Do que pude ouvir no MySpace só posso dizer que fiquei literalmente apaixonado pela nova banda portuguesa Sean Riley & The Slowriders. São um hino ao modelo canção, uma surpresa tal como foi Rita Redshoes, aqui menos pop, mais melancólico, mais profundo. Sean Riley encaixa-se na linha de Tindersticks, a dar laivos de melancolia de Tom Waits e Leonard Cohen e a encaixar numa sonoridade de Nick Cave. Para o Blitz nada menos que 5/5, "...não deixa de surpreender o fôlego e a coesão quase conceptual do novo Only Time Will Tell...Um disco exemplar e apaixonante”. Realmente ouvir esta banda é uma fonte de inspiração interminável e dá-nos vontade levitar, de lutar e viver, de sermos mais capazes de sermos criadores, seja em que área nos movamos, musica, cinema, videojogos, pintura. Por favor criem, criem mais, muito mais, façam deste um país criativo e criador (escrito enquanto ouvia Harry Rivers).
Sinto Portugal a mudar e a evoluir musicalmente, veja-se também o último trabalho de Rodrigo Leão, A Mãe (2009). Aliás julgo que devemos nos dar por muito contentes porque no nível cultural o nosso país têm sentido os efeitos de um aumento dos níveis de formação que permitiu às pessoas aceder a níveis superiores de cultura e desse modo produzir também a outros níveis. No cinema tivemos João Salaviza aqui há dias em Cannes com uma marca portuguesa que não é aquela que nos quiseram vender nos últimos anos, é uma marca embebida de cultura global, capaz de sair da casca e chegar ao íntimo de nós. Para que serve a arte, se não para nos penetrar e fazer estremecer, é disto que fala a emoção humana, e a arte é emoção antes de cognição. Ainda no campo da cultura temos casos como Sofia Escobar nomeada em Inglaterra para Best Actress in a Musical pela sua performance no 50º aniversário de produção do musical West Side Story. No design tivemos já estampas de portáteis da HP com a ilustração nacional, tivemos videoclips dos Incubus, tivemos protótipos da Peugeot, tivemos All-stars converse. A evolução no mundo do stand-up comedy, do qual não sou particularmente fã, também não é alheia a esta evolução decorrida no nosso país.
Muitos mais exemplos teriamos para colocar aqui, mas realmente não tenho aqui nenhuma lista e estes foram apenas os que me lembrei. Vou tentar trazer para aqui esses caso doravante e já agora peço-vos que deixem outros exemplos nos comentários.
junho 03, 2009
maio 25, 2009
comunicação visual digital
Scott McCloud é um autor de reconhecido valor na área dos estudos de banda desenhada (comics). As suas maiores faculdades estão na forma como ele é capaz de categorizar e re-categorizar o mundo, de o assimilar e de o etiquetar e ao mesmo tempo de justificar com um forte argumentário, plausivel e inovador. McCloud é alguém particularmente dotado na área da comunicação visual e por isso faz todo o sentido dedicarmos algum tempo a ouvi-lo nesta conferência TED, mas não só, a lê-lo nos seus livros.
Nesta conferência o ponto que mais me impressionou foi o modo como ele apresentou a passagem da banda desenhada impressa (print comics) para os novos media digitais e interactive (web comics). Dois conceitos são verdadeiramente importantes e a reter, o momento em que ele fala da adição de som e movimento aos quadros desenhados, a ruptura que esta adição provoca na continuidade temporal. E em segundo lugar a perspectiva do monitor não como uma folha de papel, mas antes como uma janela, algo de que André Bazin falava embora enquanto objecto de realismo.
Desta apresentação ficam ainda as 4 prioridades de McCloud,
Nesta conferência o ponto que mais me impressionou foi o modo como ele apresentou a passagem da banda desenhada impressa (print comics) para os novos media digitais e interactive (web comics). Dois conceitos são verdadeiramente importantes e a reter, o momento em que ele fala da adição de som e movimento aos quadros desenhados, a ruptura que esta adição provoca na continuidade temporal. E em segundo lugar a perspectiva do monitor não como uma folha de papel, mas antes como uma janela, algo de que André Bazin falava embora enquanto objecto de realismo.
Learn From Everyone
Follow No One
Watch for Patterns
Work like Hell
maio 24, 2009
um dia feliz para Portugal
É a primeira vez que um filme português consegue tal feito, a curta-metragem Arena de João Salaviza ganhou a Palma de Ouro em Cannes 2009.
