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setembro 22, 2015

o movimento da metamorfose

Para quem gosta de animação, a última curta de Masanobu Hiraoka é um verdadeiro doce, com o movimento a surgir a partir de metamorfoses fluídas, criando toda uma experiência escapista e perceptivamente líquida. Hiraoka está ligado ao colectivo francês Je Regard, no qual colabora Carlos de Carvalho, de quem já aqui falei antes, esta sua animação foi-me enviada pelo Nuno Folhadela a quem fico imensamente grato.





Interessante como Hiraoka vai desenhando todos os seus elementos a partir da base do desenho - o ponto, a recta, o plano, as formas - e depois as vai metamorfoseando, umas nas outras, criando um bailado de movimento gráfico que nos seduz e compele a ir atrás de cada nova forma, de cada novo traço, de cada nova cor. No campo da cor a coerência é grande, com um equilíbrio contido, e ao mesmo tempo uma palete que lhe confere uma enorme peculiaridade visual.

janeiro 26, 2014

quando a animação reflete o país de origem

Há um ano falei aqui de Carlos Carvalho a propósito da sua multi-premiada curta de animação, Premier Automne (2013). Agora volto com o seu novo trabalho, "Juste de L’Eau" (2014) que trata um dos momentos de regresso a casa dos velejadores portugueses no auge dos Descobrimentos. Um tema que não é indiferente ao facto de Carlos Carvalho ser filho de portugueses, nascido e formado em França, tendo passado pela famosa escola Supinfocom.




Em Juste de L’eau (2014) Carvalho volta a universos visuais muito seus, nomeadamente a distorção e centrifugação dos cenários, a que já pudemos assistir em “L’Histoire de Rouge” (2008). Em Juste de L’Eau a distorção visual parece no entanto ser ainda mais intensa, o que em conjunto com a saturação e multiplicidade de cor, lhe dá todo um corpo surreal, como se Carvalho estivesse a transpor para o ecrã um sonho visto de longe.

Em termos interpretativos, podemos dizer que Carvalho se encena a si próprio, a olhar para todo aquele reconfortar de almas, fonte da saudade nacional, que desde os descobrimentos se apossou do nosso povo, para não mais o largar. São os velejadores que regressam de viagens duras, e encontram as famílias, num século XV, mas podiam bem ser imigrantes portugueses que regressam a Portugal no século XX. E quem por ninguém espera, assume aqui a sua melancolia, por sentir a falta dessa saudade, que só sente quem está longe. Em certa medida, poderia dizer que o título nos diz que a única diferença entre o século XV e o século XX, foi o caminho feito, apenas de água (juste de l'eau).

Impressiona-me ver estes artistas, com alma portuguesa, que trabalham espalhados pelo mundo, nunca precisaram do país, nem nunca este lhes ofereceu nada, mas eles continuam a recordá-lo como algo que lhes diz, que lhes fala, que transmite um pulsar. Ainda na semana passada aqui falava do último trabalho de Daniel Sousa, Feral (2012), agora nomeado ao Oscar 2013 de Melhor Curta de Animação, que apesar de não ser tão explicitamente sobre Portugal, como é Juste de L'eau, transpira atmosferas e costumes nacionais.

"Juste de l'eau" (2014) de Carlos Carvalho


Atualização 29.01.2014
Entrevista com Carlos De Carvalho

abril 01, 2013

"Premier Automne" (2013), o romantismo do impossível

Premier Automne (2013) é mais um filme de animação 3d que deixa para trás o apelo 3d convencional de que venho aqui falando, mas socorrendo-se de todo o potencial do digital para criar um universo visual carregado de detalhe, texturas e partículas. O resultado final é um misto entre o digital e o artesanal, capaz de criar um universo único e belo. O filme foi dirigido pelo casal Carlos de Carvalho e Aude Danset de Carvalho, ambos ilustradores e formados na Supinfocom, e ambos colaboradores no estúdio francês independente Je Regarde.





Premier Automne é uma curta com ritmo melancólico, tratando o sujeito da impossibilidade de conciliação. A comunicação da narrativa funciona perfeitamente, e retribui a nossa atenção. Os dilemas do impossível sempre foram uma condição base do romantismo, e o tratamento é feito com muita elegância e savoir-faire. Mas é no campo estético que o filme se ultrapassa. Existe uma atenção ao detalhe, um trabalho nas camadas de elementos visuais que se misturam, inclusive todo o ambiente em redor da ação em movimento, como a neve e as goticulas, que impressiona, e é pouco comum.
Sinopse: "Abel vive no Inverno e Apolline no Verão. Isolados nas suas "naturezas", nunca se conheceram. Nem é suposto encontrarem-se. Assim, quando Abel cruza a fronteira e descobre Apolline, a curiosidade toma conta de si. O encontro torna-se rapidamente mais complicado do que eles poderiam imaginar. Ambos terão de aprender o compromisso para se protegerem um ao o outro..."
A selecção de cor é bastane sóbria, a condizer com as texturas carregadas de irregularidade e relevo. Por seu lado os shaders são muito difusos, ajudando a criar superfícies ricas e densas, mais uma vez a servir a criação visual num sentido mais artesanal e menos digital. A iluminação acaba por funcionar muito bem por conta dos shaders.


Premier Automne (2013) de Carlos de Carvalho e Aude Danset

Acredito que algumas componentes de partículas que se veem no filme, nomeadamente aquelas que voam constantemente à volta dos personagens tenham sido feitas em 2d no After Effects. Ainda assim muitas outras que cheguei a pensar que eram também 2d, foram feitas em 3d como podem ver no Making Of.

Entretanto descobri que toda esta estética que podemos ver em Premier Automne vem de trás. Um trabalho dos mesmos autores de 2007 revelava já muito do que podemos ver aqui. É um trabalho curtinho, mas que vale a pena sorver todos os segundos. Deixo-o aqui também porque vale a pena ver depois de Premier Automne.

L'Histoire de Rouge (2008) de Carlos de Carvalho