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novembro 29, 2014

Voando sobre Pripyat e Chernobyl

Depois de aqui ter dado conta, por meio da fotografia assombrosa de Robert Polidori, do estado atual das cidades de Pripyat e Chernobyl, agora trago esse mesmo espaço visto por meio de vídeo, com sliders e drones, num trabalho espantoso de Danny Choke, que teve a oportunidade de aí se deslocar no âmbito da reportagem "Chernobyl: The catastrophe that never ended" (2014) para o "60 Minutes" (CBS).




Nas notas ao filme "Postcards from Pripyat, Chernobyl", Danny Choke dá conta da sua experiência pessoal vivida em 1986, quando com um ano apenas e vivendo em Itália, a sua mãe se viu obrigada a acorrer à compra de leite enlatado para o poder continuar a alimentar, isto porque as autoridades davam conta de uma nuvem radioativa que se aproximava do território italiano, a partir do acidente nuclear ocorrido em Chernobyl.

"Postcards from Pripyat, Chernobyl" (2014) de Danny Choke

O filme criado por Choke mostra pela primeira vez imagens aereas do espaço e com movimento, contribuindo para um renovar do nosso espanto com o lugar. Se as primeiras imagens a chegar do local, dando conta de todo aquele verde e abandono humano, já eram impactantes o suficiente, estas novas imagens, com a introdução do movimento e pontos de vista aéreos, servem no incremento do nosso imaginário, deslumbrando pela qualidade e novidade. A banda sonora utilizada, "Promise land" de Hannah Miller, funciona muitíssimo bem na ampliação do etéreo da atmosfera.

setembro 24, 2014

Do outro lado do muro

"Greenfields" (2013) é mais uma belíssima animação de licenciatura da escola Supinfocom. Realizada por Luis Betancourt, Benjamin Vedrenne, Joseph Coury, Michel Durin e Charly Nzekwu em Junho de 2013.



Uma pequenina história que toca num ponto central da discussão sobre modelos e ideologias de regimes políticos. A distopia é apresentada, fazendo-nos lembrar os países por detrás do muro soviético de outrora, dado o salto, somos dados a ver o outro lado da realidade, da potencial sociedade capitalista. Simples, mas forte, capaz de nos questionar sobre muito daquilo que fazemos todos os dias, e porque fazemos...

Em termos técnicos temos um bom trabalho de fusão entre 3d e texturas com sabor a 2d, tudo renderizado com efeitos de outline 2d, criando toda uma estética analógica, autêntica e autoral. O melhor acaba por ser a própria realização que nos conduz e nos entrega o mundo, surpreendendo-nos e sugando-nos para a discussão que se quer lançar.

"Greenfields" (2013)

junho 17, 2014

A animação no jornalismo

O New York Times é conhecido por investir em múltiplas formas de expressão para comunicar com os seus leitores, mas foi com alguma surpresa que descobri que agora também o faz por meio de filmes de animação. A coluna Modern Love do jornal que já tinha direito a ilustração, passou a ter também direito a uma extensão em animação. Já existem na página da coluna vários trabalhos publicados, mas o desta semana é deveras surpreendente, a história é muito boa e a animação eleva toda a sua expressão dramática.


"Tim and Sarah McEown never saw their 22-year age difference as an obstacle in their relationship, until Tim had a heart attack."

A animação foi criada por Freddy Arenas, reconhecido motion designer, que procurou aqui adaptar a linguagem do motion, mais abstracta e menos narrativa, à linguagem mais canónica da animação, de representação e storytelling. O Motiongrapher fez-lhe uma pequena entrevista que vale a pena ler assim como analisar os storyboards que aí nos são apresentados.

"Modern Love: Beyond Years" (2014) de Freddy Arenas

maio 18, 2014

A montagem e a câmara orgânica

Priorities” é a mais recente curta do jovem e brilhante realizador de animação da Letónia, Gints Zilbalodis. A sua animação anterior, "Acqua" (2012), tinha já sido recebida com muito aclamação na rede, apresentando um estilo único e pessoal. Com “Priorities” Zilbalodis vai além da linguagem da animação e do cinema, constrói toda uma nova forma de "ver", que em parte deve a uma paisagem visual cada vez mais definida pelo mundo dos videojogos.



