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março 09, 2019

Efeitos visuais de drogas

Bryan Lewis Saunders (1969) é um artista americano, já com uma longa carreira em vários domínios — pintura, video, performance, poeta, etc. Descobri o seu trabalho através do documentário de David B. Parker, "Art of Darkness" (2014), tendo-me impressionado particularmente a sua obra "Under the Influence", que consiste num conjunto de auto-retratos criados sob a influência de múltiplas drogas. A curiosidade sobre os efeitos das drogas é natural, mas conhecê-los e compreendê-los é bastante difícil, não só pela dificuldade de aceder às substâncias, mas acima de tudo pelos riscos que implicam (Saunders sofreu vários problemas neurológicos, apesar de não irreparáveis, no processo). Os efeitos das drogas, tal como o de qualquer outra experiência humana, são altamente subjetivos, ainda assim este trabalho abre-nos uma pequena janela sobre alguns esses efeitos.

Lithium (ref), tratamento depressão. Sobredosagem: vertigens, alterações neurológicas.

Absolut Shatter (ref), +- cannabis concentrado. Efeitos: humor e euforia

Abilify (after 3 months usage 3x maximum dose) (Aripiprazole), Usado como antipsicótico. Efeitos sobredosagem: depressão

Aderall (Wikipedia), usado para ADHD. Efeitos - estimulante cognitivo e focagem.

Alcohol (ref.) Efeitos: sedação, amnesia, incontinência, etc.


Absinth (ref) inebriation. Efeitos: espécie de lucidez bêbada

Cocaine (ref.) Efeitos: perda de contacto com a realidade, felicidade intensa

LSD (ref.) Efeitos: estados mentais alterados

Haloperidol (ref). Usado para esquizofrenia. Efeitos: potencial repetição de movimentos, sedação

Opium (ref) - Efeitos: analgésico, desaceleração do processamento mental

Na página do Saunders é possível ver muitos mais auto-retratos realizados sob efeito de mais substâncias. Algo que salta à vista nestas imagens é claramente a influência cultural da droga em questão. Questiono, seriam as obras iguais se Saunders não soubesse que droga estava a tomar em cada momento? Muito provavelmente não, e isso diminui a objetividade destas janelas, ainda que possamos dizer que as pessoas que tomam drogas, tomam-nas na ânsia por determinados efeitos prescritos pela medicina ou cultura, e desse modo as suas experiências das mesmas nunca são desligadas dessas expetativas.

junho 02, 2018

Sonhos de Hollywood

O trabalho de Victor Castillo ganhou nova vida através de um pequeno documentário, criado pela Loica, que resolveu animar várias das icónicas obras dele. O filme intitulado "Hollywood Dreams" é muito curto, mas dá conta das influências e objetivos do autor assim como levanta um pouco o véu sobre o quanto as suas criações têm influenciado a paisagem cultural, mas o melhor de tudo são mesmo os pequenos filmes de animação das diferentes telas que nos permitem navegar por entre os universos criados por Castillo.

"Let's Get Out of Here" (2017)

"Pure Pleasure" (2013)

Castillo nasceu no Chile (1973), em 2004 emigrou para Barcelona, tendo começado a expor e a chamar a atenção, e depois em 2010 acabou por se mudar para LA. O seu trabalho tem surgido em murais, revistas e museus um pouco por todo o mundo.

"Hollywood Dreams" (2018) de Loica

maio 19, 2018

A Pintura em Proust

"Paintings in Proust" é, como diz o subtítulo, um "acompanhante visual de Em Busca do Tempo Perdido". Como tal, e depois de uma breve introdução à relação de Proust com a arte, apresenta-nos, capítulo a capítulo, as obras de arte visual citadas ou mencionadas, explícita ou implicitamente, na grande obra que é a "Em Busca do Tempo Perdido". A viagem deve claramente ser feita depois da leitura, não conseguindo, nem tendo essa intenção, criar o impacto da leitura, traz-nos no entanto as memórias da experiência que foi ler o Romance, e por isso acaba por nos tocar, não raras vezes.


