setembro 12, 2007

visualizando a emoção

Magnífico trabalho de transformação de um estado emocional em ideias e formas visuais que são capazes de em breves segundos passar ao espectador a angústia de um momento que alguns já conheceram e outros sentem receio em vir a conhecer.


setembro 11, 2007

um quarto de hotel

Nos últimos anos o género de terror cinematográfico tem sido bastante fértil, não só na sua vertente tipificada americana como também com o surgimento da vaga asiática protagonizada pela série Ringu e depois The Eye assim como pelas séries de videojogos Silent Hill ou Siren ou pelo fundador da corrente, Resident Evil, que entretanto recebeu o rótulo de survival horror. Aliás pensando agora nas séries de videojogos de sucesso questiono se o aparecimento desta nova vaga de filmes de horror não estará de algum modo ligada a estes videojogos.
Confesso que este género, pelo qual sempre tive uma atracção, nomeadamente com nomes como Carpenter, Craven ou Raimi decresceu um pouco na minha listagem de objectos a seguir, muito porque as técnicas de geração de suspense e tensão melhoraram bastante. Principalmente com o aparecimento da geração de cineastas asiáticos Hideo Nakata, Takashi Shimizu, James Wan ou os irmãos Pang. Houve uma total optimização na forma de comunicar o medo e desse modo os filmes mais recentes debatem-se mais com a produção de momentos de alta tensão do que propriamente na criação de histórias com capacidade para gerar o seu próprio universo mítico. Confesso que até há poucos anos continuava a nomear The Exorcist de 1973, como o filme mais impressionante na criação de medo, no entanto isso alterou-se. Ringu (1998), Gin Gwai (2002), Ju-on (2002), Saw (2004), Hostel (2005) conseguem superar The Exorcist. São filmes edificados sob um prisma de grande tensão e violência em que o universo filmado é muito restrito e tudo se adequa para que o fim seja optimizado na produção de grandes descargas de adrenalina por parte do espectador. Existe uma sensação muito semelhante ao efeito de montanha russa, na qual se sente prazer do medo provocado que coabita paralelamente com uma vontade de fazer terminar o mais rapidamente aquele momento de suposto prazer. Ou seja a emoção é despertada pelo interesse em saber, em conhecer, em ver o final atravessando todos e quaisquer obstáculos para lá chegar. A chegada é como uma prova de sobrevivência, uma prova de satisfação por ter ultrapassado, por estar intacto. Existe uma sensação de alívio com o desfecho do filme, pois apesar de sentirmos que é apenas um filme, a violência estética, formal é de tal forma bem trabalhada que não nos permite grandes espaços de fuga. Segundo a neurociência o adrenalina produzida durante a tensão, obriga o corpo a libertar um determinado conjunto de neurotransmissores que provocam uma enorme sensação de bem-estar (o tal alivio) em forma de fonte energética interior. Assim o medo, a passagem pelo efeito de medo é a curto-prazo compensatória biologicamente e desse modo acaba por funcionar adictivamente.

O que me atraiu em Vacancy foi particularmente o efeito voyeur aliado ao snuff movie, perceber o que estava ali montado. O trailer fez-me lembrar Sliver apesar de numa vertente distinta, mais pelo controlo das câmaras. À semelhança de Sliver é um filme que tinha uma ideia base muito boa mas que não é explorada no detalhe permitindo que o filme se concentre uma grande parte na acção do gato e rato e menos na progressão psicológica dos personagens. A própria construção dos personagens é estranha, propondo uma problemática que está na base dos problemas maritais de um casal após a morte acidental de um filho mas que não chega nunca a ser desenvolvida. O filme aparece-nos como uma moral na qual é necessário continuar a acreditar e que faz o casal crescer emocionalmente através da exploração das suas capacidades para sobreviver. Uma espécie de reforço da máxima "o que nos une são as coisas más que passamos juntos e não as boas". Não querendo entrar no detalhe, o final é interessante por ser anti-convencional. A convenção do filme de terror tem um final típico em que o assunto nunca termina quando parece terminado, e aqui subverte-se essa regra. E é estimulante ver como somos colocados à prova, como esperamos que esse final se repita e volte a repetir e mesmo nada acontecendo a tensão está lá.

setembro 10, 2007

movimentos fluídos

Definindo Loco Roco, fluidez, poderá ser uma boa forma de o fazer. Uma representação simplificada pela bi-dimensionalidade. Um personagem, um objectivo. O que é que surpreende em Loco Roco? É o modo fluido como a interactividade responde ao jogador, o modo fluido como a representação do mundo e personagem se movem. Apenas 3 teclas são necessárias ao longo de todo o jogo, mas essencialmente jogamos a maior parte do tempo com apenas duas teclas que movimentam todo cenário e ajudam a executar as tarefas.

