maio 18, 2012

Storytelling é "1 + 1 = 3"

Dou aulas de storytelling há vários anos e nas aulas decorrem sempre discussões em redor das possíveis formulas ou padrões ideais para contar uma boa história, seja num filme, num livro ou num videojogo. A verdade é que por mais que academicamente tentemos desmontar o sistema narratológico, dividi-lo nas unidades mais ínfimas, em categorias e parâmetros, os resultados ao nível da recepção continuam a ser um mistério.


Num belíssimo pequeno filme de Sarah Klein e Tom Mason para The Atlantic, Ken Burns, um documentarista americano estabelece o efeito do storytelling através de uma simples fórmula matemática: "1+1=3". Ou seja ao contrário do racional, a emocionalidade do efeito do storytelling acontece quando algo maior do que a soma dos elementos da história surge.

Para além disto Burns diz algo, que ando a dizer há anos, e que não é fácil trabalhando no meio das ciências da comunicação, mas é uma constatação da realidade, e que é o facto de que todo o processo de contar uma história é um acto de manipulação dos receptores. É algo que por mais que se queira fugir, alegando neutralidade, alegando a descrição da realidade, dos factos etc. no fundo existe sempre alguém que elabora uma visão de algo. É um filme com apenas 5 minutos, mas vale todos os segundos.

‎"On Story" (2012) Ken Burns

[via Brain Pickings]

maio 17, 2012

Crioestaminal: da culpa irreversível

O novo anúncio da Crioestaminal é do ponto de vista ético, um desastre. Está escrito por forma a apelar a uma ideia na qual os autores do filme acreditam ser a única verdade possível, e dizendo a quem não concorda com eles, que estão completamente errados. Mas não se fica pela atribuição de valor moral, e apresentação da sua posição, e aqui é que fica ferido de morte o seu propósito, é que parte para culpabilização de quem não pensa como eles.


Vejamos em detalhe o artefacto, analisando o que pretenderia a Crioestaminal e o que temos realmente no filme em análise.

Público alvo da Crioestaminal: Futuros pais

Publico alvo do filme: Pais actuais, o futuro pai não se identifica com aquela criança nem com aqueles pais. Ainda não conceptualiza o filho naquela forma. Esta coisa de ser pai/mãe transforma-nos, e o anúncio está trabalhado para tocar quem já é pai, quem percebe o alcance do que está ali em questão.

Mensagem pretendida pela Crioestaminal: a preservação das células estaminais pode salvar a vida do seu filho no futuro.

Como é que esta mensagem chega ao público alvo acima identificado. Como se trata de um anúncio básico em termos de mensagem, sem amplitude de sentido, existem apenas duas leituras que são estimuladas, já que o climax do anúncio é baseado numa pergunta lançada ao espectador, que possui apenas duas respostas possíveis: "Mãe, Pai, guardaram as minhas células?"
“Há uma hipótese em 200 de um dia ser diagnosticado ao seu filho uma doença cujo tratamento pode encontrar-se nas suas células estaminais (...) uma doença como a Leucemia (...), nesse dia está preparado para responder a esta pergunta: Mãe, Pai, guardaram as minhas células? Crioestaminal, o futuro guarda muitos milagres”.
A) Reacção dos pais que depositaram as células num banco: Nós somos boas pessoas, sempre fizemos, e sempre faremos tudo para proteger os nossos.

B) Reacção dos pais que não depositaram as células num banco (por várias razões não guardei as células: falta de dinheiro, prática ainda não instalada, ou estudos ainda duvidosos): Nós não agimos bem, nós não somos bons pais. Não fiz aquilo que a sociedade esperava de mim, por isso sou mau pai

Mas isto vai muito mais longe do que esta simples dicotomia A e B. Porque este filme não está a falar de uma regra de boa-educação, de ensinar o meu filho a não cuspir para o chão. Quando eu vejo aquele grande plano daquela criança, com aquele texto, o que eu infiro, enquanto espectador, é que eu, não apenas falhei como membro da sociedade, mas eu sou o único culpado por o meu filho poder vir a morrer. O filme funciona como o anúncio da salvação, mas não é uma salvação que se possa caminhar para, que se possa construir algo no futuro. É uma salvação que está apenas ao alcance dos eleitos, dos que preservaram as células. Todos os outros devem ser excomungados.

Mãe, Pai, guardaram as minhas células? 

