dezembro 10, 2007
Beowulf, 3d e 3-D
Bordwell e Thompson discutem em profundidade implicações tecnológicas sobre a estética do badalado Beowulf (2007) (atenção à distinção entre 3d (CGI) e 3-D). Não vou discutir aqui também o filme porque ainda não o vi, mas gostava de realçar o facto de o próprio trailer demonstrar de forma efectiva as fraquezas do filme ao mostrar apenas alguns frames de cada sequência. Esta manobra destaca o facto de que as imagens estáticas em Beowulf são muito boas, tecnicamente, mas quando colocadas em movimento falham na comunicação efectiva de vida. O trailer vai mostrando apenas curtos segmentos com imensos fade outs a negro, uma espécie de ultra-intensified continuity onde só a sonorização com fortes impactos acústicos ajuda a manter a coerência do trailer. A relembrar que o uncanny valley está aí para durar.
dezembro 09, 2007
Simone em movimento gráfico
Excelente trabalho realizado pela aluna Tamara Connolly do Mestrado de Design da School of Visual Arts, NY. Utilizando o movimento visual de tipografia compôs um filme para Feeling Good de Nina Simone.
[a partir de Cartoon Brew]
[a partir de Cartoon Brew]
dezembro 06, 2007
base da pirâmide consumista
A Suécia e a Noruega implementaram leis há mais de 10 anos que proibem o desenvolvimento de publicidade especificamente para crianças até às 12 anos. No entanto no resto do mundo ocidental continuamos impávidos e serenos a ver os barcos passar. É atroz a quantidade de publicidade dirigida às crianças que desfila durante todos os meses de Outubro a Dezembro de cada ano. Na imagem acima podemos ver uma campanha da McDonald's realizada na Florida. A McDonald's associou-se a um liceu e passou a oferecer um Happy Meal aos miudos que conseguissem notas A e B na disciplina de cidadania, é claro que alguns pais já começaram a entrar em parafuso com esta persecução às crianças.
Quanto à imagem em si, julgo que é muito boa. A tonalidade branca da pele contrastada pelo vermelho escuro da boca e nariz criam uma sensação estranha mas atraente como que uma mistura entre o angelical e o mal. A expressão da boca e das mãos também está muito bem conseguida porque confere um traço de naturalidade ao momento criando a sensação de que a situação é real e vulgar.
Quanto à imagem em si, julgo que é muito boa. A tonalidade branca da pele contrastada pelo vermelho escuro da boca e nariz criam uma sensação estranha mas atraente como que uma mistura entre o angelical e o mal. A expressão da boca e das mãos também está muito bem conseguida porque confere um traço de naturalidade ao momento criando a sensação de que a situação é real e vulgar.
dezembro 04, 2007
from Nottingham, Tindersticks
Não cheguei a deixar aqui a mensagem mas como estou agora a ouvir os cds pela primeira vez, aqui fica. Há duas semanas trouxe da terra de origem dos Tindersticks o seu mais recente álbum que terá saído em Julho passado. Um CD que contém as sessões gravadas na BBC com John Peel e Mark Radcliffe.
This twenty-five track compilation brings together the band's favourite BBC session work recorded for John Peel and Mark Radcliffe and comes with touching liner notes from keyboard player David Boulter which gives a rare insight into this often mysterious band. It's all stunning stuff as you can imagine with tracks spanning from 1993-1997, the era when the band recorded the first three (and for most listeners their finest) albums and includes some special extra tracks, most notably a version of Pavement's 'Here' which simply has to be heard to be believed. BoomkatO que posso dizer é que realmente estamos perante a melhor fase dos Tindersticks, os seus primeiros três álbuns. As gravações soam a um ritmo mais calmo do que os originais mas também mais duros instrumentalmente, menos polidos. Na essência temos a voz de Stuart Staples e melodia/melancolia que continua e continua e se impregna em nós a cada vez que se ouve. Destaco sem dúvida Here dos Pavement que nos dá muitos arrepios ao longo dos curtos 4 minutos. E já agora deixo aqui a primeira quadra de Tiny Tears porque continua a gerar em mim, um sentimento do belo, em termos musicais.
You've been lying in bed for a week now
Wondering how long it'll take
You haven't spoken or looked at her in all that time
For that was the easiest line you could break
dezembro 03, 2007
title design português
Um dos melhores genéricos feitos em Portugal. Só demonstra que o facto de começar a aparecer uma indústria de produção de conteúdos audiovisuais, ainda que de telenovelas, só tem feito com que os recursos humanos da área tenham melhorado significamente nos últimos anos.