Não sendo extraordinário, porque não é inovador nas partes mas sim no conjunto, outros jogos têm utilizado partes das técnicas de gameplay aqui representadas. A verdade é que Loco Roco consegue agarrar o jogador, não só pelo conceito de jogabilidade hiper-simples mas também porque o jogo em si não oferece puzzles dados à complexidade enigmática de muitos outros jogos. Ao longo de cada nível podemos avançar mesmo que não tenhamos cumprido todos os objectivos e isso é fundamental para a manutenção da fluidez do jogo, para a sensação de liberdade, para a criação de adicção ao mundo do jogo. Mas julgo ainda que para além de tudo isto, o motivo que mais adicção cria no jogo, é muito semelhante a outros jogos, nomeadamente os videojogos de mundos virtuais, e passa por uma curiosidade obsessiva em querer saber como será o próximo mundo. Saber de que modo os designers desenharam ou estruturaram a representação e a mecânica ou física do mundo que se segue.

Apesar de ser pequeno e poder ser terminado em apenas um dia, na verdade é um jogo muito dado ao replaying. Tendo ainda em conta que é um jogo de consola móvel (PSP) funciona muito bem para pequenos momentos de jogo como deslocações de metro, esperar por alguém ou enquanto se ouve uma palestra menos interessante.

setembro 09, 2007

Second Life na UM

Decorreu no passado dia 5, o workshop Novos Media 07, sobre a plataforma de interacção virtual, Second Life. De um modo geral posso dizer que o workshop foi bastante interessante e produtivo. Foram apresentadas ideias novas, perspectivas diferenciadas e pensamento sobre este novo mundo que se abre a todos nós

Da parte da manhã, Carlos Santos e Luís Pedro da Universidade de Aveiro abriram o workshop com uma interessante introdução ao mundo SL para uma plateia constituída por profissionais da informática, educação e psicologia assim como estudantes de Comunicação Social e Tecnologias da Informação ainda com muitas dúvidas sobre o que é o SL.

Logo a seguir Paulo Frias, da Universidade do Porto, apresentou um trabalho de análise quantitativa realizado sobre matérias publicadas nos media portugueses sobre SL entre Janeiro e Agosto de 2007. O investigador encontrou uma necessidade dos media em falar sobre SL pelo lado da novidade e desse modo a grande maioria das notícias foram consagradas aos primeiros dos primeiros, não havendo lugar para segundos. A primeira Universidade, a primeira embaixada, o primeiro balcão de justiça do mundo Sl, a primeira... etc.

Depois do intervalo Luís Sequeira, da Beta Technologies, brindou-nos com uma comunicação bastante incisiva sobre a gestão e marketing online. Sem qualquer complexo, apresentou as suas 6 dicas para lançar um negócio em SL, que segundo ele representam a base de qualquer campanha de marketing, seja no mundo virtual ou real. E de seguida entrou num brilhante case study comparativo entre as plataformas You Tube e SL. Falou de números, de dados oficiais e de estatísticas que elucidam razões para algumas ausências de dados oficiais. Falou de uma evolução que está a acontecer na publicidade online, a passagem da contagem do número de hits para a contagem do número de minutos. Ou seja, parece existir um claro interesse em saber quanto tempo permanece um utilizador em frente do site e menos, quantos cliques efectua. É claro que não será a métrica milagrosa, alguns problemas surgirão, uma vez que posso entrar numa página e deixá-la aberta enquanto vou buscar café. De qualquer modo, o indicador do tempo de permanência poderá ser muito mais útil uma vez que permite saber quanto tempo os olhos da pessoa fixaram aquela página ao invés de saber apenas que ali clicou. E aqui os números de Luís Sequeira foram impressionantes, ao demonstrar matematicamente que, a presença de 2 ou 3 pessoas por dia num local em SL corresponderiam a um volume de 150 000 cliques/mês num website normal.

