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setembro 05, 2013

Wonderland | A Short Form Doc on Creative Commerce (2013)

O documentário, Wonderland (2013) de Terry Rayment e Hunter Richards, fala-nos dos diferentes sentires do criador no momento de criar um artefacto pessoal versus um produto comercial. Artistas, designers e criativos falam de dinheiro, de liberdade, de restrições, de ambições, dos egos, dos clientes e  de como se balanceia tudo isso no dia-a-dia.

"You can't predict the end result, and that's part of the process, the beauty in it."… "Trying to plan in the future, will not work… you've to live in the now… focus on doing things, not on the the end results… we have to focus on each step…"… "the goal is always to get better…"… 
Há umas semanas tive oportunidade de escrever um texto para a Eurogamer, sobre este assunto, a propósito de um texto de Adam Saltsman, em que este desabafa sobre os seus dilemas criativos na escolha dos próximos jogos a desenvolver. Dei ao texto um título bem ilustrativo Bipolaridade Criativa.

Diagrama a partir da classificação de David Lewndowski em Wonderland

Neste documentário, David Lewndowski acaba por no meio da conversa dar uma possível classificação do impacto do dinheiro sobre a liberdade criativa de cada um. Converti a sua definição num eixo visual (diagrama acima), que de forma simples se poderia resumir por: “quanto mais dinheiro mais corrompida é a criatividade de um projecto”. Claro que as exceções existem,
"Sometimes there's total miracles… oh my God, did they just allowed me to create that, and they paid for that. My heart still flexes my creative muscles I can still feel alive when I express myself."

junho 21, 2013

porque evoluímos tanto nos últimos 13,000 anos

"Guns, Germs, and Steel: The Fates of Human Societies" é um livro de Jared Diamond de 1997, entretanto vertido para um documentário de três horas da National Geographic em 2005. A ideia central passa por explicar porque é que as sociedades da Europa e Ásia (Eurasia) se sobrepuseram às restantes sociedades do globo em termos económicos, baseado simplesmente na Geografia, ou seja na posição geográfica ocupada no globo. Jared Diamond é professor na UCLA e este seu livro foi premiado em vários eventos desde então, incluindo o Pulitzer.


Aquilo que posso dizer é que depois de lerem Guns, Germs, and Steel nunca mais verão o mundo da mesma forma. Estamos perante uma análise evolucionária do homem em função da geografia, e aquilo que Diamond faz é simplesmente brilhante. Ele conseguiu com esta obra trazer a Geografia para o centro da discussão científica no que toca às questões essenciais sobre a espécie humana. Ler este livro é redescobrir o mundo.

A questão central começa por ser enunciada por um político da Nova Guiné, "Por que é que vocês, brancos, desenvolveram tanta tecnologia e a trouxeram para a Nova Guiné, mas nós, os negros tínhamos tão pouca tecnologia própria?" A que se segue a constatação de que várias sociedades mesmo depois de colonizadas e libertadas, continuaram a ter dificuldade em progredir no seu próprio bem-estar.

Eurasia

A resposta a isto está neste livro, que nos diz que esse avanço civilizacional não tem nada que ver com diferenças genéticas, nem sequer culturais, mas antes com a influência da geografia sobre a evolução dos povos em cada espaço do planeta. Diamond defende que as diferenças originaram a partir das condições ambientais distintas que favoreceram a progressão, estagnação e a regressão das sociedades. O ponto central desta evolução e diferenciação está exactamente no processo de agricultura.

Antes de criarmos as civilizações vivíamos dispersos pelo globo, como pequenos grupos nómadas, em busca de locais que nos oferecessem a melhor comida. Com o surgimento da agricultura descobrimos que era possível ficar no mesmo sítio, produzindo a nossa própria comida, não sendo necessário mais viver à custa da aleatoriedade da natureza. Ou seja, a partir do momento em que nos tornámos sedentários, e iniciámos a atividade da agricultura, o engenho humano ganhou maior liberdade para evoluir, para através da experiência acumulada fazer mais e melhor. A população cresceu, o trabalho especializado apareceu, e com este surgiram as hierarquias, as organizações, e os países.

