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março 19, 2008

RIP Arthur C. Clarke

Morreu o pai de Hal 9000. Arthur C. Clarke morreu ontem com 90 anos no Sri Lanka. Autor de meia centena de livros e outros tantos contos está por detrás do mais importante filme de ficção científica da história do cinema, 2001: A Space Odyssey. C. Carke teve clarividência para ver além dos desenvolvimentos que ocorriam na indústria espacial e desse modo foi reconhecido com vários prémios na área da FC alguns Hugo e Nebula assim como recebeu o título de Sir concedido pela rainha de Inglaterra.

2001 apresenta várias questões filosóficas de relevo e nomeadamente no campo da estética fílmica opera várias revoluções reconhecidas e altamente citadas nos estudos fílmicos. Sendo possível escrever teses sobre o filme em si, gostaria de destacar aqui, apenas, uma pequena parte do diálogo entre Hal e Dave no momento de desligar a ficha, é algo verdadeiramente hipnótico e que nos deixa a reflectir. Em baixo temos uma imagem desse momento, a citação e se clicarem na citação podem ouvir o trecho sonoro.


2010 The Year we Make Contact, também de Arthur C. Clarke, costuma ser esquecido muito por ter seguido um caminho menos enigmático e mais acessível que 2001, também por não ser uma obra tão revolucionária como a de Kubrick, cinematograficamente falando. Contudo julgo que se lhe derem uma oportunidade vão sentir o quão maravilhoso pode ser o cinema e o quão pequeninos e agradecidos podemos estar pela "vida" e "oportunidade" que temos em estar "aqui".
Politicians should read science fiction, not westerns and detective stories Arthur C. Clarke

agosto 26, 2007

Mais um adeus, EPC

Tenho a dizer que o último mês foi forte em notícias de mortes, não só pelas que tenho aqui referido como por outras que têm acontecido nas áreas da música e cinema.

Eduardo Prado Coelho morreu ontem, de ataque cardíaco em sua casa, com apenas 63 anos. Um ícone da intelectualidade portuguesa contemporânea, tinha a sua faceta pública espelhada nas colunas que escrevia no Público, no qual escrevia desde o seu aparecimento no início dos anos 90. Aliás, para mim, EPC e o Público eram dois elementos indissociáveis. Leitor desde o número 1 do Público, acompanhava há muitos anos as suas crónicas diárias sobre tudo e sobre nada. A sua capacidade para escrever era fenomenal e tal como ele próprio disse, escrever aquelas crónicas era "vicia(nte)", porque lhe era fácil encontrar temas todos os dias e porque lhe era ainda mais fácil exercitar a escrita para descrever textualmente os acontecimentos. Diria até que a sua forma de escrita era bastante visual, sendo fácil imaginar os cenários por detrás daquelas crónicas diárias. Para além de crónica, e sendo um espaço de opinião, aquela coluna servia como tribuna para alguns eventos que mais lhe tocavam nomeadamente na área da cultura e mais especificamente na área da literatura onde a mais recente batalha, ganha, foi sobre a polémica da TLEBS.

Apesar de nunca ter conhecido pessoalmente EPC sinto como se o tivesse conhecido. Ao longo dos anos, as leituras de todas aquelas crónicas, opiniões, ideias e curiosidades revelaram algo de profundo sobre quem era aquela pessoa que escrevia aquelas palavras. O que guardo é acima de tudo o seu sentido de optimismo, optimismo sobre Portugal apesar de todos os seus problemas e uma espécie de candura para com o mundo. Além disso os seus textos denotavam uma curiosidade interminável; uma capacidade de análise e desconstrução de excelência; uma bagagem cultural e artística invejável; e acima de tudo uma notável capacidade de narrativização e dramatização do quotidiano.

julho 31, 2007

Ciao Michelangelo

A sétima arte perde no mesmo dia dois consagrados monstros europeus. Ainda ontem tinha aqui deixado o pesar pela morte de Bergman e eis que hoje a sua mulher, Enrica Fico, dá a conhecer ao mundo que afinal morreu, ontem também, Michelangelo Antonioni.

Antonioni criou todo um modo expressivo próprio de comunicar através da câmara. Não tão genial na transformação em formas visuais do espaço íntimo introspectivo e cognitivo como Bergman, mas melhor na criação dos ambientes e principalmente das atmosferas onde se encaixavam na perfeição os seus personagens. A imensidão dos espaços abertos combinados com os silêncios "rítmicos" fazem de algumas das suas obras, marcos de referência intemporais, onde sempre se volta para inspirar criatividade e inventividade. Desde Avventura, L' (1960) a Deserto rosso, Il (1964) passando pelo brilhante Blowup (1966) e desembocando naquele que é para mim o seu expoente máximo Professione: reporter (1975). Antonioni teve uma carreira dividida entre o mercado europeu e americano e porventura isso poderá fazer dele um dos autores que melhor soube fazer uso da criatividade e originalidade europeias com a grande tecnicidade de contar histórias do cinema americano.

Como pensador profundo da arte fílmica Antonioni deixa-nos algumas ideias que foram sendo publicadas em entrevistas e que aqui deixo apenas em formato de citação. Nestas citações pode ver-se a preocupação de construção do set, que para ele envolvia ambientes e personagens num todo.
I mean simply to say that I want my characters to suggest the background in themselves, even when it is not visible. I want them to be so powerfully realized that we cannot imagine them apart from their physical and social context even when we see them in empty space.