Ou seja, o que um pai sente quando vê este anúncio, é o poder da culpa irreversível. Poucas coisas na vida são irreversíveis, por isso a morte se opõem tanto à vida, porque esta é definitivamente irreversível. Ora o que anúncio diz é que o facto de não ter colocado as células estaminais num banco, assinei a sentença de morte do meu filho. Porque eu não posso fazer nada, não existe nada que eu possa fazer para reaver aquelas células. Terei de carregar para o resto da minha vida junto do meu filho o fardo da culpa irreversível.

Este não é um anúncio criado pela Crioestaminal, mas criado por Pedro Bidarra, um dos criativos de publicidade mais conceituados em Portugal para a Crioestaminal. E acredito que o estado de negação da Crioestaminal em não aceitar retirar o anúncio deva ser receita do próprio Bidarra. Mas nada disto nos admira. Quem já uma vez disse que devíamos mudar a cor da nossa bandeira, porque o facto de ter cores demasiado africanas nos tornava menos produtivos, eficientes, no fundo preguiçosos como os africanos!!!

E mais ainda, para quem também já disse que os cursos de Comunicação e Publicidade seriam "cursos inferiores", porque sobre a publicidade nada há a dizer, são apenas "coisas pequenas e engraçadas", isso quando são bons, porque quando são maus "nada há a dizer"!!! Vê-se aqui e agora o resultado cabal da sua visão do mundo, a tal que este diz ter aprendido nos livros. Vê-se neste filme, o resultado do auto-didatismo quando misturado com a falta de humildade.


Mas isto não pode ilibar a Crioestaminal. Esta tem por obrigação, e no mais curto espaço de tempo, de tirar a campanha do ar, e fazer um pedido desculpas público à sociedade portuguesa.


Declaração de interesses: tenho dois filhos, do primeiro não guardei as células por ser caro e por os estudos ainda serem dúbios quanto ao seu valor efectivo. Do segundo, por sentir culpa do que tinha acontecido com o primeiro, e imbuído de um sentimento de que as células de um irmão podem ajudar a salvar, guardei as células na Crioestaminal.

maio 16, 2012

só, com a vergonha

Steve McQueen escreveu e realizou apenas dois filmes, mas conseguiu desde já dar vida ao nome que carrega. Hunger de 2008 e agora Shame (2011) são duas obras singulares, e verdadeiramente coerentes esteticamente. Por mais que me afaste da temática presente no filme, e por mais que sinta vontade de escapar dali, a mestria cinematográfica ao serviço da narrativa é de tal ordem poderosa que isso se torna impossível.


Shame é como um banho de cinema, em que um autor usa e abusa da linguagem à sua disposição para se expressar, para comunicar, para falar conosco. O ritmo, os enquadramentos, o som atmosférico, a música (a excelência de Glen Gould), a fotografia, a cor e a luz, os cortes e recortes no tempo, tudo mas mesmo tudo, está correcto. Correcto não por ser tecnicamente perfeito, mas por ser esteticamente coerente.


E como se não bastasse, McQueen serve-se uma vez mais de Fassbender, que aqui claramente se excede, e faz provavelmente a interpretação da sua vida. Ebert fala na sua crítica, numa imagem que também me ficou na cabeça, um momento no qual Fassbender consegue expressar simultaneamente dor, tristeza e raiva. A cena está repleta de luz, com uma temperatura bastante quente, em câmara lenta, a música angelical, e o orgasmo quase ali. É um momento de cinema inesquecível, um momento no qual um simples artefacto, feito de dramatização plasmada em imagens e sons nos "toca", mexe conosco. Sentimos por momentos uma ligação forte com o personagem, com o actor, o filme transpôe aqui a barreira do ecrã, e somos apenas nós, e as emoções ali representadas.

maio 15, 2012

Disney: educação para a morte

Education for Death: The Making of the Nazi é um filme da Walt Disney de 1943 que explica o fenómeno Nazi de uma forma altamente simplificada, mas verdadeiramente impactante. Percebe-se aqui claramente como é que foi possível germinar num país, toda uma sociedade cega de valores e moral. Em que o estatuto é apenas dado aos mais fortes, aos mais aptos, e em que todos os outros são desprezados.