“Priorities” tem uma boa história, que se torna ainda mais encantadora quando descobrimos a metáfora pessoal que lhe subjaz (ler abaixo depois de ver o filme). Mas aquilo em que o filme nos entranha é o seu aspecto formal experimental. O filme tem 10 minutos, mas apenas 4 planos, algo impensável em 2014, como ainda ontem se discutia no IV Encontro da AIM. Por outro lado o comum espectador dificilmente se dá conta de que está na presença de um filme de apenas 4 planos. A razão para tal prende-se com a forma como a câmara é usada, que deve claramente ao trabalho de Cuarón em "Gravity" (2013), e que Zilbalodis refere como o seu filme preferido de ano 2013.

É no entanto muito interessante reflectir sobre este uso da animação da câmara, algo que até aqui estava mais ligado ao mundo dos videojogos. Nesse domínio há muito que se trabalham algoritmos, técnicas e modelos para controlo de movimento de câmara, muitas vezes incluindo inteligência artificial capaz de dar resposta por parte da câmara aos movimentos rápidos em ambiente de jogo. “Gravity” pelo seu lado recorre ao movimento de câmara para simular algo muito específico, a flutuação espacial ou ausência de gravidade. Mas em “Priorities” não temos nenhuma destas condições ou objectivos, Zilbalodis simplesmente experimenta esta abordagem estética para contar a sua história, e fá-lo de forma absolutamente brilhante, tendo explicado ao SotW o que procurava,
“I wanted it to look as organic as possible and the cinematography to be imperfect. The continuous shot workflow helped me see the film as a whole and not get lost in details. The long takes limit the story to unfold in real time. In a more traditional style of cutting, it’s easy to skip over the unimportant parts of the story to keep it entertaining. But since the story is very simple and there’s not much of a plot I didn’t have to skip over anything, the story fit the style very well.”
Claro que se torna inevitável pensar nas complexidades e constrangimentos que advém desta escolha estética. E desengane-se quem pensa que por se tratar de animação criada por computador, é tudo muito mais fácil do que criar um plano sequência, como a famosa abertura de "Touch of Evil" (1958) de Welles. Como diz Zilbalodis “If I changed just a small detail, the whole scene had to be rendered again”. Para compreender o processo em detalhe é muito interessante ouvir a descrição do processo numa numa entrevista dada One Small Window,
“I had never made a CGI film before. I learned by trial and error. For example, only when I had finished the character rigs I would start to learn how to animate. By doing that I made a lot of mistakes, but a lot of happy accidents too. Almost everything was done in Maya. The characters, the environment and most of the effects animation. Each of the 4 shots was a separate Maya file. I would start by very roughly matching the storyboards. At this stage, the characters and the camera are just floating from point A to point B and the environment consists of only the most important objects that are essential to the story. I tried not to separate any of the processes and would simultaneously animate the characters and tweak the environment to find a better frame. This approach is only possible if a single person is doing it. After the camera is animated, I would look through it and only add details that can be seen on screen. I did the same for character animation. Once a certain limb leaves the frame it freezes midair and becomes animated when enters it again. That means if the camera would be tilted just slightly the illusion would break. This method not only saves a lot of time but also helps to focus on what’s important to the story. I then rendered each element separately and imported them into After Effects. There I added some minor effects like the flares and smoke from them. I used masks to add shadows on the characters. And finally on top of everything I added photographic effects like diffusion, chromatic aberration and film grain, which when used subtly adds reality and blends all of the elements together.”
Priorities (2014) de Gints Zilbalodis