A última intervenção coube a Leonel Morgado da Universidade de Trás-os-Montes e Alto-Douro que apresentou as possibilidade de realizar investigação aplicada em ambientes SL. Para Leonel Morgado, SL representa a evolução natural das plataformas de programação, que à semelhança das ferramentas de criação de blogues, permitiram a um número imensamente maior aceder à construção de páginas de internet. Assim Leonel Morgado considera que devemos olhar para SL mais como uma ferramenta de Criação e menos de Consumo. O prazer do SL estará na forma como utilizarmos as suas potencialidades, individualmente, para criar. Sejam as criações, linhas de código que codificam listagens, interfaces ou comportamentos de agentes virtuais, ou a modelação arquitectónica, mecânica ou anatómica. Para Morgado a abordagem a SL deve ser realizada seguindo uma evolução assente na: Criação; Integração e Ensino. Ou seja, criação de elementos SL, integração desses elementos em SL como resposta às necessidades do ambiente e finalmente ensinar o modo como se executou todo o processo anterior, a outros.

A tarde foi dedicada por completo ao desenvolvimento e hands-on SL. 3 horas de formação, divididas por 3 formadores e 3 objectivos de criação distintos. Ana Carla Amaro da Universidade de Aveiro abriu a tarde falando sobre a personalização de avatares, demonstrando como se podem desenhar as características anatómicas assim como as roupas utilizando as ferramentas de desenvolvimento do próprio SL. A seguir os alunos da equipa second.UA demonstraram como se podem modelar pequenos elementos do mundo, desde pátios, a mesas e cadeiras (ver as imagens abaixo). Finalmente Silvana Moreira da Beta Technologies mostrou que o potencial de SL está em permanente evolução, destacando o trabalho que é possível realizar ao nível da iluminação e decoração. Apresentou vários exemplos de modos de trabalhar as luzes, as sombras e as texturas. Preciso ainda de referir aqui o nome de Pedro Almeida, da Universidade de Aveiro, que apesar de não estar presente fisicamente, foi fundamental na ajuda que nos deu a partir de sua casa para criar contas de SL, uma vez que as redes universitárias reguladas pela FCCN estão a impedir esta funcionalidade, sem percebermos até ao momento porquê.

Depois de todo este trabalho a equipa second.UA e os elementos da Beta Technologies realizaram uma análise dos trabalhos efectuados pelos participantes do workshop e decidiram atribuir o prémio de 250 Linden Dollares a dois grupos pelo bom trabalho realizado no workshop.

Trabalhos realizados pelos participantes durante
as 3 horas (imagens do nitratodocaos)


No final, posso dizer, que tanto os participantes como os oradores/formadores se sentiram satisfeitos com o que se conseguiu desenvolver ao longo de um dia dedicado, por completo, a SL. Sabemos que no essencial foram lançadas sementes para que as pessoas entrassem em SL e sentissem vontade e à vontade para aí permanecer.

A mim resta-me agradecer mais uma vez a todos os que participaram e dizer apenas, até breve.

setembro 08, 2007

jogando o futuro energético

Nos últimos anos a área de casual games tem recebido vários exemplos interessantes de cruzamento entre o Entretenimento e a Informação. Will You Join Us foi produzido pela Chevron e o The Economist Group, e pretende alertar para o consumo energético nas cidades. Utilizando a mesma metáfora de simulação utilizada por Simcity, coloca o jogador no lugar de um "ministro" da energia de uma cidade que tem de tomar decisões com vista a atingir determinados coeficientes energéticos no tempo.

A jogabilidade é replicada dos modelos do Simcity clássico. A implementação não é muito complexa, socorre-se da interacção por menus e é completamente desenvolvida na plataforma Flash.

É impressionante olhar para o contador de barris consumidos, um consumo do qual não nos damos conta mas que é persistente. Mostrar a evolução numérica do consumo de 1460 barris por segundo dá-lhe um carácter verdadeiramente chocante. Por detrás daqueles números quase podemos sentir o crude a ser sacado do interior do nosso planeta e a extingui-lo por dentro e como consequência do seu consumo (CO2) por fora também.

setembro 04, 2007

flexibilidade ou multi-talentos

A flexigurança segue em toda a linha o pensamento neo-liberal disposto a tudo para produzir o trabalhador perfeito. O trabalhador capaz de executar tarefas em qualquer área, um super-herói da maleabilidade. A indústria dos videojogos sendo reconhecida como um dos ambientes mais hostis no que toca à saúde dos seus trabalhadores pela exigência cognitiva intensiva e uma disponibilidade por períodos longos e contínuos está agora também na linha da frente da flexibilidade. Veja-se o artigo de Spanner na The Escapist.

