para contar a história ao espectador e não prolongar a sensação dolorosa daquela condição. É nesta primeira parte que o filme consegue ser surpreendente do ponto de vista estético pondo em evidência o que é passar por aquela condição. O cinema conseguiu uma vez mais usar toda a sua arte para exemplificar de um modo, diria quase perfeito, uma condição humana nova para todos nós. Poderia-se pensar que o livro escrito pelo próprio Jean-Dominique Bauby que dá suporte a este filme poderia ser visto como brotado do interior da fonte desta condição, contudo o cinema como arte audiovisual é o modo mais completo para a tradução do sentir desta pessoa. O filme, é assim algo que se deixa entranhar, porque não é filme, é antes uma projecção de algo que nos intimida e que nos suga para o seu interior. Neste espaço temporal percebemos a condição daquela pessoa, sente-se perfeitamente o que é estar limitado a uma projecção do mundo sonoro e visual apenas, o que é poder apenas mover a órbita do olho em busca da informação. Nestes 30 minutos, poderia dizer-se que a empatia é difícil para com o personagem, que o é porque não o vemos e vemos apenas o que ele vê, mas por outro lado, sentimos o que ele sente, e isso vai muito além do que poderiamos imaginar. A tela consegue uma tradução do que o personagem vê e do modo como vê, bastante carregada de expressividade através dos enquadramentos e da fixação ou permanência temporal nesses enquadramentos que nos transmitem o que pensa o nosso personagem sobre a realidade à sua volta. Sem dúvida um grande trabalho de Julian Schnabel, apesar de a restante parte do filme parecer por vezes não passar de um aglomerado de momentos esteticamente apelativos dada a beleza da imagem, sonoridade e alguma música fácil (pop), mas que podemos sempre procurar enquadrar no âmbito da "vida normal" de um editor de uma famosa revista de moda. Schnabel autor do belíssimo Basquiat, ganhou o prémio da melhor realização em Cannes e recebeu uma nomeação para os Oscares por este trabalho para além de uma extensa lista de outros prémios.

Como objecto de análise e investigação não posso deixar de reflectir sobre o impacto deste acesso ao mundo via sentido visual (e auditivo) e colocar em evidência os trabalhos realizados no campo da realidade virtual. Trabalhos esses que se têm centrado no campo da visão, com alguma sonoridade à mistura mas à qual vai faltando exactamente essa percepção do ambiente. O que podemos ver neste filme é realmente o quão difícil é perceber o que nos rodeia só com a audição e a visão, ou melhor o quão difícil é estar limitado a isso apenas, onde ficam todas as restantes sensações. O que este filme coloca em evidência é que o acesso RV é uma prisão e não uma libertação deste mundo enquanto projecção da primeira-pessoa, seguindo o filme, o acesso VR será um acesso do tipo Locked-in Syndrome. E assim este é mais um ponto em favor da teorização da ausência de empatização para com o personagem principal que não se deixa ver porque o acesso é extremado e mantido na primeira-pessoa, ou seja em câmara-subjectiva que tenho vindo a defender. Ou seja, precisamos de ver, o que o personagem vê e sente desse mundo, e não apenas ver através dos olhos deste e por isso mesmo o filme foge desse registo ao fim de pouco tempo. Percebe-se durante aquela primeira parte o quão opressivo pode ser um acesso à realidade dessa forma, o acesso restringido ao que se vê e ouve é manifestamente insuficiente e nem mesmo a voz off consegue adocicar aquela condição. Não queremos apenas ver o mundo como ele vê, mas queremos senti-lo, acima de tudo queremos percebe-lo e dessa forma o livro consegue ser muito mais forte na empatização que cria para com os seus leitores do que o filme, mesmo sendo o filme muito mais fiel à condição do seu autor.

Toda esta discussão faz-me pensar nos ambientes virtuais da actualidade e percebe-se que o Second Life não seja apenas uma perspectiva em primeira-pessoa, mas de terceira-pessoa. Imaginemos se esta pessoa, dentro de um escafandro, pudesse projectar o seu próprio corpo em outro corpo e controlá-lo, sem controlar apenas a visão e audição. Porque o que choca Jean-Dominique não é a falta de mundo, ele próprio refere, que pode imaginar tudo o que ele quiser, contudo o que lhe falta é a interacção com esse mundo. A metáfora do cérebro dentro de uma cuba de água, alimentada pelas teses metafísicas de Descartes caem aqui completamente por terra. Não há lugar para esses devaneios, não há lugar para esses desencantos com a materialidade e o terreno, o que nos atrai é o aqui e agora, é a relação com os outros é a interacção com os outros e para voltar ao core do meu trabalho é o contacto físico com os outros, o toque.
Trailer de Le Scaphandre et le Papillon (2007)