julho 24, 2013

o colapso é possível...

Depois de nos ter apresentado a história das sociedades que prosperaram na Terra em Guns, Germs, and Steel (1997) (aqui analisado), Jared Diamond escreveu Collapse (2005) para apresentar as sociedades que definharam e se extinguiram. Diamond continua a trabalhar os mesmos factores ambientais para sustentar a sua narrativa, mas desta vez não o faz para explicar como fomos bem sucedidos, mas antes para lançar um alerta, sobre o que pode pôr um fim a muito daquilo que conseguimos desenvolver até aqui. Não é um livro fácil, porque nos coloca de frente a muito daquilo que por vezes queremos evitar pensar, mas necessário porque por enquanto temos apenas um planeta onde habitar.


Alguns dos exemplos trabalhados, são famosos e amplamente citados na história, como os povos da Ilha da Páscoa, da Gronelândia, ou os Maias. Já num âmbito moderno trabalha exemplos como o Rwanda e o Haiti e abre a discussão sobre os problemas da Austrália e China. A explicação geral para o desaparecimento dos povos é amplamente suportada por tudo aquilo que já nos tinha apresentado no seu anterior livro, e por uma lógica profundamente darwinista da vida na terra. Diamond sintetiza cinco pontos essenciais para os colapsos de sociedades: alterações climáticas; vizinhos hostis; desaparecimento de parceiros comerciais; problemas do ambiente; e a incapacidade de adaptação às alterações do ambiente.

Foi com grande perplexidade que fiquei a saber que uma das principais razões para o desaparecimento dos povos da ilha da Páscoa poderá ter estado no abate indiscriminado das poucas árvores que existiam na ilha. Utilizadas para construir casas, mas principalmente para ajudar na construção e transporte das célebres estátuas. O seu desaparecimento terá contribuído para alterações profundas do ecossistema da ilha, que tornariam a vida aí insustentável. O abate das árvores não é dado como causa única, mas uma das mais relevantes, e torna-se inevitável não pensar em tudo aquilo que temos vindo a fazer ao nosso planeta. Se podemos exterminar as nossas possibilidades de sobrevivência numa ilha, o que nos impede de fazer o mesmo num planeta?


Porque dos vários factores ambientais que contribuíram para o colapso dos diferentes povos, muitos parecem encontrar paralelo com aquilo que hoje enfrentamos, não apenas localizados, mas totalmente globalizados.
  • Desflorestação
  • Erosão dos solos
  • Problemas com água
  • Excesso de abate de carne
  • Excesso de abate de peixe
  • Sobrepopulação
Em termos de sobrevivência a sobrepopulação, é sempre o ponto último. É chocante ler como alguns povos no passado, antes da invenção dos sistemas anti-concepcionais, resistiram ao problema recorrendo não ao mero aborto, mas ao infanticídio como prática aceite pela comunidade. A demonstrar como o homem é uma espécie animal imbuída do mais profundo instinto de sobrevivência. Apesar de ainda assim ser incapaz de dominar a natureza, começando pela sua própria, em toda a sua extensão.


Ao ler tudo isto, fico a pensar que foram atingidos patamares de sobre-abundância alimentar na Europa, e que soubemos controlar o potencial caos que essa abundância poderia trazer com o esperado aumento da população, através do recurso à tecnologia química, controlando os ciclos menstruais das mulheres, ou impedindo a evolução dos fetos. Mas fica a faltar saber até que ponto este controlo racional, em nome do conforto, felicidade e facilidade das condições de vida, não poderá vir a determinar o colapso da nossa própria sociedade! Porque não basta conhecimento e avanço tecnológico, para isso basta ler sobre o colapso da civilização Maia, uma das mais avançadas que já passou por este planeta. Seria bom que pudéssemos aprender alguma coisa com os erros do passado, e este trabalho de Diamond é um excelente começo para ganhar consciência desses nossos erros.

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