Impressiona ver este filme que segue uma estética Disney, e que de repente nos mostra a anti-tese da moral a que a Disney nos habituou. Aliás interessante para que se possa apreciar como toda a cinematografia Disney, apesar de simples, está ela própria carregada de ideologia e valores morais societais. Nada ali é neutro, como não poderia deixar de ser, nenhum Media o é.


Sem compaixão, sem complacência, dos fracos não reza a história. Sente-se aqui um Hitler inspirado por pensadores como Nietzsche, as suas discussões em redor do super-homem, dos mais fortes. A sua abominação da moral, como algo criado pelos fracos para se unirem contra os fortes. Em que todos os males advinham dos mais fracos, e que eram estes que impediam os mais fortes de prosperar. Nietzsche sonhava com o super-homem, e esse não podia emergir dos fracos.


Mas se Nietzsche cria todo este discurso em termos teóricos e abstracos de análise de uma natura humana optimizada. Hitler não se fica por aí e passa à prática, define o recorte entre fracos e fortes segundo os seus parâmetros pessoais e põe mãos à obra. Este salto gigantesco, entre a discussão filosófica da moral e a tentativa de a operacionalizar está belissimamente representada no filme do Hitchcock, Rope (1948). Por sinal um dos meus filmes de sempre, e o melhor sem dúvida de Hitchcock.

maio 12, 2012

jogar dentro das nossas memórias

Mais um interessantíssimo jogo, Souvenir, criado por estudantes de mestrado - Robert Yang, Mohini Dutta e Ben Norskov. Desta vez são alunos do mestrado em Design and Technology da conceituada Parsons School. O jogo foi criado em Unity com a versão de estudante, e pode ser feito o download gratuito para PC e Mac no site.


Souvenir apresenta a seu favor: uma arte de excelência, um interessante game design, e ainda uma narrativa bastante atractiva ainda que difusa. O jogo consiste em deambular por um estranho mundo em primeira-pessoa, em busca de cartas com memórias de infância.


O objectivo dos autores foi criar um gameplay que de algum modo simulasse o nosso mundo de memórias, um mundo confuso e complexo de navegar. Para isso desenharam um sistema de multi-gravidade com a direcção da gravidade a variar em função do posicionamento no mundo.


No site dos autores podemos encontrar as seguintes influências "VVVVVV + Proteus + Dear Esther + a bit of Portal". A verdade é que no final, temos aqui uma delícia de jogo.  Só é pena os bugs que por vezes nos deixam em loop e impossibilitam de retomar o jogo.

desenhar matematicamente

Desenhar de modo recursivo, ou seja fazendo uso dos recursos previamente criados de modo infinito. É esta a ideia que Toby Schachman está trabalhar na sua tese para o Interactive Telecommunications Program da NYU. Antes tinha feito Matemática e Computação no MIT. Aliás a sua ideia é um pouco mais abrangente, ele pretende desenvolver um novo ambiente de programação orientado ao espaço. Algo que segundo este se baseia nas ideias da linguagem Context Free, e que já agora valem também a pena ser exploradas.

esboço criado no Recursive Drawing

Fez-me lembrar o componente MoGraph do Cinema 4D, que permite através das suas ferramentas Cloner fazer coisas muito parecidas, mas em 3d e com animação. Vejam o vídeo aqui abaixo explicando em maior detalhe como funciona o sistema, e depois podem explorar uma versão online.

 

Maio negro

Estamos a um terço do mês e contamos já com 5 mortes de relevo na cena da arte e cultura nacionais e internacionais. Alguns eram já monumentos vivos - Fernando Lopes, Maurice Sendak e Vidal Sassoon - outros - Adam Yauch e Bernardo Sassetti - tinham ainda muito para dar ao mundo em termos criativos. E se é verdade que a morte é uma condição do ponto de vista racional perfeitamente natural, emocionalmente continua a afectar-nos. Aqui fica uma pequena homenagem, porque apesar de terminadas, as suas vidas continuarão a dar muito a todos nós.

"Dying Gaul", do bronze original de Epigonus 230-220 A.C.


Fernando Lopes, 2 Maio 2012 [1935]

Excerto de "Fernando Lopes, Provavelmente" (2008), de João Lopes

"A Abelha, à sua maneira, no conjunto do Cinema Novo português, é o primeiro gesto radicalmente moderno do cinema português"

"Sou um realizador improvável porque, como diria o O'Neill, estou onde não devia estar. Nada na minha vida indicava que eu podia vir a ser um realizador de cinema. Vim de uma aldeia, em fuga, passando por aventuras várias, em Lisboa e fora de Lisboa. No fundo, o que estava previsto era que eu fosse um camponês da Várzea, alguém que trabalhasse a terra… e depois acabei a trabalhar imagens e sons."