Depois de verem o filme, e terem atribuído a vossa interpretação pessoal ao que viram e ouviram, leia a metáfora pessoal que esteve na base do filme,
“The idea is very personal to me. Like the main character in the story, when I have a large goal in mind I spend all of my energy to reach it. For me the goal is to finish the film and for the character it’s the lighthouse. I become so lost in the work that everything else around me seems to be out of focus. But there are good friends like the dog character who remind me to step out of the cave and live a little.”

maio 07, 2014

"Dream big, little one"

"Anya" (2014) é uma curta de animação deliciosamente emocionante, criada pela Brown Bags para promover o trabalho da ONG "To Russia With Love". O número de crianças em orfanatos na Rússia é bastante elevado e esta ONG dedica-se a criar melhores condições nos mesmos, assim como a procurar famílias de acolhimento. Nesta curta de cinco minutos podemos ver como os efeitos de melhores condições para crescer podem conduzir a uma vida que dará frutos... É um filme forte, com o objectivo de sensibilizar as pessoas a contribuírem para a causa.


"Dream big, little one."
"The idea was simple; we make an engaging piece of animation, one that ideally packs an emotional punch.
If people are charmed or moved by it, they show their appreciation by sending a donation directly to To Russia With Love.
Unlike an advert, people are more likely to share a film online with friends or family, which of course helps spread the word about the charity. It’s ‘visual busking’ in a way. We’re all used to charity singles and calendars, so we applied the same approach to a full five minute computer animated film instead."
 Damien O’Connor
 
"Anya" (2014)

DONATE

maio 01, 2014

A amizade nas curtas de animação

Interessante como nos últimos tempos, nomeadamente no ano de 2012, o conceito de amizade se tornou motivo de várias curtas de animação. “The Reward” (2012) foi o primeiro a chegar à rede, no início de 2013, pouco depois de ser criado no Animation Workshop (Dinamarca). Já no início deste ano vimos “Junkyard” (2012) chegar à rede, depois ter passado mais de um ano a conquistar prémios em vários festivais. Entretanto agora chega-nos “Left” (2012), o filme de graduação de Eamonn O'Neill, realizado no Royal College of Art (UK). A abordagem de "Left" não tem propriamente a ver com a de “Reward”, estando no entanto muito próxima de “Junkyard”, apesar disso julgo que formam os três uma espécie de hino da animação aos valores da amizade, falando sobre o que a fortalece, assim como sobre aquilo que a faz sucumbir.



Como filme, "Left" apresenta-se através de uma ilustração minimal, tanto no ambiente como na expressividade dos personagens, que conjuntamente com as performances de voz conferem um carácter intimista ao trabalho, funcionando para a criação de uma atmosfera que questiona o espectador, o faz recordar e recuperar memórias do seu passado, gerando momentos ricos de introspecção.

Left” (2012) de Eamonn O'Neill

abril 15, 2014

storytelling "noir"

"Francis" (2013) é uma curta de animação que podia ser de imagem real, capaz de criar toda uma atmosfera particularmente cativante e envolvente do tipo noir. Todos os elementos de animação, modelação, luz, música, voz off funcionam em total sintonia e ao serviço da narrativa, carregando o espectador ao colo, colocando-o bem no centro da acção, imerso, sem se conseguir mexer, à espera de saber o que irá acontecer.



A história surgiu de um concurso lançado por Ira Glass no programa de rádio ‘This American Life’. Uma das histórias vencedoras foi “Francis” escrita por Dave Eggars, que depois de lida no programa gerou tanto interesse que Eggars resolveu avançar para a transformar em filme com a ajuda de Richard Hickey. Na realidade, a história de Eggars está tão bem estruturada que quase só a sua dramatização audio seria suficiente para nos agarrar. Aliás "Francis" segue em toda a linha aquilo que Glass referiu numa entrevista a propósito dos aspectos criativos do storytelling.

"Francis" (2013) de Richard Hickey

abril 05, 2014

De um segundo para o outro

Werner Herzog criou um documentário sobre os efeitos do texting (escrita de SMS) na condução automóvel. O documentário surgiu como uma encomenda da AT&T para criar inicialmente alguns spots publicitários de apelo, tendo depois acabado por se transformar no documentário "From One Second To The Next" (2013).