Impressionado fiquei por não me ter dado conta aquando da leitura da quantidade de obras citadas. Impressiona porque dá conta de uma faceta, provavelmente necessária em Proust, o seu profundo gosto pela arte fundamental à sua particular sensibilidade para com o detalhe de que se constitui o real visual circundante, e que Proust tanto se esforça por nos fazer ver por meio das suas palavras. Temos desde de esboços e ilustrações a paisagens, cenas e retratos, Proust recorre a todo um imaginário visual fixado, estaticizado, como que para conseguir extrair melhor o sentimento da realidade, que pela sua natureza em constante mutação.

"A Vista de Delft" (1658) de Vermeer

O livro é dos anos 1920 por isso não surpreende que surja muito impressionismo do fim do século XIX, com Monet e Renoir, suportada por muita renascença com Da Vinci, Michelangelo, Botticelli, ou El Greco, tudo muito marcado por uma enorme recorrência aos pintores holandeses, Vermeer e Rembrandt. Sente-se o efeito da viagem que Proust fez a Veneza, a absorção da beleza italiana, mas sente-se também muito do mundo visual que Proust terá visitado muitas vezes no Louvre. O que mais me surpreendeu foi o recurso a alguns realistas russos que claramente terão surgido a partir do seu enorme interesse em Dostoiévski e Tolstói.

"Filósofo em Meditação" (1632) de Rembrandt

Conto voltar a este livro aquando da minha segunda leitura de "Em Busca do Tempo Perdido".

abril 25, 2018

Pintura russa: realismo e ideologia

Aproveitando o facto de estar esta semana a dar aulas na Universidade de São Petersburgo fui ontem ao famoso Hermitage e hoje ao Museu Estatal Russo e tenho de dizer quão boa foi a surpresa de hoje. O Hermitage é o típico museu internacional, com obras de vários nomes sonantes da pintura mundial — Rembrandt, Da Vinci, Michelangelo, Raphael, Picasso, Van Gogh, etc. — mas o Museu Russo, ao ser completamente dedicado à arte russa, abriu-me portas para todo um mundo novo. Não vou fazer um relato da visita, até porque existe imensa informação online sobre o museu, incluindo a visita virtual pelo Google Art Project, mas quero deixar alguns dados e obras que adorei experienciar.

"Guarda-chuva" (1883) de Marie Bashkirtseff

O Museu Russo está, de forma genérica, dividido em dois grandes pisos: o primeiro dedicado à Arte Antiga (séculos XIV a XVII) e Clássica (século XVIII); e o rés-do-chão dedicado ao Realismo (século XIX). Existe ainda um edifício adjacente que abriga uma  terceira ala, denominada Benoit Wing, na qual são apresentados diferentes movimentos da primeira metade do século XX. Assim, se o Hermitage vale bem o tempo investido, se quiserem sentir uma experiência distinta dos restantes grandes museus internacionais, aconselho vivamente o Museu Russo.

"Meio-dia no campo" (1864) de Petr Sukhodolsky

"O Degelo" (1871) Fyodor Vasilyev

"No Campo" (1872) de Mikhail Klodt

"Rebocadores do Volga" (1870-73) Ilya Repin

"Na Floresta" (1883) Ivan Shishkin

"Escolhendo penas" (1891) de Aleksey Kivshenko

Se tiverem pouco tempo, recomendo todo o piso dedicado ao Realismo, nomeadamente para quem gosta dos clássicos da literatura russa. Posso dizer que a experiência foi deslumbrante, exatamente por permitir ver algo que tinha apenas imaginado aquando das leituras. Existem obras menores que se socorrem da narrativa para agarrar o espectador, mas existem obras de enorme valor capazes de nos transportar no tempo, de nos fazer sentir a Rússia de Dostoiévski, Tolstói, Turgueniev ou Gogol. O realismo russo deixa para trás os ícones religiosos, a mitologia e a aristocracia para nos dar a ver o povo, os campos abertos, as condições de trabalho, acedemos assim ao pulsar de vida, algumas obras são mesmo capazes de apresentar marcas da impressão psicológica que parecia estar apenas ao alcance dos grandes mestres da literatura.