Depois de ganhar o grande prémio no Indie Lisboa 2009, no início deste mês, foi agora a vez desta produção da Filmes do Tejo ganhar no mais importante festival de cinema do mundo. O filme fala-nos de: "Mauro vive em prisão domiciliária. As tatuagens ajudam-no a queimar o tempo. Três putos do bairro aproximam-se da sua janela. Lá fora, o sol bate com a força do meio-dia". Sobre o filme João Salaviza, com 25 anos e o curso de cinema inacabado, escreveu um statement que se transcreve a seguir,
Quero apenas aqui a deixar bem frisado que esta é a primeira vez que Portugal ganha tal prémio. A razão para eu frisar esta situação é dupla, por um lado porque é importante, mas por outro para se perceber de uma vez por todas que o cinema português dito de qualidade que não agrada ao público português mas que "vende bem em festivais internacionais" cai aqui por terra. Manoel de Oliveira ganhou apenas no ano passado uma Palma de Ouro mas atribuída pela carreira (Lifetime achievement award for his work), não por um trabalho em particular em concurso regular, uma espécie de doutoramento Honoris Causa.
Ainda sobre os Prémios Cannes2009, Michael Haneke leva pela segunda vez a Palma para a longa "Das Weisse Band".
Depois de ganhar o grande prémio no Indie Lisboa 2009, no início deste mês, foi agora a vez desta produção da Filmes do Tejo ganhar no mais importante festival de cinema do mundo. O filme fala-nos de: "Mauro vive em prisão domiciliária. As tatuagens ajudam-no a queimar o tempo. Três putos do bairro aproximam-se da sua janela. Lá fora, o sol bate com a força do meio-dia". Sobre o filme João Salaviza, com 25 anos e o curso de cinema inacabado, escreveu um statement que se transcreve a seguir,
"What interests me more than capturing the transformations a place might undergo, is the tension that builds in the moments where nothing changes. The lead in “Arena” is restricted by limitations of both space and time. By filming Mauro in home confinement I was faced with the situation of a man with nowhere to go. I followed through with that idea from the script to the editing.Não podemos ver o filme mas podemos ver bocados entrecortados com uma entrevista ao João Salaviza, no trabalho realizado pelo programa da RTP Fotograma,
With the rule that no shot would prefigure the protagonist’s trajectory, nor suggest to him paths he simply could not see. That is right for someone who lives in a house with bars on the windows, and who secretly hopes that things will change by themselves. "
Quero apenas aqui a deixar bem frisado que esta é a primeira vez que Portugal ganha tal prémio. A razão para eu frisar esta situação é dupla, por um lado porque é importante, mas por outro para se perceber de uma vez por todas que o cinema português dito de qualidade que não agrada ao público português mas que "vende bem em festivais internacionais" cai aqui por terra. Manoel de Oliveira ganhou apenas no ano passado uma Palma de Ouro mas atribuída pela carreira (Lifetime achievement award for his work), não por um trabalho em particular em concurso regular, uma espécie de doutoramento Honoris Causa.
Ainda sobre os Prémios Cannes2009, Michael Haneke leva pela segunda vez a Palma para a longa "Das Weisse Band".
o futuro da comunidade
Eurodeputada vai a sessão de votação no parlamento europeu com o bebé
[a partir de El País]
maio 21, 2009
João Bénard da Costa (1935-2009)
Play the guitar
Play it again, my Johnny
Maybe you're cold
But you're so warm inside
I was always a fool
For my Johnny
For the one they call Johnny Guitar
Play it again, Johnny Guitar
What if you go
What if you stay
I love you
What if you're cruel
You can be kind
I know
There was never a man
Like my Johnny
Like the one they call Johnny Guitar
There was never a man
Like my Johnny
Like the one they call Johnny Guitar
Play it again, Johnny Guitar
Johnny Guitar de Peggy Lee faz parte da banda sonora do filme Johnny Guitar (1954) de Nicholas Ray, o filme da vida de João Bénard da Costa.
Play it again, my Johnny
Maybe you're cold
But you're so warm inside
I was always a fool
For my Johnny
For the one they call Johnny Guitar
Play it again, Johnny Guitar
What if you go
What if you stay
I love you
What if you're cruel
You can be kind
I know
There was never a man
Like my Johnny
Like the one they call Johnny Guitar
There was never a man
Like my Johnny
Like the one they call Johnny Guitar
Play it again, Johnny Guitar
Johnny Guitar de Peggy Lee faz parte da banda sonora do filme Johnny Guitar (1954) de Nicholas Ray, o filme da vida de João Bénard da Costa.
maio 19, 2009
IAMCR 2010
maio 18, 2009
Cannes 2009 - Antichrist
A primeira polémica de Cannes 2009 já rebentou e temos como actor principal o repetente e inigualável Lars Von Trier. Vale a pena ver a press conference dada ontem imediatamente a seguir à projecção em Cannes de Antichrist.
