outubro 19, 2019

Another Day of Life (2018)

Soube que o filme estava a ser feito há um par de anos, através dele cheguei ao livro "Mais um Dia de Vida" (1975) de Ryszard Kapuściński que li no ano passado e muito me tocou, por isso ver o filme era obrigatório. Raul de la Fuente, seguindo uma estética próxima da criada por Ari Folman para o brilhante "Waltz With Bashir" (2008), entrega um filme que de certeza faria Kapuściński sentir-se orgulhoso, porque refletindo tudo o que está no livro, nos dá a ver um pouco além desse, por via do acrescento de imagens e entrevistas reais dos dias de hoje com alguns dos principais intervenientes na história por ele contada. É um filme para ver, rever e refletir, ainda que não seja tão duro como o livro, porque a animação de tão bela, e algum pudor por parte dos criadores, fazem sentir toda a tragédia como algo mais leve. Mas essa era a intenção de De La Fuente, fugir ao excesso dramático próprio de uma guerra, para poder contar e desvelar a História, tendo-o conseguido com brilhantismo.





Ryszard Kapuściński

Em termos técnicos, o filme consegue elevar-se e apresentar quase sempre níveis de excelência, muito graças à técnica de animação utilizada, motion capture, que permitiu acelerar todo o processo de criação, ainda que a produção tenha durado entre 3 a 4 anos. Contudo, não raras vezes surgem alguns planos e cenas menos inspiradas, comparando novamente com "Waltz With Bashir", faltaram alguns rasgos mais profundos de criatividade visual. Mas nada que pudesse impedir o filme de ser premiado em múltiplos festivais, porque acaba sendo um belíssimo filme e uma grande homenagem a todos os envolvidos.

Recurso ao 3D para importar os dados do motion-capture.

O 3D sendo pintado para se assemelhar a um 2D, e assim perder muito do efeito artificial que o motion-capture tende a introduzir.

"Confusão: it's a good word. A synthesis word. An everything word. Do you feel confusão too?"

Sobre o que nos conta a história, prefiro deixar apenas o link para a resenha que fiz antes do livro homónimo. No filme, parece-me que foi dado maior destaque à questão da Guerra Fria, da luta entre as forças socialistas suportadas pela URSS e Cuba, e as forças capitalistas, suportadas pela África do Sul e os EUA. No final, e mais impactante no filme do que quando saiu o livro, é perceber que depois da suposta vitória e da Declaração de Independência, a Angola continuaria em guerra, por mais 27 anos, até 2002.


O filme pode ser visto online no site português de cinema independente: FilmIn.

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