"Lev Tolstói descalço" (1901) de Ilya Repin

Já na área dedicada à primeira metade do século XX, temos imenso modernismo, cubismo, algum impressionismo e surrealismo, digo desde já que desconhecia a imensidão de obras aqui presentes que alargam os horizontes daquilo que se produziu no centro da Europa nesta época. Mas o que mais me tocou foi o sentir do impacto da Revolução de 1917. Aos poucos, enquanto viajamos pelas diferentes alas, vamos sentindo mais e mais o impacto político sobre a arte, não apenas nos conteúdos, mas intensamente nas suas formas e cores. É algo como se o tempo e seu significado passasse através de nós por meio das obras criadas pelos artistas. Refiro-me aqui apenas ao caráter da experiência de transformação, sem qualquer juízo sobre a qualidade das obras ou das ideologias defendidas por estas.

"Trabalhadoras dos Têxteis" (1927) Alexander Deineka

"Mulher com Baldes" (1928) de Vyacheslav Vladimirovich Pakulin

"A Agricultora de Bicicleta" (1935) Alexander Deyneka


Por fim, para quem tiver tempo para percorrer todas as galerias, deixo um bónus que vale a pena procurar numa das salas deste museu.

abril 02, 2016

A arte surge da metanálise?

Ao tentar separar Arte do Design (e Entretenimento) dei comigo a encostar a arte aos seus aspectos metanalíticos, ou seja a uma quasi-obrigatoriedade de reflexão sobre si mesma. Continuo a não me sentir completamente satisfeito com essa implicação, mas hoje ao passar os olhos por vários ensaios vídeo do Nerdwriter, parei no ensaio a propósito de "Las Meninas" (1656) de Velázquez, e mais uma vez a questão ressurge.

"Las Meninas" (1656) de Velázquez

Nerdwriter não traz nada de muito novo a análise do quadro, em termos interpretativos, mas ao fazê-lo em vídeo, reconstruindo as histórias das suas implicações, funciona como se estivéssemos no museu a ser assistidos por um crítico de arte na análise da obra, aliás vai mais longe, porque através da excelência do seu trabalhado de diagramação visual do quadro, dá a ver como não seria possível apenas olhando a tela na parede. A sua análise segue assim o sentido de muitas outras que têm definido esta obra de Velasquez como um autêntico tratado de filosofia da pintura, expondo as razões para tal, na sua capacidade metanalítica, de se definir enquanto questiona o real valor e implicação da sua expressão artística (a pintura). Vejam o ensaio para compreender o foco.

Recorte e diagramação de "Las Meninas" por Nerdwriter

Se me questionou este aspecto, houve ainda um outro que me tocou, sobre o qual tenho também refletido, e que tem que ver com a capacidade narrativa da pintura. A narrativa é uma forma de expressão também associada à pintura, tal como a fotografia, desde logo pelo seu posicionamento face à representação. Mas o que me tenho questionado aqui tem mais que ver com o facto de que um quadro dificilmente consegue conter em si todos os aspectos que dão corpo às necessidades de uma narrativa, desde logo porque lhe falta a dimensão temporal. Ora o que vemos neste vídeo, e podemos ver em praticamente todas as obras pictóricas dotadas de composição, é que a narrativa pode surgir do questionamento que o recetor faz sobre a construção da composição. Não existindo dimensão temporal na obra, ela passa a ser encenada pela mente do próprio recetor, que claramente necessita de possuir informação adicional para poder dar corpo aos seus elementos e deles extrair e construir o objeto narrativo final que se forma na sua imaginação.

Duas questões que me lançam na indagação sobre a arte e seus propósitos, sobre as quais deixo aqui apenas alguns traços que surgem de mais um belíssimo trabalho do Nerdwriter, que vivamente recomendo.

"Las Meninas: Is This The Best Painting In History?" (2016) Nerdwriter


janeiro 12, 2016

Da visceralidade da tinta a óleo

A materialidade da pintura plastificada pela macro cinematográfica. "Tone" é um pequeno filme de Trent Jaklitsch, no qual parece estar à procura de um acesso à essência da pintura por via de grandes planos da forma e dinâmica dos óleos. A momentos parece desejar penetrar a tinta, agarrar e plasmar através da objetiva para nos dar a sentir numa montagem imensamente dinâmica envolvida por uma música eletrónica que lhe confere o ritmo perfeito.





O efeito é simplesmente hipnotizante. Depois do vídeo vale a pena uma visita a Alyssa Monks.