Herzog filmou quatro casos de acidentes duros, motivados pela desatenção causada por conduzir e escrever SMS ao mesmo tempo. Parece quase impossível, mas é tão real. Uma simples desatenção, um segundo apenas a olhar para baixo, a escolher a letra, a ler a palavra, e é o suficiente para arrancar uma criança das mãos de um familiar. Por outro lado, quem o faz, não fica melhor, sabendo que se tivesse deixado o telemóvel parado, teria evitado todos os filmes de terror que agora lhe passam pela cabeça vezes sem fim. Herzog apresenta através de uma imagem límpida e cheia de vida, o drama pela voz dos intervenientes, que se emocionam, e nos emocionam.

"From One Second To The Next" (2013) de Werner Herzog

Sempre usei muito pouco os SMS, mas tenho notado que as pessoas também começaram a usar menos, por outro lado usa-se cada vez mais o Facebook, e vejo cada vez mais posts colocados a partir de carros. Por favor, não acedam ao facebook quando conduzem. Seja para escrever, seja para verificar se alguém já "gostou" da vossa última mensagem, em vez disso ouçam rádio, música, podcasts ou audiobooks.

abril 04, 2014

Poema à criatividade e à vida

Grande poema audiovisual de Salomon Ligthelm, um criativo que trabalha em filme e música. Ligthelm recorre ao que melhor sabe fazer, o filme com uma cinematografia soberba e uma música atmosférica, e disserta sobre o cruzamento entre a vida e a criatividade, no pequeno filme "The Great Abyss" (2014).


Quando nos tornamos pais, o nosso mundo muda, o mundo à nossa volta ganha novos sentidos, aprendemos, crescemos, e como diz Ligthelm, "rendemo-nos", mas isso não nos torna menores, antes pelo contrário... Fica o filme, e abaixo o texto que transcrevi.

“I’ve to work hard, to make anything good… Every artist has some form of insecurity… About what they create… Is it good enough? It’s going to stay at the top? Still speak to people? Is it going to loose relevance?

You can’t worry about these things. You have to create, things there are truthful… truthful to yourself, authentic, and honest… and resonant with these experiences and situations that you gone through…

Often wish there I got to hardest things in life. So it makes my heart richer in some layer, questioning my own identity for some reason. I kind of have to deal with my existence being wrapped up by what I do… And I was confronted with that… I realised that when I had a kid… I want to be very okay with being a dad…

‘Have you surrendered yourself to the great abyss’. Have you come to the end of yourself… when you realise it’s not about you… it’s not about all your talents… because all those things form this persuasive reality, where you find all your validation in what you do… and if you surrender yourself to it, then those things don’t become as important, and you find your creativity again. You find out the reason why you create.

Creativity is fathers. It’s not for yourself. It’s to serve others.”

março 21, 2014

Da banda desenhada para animação

O artista de banda desenhada Rafael Grampá (Brasil) desenvolveu uma belíssima curta 3d, Dark Noir (2014), com a dupla de criativos Mario Ucci e Rick Thiele (Red Knuckles), para o Facebook e para a Absolut. A Absolut patrocina o evento, #NextFrame, através do qual a curta foi produzida, e o Facebook facilitou o processo criativo, no sentido de permitir a Grampá entrar num processo colaborativo de discussão da ideia de toda a animação com os seus fãs.



Se o processo criativo acaba sendo aquilo que mais promove a discussão à volta do trabalho, a mim o que mais me chamou à atenção foi o trabalho visual 3d conseguido pela dupla Mario Ucci e Rick Thiele, conhecidos pelo seu trabalho nos videoclips dos Gorillaz, assim como participação em inúmeros efeitos visuais para o cinema e spots publicitários. Chegaram a estar na Passion Pictures como Directores Criativos, mas saíram entretanto para continuar a trabalhar na área da animação.