Genérico da Ilha dos Amores (2007)
dezembro 02, 2007
um videojogo como metáfora
Pela primeira vez no cinema temos um videojogo que serve de metáfora a um estado emocional de um personagem e é mesmo apresentado como terapia para um transtorno psicológico. Reign over Me retrata o stress pós-traumático (PTSD) de Charlie, uma pessoa que perdeu as três filhas e a mulher que voavam num dos aviões que se despenhou contra as Torres Gémeas no 11 de Setembro. O efeito da desordem psicológica leva Charlie a fechar-se emocionalmente, a isolar-se. Usa constantemente headphones para poder bloquear mensagens sonoras que possam reavivar a emocionalidade negativa ou evita a televisão e as fotografias do passado. O seu refúgio é o mundo de Shadow of the Colossus.
Shadow of Colossus aparece aqui como um libertador do espírito, de efeito tranquilizante e ao mesmo tempo como metáfora da longa e complexa luta pela qual Charlie terá de passar para ultrapassar o estado em que se encontra. Os bosses de Shadow funcionam como verdadeiros obstáculos que Charlie vai ultrapassando. A aridez do mundo, a ausência de vida, a morte da amada, juntamente com a existência de gigantescos monstros funcionam na perfeição como colagem ao estado mental de Charlie.
Em entrevista, à Kotaku, Jeremy Roush refere a razão pela qual referiu Shadow of the Colossus ao realizador Mike Bynder e a Adam Sandler. À partida o guião referia apenas uma espécie de jogo arcade sem referências, o típico adereço cinematográfico de faz de conta. Mas para Roush, o videojogo poderia ser visto como uma terapia para alguém que se encontra num estado de,
Shadow of Colossus aparece aqui como um libertador do espírito, de efeito tranquilizante e ao mesmo tempo como metáfora da longa e complexa luta pela qual Charlie terá de passar para ultrapassar o estado em que se encontra. Os bosses de Shadow funcionam como verdadeiros obstáculos que Charlie vai ultrapassando. A aridez do mundo, a ausência de vida, a morte da amada, juntamente com a existência de gigantescos monstros funcionam na perfeição como colagem ao estado mental de Charlie.
..refusing to accept the death of loved ones. Seeking out an escape from that truth. Giants falling in slow motion. "You could see where someone who was dealing with 9/11 would be engrossed by a giant that keeps collapsing over and over again,"O filme está ainda repleto de referências da cultura popular desde o Capitão América a Bruce Springsteen, passando pela cidade de Nova Iorque como pano de fundo e como é natural Shadow of the Colossus. Poderia dizer-se que se trata de uma tentativa de colagem ao mundo real, contudo sente-se que o objectivo aqui é antes repescar as referências como forma de criação do sentimento de familiaridade nos espectadores com aquela realidade, não só muito actual, mas também muito americana. Aliás na IMDB o filme consegue obter uma nota altíssima perto dos 8 em 10 mas é evidente que esta votação está mais relacionada com a temática tratada no filme e pelo que ele consegue explorar do sentimento actual dos americanos face ao dramático evento decorrido em 2001 do que propriamente com as qualidades intrínsecas de Reign Over Me como objecto artístico.
dezembro 01, 2007
ainda há opinião independente?
Jeff Gerstmann jornalista com 10 anos de casa no importante Gamespot.com, pertença do enorme grupo Cnet.com, foi despedido depois de ter dado um 6 em 10 a um videojogo da EIDOS, um dos mais importantes anunciantes do site em questão. Como se pode ver na imagem em cima, Kane & Lynch: Dead Men, era à altura o videojogo anunciante principal, com uma imagem que ocupa a integralidade do background da página, isto alterou-se no dia do despedimento de Jeff Gerstmann.
A review em texto ainda pode ser lida aqui, contudo a review vídeo foi retirada do site, podendo de qualquer modo ser vista a partir do YouTube aqui em baixo.
