The Savages, 2007, Tamara Jenkins, USA, Fox Searchlight Pictures
Dois irmãos quarentões e sós têm de tratar do pai que está também só e sofre de degeneração cognitiva. Um professor universitário doutorado em Drama, e uma “trabalhadora temporária” com mestrado em artes que anda à procura da primeira produção de uma das suas peças para teatro. O argumento percorre uma espiral de eventos que obriga à aproximação dos dois irmãos em favor de um pai que se manterá imutável reflectindo o padrão do pai ausente.
O filme abre com o forte contraste entre o lirismo da Sun City coberta de sol e perfeição romantizada com som de caixa de música com a neve que cai à porta da Nursing Home de Buffalo representando um autêntico banho de realismo que nos absorve e nos transporta do filme para o quotidiano do que nos espera. A identificação é grande dado que esta realidade se pode concretizar do nosso lado enquanto filhos ou pais, qualquer uma das situações faz já parte deste século onde cada vez mais a idade perdura sem sabermos muito bem o que fazer com ela.
O screenplay de Tamara é construído na base de acções minimalistas, onde apesar de se apresentar uma realidade dura, ela é contida um pouco à semelhança das emoções que vão assolando Linney e Hoffman. O filme assume totalmente a estética arquetípica do cinema independente americano onde tudo parece acontecer por assim estar predestinado e sobre o qual os personagens têm muito pouco ou nenhum controlo demonstrando amiúde as fragilidades interiores sem nunca se assumirem ou se expressarem abertamente, como que com medo dos eventos a que estão votados. Contudo o argumento vai-se encarregando de através de uma forma quase voyeurista apresentar essas mesmas propriedades que acontecem quando vemos Hoffman chorar na casa de banho ou quando vemos Linney dando a mão ao cão enquanto espera que o namorado atinja o orgasmo.
A realização é toda ela muito segura, muito perfeita e não deixa nada ao acaso desde o contraste entre o Arizona e Buffalo, ao contraste versus proximidades dos dois irmãos (as interpretações de Linney e Hoffman são sublimes) que com a música que acompanha vão criando um eficaz balanceamento entre o drama e a comédia muito típico deste tipo de cinema. Existe sempre um drama maior que a vida que é acompanhado por alguma ironia de quem observa, como quando vemos Linney a praticar aeróbica em frente ao televisor à mistura com os pequenos momentos de humor pelos quais cada personagem vai passando e que no final Tamara fecha com o título do novo livro de Hoffman: "No Laughing Matter: Dark Comedy in the Plays of Berthold Brecht".
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