Olhando para os portefólios de cada um será fácil de perceber que a assinatura da estética dos personagens 3d é de Mario Ucci, principalmente se olharmos para os seus trabalhos à óleo. A sua abordagem, na senda de Francis Bacon, confere-lhe uma abordagem visual particular que de alguma forma transpira para os personagens 3d de Dark Noir. Estou a falar claramente da impressão realista criada pelos shaders e luz na pele dos personagens que os faz parecerem reais, feitos de cera. Além disso a combinação que é depois realizada com os personagens 2d de Grampá é muito boa, sem qualquer dificuldade a diferença de registo estético permite-nos perceber que estamos a falar de dimensões do universo distintas.

Dark Noir (2014) de Rafael Grampá 

fevereiro 13, 2014

A condição da amizade numa animação dramática

"Junkyard" (2012) é um trabalho absolutamente impressionante do ponto de vista visual, ao ponto de apetecer parar a cada mudança de plano, para ficar ali a contemplar. Criado por Hisko Hulsing que se envolveu na animação "por mero acaso" enquanto estudava Pintura na Academia de Artes de Roterdão. É inevitável identificar nesta animação o impacto da arte da pintura, que torna o filme um trabalho único do ponto de vista estético. Não é por acaso que ao longo de dois anos foi aceite em mais de 100 festivais e premiado 22 vezes. Respira-se detalhe nesta obra, e a isso não é alheio, de forma alguma, o facto de ter estado em produção mais de 6 anos.




Em termos mais específicos o trabalho não vive apenas da beleza visual, Hisko Hulsing apresenta um enorme savoir-faire técnico no campo do storytelling, sendo capaz de gerir muito bem a informação que vai dando, o suspense que vai criando, por meio de uma narrativa complexa que assenta num conjunto de flashbacks em paralelo com a realidade do presente. Claro que contribui imenso para a gestão do storytelling a forma como é composto cada quadro do filme, já que estes não se limitam a ser belos, eles são profundamente narrativos.
“A man is robbed and stabbed on a metro train. As he lays dying, a friendship from his youth flashes before his eyes.”
Se em termos formais temos excelência, o tema e a história apresentam tanta ou mais excelência. Tratando a temática da amizade, fá-lo de modo a tocar os interstícios da condição humana, e a subjugar assim, o receptor à força desse sentimento. Tudo em menos de 20 minutos.

"Junkyard" (2012) de Hisko Hulsing

[via Short of the Week]

janeiro 06, 2014

"Abita", crianças de Fukushima

Fukushima foi palco de um enorme desastre radioativo após um tsunami que varreu a costa do Japão em 2011. A discussão em redor da libertação de radiotividade da central nuclear e os seus efeitos na população tem sido bastante limitada. Nesse sentido Shoko Hara, japonesa a residir na Alemanha, resolveu fazer o seu filme de fim de curso em Media Design na Universidade Estatal Cooperativa de Baden-Württemberg (DHBW), juntamente com o seu colega de curso Paul Brenner, sobre as crianças de Fukushima que não podem brincar na rua.

"Abita", animated short film about Fukushima children who can't play outside because of the radioactivity. About their dreams and realities.

"Abita" (2012) foi apresentado em vários festivais de animação, e continua a concurso em vários outros. Em 2013 ganhou o prémio de Melhor filme de Animação no International Uranium Filmfestival, Rio de Janeiro, 2013. Em termos técnicos temos uma brilhante fusão entre 3d e ilustração a aguarela, o que lhe confere um caráter atual mas tradicional ao mesmo tempo. As pequenas fragilidades de câmara e de animação de personagem são fortemente compensadas pela animação do traço a aguarela. Por outro lado a mensagem que o filme transporta, de tão forte faz-nos esquecer por momentos que estamos a ver uma simples animação, convertendo-nos àquele universo, àquela idea, empatizando com aquela, e milhares de outras crianças, que vivem hoje naquela cidade.
"O simbolismo japonês foi uma fonte de inspiração em nosso filme. A Libélula representa a primeira ilha japonesa, por causa de sua forma. A libélula também simboliza a esperança, a perspectiva, o sonho, a energia no Japão e une todos os elementos naturais como água, terra e ar. O desastre de Fukushima acabou destruindo estas energias positivas, contaminando a água, terra e o ar - assim deixando as crianças sem qualquer perspectiva para o futuro. As libélulas no Japão são portadores de fertilidade - agora comprometida pela radioatividade." Shoko Hara