Até aqui nada de novo, todos demos isto na escola. A inovação de Diamond passa por analisar o fenómeno da criação das sociedades nas diferentes partes do globo, através das condições ambientais que permitiram a evolução dos processos da agricultura. E aqui Diamond diz-nos que a Eurasia era um local privilegiado, em termos de clima e consequentemente do tipos de plantas possíveis, e ainda da existência de animais domesticáveis.

Ao todo a Eurasia domesticou 13 espécies de grandes animais (Cavalo, Vaca, Cabra, Ovelha, Porco, Galinha, Cão, etc.). A América do Sul domesticou uma (Lama), e o resto do mundo nenhuma. Nunca conseguimos domesticar animais próximos como a Zebra, o Javali ou o Elefante, menos ainda Rinocerontes, Bufalos, Leões, Tigres, Águias, etc. Assim a nossa superioridade hoje enquanto espécie neste planeta, advém do facto de termos conseguido subjugar outras espécies às nossas necessidades. Nesse sentido a Eurasia foi a zona do planeta em que se geraram as melhores condições para essa dominação. Daí à dominação de outros povos, foi um passo.

As espécies animais domesticadas pelo homem

Diamond vai ainda ao ponto de analisar as condições climatéricas de outras partes do globo para explicar porque razão mesmo depois de colonizadas, nunca conseguiram evoluir por si próprias. Fala nomeadamente das condições muito pouco favoráveis dos trópicos no que toca à agricultura e a facilidade de propagação de doenças que tornam o ambiente muito hostil aos processos de sedentarização.

O trabalho de Diamond é extenso, levanta muitas questões, lança muitas mais hipóteses, assim como levantou um conjunto de críticos às suas teorias. Do meu lado restaram-me poucas dúvidas sobre as teorias de Diamond porque ele é exímio na sua comunicação e detalhe. Existe um cuidado muito grande na forma como nos vai apresentando as suas ideias e conclusões, muito suportadas por evidências claras e objectivas. E se neste livro Diamond se detém para explicar porque as sociedades prosperam, no seu livro seguinte, Collapse: How Societies Choose to Fail or Succeed (2005) que ando agora a ler, detém-se sobre as razões que levaram ao desaparecimento de várias civilizações no nosso planeta.

Para quem não tiver muito tempo, ou quiser um atalho para as ideias de Diamond, aconselho vivamente o visionamento do belíssimo documentário, Guns, Germs & Steel (2005) criado pela National Geographic que conta com o próprio Jared Diamond. Para tal uma simples pesquisa no YouTube retornará várias opções para ver os três filmes de 50 minutos cada.

junho 13, 2013

Grandes Livros: "1984"

Em tempos de Google, Facebook e o PRISM, é tempo de revisitar 1984, o livro que agora voltou aos tops de vendas dos EUA. Por isso resolvi trazer aqui o documentário, Great Books: "George Orwell's 1984", do Discovery Channel, que vi há algum tempo, e nos fala de Orwell e a escrita de 1984. O documentário fala-nos da ideias que terão inspirado Orwell a escrever 1984, a segunda guerra mundial, seguido pela fase dos medos da guerra nuclear. Acredito que em última análise, Orwell como jornalista terá percebido o poder e alcance das máquinas de propaganda totalitarista de Hitler e Estaline, e terá sido a partir daí que começou a desenhar a ideia do Big Brother na sua mente.



1984 de George Orwell é uma das obras de ficção científico-políticas mais relevantes do século XX, dado o momento em que surge, o tempo da guerra fria, e as previsões que faz, muito fáceis de ligar com os tempos que se viviam. O livro foi escrito em 1948, e projectado para 1984, ano em que toda a sociedade seria controlada através de sistemas de televisão, em que todos teriam a responsabilidade de se vigiar uns aos outros, em que tudo seria alegadamente "transparente". A obra entra pelos subterrâneos desta possibilidade ficcional e apresenta os seus piores problemas. Desmonta o momento em que as pessoas deixam de ser humanos para passarem a ser meras estatísticas, sem livre-arbítrio.

