O livro apresenta um discurso jornalístico, entremeado com algumas citações de estudos científicos assim como de obras literárias, mas funciona bem no modo como narra a reaparecimento e readaptação de Knight, nomeadamente pelos esforços envidados para investigar o porquê do afastamento, o que teria levado alguém com competências intelectuais elevadas e uma boa família a abandonar a humanidade, sem olhar para trás, nem uma palavra dada aos pais e aos irmãos que teriam de se resignar a acreditar que teria morrido. Deixo um excerto (p.148) que me tocou particularmente, por colocar em evidência tudo aquilo que George Herbert Mead, Erving Goffman e Albert Bandura teorizaram sobre o que edifica o Eu e nos torna humanos.
“O que aconteceu a Knight nos bosques foi, segundo ele, inexplicável. No entanto, aceitou pôr de lado os receios e tentar. 'Não é fácil', disse ele. 'A solidão permite desenvolver algo precioso. Não posso descurar essa ideia. A solidão aumentou a minha perceção. Mas a ideia enganadora é esta: quando apliquei a minha perceção aumentada a mim próprio, perdi a identidade. Não havia público, não havia ninguém para quem atuar. Não havia necessidade de me definir a mim mesmo. Tornei-me irrelevante'.”“A linha divisória entre ele e a floresta, disse Knight, parecia dissolver-se. O seu isolamento parecia mais uma comunhão. 'Os meus desejos desapareceram. Não ansiava por nada. Nem sequer tinha um nome. Para o dizer de forma romântica, estava completamente livre'.”(...)“Foi precisamente esta perda do eu que Knight experienciou na floresta. Em público, recorremos sempre uma máscara social, a uma representação para o mundo. Mesmo quando estamos sós e nos olhamos ao espelho, fingimos, motivo pelo qual Knight não guardava nenhum espelho no acampamento: abandonou todos os artifícios; tornou-se ninguém e toda a gente.”
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