"Abita" (2012) de Shoko Hara e Paul Brenner

novembro 25, 2013

Gravity e o poder do transmedia

Acabo de ter uma experiência profundamente reveladora daquilo que é um objecto transmedia e do seu poder emocional. Aningaaq (2013) é uma curta-metragem realizada por Jonás Cuarón, filho de Alfonso Cuarón o realizador de Gravity (2013) [análise]. Ambos tinham colaborado na escrita de Gravity, e agora Jonás apresenta-nos uma curta que expande uma cena concreta do filme, o momento em que a Drª Ryan Stone tenta comunicar com a Terra e apanha alguém que não percebe inglês.



Aningaaq é uma curta que ganha leituras adicionais para quem viu Gravity, assim como Gravity ganha depois de vermos Aningaaq. Apesar de não precisarem um do outro, a sua junção na nossa cabeça, cria um novo espaço narrativo que multiplica e aprofunda os sentidos de ambas as obras. Ou seja, é como se Gravity fosse uma base narrativa de partida capaz de garantir elos de coerência narrativa aos objectos que a ele se ligam.

Esteticamente ambos os objectos seguem uma estilística semelhante, optando por se cruzar apenas ao nível do som. Nem em Gravity vemos Aningaaq, nem em Aningaaq vemos Gravity. Estamos em pontos geográficos distintos, com atmosferas totalmente distintas, é apenas a voz e o som que une os dois filmes. Do processo de ligação racional entre os dois artefactos, passamos rapidamente à ligação emocional quando sentimos a música de Steven Price que nos atira experiencialmente de volta para o universo de Gravity. Ou seja, apesar de ambos procurarem a sua individualidade e autonomia, existe uma umbilicalidade muito grande entre os dois, que praticamente os torna num só. E é isto para mim o transmedia, a capacidade para gerar uma multiplicidade de dimensões, a partir de novos objetos, mantendo uma identidade narrativa coesa e una.

Aningaaq (2013) de Jonás Cuarón

outubro 29, 2013

efeitos da multidisciplinaridade entre ciência e arte

Faz-nos falta esta visão americana do ensino, em que a multidisciplinaridade é verdadeiramente aceite, e vista como uma mais valia para o sujeito. Xiangjun Shi acaba de se licenciar no Programa Dual Brown-RISD (parceria entre a Brown University e o Rhode Island School of Design) em Física e em Animação. Ou seja, foi possível combinar aqui uma ciência dura com uma arte que ainda nem sequer aparece no panteão das Belas Artes. Isto seria impensável na Europa, menos ainda em Portugal. Os resultados, estão à vista, vejam abaixo Why Do I Study Physics? (2013).


É claro que esta multidisciplinaridade não é para todos. Só uma minoria pode almejar realizar este tipo de cruzamentos que apresenta exigências altamente diversas, com caminhos difusos, e ainda por trilhar. Isto requer não apenas uma enorme motivação, mas enorme proactividade e humildade por parte do aluno. Mas também é por aqui que podemos vir a criar novos caminhos, novo pensamento, e assim incrementar a nossa criatividade.

Aliás, o filme de Xiangjun Shi é um contributo essencial para sociedade em termos de dar a conhecer o mundo mais abstracto da Física. O que podemos experienciar neste filme, só muito dificilmente poderia ser feito por alguém sem estes dois backgrounds. Conseguir transformar em imagem, ideias e conceitos tão distantes das metáforas que facilmente reconhecemos, em algo tão acessível e facilmente compreensível por nós, leigos em Física. Vejam mais trabalhos de Xiangjun Shi na sua página.