Adam Yauch, 4 Maio 2012 [1964]

"Fight For Your Right (Revisited)" (2011) [Completo]

Fight for your Right (Revisited) foi realizado pelo próprio Adam Yauch para comemorar os 25 anos do vídeo original e que conta com a participação de actores como Elijah Wood, Susan Sarandon, Stanley Tucci, Ted Danson, Roman Coppola, Steve Buscemi entre muitos outros


Maurice Sendak, 8 Maio 2012, [1928]

"TateShots: Maurice Sendak" (2011)

"I do not believe that I have ever written a children's book. I don't know how to write a children's book. How do you write about it? How do you set out to write a children's book. It's a lie."


Vidal Sassoon, 9 Maio 2012, [1928]

Trailer de "Vidal Sassoon: The Movie" (2010)

"My idea was to cut shape into the hair, to use it like fabric and take away everything that was superfluous"


Bernardo Sassetti, 10 Maio [1970]

"Homecoming Queen" (6:34), Motion, de Bernardo Sassetti Trio

"Quando se vive muito intensamente a música, a música que vive cá dentro, que vem cá de dentro a fervilhar, o grande segredo para a sua transmissão e partilha é o acto contido sobre o que temos e encontramos no fundo de nós."

"A representação artística das coisas, e do que nós vivemos tem um sem número de interpretações. Eu posso olhar para uma imagem e reparar em coisas que para outra pessoa são completamente secundárias. Eu, por exemplo, gosto de uma certa estranheza, de um certo mistério nas imagens. E preocupo-me pouco com as coisas mais objectivas nas imagens."

maio 11, 2012

arte e cognição na arqueologia

2012 está a ser um ano de excelência para a arqueologia especialmente no que toca a componente artística e cognitiva. A arte que podemos encontrar nas paredes de antigas caves podem ajudar-nos a perceber como evoluímos enquanto espécie, assim como podemos compreender melhor as anteriores civilizações, se compreendermos como regulavam o seu tempo.

Calendário Maia (+-  séc. IX)

Começando pelo evento que está hoje em todos os media, o calendário Maia publicado hoje na revista Science datado do século IX. William Saturno da Boston University terá encontrado o primeiro calendário sobrevivente desta altura. Era sabido que eles teriam existido mas não existiam provas concretas. Este pequeno vídeo da National Geographic dá mais detalhes sobre o assunto.


Entretanto já em Fevereiro deste ano, a partir de um trabalho coordenado por José Luis Sanchidrián da Universidad de Córdoba, tinham sido reveladas seis pinturas na cave de Nerja (Málaga). Pinturas que parecem ser focas, e que nos primeiros testes de datação realizados nos EUA apontam para entre 43 000 e 42 000 anos.

Focas (+- 42 000 anos), Caverna de Nerja, Málaga, Espanha

A confirmar-se irá obrigar a rever alguns princípios nomeadamente no que toca às capacidades cognitivas dos Neandertais, predecessores do Sapien. Até agora temos acreditado que apenas os Sapiens tinham sido dotados de pensamento complexo, suficientemente evoluído para desenvolver valores estéticos e gerar arte. Claramente que estas imagens de focas estão muito longe da complexidade estampada nas caves de Chavet, em cavalos, rinocerontes e ursos.

Imagens das paredes das Caves de Chavet

As mesmas caves recentemente filmadas em 3D por Werner Herzog, Cave of Forgotten Dreams (2010), e que os estudos davam como datadas de há 20 000 anos, aparecem agora aos olhos das mais recentes descobertas com novos meios de datação, como podendo ter sido criadas entre 28 000 a 40 000 anos atrás.

maio 07, 2012

o Prazer de ler

Acabo de descobrir uma obra de grande valor, Como um Romance (1992) de Daniel Pennac (edição ASA). Foi-me recomendada pelo João Cardoso, um aluno meu de mestrado, não pelo conteúdo, mas pela forma. O livro desenvolve-se em pequenos capítulos de 2 a 3 páginas, criando no leitor um amplo sentimento de progressão, que facilita per se o acto de leitura.