Certezas nestes casos, nunca existem, mas a especulação continua, contudo isto não é de todo impossível e nem sequer enquadra uma surpresa. Não porque o Gamespot tenha alguma vez feito passar a imagem de que os seus críticos pudessem ser comprados, antes pelo contrário. Mas porque a indústria de videojogos cresceu de forma completamente exponencial e em menos de 10 anos tornou-se numa das indústrias culturais mais rentáveis e desse modo o investimento nos videojogos tem subido em flecha. Apesar das incertezas os rumores já alimentam a criação de tiras de comics
Para quem investe 10 ou 20 milhões de dólares num videojogo não deverá ser muito benéfico ter reviews a colocar na fossa o jogo que acabam de lançar e ainda por cima sendo quem eles próprios decidem patrocinar. Até porque os últimos estudos demonstram, que ao contrário das restantes indústrias culturais, os críticos de videojogos representam verdadeiramente uma influência na compra e eleição dos jogos ganhadores de mercado. Várias razões podem apontar o porquê deste fenómeno, quando comparado com o cinema, onde normalmente os críticos estão arredados do gosto popular. Por um lado quem faz crítica aos videojogos pertence à massa de hard core gamers, por outro os jogos são demasiadamente caros para se poder comprar para depois ver se é bom. Procura-se muita informação online antes de desembolsar 60 euros por um jogo que pode ter uma duração de vida de menos de 2 dias, escalpelizam-se todos os detalhes do gameplay, som, longevidade, etc. etc.
Entretanto as consequências de uma decisão destas por parte dos editores da Gamespot já começou a ter efeitos negativos na audiência que seguia e contribuía para a existência do site, como se pode ver na mensagem deixado por Adam na sua página do próprio Gamespot.
A review em texto ainda pode ser lida aqui, contudo a review vídeo foi retirada do site, podendo de qualquer modo ser vista a partir do YouTube aqui em baixo.
Certezas nestes casos, nunca existem, mas a especulação continua, contudo isto não é de todo impossível e nem sequer enquadra uma surpresa. Não porque o Gamespot tenha alguma vez feito passar a imagem de que os seus críticos pudessem ser comprados, antes pelo contrário. Mas porque a indústria de videojogos cresceu de forma completamente exponencial e em menos de 10 anos tornou-se numa das indústrias culturais mais rentáveis e desse modo o investimento nos videojogos tem subido em flecha. Apesar das incertezas os rumores já alimentam a criação de tiras de comics
Para quem investe 10 ou 20 milhões de dólares num videojogo não deverá ser muito benéfico ter reviews a colocar na fossa o jogo que acabam de lançar e ainda por cima sendo quem eles próprios decidem patrocinar. Até porque os últimos estudos demonstram, que ao contrário das restantes indústrias culturais, os críticos de videojogos representam verdadeiramente uma influência na compra e eleição dos jogos ganhadores de mercado. Várias razões podem apontar o porquê deste fenómeno, quando comparado com o cinema, onde normalmente os críticos estão arredados do gosto popular. Por um lado quem faz crítica aos videojogos pertence à massa de hard core gamers, por outro os jogos são demasiadamente caros para se poder comprar para depois ver se é bom. Procura-se muita informação online antes de desembolsar 60 euros por um jogo que pode ter uma duração de vida de menos de 2 dias, escalpelizam-se todos os detalhes do gameplay, som, longevidade, etc. etc.
Entretanto as consequências de uma decisão destas por parte dos editores da Gamespot já começou a ter efeitos negativos na audiência que seguia e contribuía para a existência do site, como se pode ver na mensagem deixado por Adam na sua página do próprio Gamespot.
"Every single day I worked at GameSpot, Greg, Jeff, and the others were constantly vigilant to make sure that the editorial department was insulated from other units of the business that might have resulted in conflicts of interest. The most important thing a review site like GameSpot has is its credibility. People might disagree with a review, but at least they knew the review came from a gamer who was giving an honest opinion. And the management has blown it. You're losing money from all those who cancel, but more importantly, you're losing the credibility you had." AdamA única coisa que estas notícias fazem é contribuir para o desacreditar do jornalismo de uma forma geral. Se pensarmos que não há jornalismo sem publicidade e tendo em conta os altos custos da distribuição jornalística dos dias de hoje assim como dos enormes poderes instalados sedentos de projecção de imagem com objectivos puramente mercantilistas. Assim resta-nos apenas continuar a contribuir para a existência de uma web2.0 pura, livre de contribuintes por obrigação ou profissão, criando assim uma comunidade capaz de partilhar verdadeiramente o seu conhecimento sem constrangimentos de qualquer ordem.
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