"Tone" (2015) de Trent Jaklitsch

março 26, 2013

o poder do óleo na animação

Nightingales in December (2012) é a mais recente animação de Theodore Ushev, que já passou pelo Cinanima e pela Monstra do ano passado. Nightingales in December baseia a sua estética numa espécie de "expressionismo alemão" animado, suportado pela força expressiva da pintura a óleo. Theodore Ushev é ilustrador, designer gráfico, artista multimédia e cineasta, nasceu na Bulgária, e está radicado no Canada desde 1999, onde trabalha desde então para o NFB e onde criou alguns dos seus trabalhos de cinema de animação mais premiados.




Esta técnica de criar a animação a partir do movimento de pinturas rápidas, sobrescurecidas e que por vezes se assemelha a algum rotoscoping, é algo que já vem de trás, do seu filme anterior Lipsett Diaries (2010), um filme que ganhou também imensos prémios, e que pode ser visto no site da NFB, mediante pagamento. Sobre esta técnica Ushev diz-nos em entrevista,
"a razão pela qual fiz o meu filme com pintura, foi porque envolvendo cada frame num expressionismo estrito, seria a melhor forma de expressar as suas emoções." [fonte]
E é exactamente isso que podemos sentir neste Nightingales in December (2012), uma força emocional tremenda emanada das imagens que se sucedem, que se movem e entrecortam ao ritmo da música de Spencer Krug e seguem no desvelamento da sinopse escrita pelo autor,
"This metaphorical surrealist tale is an allusion. Nightingales in December is a trip into the memories, and the fields of the current realities. What if the Nightingales were working, instead of singing and going south? Is the innocence the only savior of birds songs? There are no Nightingales in December... What is left, is only the history of our beginning, and our end."
Nightingales in December (2012) de Theodore Ushev

outubro 28, 2012

Markus Åkesson, do vazio entre acções

The Woods, 2011

The Passage, 2012

The Garden Of Initiation, 2012

Chesterfield Dreams, 2011

Childs Play, 2010

Insomnia, 2011

Rites of Passage (The big night), 2011

The Woods ll, 2012

Adorei o trabalho de Markus Åkesson (Suécia, 1975) essencialmente pelo seu realismo com leves rasgos mágicos. Ultimamente ando muito atraído por estas imagens que representam a pele humana nestes tons de creme com incidência de muita luz. Apesar de um efeito realista, sofre um efeito expressionista pela intensidade com que a pele se destaca no quadro, tendo em conta que não se tratam de retratos mas cenas completas. Produzem imagens que ficam conosco.

Em termos do tema, Åkesson tem uma tendência natural para produzir imagens narrativas, que nos questionam sobre o que se passou, está a passar e irá passar a seguir. Como que se este fixasse um momento dinâmico na imagem carregado de pistas que questionam o espectador. Existe uma clara tentativa de se representar acções intermédias ou de intervalo, que por sua vez geram em nós todo o questionamento sobre o antes e o depois. Muito disso é conseguido por via das expressões dos seus personagens que forçam um certo sentimento de vazio em meio à riqueza visual e indagam o espectador sobre o sentir narrativo daquelas pessoas.

outubro 18, 2012

esvaziando a perspectiva

Depois de há poucos dias deixar aqui um video experimental que apresentava ruas de São Francisco sem carros, agora é a vez de obras de arte famosas do renascimento. Bence Hajdu um estudante de Belas Artes húngaro resolveu "limpar" várias pinturas renascentistas para assim poder vislumbrar melhor a técnica de perspectiva.

The last supper (1495-1498) de Leonardo da Vinci
I am a student at the University of Fine Arts in Hungary. at one of the descriptive geometry classes we had a task to find and draw the perspective and horizon lines of renaissance and other pictures with significant perspective space. I thought it is not that interesting to just draw lines, so I decided to erase all the characters from them and examine how the painter really created the perspective space and how it actually looks.

I saw this could be something exciting and continued thinking and working on it. after a while I found myself interested in the new atmosphere and the new thoughts the retouched pieces generated without their main subjects. [Link]

Oath of the Horatii (1784) de Jacques-Louis David



Annunciation (1489-1490) de Sandro Botticelli



 Seaport with the Embarkation of St. Ursula (1641) Claude Lorrain



The Annunciation (1450) Fra Angelico



[via Gizmodo]