novembro 01, 2007

Uma Nova Espécie

O novo filme da Dove foi realizado pela agência Ogilvy & Mather de Toronto e a sua direcção artística pertence a Tim Piper. Mais um filme publicitário que trás implícita não só uma mensagem mas ferramentas de desconstrução visual que poderão ajudar a sociedade a "olhar" o mundo por detrás do plasma de modos diferentes. Filme produzido para a chamada "Campanha para a Beleza Real" da Dove. No vídeo pode ver-se o processo e as ferramentas que operam sobre a modelo para criar a chamada beleza "perfeita"

No wonder our perception of beauty is distorted.

Optei por extrair as imagens do filme porque permite uma análise mais cuidada do que é que foi transformado e verificar de forma chocante que a pessoa que aparece no outdoor no final já não é a mesma. 
O processo intermédio da maquilhagem física transforma um rosto feminino num rosto mais masculino mais poderoso atribuindo-lhe maçãs no rosto, uma face e queixo mais largos. Por sua vez a maquilhagem virtual transforma esse rosto masculinizado em algo mais angélico através de um pescoço inexistente, um nariz e lábios simétricos mas acima de tudo através da enorme quantidade de brilhos adicionados à pele e lábios. É caso para perguntarmos, como é possível equacionar beleza numa face que já não apresenta uma coloração de pele mas sim um branco de papel de parede.


 
Mas mais chocante é que esta cara não é nem poderia ser de um ser humano. Repare-se na simetria facial, repare-se na ausência de expressão, na ausência de singularidade, em suma, um ser criado pelo homem à imagem da racionalidade da beleza longe da sua forma orgânica e natural.
A Dove faz parte do pacote de anunciantes que se juntaram para criar o denominado programa de Literacia dos Media o Media Smart que vai iniciar-se brevemente em Portugal. Não posso deixar de defender aqui este movimento que apesar de ter contornos comerciais, não deixa de ser uma mais valia no imenso vazio do ensino da Representação Visual das nossas escolas. Ontem ouvia na TSF uma professora dizer que isto era como "colocar o Lobo a tomar conta das ovelhinhas". Realmente a metáfora parece aplicar-se que nem uma luva, mas isso assim é, se pensarmos a publicidade numa lógica de persuasão a qualquer preço. Não me choca nada pensar que empresas privadas possam ter uma atitude de serviço público. Aliás não é por acaso que existe a denominação PSA (Public Service Announcement) para filmes que tenham um intuito de serviço público que funcionam como alerta e apelo - campanhas rodoviárias ou de reciclagem, as lutas contra a sida, o racismo, a tortura, o tráfico sexual, etc.

Para finalizar fica o filme ainda da Dove mas realizado especificamente para o programa Media Smart, que tem neste caso específico, um target feminino dos 13 aos 16.

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