Why Do I Study Physics? (2013) de Xiangjun Shi

outubro 10, 2013

impressionismo poligonal

La Nuit de l'Ours (2011) foi apresentada já há três anos em Annecy, no Anima Mundi e na Monstra, mas como só agora a vi, aqui a trago para quem ainda não conhece. O filme foi criado num workshop de animação na Bélgica por três alunos - Pascal Giraud, Alexis Fradier e Julien Regnard.



Existem vários elementos a destacar neste filme, mas o que mais me tocou foi, sem dúvida, os cenários criados por Pascal Giraud em Photoshop. São absolutamente soberbos na forma como trabalham uma espécie de impressionismo no digital, no sentido em que constroem o esbatimento ou desfocagem do real a partir da manutenção de um aspecto poligonal das formas. Ao ponto de por vezes ficar a dúvida se o filme tem, ou não, alguma base 3d. Depois sobre a camada da forma escorre toda uma luz e um brilho que quase nos ofusca, e cria um deslumbre perante a atmosfera que se gera ali. Por outro lado este brilhantismo perde no lado dos personagens, que são claramente criados por um outro elemento do trio, e seguem uma outra estética, muito mais recortada e delineada.

A animação em si é bastante fluída, contribuindo com um ritmo pausado para a melancolia própria que o filme procura imprimir. A animação foi trabalhada no TVPaint, com algum suporte de After Effects, e ainda algum Cinema 4d para agilização das câmaras.

No campo narrativo, o filme apresenta um história forte, uma espécie de parábola sobre o confronto entre espécies, denotando os efeitos das diferenças e semelhanças, e os seus territórios.

La Nuit de l'Ours (2011) de Pascal Giraud, Alexis Fradier e Julien Regnard

julho 11, 2013

viagem espacial interstelar

Belíssima viagem, ao futuro próximo das viagens interestelares com Project Kronos (2013) de Hasraf HaZ Dulull. Existe um problema na realização de missões longas que está relacionado com a nossa biologia. Nesse sentido o Project Kronos é uma espécie de tentativa de dar a volta ao problema, mantendo o ser humano no centro.


O filme, funciona como um documentário, ainda que saibamos que é falso pois situa-se em 2035, mas está bem conseguido, porque nos leva a levantar as barreiras da descrença, e por momentos a acreditar no que estamos a ver. Ou pelo menos, a equacionar, a possibilidade daquilo que nos está a ser apresentado, vir um dia a ser possível.

Genevieve Okupniak do Short of the Week criticou a ausência dos três actos no storytelling, mas discordo completamente. É verdade que inicialmente nos sentimos um pouco perdidos, mas é aí que reside a magia do storytelling. A forma como foi desenhado o enredo, ficamos totalmente a mercê do que nos vai sendo revelado, e à medida que se aproxima do final, só queremos saber mais, e mais, e mais. Ou seja, objectivo narrativo, totalmente atingido.

Project Kronos (2013) de Hasraf HaZ Dulull

Se tiverem interesse, em indagar mais sobre o conteúdo do filme, deixo o link para um texto de Greg Fish do weird things, que discute os muitos "se's" do filme.

abril 29, 2013

antropomorfia realista

5m80 (2013) é um trabalho de Nicolas Deveaux para a produtora francesa de 3d para publicidade, a Cube Créative. Deveuax saiu da Supinfocom em 2002, e pouco depois realizava 7 tonnes 3 (2003). 5m80 é um voltar atrás 10 anos, e criar uma continuação para 7 tonnes 3.


O que temos aqui é algo que de tão estranho se entranha em nós. A fusão de dois universos tão longínquos, tão bem conseguido que ao fim de algum tempo começam a fazer a sentido, e nós próprios nos surpreendemos por isso. O realismo gráfico é impressionante, assim como a naturalidade dos movimentos, bem ritmado, sem simetrias fáceis. Não tem um objectivo narrativo, procura apenas surpreender e abrir a nossa curiosidade.

abril 26, 2013

"A Story About Robots" (2013), simples e perfeito

Uma pequenina animação tão cheia de emoção e questionamento. Tão simples quanto um pequeno robô que sente o emergir de consciência do belo quando encara "O Beijo" (1908) de Gustav Klimt. É um projecto sem respostas, nem delongas, é um minuto e meio de puro encantamento adentro da análise da singularidade tecnológica. Um filme criado pela espanhola Paramotion Pictures.