À provocação de Antichrist, reagiu um jornalista do Daily Mail que questionou frontalmente e exigiu mesmo uma resposta de Von Trier no sentido de explicar o porquê de ter realizado este filme - “explain and justify why you made this movie”.
Um momento inquietante em que se sente um Lars tímido e introvertido à procura de palavras. E o mais interessante é que o que ele diz tem pouca ou nenhuma relação com toda a sua linguagem não-verbal.
Nas notas de produção Von Trier deixou a seguinte afirmação: "I can offer no excuse for 'Antichrist' ... other than my absolute belief in the film -- the most important film of my entire career!"
Vamos aguardar para ver.
À provocação de Antichrist, reagiu um jornalista do Daily Mail que questionou frontalmente e exigiu mesmo uma resposta de Von Trier no sentido de explicar o porquê de ter realizado este filme - “explain and justify why you made this movie”.
Um momento inquietante em que se sente um Lars tímido e introvertido à procura de palavras. E o mais interessante é que o que ele diz tem pouca ou nenhuma relação com toda a sua linguagem não-verbal.
"I don't have to justify myself... I make films and I enjoy very much making them... You are all my guests, it's not the other way round... I work for myself and I do this little film that I'm now kind of fond of and I haven't done it for you or the audience so I don't feel I owe anyone an explanation.Julgo que Von Trier deixa bem explícito aqui o que é o cinema arte e como este se distingue do cinema de entertainment. O trailer mostra pouco das tão badaladas "blood spurts, bones are broken, genitals are mutilated..."
It’s the hand of God... And I am the best film director in the world. I’m not sure if God is the best God in the world.”
Nas notas de produção Von Trier deixou a seguinte afirmação: "I can offer no excuse for 'Antichrist' ... other than my absolute belief in the film -- the most important film of my entire career!"
Vamos aguardar para ver.
maio 16, 2009
voando dentro da acção
Aqui há dias deixei aqui um post sobre a nova TV da Philips 21:9, ou seja 2.35, ou seja cinemascope puro. Agora trago o spot publicitário desenvolvido para o media online apenas e o seu making-of. O spot tem cerca de 2 minutos e está impressionante. Mais uma vez usa-se uma técnica que permite ver a realidade a partir de um ângulo impossível. E neste caso já até já conhecemos a estética, que vem do conhecido efeito Matrix, mas aqui o efeito prolonga-se temporal e espacialmente o que obriga a toda uma diferente abordagem e nos interroga. Aconselho vivamente a verem o filme no próprio site da Philips.
Ouvindo a entrada do making-of dizer que participou no desenvolvimento do spot, uma equipa de mais de 100 pessoas (ao contrário do anterior filme que aqui apresentei praticamente concebido por apenas uma pessoa), 3 gruas, 3 dias de rodagem e 5 dias de pós-produção tudo para construir uma publicidade a um novo ecrã que terá dificuldade de penetrar as massas e ainda para mais em ambiente online apenas, é impressionante.
No making-of tiramos as dúvidas e percebemos como foi conseguido, também graças a uma técnica usada extensivamente em matrix que passa por suster os actores através de fios e no final eliminar os fios. Mas uma parte do truque que gostei de ver foi o facto de filmarem com e sem actores para depois poder sobrepor e assim gerar um maior efeito de "estaticidade", e que se sente na visualização.
Ouvindo a entrada do making-of dizer que participou no desenvolvimento do spot, uma equipa de mais de 100 pessoas (ao contrário do anterior filme que aqui apresentei praticamente concebido por apenas uma pessoa), 3 gruas, 3 dias de rodagem e 5 dias de pós-produção tudo para construir uma publicidade a um novo ecrã que terá dificuldade de penetrar as massas e ainda para mais em ambiente online apenas, é impressionante.
No making-of tiramos as dúvidas e percebemos como foi conseguido, também graças a uma técnica usada extensivamente em matrix que passa por suster os actores através de fios e no final eliminar os fios. Mas uma parte do truque que gostei de ver foi o facto de filmarem com e sem actores para depois poder sobrepor e assim gerar um maior efeito de "estaticidade", e que se sente na visualização.
maio 11, 2009
Sebastian's Voodoo
O trabalho que aqui vos trago foi-me enviado pelo João Martinho a quem agradeço a colaboração. Sebastian's Voodoo de Joaquin Baldwin é um trabalho audiovisual com componente 3d, de qualidade magistral.