Till now I have never shot a scene without taking account of what stands behind the actors because the relationship between people and their surroundings is of prime importance.

You know what I would like to do: make a film with actors standing in empty space so that the spectator would have to imagine the background of the characters.

Mais informação sobre Antonioni
- Biografia na Senses of Cinema, por James Brown
- Chatman, Seymour, (1985), Antonioni, or, The Surface of the World, University of California Press

julho 30, 2007

Adeus, Bergman

Foi hoje anunciada a morte de Ingmar Bergman na sua casa na ilha sueca de Gotland pela sua filha Eva Bergman. Face a esta notícia Fernando Lopes dizia à pouco na TSF que a morte de Bergman representa para ele o mesmo que se lhe dissessem "que a Suécia tinha sido apagada do mapa". Com meia centena de filmes realizados e uma carreira de mais de 60 anos dedicada ao cinema e ao teatro, Bergman morre com 89 anos. Um dos cineastas mais querido e respeitado, não só na Europa como, em todo o mundo.

O seu legado é um traço cinematográfico inconfundível marcado pela sua enorme capacidade de verbalização visual da introspecção humana. O que representa, talvez, o que de mais difícil podemos pensar em trabalhar quando olhamos para uma tela. A sua criatividade, inovação e inventividade levou-nos a encarar o cinema como uma arte maior, com capacidade para igualar o nível de desvelamento da condição humana, até então, só possível na literatura.

David: Come over here Maria. Look at yourself in the mirror. You are beautiful. Perhaps more so than in our time. But you've changed. I want you to see that you've changed. These days you cast rapid, calculating, sidelong glances. You're gaze used to be direct, open, and without any disguise. Your mouth is an expression of discontent and hunger. It used only to be soft. Your complexion has become pallid, you use make-up. Your fine, broad forehead now has four creases above each eyebrow. You can't tell in this light, though you can in daylight. Do you know how they get there? Indifference, Maria. And this fine contour from the ear to the chin, it's no longer quite so evident. That's where complacency and indolence reside. Look here, at the bridge of the nose, why do you sneer so often, Maria? Do you see, you sneer to often. Do you see, Maria? Beneath your eyes, those sharp, barely visible wrinkles of boredom and impatience.
Maria: Do you see all that in my face?
David: No, but I feel it when you kiss me.
Maria: You're making fun of me. But I know where you see it.
David: And where would that be?
Maria: In yourself. Because we're so alike, you and me.
David: You mean the selfishness, the coldness, the indifference?


diálogo de Cries and Whisperes (1973)

Links para Bergman

Página Oficial - http://www.ingmarbergman.se/
Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/Ingmar_Bergman
IMDB - http://www.imdb.com/name/nm0000005/

abril 04, 2007

RIP Paul Watzlawick e Jean Baudrillard

Morreu no Sábado, 31 de Março de 2007 com 85 anos em sua casa, Palo Alto, Califórnia. Leia-se o seu obituário por Wendel A. Ray. Um dos mais importantes investigadores da área de Comunicação. Uma importância que em parte atribuo ao seu background psiquiátrico e às condições propícias que se geraram nas Escola de Palo Alto na qual trabalhou com Gregory Bateson, Hall ou Goffman.

Dos seus trabalhos o mais importante pode-se dizer que talvez tenha sid0 a criação de uma abordagem da comunicação denominada de Pragmática que procurou estudar os estádios da comunicação como um todo, ou melhor como um sistema relacional aberto.

"Human interaction is described as a commmunication system, characterized by the properties of general systems: time as a variable, system-subsystem relations, wholeness, feedback, and equifinality. Ongoing interactional systems are seen as the natural focus for study of the long-term pragmatic impact of communicational phenomena. Limitation in general and the development of family rules in particular lead to a definition and illustration of the family as a rule-goverened system."[1]

O axioma que define todo este sistema é bem conhecido dos estudos da comunicação, tanto pelos que vêem nele uma realidade da comunicação, como aqueles que acreditam que esta visão não faz qualquer sentido (c.f Niklas Luhmann).

"It is difficult to imagine how any behavior in the presence of another person can avoid being a communication of one's own view of the nature of one's relationship with that person and how it can fail to influence that person" [1]

Ou seja, Watzlawick definia aqui o primeiro axioma da comunicação como: "A Impossibilidade de não Comunicar".

A verdade é que este axioma define todo o processo de organização social humano e animal e por isso está também intimamente ligado ao sistema emocional. Como mamífero e inserido num ecossistema social, a não comunicação verbal age como comunicação não verbal que é grandemente dependente da comunicação afectiva. A nossa emocionalidade sendo proveniente de um sistema automático e biológico, não regulado na fonte, impossibilita o seu controlo consciente e desse modo gera uma comunicação "aberta" com o "outro".

Temos assim que Março de 2007, fica desde já marcado pela morte de dois dos mais reputados investigadores do pensamento da comunicação:

Paul Watzlawcik, 31 de Março, 2007
Jean Baudrillard, 6 de Março, 2007



[1]
Watzlawick, P., et al., (1967), Pragmatics of Human Communication: Study of Interactional Patterns, Pathologies and Paradoxes, W W Norton & Co Ltd