Em todos estes anos, tudo temos feito para caminhar nesta direcção, muito pouco se fez para o evitar, acreditando num "bem maior" que aqui é claramente exposto e desmascarado. Fica o documentário que podem ver no YouTube com legendas em português. Claro que depois de ver o documentário, aconselha-se vivamente a ler o livro, se ainda não o tiverem feito, a sua riqueza é insubstituível.

Great Books George Orwell's 1984 , (2000), Discovery Channel

O documentário tem 45 minutos, e está dividido em três partes. Aqui ficam os links para: Parte 2 e Parte 3

março 19, 2013

OffBook: "The Rise of Web Comics"

Esta semana a OffBook dedica o seu episódio quinzenal aos webcomics, uma forma de expressão recente potenciada pela internet. É um dos movimentos de nicho cultural e estético mais relevantes no meio web no que toca ao desenvolvimento de novas linguagens gráficas e interactivas, por isso tenho pena que o documentário se tenha ficado por três ou quatro exemplos apenas, e que tenha relegado para segundo plano tanto a componente interactiva como de animação.


Julgo que os editores quiseram claramente realizar uma separação entre os Web Comics, os Motion Comics e os Interactive Comics, mas no final acabamos por ficar com a ideia de que os webcomics, não são mais do que comics tradicionais em formato digital. Do meu ponto de vista isto é errado, porque web comics deveria servir para juntar tudo num mesmo patamar, já que um web comic pode ser qualquer um dos outros formatos. Além de que me parece que o meio se torna muito mais rico, e diria mesmo autónomo face à linguagem dos comics impressos.



O documentário acaba por se focar mais sobre a liberdade de expressão que o suporte web permite face ao suporte papel, à possibilidade de criação de nichos delimitados por gostos estranhos e "fora da caixa". Nesse sentido é muito interessante, e vale a pena investir os sete minutos. Por outro lado ficam de fora projectos excepcionais que mereciam destaque no sentido de serem impulsionados, no sentido de nos trazerem mais do que a mera aplicação em distintos suportes, a geração de novos modos de expressão e comunicação. Deixo-vos um trabalho nessa linha que vale a pena conhecerem depois de verem o documentário: The Random Adventures of Brandon Generator (2012).

fevereiro 25, 2013

entre a película e o digital

Side by Side (2012) é um documentário interessante sobre o momento de transição que atravessa a indústria cinematográfica a propósito da descontinuação da película e da invasão do digital. O documentário em si nao é nada de especial, falta ritmo e falta densidade informativa. Diz-se pouco de relevante e original sobre o assunto. Mistura-se suporte digital e imagem digital. Acaba por funcionar mais como um documento que permite guardar impressões de alguns dos principais actores no meio desta transição.


O final acaba por ser o melhor, quando se questiona o futuro do cinema, o futuro da película e do digital. As facções emergem, com uns a defender que o único meio de preservação do cinema que garante a sua permanência é a película. Por outro lado gostei de ver Steven Soderbergh a subverter esta ideia feita sobre o poder de preservação da película e a defender que não, que o digital sim permitirá algo que a película nunca permitiu, porque no futuro poderemos reconstituir qualquer obra digital tal como foi criada. O que é verdade, sabemos bem de todos os problemas que temos tido com os restauros de película que nos mostram hoje coisas no cinema que o próprio realizador não viu na altura.


