Isto porque o design - gráfico, industrial ou outro - possui uma abordagem criativa e de desenvolvimento muito concreta, que em largos traços se aproxima das abordagens usadas na engenharia, e que não é mais do que fruto do método experimental científico. Ora a arte clássica nada mais era que isso, o uso de standards qualitativos, a passagem de métodos dos mestres para os aprendizes, etc., procurando aperfeiçoar-se o que vinha de trás, elevando e transcendendo o já existente. Claro que assim como podemos encontrar diferenças entre o design e a engenharia, também as podíamos encontrar face à arte. A arte por não ter funcionalidade e utilidade fechadas, por não ter de comunicar de modo unívoco a sua mensagem, possuía muito maior liberdade na sua génese criativa. (Para uma abordagem à criação artística baseada no método científico aconselho a leitura do trabalho de Pentti Routio.)
Mas enquanto a Engenharia e o Design se aperfeiçoaram e ganharam maior consciência dos seus próprios métodos para poderem evoluir qualitativamente, a Arte encetou o caminho contrário. Optou por desfazer por completo os métodos que vinham de trás, elevando a ideia de não ser necessário cumprir com os aspectos básicos da comunicação com o outro, ao aspecto central da arte. A questão do diferente, do subversivo, assumia assim poder ilimitado, concedendo ao artista a possibilidade de apresentar trabalhos que não chegavam sequer a sair da redoma do subjectivo abstracto, ou conjunto de ideias inacabadas. A arte deixava para trás a base social humana, nomeadamente a expressão e comunicação, em favor do mais básico individualismo.
Com isto vimos surgir nas galerias cada vez mais, e mais, obras com graves lacunas expressivas, incapazes de comunicar para além do círculo restrito de amizade do artista, para além do próprio artista. A arte contemporânea defende que a obra está contida no “statement” do artista, o que importa está na abordagem conceptual subversiva. Esquece assim por completo a obra em si, as suas qualidades técnicas, expressivas e experienciais.
Assim, quando hoje se defende a imposição do "feio" pós-moderno sobre o "belo" clássico, como Florczak refere a meio do filme, eu vejo outra coisa, vejo antes a imposição do "não saber fazer", da "ausência de técnica", à exigência, esforço e disciplina do "saber fazer". Ou seja, muitas obras contemporâneas não são feias porque se procura que o sejam, mas antes porque quem as desenvolve se dedica apenas a pensar as mesmas, sendo incapaz de implementar o que verdadeiramente pretende, quando pretende. E como isso se tornou a norma, o artista contemporâneo tornou-se alguém que sabe cada vez menos fazer, sendo cada vez menos um Artista e mais um Filósofo.
"Why is Modern Art so Bad?" (2014) de Robert Florczak
Mais sobre o assunto
Do humanismo ao mercantilismo. Arte, desporto e universidades, in Virtual Illusion, 24.06.2013
A Ciência por detrás da Arte, in Virtual Illusion, 11.10.2013
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