When we look at a job posting for a game designer, it reads like a checklist for a superhero. The specialized requirements (programming, direction, art, management, music, magic powers and yes, writing) are so disparate it's utterly irrational to expect professional competency in all these areas from one person. Even if he's only actually required to perform one or two of those duties, a jack of all trades, as they say, is still a master of none.
O talento não está à venda numa qualquer prateleira de supermercado. Pode ser cultivado, mas acima de tudo é um bem que nasce connosco. É necessário que as indústrias olhem para as qualidades e talentos que os seus recursos humanos possuem e lhes dêem espaço e tempo para que estes progridam e sejam melhores que os seus pares. Não é a pedir-lhes que sejam flexíveis e façam todo o tipo de diferentes tarefas que as indústrias vão conseguir inovar seja no que for.

setembro 03, 2007

Blade Runner em Veneza

Passados 25 anos, Blade Runner volta a Veneza. Apresentado em 1982 out-of-competition, a nova versão agora com o título Blade Runner: The Final Cut, foi apresentada no passado sábado, 1 de Setembro, também fora de competição. Ridley Scott vem agora mostrar ao mundo a obra, que segundo diz, deveria ter sido a primeira versão. E que como se pode ver na reportagem da RAI a partir do Festival de Veneza, foi modificada à data de saída, em 1982, por pressão da Warner após os primeiros tests screenings. Tendo Scott acrescentado materiais, como a música e a narração em off e cortado sequências que dificultavam a abordagem do filme. Deste modo parece que agora vamos poder ver, já não a primeira montagem, uma vez que Scott se socorreu do digital para melhorar determinadas sequências, mas pelo menos a versão imaginária que este tinha do filme.



Se assim for, podemos então esperar um filme bem mais complexo de digerir. Mas o que me questiono, não só com este mas com todas as versões Director's Cut ou Final Cut que vão aparecendo, e agora ainda mais com o novo suporte DVD, de filmes estreados nas salas é sobre a legitimidade destes enquanto obras, enquanto arte. Blade Runner, é como artefacto para o público a versão que se viu em 1982 nas salas. Foi essa versão, por inferior que Scott a possa conceber, capaz de estimular universos ficcionais completamente novos, influenciar toda a estrutura visual do pós-modernismo no cinema, continuar a influenciar a arquitectura e moda modernas.

Blade Runner com 25 anos é, tanto na forma como no conteúdo, um filme tão actual como Artificial Intelligence: AI de Spielberg e Kubrick lançado em 2001. O que espera então Scott desta versão? Esperemos para ver, o facto de quase todo o elenco principal se apresentar em Veneza a apoiar Scott poderá ter algum significado. Mas como diz o Times, parece que ainda não é desta que teremos resposta à questão "Does Harrison Ford dream of electric sheep?"

Sequência do Teste de Turing (Blade Runner, 1982)

Update 28.09.2007: Ver entrevista dada por Ridley Scott à revista Wired sobre esta novas versão aqui.

the national, fake empire

A minha mais recente descoberta, The National. Estiveram recentemente em Portugal. Produzem um chamado, rock melancólico, dentro das influências de Tindersticks, Walkabouts, Lambchop. Aproveito para deixar aqui a letra da primeira música do album Boxer (2007) e um excerto do documentário A Skin, A Night de Vincent Moon.


Fake Empire

Stay out super late tonight picking apples, making pies
put a little something in our lemonade and take it with us
we’re half-awake in a fake empire
we’re half-awake in a fake empire

Tiptoe through our shiny city with our diamond slippers on
Do our gay ballet on ice
bluebirds on our shoulders
we’re half-awake in a fake empire
we’re half-awake in a fake empire

Turn the light out say goodnight
no thinking for a little while
lets not try to figure out everything it wants
It’s hard to keep track of you falling through the sky
we’re half-awake in a fake empire
we’re half-awake in a fake empire

setembro 01, 2007

publicidade fisiológica

A emoção e a estimulação sensorial são, cada vez mais, uma arma nas mãos dos publicitários. Veja-se o contágio humano ao serviço da publicidade na última campanha da Pepsi Max nos USA. São utilizadas imagens de bocejos reais que desenvolvem no receptor reacções fisiológicas fortes que são produzidas por via do fenómeno natural do contágio. É de notar que a publicidade só consegue obter este efeito, porque se socorre de bocejos reais e não de meras performances executadas por actores. Se não, tentem resistir à imagem abaixo.


Mas se estas imagens estáticas, não forem suficientes, experimentem as imagens dinâmicas e efeitos sonoros do spot criado pela BBDO. Apesar de no vídeo alguns dos bocejos parecerem menos reais que nas imagens acima, os efeitos sonoros funcionam como excelentes catalisadores.