No meio de todas as discussões ainda há tempo para a provocação do costume, sobre os baixos custos e o facto de todos agora poderem produzir um filme. Interessante ver como até aqui as facções emergem. De um lado os que acham que a democratização só trará lixo, do outro alguns que consideram que este é o futuro do meio, a democratização da criação. Desta conversa é impossível não reter a lucidez da afirmação simples e certeira de David Lynch,
"Everybody, and his little brother, has piece of paper and a pencil, but how many great stories have been written on that piece of paper. Now the same thing is going to happen in cinema."

Sobre isto quero apenas dizer que esta é a realidade, claramente que tivemos, temos e continuaremos a ter um incremento na produção audiovisual, tal como tivemos com a literatura, mas isso está longe de querer dizer que vamos ter todas as pessoas a criar, ou que isso per se é condição suficiente para surgirem melhores criações.

fevereiro 23, 2013

um vídeo DIY sobre criação DIY

Pequeno documentário brilhante sobre uma estilista brasileira que cria de modo totalmente independente e assente sobre os princípios do DIY. O documentário é em si mesmo uma homenagem a esses princípios da estilista buscando emular todo o lado manual, artesanal e bastante íntimo das técnicas criativas. A ver e a rever.


Helen Rodel diz, "quero desconstruir a ideia que as pessoas têm do tricô e do crochê" e com isto apenas lançou-se num modelo inovador criando uma nova corrente com recurso a duas técnicas manuais que tinham caído em desuso. Foi este detalhe, de repescar o antigo e torná-lo novo, que diferenciou o seu trabalho e lançou a sua carreira a nível internacional. O documentário apresenta estas ideias, e deixa-nos entrar um bocadinho adentro das ideias da estilista e do seu dia-a-dia marcadamente organizado em redor de aspectos criativos.

Helen Rödel (2011) de Estudos MMXI

julho 28, 2012

"Ilha das Flores", tão cruel e tão actual

O texto de produção de Ilha das Flores (1989) escrito por Jorge Furtado diz-nos que pretende "mostrar o absurdo desta situação: seres humanos que, numa escala de prioridade, se encontram depois dos porcos. Mulheres e crianças que, num tempo determinado de cinco minutos, garantem na sobra do alimento dos porcos sua alimentação diária."


O filme trabalha esta ideia de um modo bastante particular em termos de linguagem cinematográfica, quebrando com todas as convenções, géneros e estilos. Jorge Furtado começa sob uma lógica documental, fazendo uso de um tom pedagógico, que assume um posicionamento científico ao mesmo tempo que explora lógicas do absurdo.


Apesar dos absurdos a narração mantém-se sempre num tom documental, intocável emocionalmente, o que contribui para o aumento da perplexidade dos espectadores. Não se explora o choque na forma fílmica porque ele é simplesmente oferecido pela evidência dos conteúdos. O choque da crueza do conteúdo misturado com a intelectualidade do discurso contribui para o desenho da banalização com que limpamos muitos destes problemas das nossas mentes.


O filme procura desenvolver a apresentação das ideias através do relato da circulação do tomate desde a horta até serem comidos pelas crianças da Ilha das Flores. Pelo meio são discutidas questões como o que é o homem, o que é o dinheiro, o que é o lucro, tudo discutido e apresentado com ilustrações gráficas que nos levam a discussões mais amplas como o mercado livre e a globalização.


Jorge Furtado trabalha o discurso como uma farsa, uma farsa vivida por nós. Algo que de tão absurdo parece impossível, mas é real, tão real como a nossa indiferença. Talvez por isso tenha ganho o Urso de Prata para melhor curta em Berlim em 1990, entre vários outros prémios. A não-farsa termina com um verso da poetisa brasileira Cecília Meireles sobre a Liberdade.
"Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda."

Ilha das Flores (1989) de Jorge Furtado

Ilha das Flores tem um enorme potencial para uso em ambiente escolar. Nesse sentido deixo aqui uma ficha de trabalho proposta para a exploração das questões sociais fazendo uso do filme. Para além disso o filme pode ser encontrado no YouTube dobrado em Francês e com legendas do YouTube em Inglês que pode dar jeito para quem quiser usar em aulas de línguas.