Mas o que descobri no seu conteúdo deixou-me ainda mais encantado. Neste livro de 1992 Pennac já diz muito daquilo que hoje discutimos em redor das palestras de Ken Robinson. Neste ensaio defende o valor da leitura, não pela sua necessidade mas antes pelo seu prazer. Critica fortemente as práticas pedagógicas que fazem da leitura uma tortura e com isso retiram o prazer de ler às crianças.

Autor desconhecido

Pelo meio apercebi-me de algo que comentei aqui sobre o livro The Shallows: What the Internet Is Doing to Our Brains (2010), é que esta coisa de os alunos e as pessoas não gostarem de ler não tem nada que ver com a Internet. Este ensaio é de 1992, tem 20 anos, e aponta exactamente os mesmos dramas no incentivo à leitura nos liceus franceses. Por isso hoje quando nos dizem que as crianças têm muitas outras atracções, é verdade, mas não é por causa disso que não lêem. Cabe-nos a nós descobrir a forma de os ajudar, e não apenas resignar-nos. Este livro de Pennac é um excelente ponto de partida para encontrar formas de o fazer.


Pennac relembra os pais de que mais importante do que compreender as histórias que lhes leram, é que as crianças tenham prazer com esses momentos. Não posso concordar mais, assim como tenho de concordar com a sua ideia de exame final de liceu em Português, que deveria passar não por exigir a análise de um texto, mas antes por contar sobre os livros que leu.

Ao longo do livro Pennac demonstra com vários exemplos como a análise vem pouco a pouco, à medida que se vai lendo mais e mais, e que não se aprende apenas porque é ensinada de modo obrigatório. Pennac faz do objecto um prazer, e não uma tortura, dessacralizando a leitura e elevando o amor à leitura. Trabalha a arte da leitura como algo que nos deve tocar profundamente o coração, em vez de nos colocar a debitar respostas. E para isso fecha o livro com os fantásticos 10 direitos do leitor:
1. O Direito de Não Ler
2. O Direito de Saltar Páginas
3. O Direito de Não Acabar Um Livro
4. O Direito de Reler
5. O Direito de Ler Não Importa o Quê
6. O Direito de Amar os «Heróis» dos Romances
7. O Direito de Ler Não Importa Onde
8. O Direito de Saltar de Livro em Livro
9. O Direito de Ler em Voz Alta
10. O Direito de Não Falar do Que se Leu
Com um discurso bem disposto e convincente, quase que me consegue fazer sentir culpado. Culpado por ter deixado de ler romances. Uma decisão consciente que tomei há alguns anos. Porque não é possível dedicarmo-nos a todos os prazeres, deixei o lado do romance para o cinema. Mas por vezes, nomeadamente nas paragens mais longas do verão, ainda volto aos seus prazeres por breves passagens.


maio 06, 2012

Uncharted 3, incapaz de surpreender

O simples facto de ter demorado 5 meses a terminar Uncharted 3, quando demorei apenas 5 dias a terminar Uncharted 2, diz muito sobre cada um destes. A série Uncharted é sem sombra para dúvidas uma das grandes séries dos videojogos, e Drake ganhou desde já o seu lugar ao lado de Indiana Jones e Lara Croft. Mas como esses, sofre do problema do efeito do seriado, a repetição, a redundância, a incapacidade para surpreender e ir além do que nos foi dado antes.


Em 2009 deixei aqui uma análise extensa de Uncharted 2, manifestando a minha total surpresa com o jogo. Uncharted 3 não faz nada a menos do que Uncharted 2, aliás tecnicamente faz mais, tem muito mais cenas de acção narrativa interactiva. Mas perde por ter ampliado os níveis de acção. Ao fazê-lo damos conta que passamos uma grande parte do jogo aos tiros e a esconder-nos dos tiros dos outros. Exagero, e como tal quem perde é a narrativa.


No final do jogo, o fechamento tem pouco um nenhum interesse, mais uma cidade tesouro perdida que se afunda e assim acaba a nossa Quest. O isco no final da narrativa era apenas um pretexto para nos fazer jogar. Sabe a pouco, ou melhor não sabe nada, porque não retiro qualquer significado do meu jogo, a não ser o prazer de o ter jogado.


Numa nota mais subjectiva, era também difícil levar as areias do deserto do Yemen a superar as montanhas coloridas e verdejantes do Nepal!