novembro 09, 2019

Tatuagem e auto-estima

A tatuagem é hoje algo bastante comum, não só pelo aumento do número de artistas e criadores que tornaram o acesso à prática mais fácil, mas também porque a própria sociedade passou a aceitar melhor a tatuagem. Aquilo que antes era um estereótipo de decadência hoje é uma marca de individualidade e status social. Contudo os trabalhos de tatuagem que agora aqui partilho — de cobertura de cicatrizes — vão muito além da afirmação do indivíduo, elas podem ser vistas como verdadeiros transformadores identitários.
Alguém que sofreu na pele, ou nasceu, com uma alteração que transfigura a sua imagem, por muito que trabalhe a auto-estima, aprenda a desvalorizar a aparência, tem sempre, ao longo da vida, de passar por momentos nos quais é posta a prova. Para alguns com mais, para outros com menos intensidade, praticamente todos acabam sofrendo na "pele" a depreciação do seu corpo, o que produz forte impacto na auto-estima.
Esta "nova" abordagem à tatuagem, como forma de transformação visual de cicatrizes, é no fundo  uma forma de ressignificação efetiva das formas deterioradas da pele. Não se trata de mero embelezar, ou tornar "artístico" um "defeito", mas é antes um processo de alteração da essência simbólica de algo que antes era simplesmente negativo, pelo simples facto de mostrar uma deterioração, em algo positivo pelo que oferece de novo à interpretação. Existem casos em que praticamente se esconde, mas noutros as cicatrizes ganham novas leituras, podendo quase dizer-se que oferecem a essas pessoas segundas oportunidades.






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