dezembro 15, 2007

Iluminação virtual

Depois de ver Ratatouille confesso que fiquei surpreendido com o festim visual. A Pixar continua a conseguir dourar a forma, dar-lhe um toque de tal ordem que se torna impossível não ficar espantado na sua apreciação. Não estou a falar do realismo, estou sim a falar de pura estética no campo da iluminação. Sabemos perfeitamente que a Pixar consegue ter os melhores técnicos do mundo a trabalhar para eles, pois à semelhança da Google não tem concorrência à altura a uma escala planetária.

No entanto passados mais de 20 anos de evolução tecnológica já não esperava conseguir ser surpreendido pelo lado da forma. Como história, julgo que está imensos pontos abaixo de The Incredibles ou Toy Story, não chega pegar em elementos opostos (ratos e cozinhas) para que a criatividade brote, apesar de ser isso que os manuais apontam. As personagens são todas muito estereotipadas, o enredo está carregado de clichés fáceis e com uma progressão mais do que previsível. Os personagens chegam mesmo a tornar-se pouco verosímeis, no fundo julgo que o problema de Ratatouille é muito semelhante ao de Cars. E seguindo esta comparação é de evidenciar que ambos se destacam exactamente pelo lado do brilhantismo estetico-técnico, nomeadamente nos campos do environment design e lighting direction.

Não posso deixar de citar aqui Jeremy Birn responsável pelo lighting design em ambos os filmes. Brin que escreveu um dos melhores livros da área Digital Lighting & Rendering o qual utilizei e referenciei extensivamente na minha tese. Se quiserem perceber um pouco mais sobre os processos de lighting e rendering, nas suas valências estéticas, é sem dúvida a referência a seguir.

dezembro 14, 2007

Portátil português

Estampagem de João Oliveira, 2007
Mais um prémio de Design para Portugal em 2007. Depois de André Costa com o desenho do Moovie para a Peugeot, do videoclip de Carlos Oliveira para os Incubus, agora foi a vez de João Oliveira vencer o design para o novo portátil, MTV, da HP. De entre 8500 propostas de 112 países, o júri escolheu Asian Odissey.

Protótipo de André Costa, 2007


Videoclip de Carlos Oliveira, 2007

Não posso deixar de referir aqui o meu espanto ao ouvir hoje o João Oliveira, de apenas 20 anos, dizer na TSF que iniciou o seu trabalho como designer há apenas um ano. Espanto, mas não surpresa. É verdade que podemos trabalhar muito para sermos grandes designers, pianistas, futebolistas, escultores entre tantas outras, mas se não existir algo de inato em nós que nos permita emergir no meio da multidão dificilmente o conseguiremos apenas com trabalho. O problema de muitas pessoas é passarem toda uma vida sem conseguirem encontrar a área em que são realmente bons.

dezembro 13, 2007

Gravidade em Flash


"Line Rider" (2006) é um jogo/brinquedo que foi inicialmente desenvolvido por Boštjan Cadež, estudante de uma Universidade da Eslovénia para uma cadeira de Ilustração. Facilmente se torna viciante para quem adora testar detalhes de física, nomeadamente força e movimento com gravidade. A salientar uma vez mais que com uma simples plataforma como o Flash é já possivel desenvolver qualquer tipo de algoritmia que se necessite potenciada por uma interface intuitiva e vectorial ainda que 2d. E não menos interessante é verificar que o artefacto foi criado por um aluno de arte e não de computação.

Depois mais espantoso que o sistema em si é ver a criatividade (e muito trabalho/paciência) de alguns dos utilizadores que fizeram do jogo em si uma autêntica máquina de criação visual. Veja-se o exemplo abaixo e podem visitar tantos outros no próprio site. Obrigado Leonel pelo envio da informação.

dezembro 10, 2007

Beowulf, 3d e 3-D

Bordwell e Thompson discutem em profundidade implicações tecnológicas sobre a estética do badalado Beowulf (2007) (atenção à distinção entre 3d (CGI) e 3-D). Não vou discutir aqui também o filme porque ainda não o vi, mas gostava de realçar o facto de o próprio trailer demonstrar de forma efectiva as fraquezas do filme ao mostrar apenas alguns frames de cada sequência. Esta manobra destaca o facto de que as imagens estáticas em Beowulf são muito boas, tecnicamente, mas quando colocadas em movimento falham na comunicação efectiva de vida. O trailer vai mostrando apenas curtos segmentos com imensos fade outs a negro, uma espécie de ultra-intensified continuity onde só a sonorização com fortes impactos acústicos ajuda a manter a coerência do trailer. A relembrar que o uncanny valley está aí para durar.

dezembro 09, 2007

Simone em movimento gráfico

Excelente trabalho realizado pela aluna Tamara Connolly do Mestrado de Design da School of Visual Arts, NY. Utilizando o movimento visual de tipografia compôs um filme para Feeling Good de Nina Simone.



[a partir de Cartoon Brew]

dezembro 06, 2007

base da pirâmide consumista

A Suécia e a Noruega implementaram leis há mais de 10 anos que proibem o desenvolvimento de publicidade especificamente para crianças até às 12 anos. No entanto no resto do mundo ocidental continuamos impávidos e serenos a ver os barcos passar. É atroz a quantidade de publicidade dirigida às crianças que desfila durante todos os meses de Outubro a Dezembro de cada ano. Na imagem acima podemos ver uma campanha da McDonald's realizada na Florida. A McDonald's associou-se a um liceu e passou a oferecer um Happy Meal aos miudos que conseguissem notas A e B na disciplina de cidadania, é claro que alguns pais já começaram a entrar em parafuso com esta persecução às crianças.