Começando pela forma, temos um belíssimo trabalho de character design conseguido com os bonecos de voodoo, tanto pela sua estética, o uso da textura de saco de pano e a sua animação gerada toda com grandes contornos arredondados, ao modo como se expressam sem falar, o modo como nos contagiam e nos fazem construir empatias é muito bem conseguido. Em segundo lugar a atmosfera, toda ela do início ao final está perfeitamente desenhada, desde o humano do qual não conseguimos ver o rosto, ao detalhe final da porta aberta e a entrada de luz é excelente. Por fim a narrativa, que em minha opinião é o que lidera todo o conjunto de forma muito coerente e consegue todas aquelas emoções nuns míseros 3 minutos e meio. Desde a caracterização dos personagens, à construção da interacção entre eles e com o "inimigo" até à criação de suspense, ou seja de retenção e libertação de informação nos momentos chave, conseguindo ainda com isso elevar o personagem de "um entre muitos" a herói. A música não sendo algo brilhante, enquadra bem a atmosfera remete para os ritmos africanos do voodoo e funciona em plena harmonia com as necessidades da narrativa.
Vejam porque vale a pena ser visto e revisto, e diria até que para os meus alunos que seguem este blog vejam várias vezes este filme porque têm aqui muito para aprender. E já agora, não que alguém me tenha pedido mas porque sinto que o merece, votem no filme no YouTube. O filme está a participar num concurso organizado pelo National Film Board of Canada, com o Cannes Short Film Corner em parceria com o YouTube e os votos serão contabilizados apenas até ao dia 20 deste mês.
Começando pela forma, temos um belíssimo trabalho de character design conseguido com os bonecos de voodoo, tanto pela sua estética, o uso da textura de saco de pano e a sua animação gerada toda com grandes contornos arredondados, ao modo como se expressam sem falar, o modo como nos contagiam e nos fazem construir empatias é muito bem conseguido. Em segundo lugar a atmosfera, toda ela do início ao final está perfeitamente desenhada, desde o humano do qual não conseguimos ver o rosto, ao detalhe final da porta aberta e a entrada de luz é excelente. Por fim a narrativa, que em minha opinião é o que lidera todo o conjunto de forma muito coerente e consegue todas aquelas emoções nuns míseros 3 minutos e meio. Desde a caracterização dos personagens, à construção da interacção entre eles e com o "inimigo" até à criação de suspense, ou seja de retenção e libertação de informação nos momentos chave, conseguindo ainda com isso elevar o personagem de "um entre muitos" a herói. A música não sendo algo brilhante, enquadra bem a atmosfera remete para os ritmos africanos do voodoo e funciona em plena harmonia com as necessidades da narrativa.
Vejam porque vale a pena ser visto e revisto, e diria até que para os meus alunos que seguem este blog vejam várias vezes este filme porque têm aqui muito para aprender. E já agora, não que alguém me tenha pedido mas porque sinto que o merece, votem no filme no YouTube. O filme está a participar num concurso organizado pelo National Film Board of Canada, com o Cannes Short Film Corner em parceria com o YouTube e os votos serão contabilizados apenas até ao dia 20 deste mês.
maio 10, 2009
Today I Die
Daniel Benmergui acaba de publicar o seu terceiro videojogo arte Today I Die, depois de Storyteller e I Wish I Were the Moon. É um jogo independente e experimental/artístico, aposta no puzzle/enigma com uma base lógica de poema. Esteticamente usa o pixel art como suporte que em conjunto com a sonoridade nos transporta para ambientes Amiga dos anos 80.
A entrada no jogo pode não ser fácil para alguns, mas vale o esforço. A resolução dos puzzles visuais vai-nos transportando para dentro do poema que através dos seus verbos nos vai fazendo sentir cada vez mais parte daquela atmosfera. Sendo simples, consegue ser emotivo e deixar a sua marca.
Veja-se também o modelo de donativos desenvolvido pelo criador para suportar a criação do jogo.
A entrada no jogo pode não ser fácil para alguns, mas vale o esforço. A resolução dos puzzles visuais vai-nos transportando para dentro do poema que através dos seus verbos nos vai fazendo sentir cada vez mais parte daquela atmosfera. Sendo simples, consegue ser emotivo e deixar a sua marca.
Veja-se também o modelo de donativos desenvolvido pelo criador para suportar a criação do jogo.
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