Claro que tudo isto ganha uma maior importância quando o trabalho visual é de elevada qualidade. Quando o 3d e o "camera match" é perfeito, quando a cor e atmosfera são perfeitas, quando se tem uma noção perfeita do uso do enquadramento para contar uma história. É perfeito.


"A Story About Robots" is an animation short film, is a personal project we did on the weekends, made in Spain, in a small village called Segovia, with lot of love no budget. The backgrounds were photographed with Canon 50D. All the camera movements and travellings were made in stop motion. The robot was elaborated with 3D Studio Max and the integration with After Effects."

abril 24, 2013

Motherland = Metropolis + 300 + CryEngine

Motherland (2010) trabalha um tema já bastante visto, com uma técnica visual igualmente bastante utilizada, no entanto consegue fazê-lo com tanta qualidade técnica que nos deixa colados ao ecrã até ao final. Como se não bastasse, temos ainda todo o mundo virtual a ser criado sobre o motor de jogos CryEngine. Tudo isto é um projecto de estudante de fim de curso do Institute of Animation Filmakademie Baden-Württemberg.




Como filme de estudante, resulta de uma reflexão sobre o tema da propaganda, e análise estética do tratamente gráfico dado ao tema, nomeadamente nos anos 1920 e 1930. Assim no campo do tema, é inevitável pensar em 1984 (1948) de George Orwell, e desde então todas as suas variações. Já em termos estéticos, temos aqui uma colagem entre a composição e arquitectura de Metropolis (1927) de Fritz Lang e a saturação e o excesso visual de 300 (2006) de Zack Snyder. O resultado final é um trabalho visualmente poderoso, totalmente focado na força da sua ideia.





Muito interessante saber que todos os cenários 3d foram "filmados" dentro do CryEngine da Crytek em tempo real, o que contribui ainda mais para a exuberância técnica do trabalho apresentado. Um motor de jogos está longe de ser um sistema com a capacidade de renderização final de um pacote de software dedicado, ainda assim apresenta outras vantagens como no diz o realizador, que agora trabalha na Crytek,
"Using a real-time 3d engine gave the director more freedom and interactive feedback when building environments, lighting and planning camera moves while decreasing render and waiting times multifold."
Motherland (2010) de Hannes Appell

abril 22, 2013

"Caldera", o mundo interior da esquizoafectividade

Mais um filme de animação que procura dar a ver estados mentais inacessíveis ao exterior. Neste caso Caldera (2012) dá-nos uma visulização imaginada dos estados mentais de quem sofre de trantorno esquizoafectivo. O filme assume um tom pessoal, já que o autor se baseia na doença do seu pai. Fica o seu manifesto,



CALDERA is inspired by my father's struggle with schizoaffective disorder. In states of delusion, my father has danced on the rings of Saturn, spoken with angels, and fled from his demons. He has lived both a fantastical and haunting life, but one that's invisible to the most of us. In our differing understanding of reality, we blindly mandate his medication, assimilate him to our marginalizing culture, and entirely misinterpret him for all he is worth. CALDERA aims to not only venerate my father, but all brilliant minds forged in the haunted depths of psychosis.
Em termos visuais, não gostei da modelação da face, demasiado lisa, perde alguma densidade que podia ser utilizada em certos momentos. Embora também se possa ler como a cara de alguém que sofre de distúrbios emocionais. Por outro lado o trabalho realizado ao nível das cores foi capaz de criar verdadeiros momentos de deleite, dá vontade de parar o filme e ficar a admirar certos frames.

Caldera esteve em concurso em vários festivais académicos - Siggraph Asia 2012 e Ars Electronica 2012 - e foi premiado no Seattle International Film Festival e no Rome Independent Film Festival.