Quanto à imagem em si, julgo que é muito boa. A tonalidade branca da pele contrastada pelo vermelho escuro da boca e nariz criam uma sensação estranha mas atraente como que uma mistura entre o angelical e o mal. A expressão da boca e das mãos também está muito bem conseguida porque confere um traço de naturalidade ao momento criando a sensação de que a situação é real e vulgar.

dezembro 04, 2007

flash Portal

Versão flash do jogo Portal da Valve.

[a partir de Wonderland]

from Nottingham, Tindersticks

Não cheguei a deixar aqui a mensagem mas como estou agora a ouvir os cds pela primeira vez, aqui fica. Há duas semanas trouxe da terra de origem dos Tindersticks o seu mais recente álbum que terá saído em Julho passado. Um CD que contém as sessões gravadas na BBC com John Peel e Mark Radcliffe.
This twenty-five track compilation brings together the band's favourite BBC session work recorded for John Peel and Mark Radcliffe and comes with touching liner notes from keyboard player David Boulter which gives a rare insight into this often mysterious band. It's all stunning stuff as you can imagine with tracks spanning from 1993-1997, the era when the band recorded the first three (and for most listeners their finest) albums and includes some special extra tracks, most notably a version of Pavement's 'Here' which simply has to be heard to be believed. Boomkat
O que posso dizer é que realmente estamos perante a melhor fase dos Tindersticks, os seus primeiros três álbuns. As gravações soam a um ritmo mais calmo do que os originais mas também mais duros instrumentalmente, menos polidos. Na essência temos a voz de Stuart Staples e melodia/melancolia que continua e continua e se impregna em nós a cada vez que se ouve. Destaco sem dúvida Here dos Pavement que nos dá muitos arrepios ao longo dos curtos 4 minutos. E já agora deixo aqui a primeira quadra de Tiny Tears porque continua a gerar em mim, um sentimento do belo, em termos musicais.
You've been lying in bed for a week now
Wondering how long it'll take
You haven't spoken or looked at her in all that time
For that was the easiest line you could break

dezembro 03, 2007

title design português

Um dos melhores genéricos feitos em Portugal. Só demonstra que o facto de começar a aparecer uma indústria de produção de conteúdos audiovisuais, ainda que de telenovelas, só tem feito com que os recursos humanos da área tenham melhorado significamente nos últimos anos.

Genérico da Ilha dos Amores (2007)

dezembro 02, 2007

um videojogo como metáfora

Pela primeira vez no cinema temos um videojogo que serve de metáfora a um estado emocional de um personagem e é mesmo apresentado como terapia para um transtorno psicológico. Reign over Me retrata o stress pós-traumático (PTSD) de Charlie, uma pessoa que perdeu as três filhas e a mulher que voavam num dos aviões que se despenhou contra as Torres Gémeas no 11 de Setembro. O efeito da desordem psicológica leva Charlie a fechar-se emocionalmente, a isolar-se. Usa constantemente headphones para poder bloquear mensagens sonoras que possam reavivar a emocionalidade negativa ou evita a televisão e as fotografias do passado. O seu refúgio é o mundo de Shadow of the Colossus.

Shadow of Colossus aparece aqui como um libertador do espírito, de efeito tranquilizante e ao mesmo tempo como metáfora da longa e complexa luta pela qual Charlie terá de passar para ultrapassar o estado em que se encontra. Os bosses de Shadow funcionam como verdadeiros obstáculos que Charlie vai ultrapassando. A aridez do mundo, a ausência de vida, a morte da amada, juntamente com a existência de gigantescos monstros funcionam na perfeição como colagem ao estado mental de Charlie.


Em entrevista, à Kotaku, Jeremy Roush refere a razão pela qual referiu Shadow of the Colossus ao realizador Mike Bynder e a Adam Sandler. À partida o guião referia apenas uma espécie de jogo arcade sem referências, o típico adereço cinematográfico de faz de conta. Mas para Roush, o videojogo poderia ser visto como uma terapia para alguém que se encontra num estado de,
..refusing to accept the death of loved ones. Seeking out an escape from that truth. Giants falling in slow motion. "You could see where someone who was dealing with 9/11 would be engrossed by a giant that keeps collapsing over and over again,"
O filme está ainda repleto de referências da cultura popular desde o Capitão América a Bruce Springsteen, passando pela cidade de Nova Iorque como pano de fundo e como é natural Shadow of the Colossus. Poderia dizer-se que se trata de uma tentativa de colagem ao mundo real, contudo sente-se que o objectivo aqui é antes repescar as referências como forma de criação do sentimento de familiaridade nos espectadores com aquela realidade, não só muito actual, mas também muito americana. Aliás na IMDB o filme consegue obter uma nota altíssima perto dos 8 em 10 mas é evidente que esta votação está mais relacionada com a temática tratada no filme e pelo que ele consegue explorar do sentimento actual dos americanos face ao dramático evento decorrido em 2001 do que propriamente com as qualidades intrínsecas de Reign Over Me como objecto artístico.